Um convite para entender o momento da bolsa: o início do fim ou o fim do início?
Preços na bolsa estão em valores promocionais, visando um cenário de ruptura institucional. Em não havendo ruptura, os valores podem subir

Seria um novo começo ou o começo do fim? Ou não seria ponto de inflexão algum? Afinal de contas, fora das novelas e dos filmes de Hollywood, não precisamos necessariamente caminhar para um final contundente. Podemos continuar andando a esmo, perdidos no labirinto da crise interna que nós mesmos criamos.
“As pessoas que param de crer em Deus ou na bondade continuam a acreditar no diabo. Não sei por quê. Não, realmente não sei por quê. O mal é sempre possível. E a bondade é eternamente difícil.”
Entrevista com o Vampiro
Tenho tentado organizar o pensamento e a matriz de probabilidades em três cenários possíveis: um fim terrível, o terror sem fim e a trégua efetiva.
- O fim terrível seria um cenário de impeachment ou inelegibilidade. Em sendo o caso, teríamos mais uma ruptura, que exigiria piora adicional, antes de melhorarmos.
- O terror sem fim representaria a continuidade do cenário belicoso e de crise institucional semelhante ao observado nos momentos de máxima tensão da semana passada.
- E o terceiro seria a efetiva trégua, uma real mudança de postura do presidente, inaugurando uma nova forma de governar; seria o fim de Bolsonaro tal como nós conhecemos e o início de uma administração mais institucionalizada, com respeito à liturgia do cargo, a determinados ritos e aos demais Poderes.
É pseudointeligente afirmar que essa é necessariamente só mais uma rodada de morde e assopra do presidente Bolsonaro. Ele já esticou e afrouxou a corda várias vezes. Essa seria só mais uma.
Como no caso do sapo e do escorpião, “é a minha natureza”. O cético na capacidade de mudança sempre soa mais profundo e austero. O pessimista é sempre percebido como mais sofisticado. A postura crítica rende dividendos intelectuais.
Da minha parte, porém, acredito que desta vez seja diferente. Sim, eu sei dos problemas dessa frase. É quase um pecado no mercado financeiro acreditar que “desta vez é diferente”.
Leia Também
Timing é tudo: o negócio extraordinário da Vivo e o que esperar dos mercados hoje
Todos conhecem a piada: “As quatro palavras mais perigosas do mercado são ‘desta vez é diferente’”. Mas poucos conhecem sua réplica: “As doze palavras mais perigosas são ‘as quatro palavras mais perigosas do mercado são desta vez é diferente’”. Na média, em 20% dos casos, as coisas são diferentes mesmo.
À sua maneira, políticos têm sua racionalidade. E, como leitor de Nassim Taleb e Gerd Gigerenzer, só consigo ligar a racionalidade à sobrevivência. Não há driver maior para a mudança do que o medo.
Concretamente, já há algo diferente nesse movimento de Jair Bolsonaro. Ele é um documento escrito. Não me parece que tenha sido coincidência essa característica, que guarda paralelos, inclusive, com outra carta fatídica de Michel Temer, cujo título ostentava “verba volant, scripta manent”. A palavra falada voa, a escrita permanece.
Aquele documento foi um marco importante na catálise do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, tal como o atual pode ser um marco para o fim do governo Bolsonaro tal como nós o conhecemos.
Rasgar um documento escrito pode ter consequências igualmente concretas. As pessoas costumam ser cobradas por rompimentos de contratos.
Também não me parece coincidência a proximidade entre Michel Temer e Alexandre de Moraes, tampouco a representação de Temer, uma prosopopeia do establishment político brasileiro e sua institucionalização.
Recorrer a Michel Temer de maneira tão pública e explícita é ceder ao establishment (escrevo isso no sentido positivo, porque o momento requer a conciliação com o establishment, menos atrito e mais harmonia).
Dos três cenários ventilados, a hipótese do terror sem fim me parece a menos provável. Por uma razão muito simples: o Brasil não aguenta um ano e meio sob o clima da semana passada. Ou Bolsonaro mudava ou tiravam ele de lá.
O próprio Bolsonaro parece ter percebido isso. Boa parte do PIB já não está com ele. A pressão pelo acolhimento dos pedidos de impeachment cresce. Kassab já flertava com o impedimento; o PSDB rumou para a oposição.
Dado o medo do fim terrível, a hipótese da trégua efetiva emerge como a mais provável. O mesmo Kassab já veio se manifestar dizendo que a carta afasta o risco de impeachment, com a condicional “por enquanto”. Ou seja, a se continuar o clima de respeito institucional e abrandamento do ambiente belicoso, o país volta a ter um mínimo de tranquilidade.
O risco de uma ruptura diminui, o cenário de cauda sai do radar (ao menos no curto prazo). Não será fácil, muito menos temos resolvidos todos nossos problemas.
A inflação continua alta, as projeções para o PIB de 2022 seguem caindo, a crise hídrica ainda é uma questão relevante a ser monitorada, precisamos de uma solução para a peça de ficção batizada de Orçamento de 2022.
"É nas horas da saída da tempestade que se ganha mais dinheiro"
Mas a nuvem da ruptura institucional e de um país em colapso por mais de um ano começa a se dissipar. É nas horas de saída da tempestade que se ganha mais dinheiro.
Sem nuvens no céu, o sol, sendo sempre o melhor detergente, ilumina muito facilmente a realidade e permite que tudo seja visto com muita tranquilidade. Os preços estão perto do justo, sem grandes oportunidades.
Momentos de tempestade são de baixa luz do sol, por construção. Os preços são também de tempestade. E quando a chuva passa, o sol volta.
Mais uma vez, a teoria do cercadinho encontra validação empírica. Flertamos com o abismo e voltamos. Os preços ainda estão em valores promocionais, contemplando um cenário de ruptura institucional. Em não havendo ruptura, os preços devem ser outros no futuro.
Vai haver frustrações, dificuldades, frustrações, volatilidade, choro e ranger de dentes. Mas não será desta vez que o Brasil vai explodir.
Se você tem intenção de comprar barato, é nesses momentos que existem oportunidades de multiplicação. Em céu de brigadeiro, não tem muita onda.
Com intuito de apontar algumas dessas oportunidades, eu e Caio Mesquita estaremos hoje, às 19h, comentando o cenário e apontando ações para comprar agora. Você é nosso convidado.
Sem olho por olho nem tiro no pé na guerra comercial com os EUA, e o que esperar dos mercados hoje
Ibovespa fechou ontem em leve queda, e hoje deve reagir ao anúncio de uma nova investigação dos EUA contra o Brasil
Estamos há 6 dias sem resposta: o tempo da diplomacia de Trump e o que esperar dos mercados hoje
Enquanto futuros de Wall Street operam em alta, Ibovespa tenta reverter a perda dos últimos dias à espera da audiência de conciliação sobre o IOF
Do coice à diplomacia: Trump esmurra com 50% e manda negociar
Para além do impacto econômico direto, a nova investida protecionista de Trump impulsiona um intrincado jogo político com desdobramentos domésticos e eleitorais decisivos para o Brasil
Felipe Miranda: Carta pela moderação (e cinco ações para comprar agora)
Com todos cansados de um antagonismo que tem como vitoriosos apenas os populistas de plantão, a moderação não poderia emergir como resposta?
Para quem perdeu a hora, a 2ª chamada das debêntures da Petrobras, e o que mexe com os mercados hoje
Futuros de Wall Street operam em queda com guerra tarifária e à espera de dados da inflação ao consumidor (CPI) e balanços trimestrais de gigantes como JPMorgan e Citigroup
A corrida da IA levará à compra (ou quebra) de jornais e editoras?
A chegada da IA coloca em xeque o modelo de buscas na internet, dominado pelo Google, e, por tabela, a dinâmica de distribuição de conteúdo online
Anatomia de um tiro no pé: Ibovespa busca reação após tarifas de Trump
Em dia de agenda fraca, investidores monitoram reação do Brasil e de outros países ao tarifaço norte-americano
O tarifaço contra o Brasil não impediu essas duas ações de subir, e deixa claro a importância da diversificação
Enquanto muitas ações do Ibovespa derretiam com as ameaças de Donald Trump, um setor andou na direção oposta
Trump na sala de aula: Ibovespa reage a tarifas de 50% impostas pelos EUA ao Brasil
Tarifas de Trump como o Brasil vieram muito mais altas do que se esperava, pressionando ações, dólar e juros
Rodolfo Amstalden: Nem cinco minutos guardados
Se um corte justificado da Selic alimentar as chances de Lula ser reeleito, qual será o rumo da Bolsa brasileira?
Quando a esmola é demais: Ibovespa busca recuperação em meio a feriado e ameaças de Trump
Investidores também monitoram negociações sobre IOF e audiência com Galípolo na Câmara
Sem avalanche: Ibovespa repercute varejo e Galípolo depois de ceder à verborragia de Trump
Investidores seguem atentos a Donald Trump em meio às incertezas relacionadas à guerra comercial
Comércio global no escuro: o novo capítulo da novela tarifária de Trump
Estamos novamente às portas de mais um capítulo imprevisível da diplomacia de Trump, marcada por ameaças de última hora e recuos
Felipe Miranda: Troco um Van Gogh por uma small cap
Seria capaz de apostar que seu assessor de investimentos não ligou para oferecer uma carteira de small caps brasileiras neste momento. Há algo mais fora de moda do que elas agora? Olho para algumas dessas ações e tenho a impressão de estar diante de “Pomar com ciprestes”, em 1888.
Ontem, hoje, amanhã: Tensão com fim da trégua comercial dificulta busca por novos recordes no Ibovespa
Apetite por risco é desafiado pela aproximação do fim da trégua de Donald Trump em sua guerra comercial contra o mundo
Talvez fique repetitivo: Ibovespa mira novos recordes, mas feriado nos EUA drena liquidez dos mercados
O Ibovespa superou ontem, pela primeira vez na história, a marca dos 141 pontos; dólar está no nível mais baixo em pouco mais de um ano
A história não se repete, mas rima: a estratégia que deu certo no passado e tem grandes chances de trazer bons retornos — de novo
Mesmo com um endividamento controlado, a empresa em questão voltou a “passar o chapéu”, o que para nós é um sinal claro de que ela está de olho em novas aquisições. E a julgar pelo seu histórico, podemos dizer que isso tende a ser bastante positivo para os acionistas.
Ditados, superstições e preceitos da Rua
Aqueles que têm um modus operandi e se atêm a ele são vitoriosos. Por sua vez, os indecisos que ora obedecem a um critério, ora a outro, costumam ser alijados do mercado.
Feijão com arroz: Ibovespa busca recuperação em dia de payroll com Wall Street nas máximas
Wall Street fecha mais cedo hoje e nem abre amanhã, o que tende a drenar a liquidez nos mercados financeiros internacionais
Rodolfo Amstalden: Um estranho encontro com a verdade subterrânea
Em vez de entrar em disputas metodológicas na edição de hoje, proponho um outro tipo de exercício imaginativo, mais útil para fins didáticos