Como ter uma carteira com exposição ao exterior mesmo com Powell, o ‘imparável’

Imagino que nos últimos dias você tenha sido bombardeado com diversas análises a respeito da fala de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, no simpósio de Jackson Hole, ocorrido na semana passada.
O evento, que conta com a presença de alguns dos principais banqueiros centrais do planeta, recebe a atenção de investidores do mundo inteiro, uma vez que os participantes muitas vezes aproveitam o encontro para fazer anúncios com grande potencial de impacto nos portfólios globais.
Em 2020, por exemplo, o Fed (o banco central americano) divulgou uma alteração no modo em que analisaria a sua meta de inflação a partir de então, passando de um valor fixo para uma média ao redor de um determinado nível.
Essa maior leniência com a inflação indicou aos investidores que Powell e seus comandados estariam dispostos a manter a taxa básica de juros em níveis extremamente baixos para estimular a economia — lembrando que, no período do anúncio, estávamos no auge da pandemia do novo coronavírus.
A política monetária expansionista, por sua vez, tornaria ainda mais atrativo o investimento em renda variável. Afinal de contas, com os títulos públicos de prazos mais longos pagando taxas abaixo de 1% (nominal), um investidor levaria mais de 70 anos para conseguir dobrar o capital investido em oportunidades desse tipo.
E isso, de fato, foi observado nos mercados. Desde as mínimas do ano passado, os principais índices americanos — S&P 500, Dow Jones e Nasdaq — se valorizaram 102%, 90% e 122%, respectivamente. Até mesmo o Ibovespa, com todas as dificuldades enfrentadas no meio do caminho, apresentou alta de 85% (em dólar).
Leia Também
Obviamente esses retornos foram “beneficiados” pela forte queda decorrente da crise sanitária que vivenciamos no início de 2020. Contudo, mesmo quando analisamos os últimos doze meses, os índices americanos entregaram retornos superiores a 23%, com o Ibovespa não muito atrás (20%).
A expectativa era de que neste ano Powell trouxesse à tona a ideia de redução dos estímulos monetários na economia, com uma parte dos analistas esperando sinalizações claras sobre possíveis aumentos nos juros — algo exposto por alguns dos membros do Fed nas últimas semanas.
Por um lado, o mandatário do Fed afirmou que a instituição deve reduzir a compra de US$ 120 bilhões mensais em títulos ainda em 2021, com mais detalhes sendo divulgados nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (talvez já na que acontecerá nos dias 21 e 22 de setembro).
Contudo, Powell reforçou que essa redução no ritmo de compras não teria indicações diretas para um aumento na taxa de juros. Apesar das melhoras observadas na economia americana, a taxa de desemprego ainda se encontra distante do ideal, e mesmo a inflação nos níveis atuais — acima dos 4% — estaria calcada em questões transitórias e não permanentes.
Isso soou como música para os mercados, com o S&P 500 fechando agosto pelo sétimo mês seguido no positivo (maior sequência desde a encerrada em dezembro de 2017). Em 2021 já foram 53 pregões encerrados em novas máximas, e o índice ainda não apresentou uma queda de 5% no ano.
Estaria uma bolha se formando?
Naturalmente, alguns investidores podem ver nesses dados o indicativo de uma bolha se formando. Olhando apenas o múltiplo Preço/Lucro atual do índice, acima de 27 vezes (ante uma média histórica próxima de 17 vezes desde o final de 1970), ficaria difícil convencê-los do contrário.
Importante lembrar, porém, que a tomada de decisão de investimento depende não apenas da classe de ativo em questão, mas das alternativas existentes no momento.
Comparando o retorno esperado nas ações utilizando o “earnings yield” do S&P 500 (ou 1 dividido pelo múltiplo P/L, próximo de 3,7%) com a rentabilidade no título de dez anos do Tesouro americano (na casa de 1,3%), a diferença atual seria de 2,4 pontos percentuais.
Entre 2005 e 2007 — ou seja, antes da crise do subprime —, o diferencial médio foi de 1,3 ponto percentual (EY de 5,9% vs 4,6% do título de dez anos). Colocando 2008 na conta, essa diferença aumenta para 1,6 ponto percentual, mesmo com a diferença perto dos 4 pontos percentuais no último trimestre daquele ano (7% vs 3,2%).
Já na época da bolha das pontocom, a diferença ficou no campo negativo a maior parte do tempo: do começo de 1997 até o final de 1999, enquanto o earnings yield médio era de 4%, a taxa de juros de longo prazo estava nos 5,8%.
Isso sem considerar que estamos utilizando, para os números atuais, os resultados obtidos nos últimos doze meses. Assumindo as projeções de mercado para os lucros ao final do ano (P/L de 21,9 vezes para o S&P 500), o earnings yield estaria próximo dos 4,6%.
Mesmo que a taxa de juros volte para perto dos níveis vistos no começo do ano (quando chegou perto dos 2%), ainda teríamos “gordura” no investimento em ações.
Obviamente, temos que monitorar alguns riscos que surgiram nas últimas semanas. O avanço da variante Delta já vem afetando as perspectivas de crescimento dos EUA, assim como as questões geopolíticas que podem emergir com os problemas provenientes da saída dos americanos do Afeganistão.
Isso, contudo, não deve impedi-lo de manter uma parcela da sua carteira em investimentos internacionais — mesmo que tome essa decisão agora. Considerando os últimos passos de Powell, você pode “segui-lo” nessa jornada e aqui na série As Melhores Ações do Mundo mostramos o caminho.
Trocando as lentes: Ibovespa repercute derrubada de ajuste do IOF pelo Congresso, IPCA-15 de junho e PIB final dos EUA
Os investidores também monitoram entrevista coletiva de Galípolo após divulgação de Relatório de Política Monetária
Rodolfo Amstalden: Não existem níveis seguros para a oferta de segurança
Em tese, o forward guidance é tanto mais necessário quanto menos crível for a atitude da autoridade monetária. Se o seu cônjuge precisa prometer que vai voltar cedo toda vez que sai sozinho de casa, provavelmente há um ou mais motivos para isso.
É melhor ter um plano: Ibovespa busca manter tom positivo em dia de agenda fraca e Powell no Senado dos EUA
Bolsas internacionais seguem no azul, ainda repercutindo a trégua na guerra entre Israel e o Irã
Um longo caminho: Ibovespa monitora cessar-fogo enquanto investidores repercutem ata do Copom e testemunho de Powell
Trégua anunciada por Donald Trump impulsiona ativos de risco nos mercados internacionais e pode ajudar o Ibovespa
Um frágil cessar-fogo antes do tiro no pé que o Irã não vai querer dar
Cessar-fogo em guerra contra o Irã traz alívio, mas não resolve impasse estrutural. Trégua será duradoura ou apenas mais uma pausa antes do próximo ato?
Felipe Miranda: Precisamos (re)conversar sobre Méliuz (CASH3)
Depois de ter queimado a largada quase literalmente, Méliuz pode vir a ser uma opção, sobretudo àqueles interessados em uma alternativa para se expor a criptomoedas
Nem todo mundo em pânico: Ibovespa busca recuperação em meio a reação morna dos investidores a ataque dos EUA ao Irã
Por ordem de Trump, EUA bombardearam instalações nucleares do Irã na passagem do sábado para o domingo
É tempo de festa junina para os FIIs
Alguns elementos clássicos das festas juninas se encaixam perfeitamente na dinâmica dos FIIs, com paralelos divertidos (e úteis) entre as brincadeiras e a realidade do mercado
Tambores da guerra: Ibovespa volta do feriado repercutindo alta dos juros e temores de que Trump ordene ataques ao Irã
Enquanto Trump avalia a possibilidade de envolver diretamente os EUA na guerra, investidores reagem à alta da taxa de juros a 15% ao ano no Brasil
Conflito entre Israel e Irã abre oportunidade para mais dividendos da Petrobras (PETR4) — e ainda dá tempo de pegar carona nos ganhos
É claro que a alta do petróleo é positiva para a Petrobras, afinal isso implica em aumento das receitas. Mas há um outro detalhe ainda mais importante nesse movimento recente.
Não foi por falta de aviso: Copom encontra um sótão para subir os juros, mas repercussão no Ibovespa fica para amanhã
Investidores terão um dia inteiro para digerir as decisões de juros da Super Quarta devido a feriados que mantêm as bolsas fechadas no Brasil e nos Estados Unidos
Rodolfo Amstalden: São tudo pequenas coisas de 25 bps, e tudo deve passar
Vimos um build up da Selic terminal para 15,00%, de modo que a aposta em manutenção na reunião de hoje virou zebra (!). E aí, qual é a Selic de equilíbrio para o contexto atual? E qual deveria ser?
Olhando para cima: Ibovespa busca recuperação, mas Trump e Super Quarta limitam o fôlego
Enquanto Copom e Fed preparam nova decisão de juros, Trump cogita envolver os EUA diretamente na guerra
Do alçapão ao sótão: Ibovespa repercute andamento da guerra aérea entre Israel e Irã e disputa sobre o IOF
Um dia depois de subir 1,49%, Ibovespa se prepara para queimar a gordura depois de Trump abandonar antecipadamente o G-7
Acima do teto tem um sótão? Copom chega para mais uma Super Quarta mirando fim do ciclo de alta dos juros
Maioria dos participantes do mercado financeiro espera uma alta residual da taxa de juros pelo Copom na quarta-feira, mas início de cortes pode vir antes do que se imagina
Felipe Miranda: O fim do Dollar Smile?
Agora o ouro, e não mais o dólar ou os Treasuries, representa o ativo livre de risco no imaginário das pessoas
17 X 0 na bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje, com disputa entre Israel e Irã no radar
Desdobramentos do conflito que começou na sexta-feira (13) segue ditando o humor dos mercados, em semana de Super Quarta
Sexta-feira, 13: Israel ataca Irã e, no Brasil, mercado digere o pacote do governo federal
Mercados globais operam em queda, com ouro e petróleo em alta com aumento da aversão ao risco
Labubu x Vale (VALE3): quem sai de moda primeiro?
Se fosse para colocar o meu suado dinheirinho na fabricante do Labubu ou na mineradora, escolho aquela cujas ações, no longo prazo, acompanham o fundamento da empresa
Novo pacote, velhos vícios: arrecadar, arrecadar, arrecadar
O episódio do IOF não é a raiz do problema, mas apenas mais uma manifestação dos sintomas de uma doença crônica