🔴 A TEMPORADA DE BALANÇOS DO 1T25 JÁ COMEÇOU – CONFIRA AS NOTÍCIAS, ANÁLISES E RECOMENDAÇÕES

Mitre além da análise técnica: porque ficar de olho no próximo trimestre

14 de julho de 2021
11:07 - atualizado às 11:08
Imagem: Divulgação

“A História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo.” A internet me diz que a frase é de Napoleão. Se for mesmo verdade, o que traria um paradoxo brutal para nossa proposição, ele teve uma sacada sobre retórica muito anterior àquela do Persio Arida e da Deirdre McCloskey.

O mercado tem seus próprios temas, suas narrativas e seus preconceitos. Quando essas versões são verdadeiras ou, ao menos, parcialmente verdadeiras, tudo bem. Vida que segue. Mas sejamos sinceros: nós, os financistas, adoramos acreditar nas próprias mentiras.

O preço de um determinado ativo na tela é um consenso de mercado sobre as expectativas para o fluxo de caixa a ele associados, trazidos a valor presente por uma taxa de desconto apropriada. Como se forma esse consenso é o problema. Leitores de Persio e McCloskey, sabemos que embates dialéticos em Economia (e em Finanças) não se resolvem por superação positiva. Ou seja, quando uma tese enfrenta uma antítese, a síntese se forma não a partir da melhor teoria, mas simplesmente por aquela com as melhores regras de retórica. A síntese, que em finanças responde por “consenso de mercado”, é apenas a versão mais convincente da história.

Nesta parte do texto, sempre aparece o “cientista de dados” para criticar o argumento. “Os dados são o novo petróleo”, ponderam, acreditando que os números podem resolver tudo. Esqueceram que os combustíveis fósseis estão mais marginalizados do que os fumantes e os não vacinados. Benjamin Disraeli oferece uma boa resposta: “Há três espécies de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas”. Sob tortura, os dados confessam qualquer coisa. Inclusive, uma das melhores regras de retórica é o convencimento pelo formalismo matemático — esse é um argumento insuperável!

Uma das mentiras aceitas na Faria Lima e no Leblon (e ai de você se questioná-la) se refere à superioridade do investidor institucional sobre a pessoa física. Sabe como é: Narciso acha feio o que não é espelho. Como ouvi recentemente de um grande executivo, “a turma inteligentona não gosta de quem é barriga no balcão”. Como não sou inteligentão e noto minha barriga mais saliente, tenho orgulho de pertencer ao segundo grupo.

“O varejo é muito afoito.”
“O varejo se preocupa muito com performance passada e recente.”
“O varejo não está preparado para produtos mais sofisticados.”
“O varejo é sempre muito concentrado.”
“O varejo não está pronto para a internacionalização."

Leia Também

Essas são só algumas frases típicas. Só vejo príncipes na vida.

Aí os mesmos príncipes alocadores começam a cobrar resultados dos gestores de fundos depois dos primeiros 12 meses sem performance — claro que se a distância para a marca d’água estiver grande, dificultando o rebate da taxa de performance, a agilidade para o saque é ainda maior.

De onde vem tanta superioridade intelectual?

Vejo alguns dados simples:

Home bias na alocação do outro é refresco.

Os mesmos vieses cognitivos que acometem os investidores de varejo incidem também sobre os institucionais, talvez diferindo um pouco no tom e na intensidade.

A concentração local nos investimentos é só um deles. Outro típico é o viés de representatividade. O gestor que perdeu dinheiro com Tele Centro Oeste Celular ou BRTO não quer nunca mais saber de telecom. Se o ciclo de 2011 a 2015 foi destruidor para os fundos de small caps, então condenamos para sempre a classe — e assim muitos fundos perderam a multiplicação de 2016-19. Seria mesmo um problema da classe ou apenas do ciclo?

A sapiência dos doutores agora descarta as incorporadoras, talvez pelos erros do passado. É legítimo. Gato escaldado tem medo de água fria. Mas será mesmo que a situação atual não é outra? Será que não aprendemos nada com a expansão geográfica desenfreada do ciclo anterior? Será que o próprio avanço tecnológico não permite hoje um nível de controle de obra totalmente diferente e uma redução do risco de estouro de orçamento? Será que hoje não temos um pouco mais de profusão de instrumentos de crédito que nos permitam atravessar uma Selic um pouco mais alta? Ou, ao menos: será que não conseguimos separar o joio do trigo? Ou, ainda, pelo menos aproveitar um ciclo de médio prazo favorável?

Ontem, falei aqui da excelente prévia de Direcional, de quanto essa operação está na mão, do expressivo crescimento da companhia e do valuation muito atrativo de suas ações — sem nem mencionar as surpresas a caminho no terceiro trimestre.

Hoje, vou falar de Mitre.

A empresa apresentou um crescimento de 443% das vendas líquidas em relação ao primeiro trimestre e de 127% sobre o mesmo período do ano anterior. Sabemos, claro, da base de comparação fraca — sem ingenuidade. Mas, mesmo assim, o crescimento e o nível em que a companhia começa a operar chamam atenção. Os lançamentos voltaram no segundo trimestre, marcando um VGV de R$ 237 milhões, dobrando frente a igual período de 2020.

Ainda mais interessante é a velocidade de vendas, em 29,5%. Mitre tem sido uma das maiores VSO do segmento, combinando isso a um nível de rentabilidade muito elevado. Inclusive, entendo que a próxima surpresa vem do patamar de margens no trimestre — a companhia tem conseguido colocar preço nos lançamentos e, mais surpreendente, também no estoque, que praticamente não subiu no trimestre.

Uma coisa legal e que quase ninguém fala: a empresa lançou 11 empreendimentos desde o IPO, sendo que em 10 deles a velocidade de vendas veio acima de 60% — honestamente, não conheço uma execução assim.

A companhia não tem dívida, não tem esqueleto no armário nem legado ruim, pode entregar um ROE superior a 20% com alguma tranquilidade. Companhia a 6 vezes lucros para 2022, com operação na mão.

Fundamento está redondo. Técnico é um pouco ruim, seja por conta do preconceito enorme com o setor, seja porque ainda há um vendedor grande — é um único, mas ele ainda está lá, com alguma coisa perto de 1,5 milhão de ações remanescentes. Se rasparem o cara, isso voa para R$ 14-15 rapidinho.

Para mim, lembra muito a Eztec lá atrás. Mas essa é uma verdade que ninguém quer acreditar. Ao menos por enquanto.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Dedo no gatilho

24 de março de 2025 - 20:00

Não dá pra saber exatamente quando vai se dar o movimento. O que temos de informação neste momento é que há uma enorme demanda reprimida por Brasil. E essa talvez seja uma informação suficiente.

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: As expectativas de conflação estão desancoradas

19 de março de 2025 - 20:00

A principal dificuldade epistemológica de se tentar adiantar os próximos passos do mercado financeiro não se limita à já (quase impossível) tarefa de adivinhar o que está por vir

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?

17 de março de 2025 - 20:00

Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Para um período de transição, até que está durando bastante

12 de março de 2025 - 19:58

Ainda que a maior parte de Wall Street continue sendo pró Trump, há um problema de ordem semântica no “período de transição”: seu falsacionismo não é nada trivial

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump

10 de março de 2025 - 20:00

Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes

VISÃO 360

Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso

9 de março de 2025 - 7:50

O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Na esperança de marcar o 2º gol antes do 1º

5 de março de 2025 - 20:01

Se você abre os jornais, encontra manchetes diárias sobre os ataques de Donald Trump contra a China e contra a Europa, seja por meio de tarifas ou de afrontas a acordos prévios de cooperação

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Um Brasil na mira de Trump

26 de fevereiro de 2025 - 20:00

Temos razões para crer que o Governo brasileiro está prestes a receber um recado mais contundente de Donald Trump

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Eu gostaria de arriscar um palpite irresponsável

19 de fevereiro de 2025 - 20:01

Vai demorar para termos certeza de que o último período de mazelas foi superado; quando soubermos, porém, não restará mais tanto dinheiro bom na mesa

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Tenha muito do óbvio, e um pouco do não óbvio

12 de fevereiro de 2025 - 20:00

Em um histórico dos últimos cinco anos, estamos simplesmente no patamar mais barato da relação entre preço e valor patrimonial para fundos imobiliários com mandatos de FoFs e Multiestratégias

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808

10 de fevereiro de 2025 - 20:00

A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: O paradoxo DeepSeek

3 de fevereiro de 2025 - 20:01

Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: IPCA 2025 — tem gosto de catch up ou de ketchup mais caro?

29 de janeiro de 2025 - 20:31

Se Lula estivesse universalmente preocupado com os gastos fiscais e o descontrole do IPCA desde o início do seu mandato, provavelmente não teria que gastar tanta energia agora com essas crises particulares

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Um ano mais fácil (de analisar) à frente

18 de dezembro de 2024 - 20:00

Não restam esperanças domésticas para 2025 – e é justamente essa ausência que o torna um ano bem mais fácil de analisar

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Às vésperas da dominância fiscal

11 de dezembro de 2024 - 15:00

Até mesmo os principais especialistas em macro brasileira são incapazes de chegar a um consenso sobre se estamos ou não em dominância fiscal, embora praticamente todos concordem que a política monetária perdeu eficácia, na margem

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Precisamos sobre viver o “modo sobrevivência”

4 de dezembro de 2024 - 20:00

Não me parece que o modo sobrevivência seja a melhor postura a se adotar agora, já que ela pode assumir contornos excessivamente conservadores

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Banda fiscal no centro do palco é sinal de que o show começou

27 de novembro de 2024 - 16:01

Sequestrada pela política fiscal, nossa política monetária desenvolveu laços emocionais profundos com seus captores, e acabou por assimilar e reproduzir alguns de seus traços mais viciosos

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer

18 de novembro de 2024 - 20:00

Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Não estamos no México, nem no Dilma 2

7 de outubro de 2024 - 20:00

Embora algumas analogias de fato possam ser feitas, sobretudo porque a direção guarda alguma semelhança, a comparação parece bastante imprecisa

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Brasil com grau de investimento: falta apenas um passo, mas não qualquer passo

2 de outubro de 2024 - 14:40

A Moody’s deixa bem claro qual é o passo que precisamos satisfazer para o Brasil retomar o grau de investimento: responsabilidade fiscal

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar