Mitre além da análise técnica: porque ficar de olho no próximo trimestre
“A História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo.” A internet me diz que a frase é de Napoleão. Se for mesmo verdade, o que traria um paradoxo brutal para nossa proposição, ele teve uma sacada sobre retórica muito anterior àquela do Persio Arida e da Deirdre McCloskey.
O mercado tem seus próprios temas, suas narrativas e seus preconceitos. Quando essas versões são verdadeiras ou, ao menos, parcialmente verdadeiras, tudo bem. Vida que segue. Mas sejamos sinceros: nós, os financistas, adoramos acreditar nas próprias mentiras.
O preço de um determinado ativo na tela é um consenso de mercado sobre as expectativas para o fluxo de caixa a ele associados, trazidos a valor presente por uma taxa de desconto apropriada. Como se forma esse consenso é o problema. Leitores de Persio e McCloskey, sabemos que embates dialéticos em Economia (e em Finanças) não se resolvem por superação positiva. Ou seja, quando uma tese enfrenta uma antítese, a síntese se forma não a partir da melhor teoria, mas simplesmente por aquela com as melhores regras de retórica. A síntese, que em finanças responde por “consenso de mercado”, é apenas a versão mais convincente da história.
Nesta parte do texto, sempre aparece o “cientista de dados” para criticar o argumento. “Os dados são o novo petróleo”, ponderam, acreditando que os números podem resolver tudo. Esqueceram que os combustíveis fósseis estão mais marginalizados do que os fumantes e os não vacinados. Benjamin Disraeli oferece uma boa resposta: “Há três espécies de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas”. Sob tortura, os dados confessam qualquer coisa. Inclusive, uma das melhores regras de retórica é o convencimento pelo formalismo matemático — esse é um argumento insuperável!
Uma das mentiras aceitas na Faria Lima e no Leblon (e ai de você se questioná-la) se refere à superioridade do investidor institucional sobre a pessoa física. Sabe como é: Narciso acha feio o que não é espelho. Como ouvi recentemente de um grande executivo, “a turma inteligentona não gosta de quem é barriga no balcão”. Como não sou inteligentão e noto minha barriga mais saliente, tenho orgulho de pertencer ao segundo grupo.
“O varejo é muito afoito.”
“O varejo se preocupa muito com performance passada e recente.”
“O varejo não está preparado para produtos mais sofisticados.”
“O varejo é sempre muito concentrado.”
“O varejo não está pronto para a internacionalização."
Leia Também
Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje
Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis
Essas são só algumas frases típicas. Só vejo príncipes na vida.
Aí os mesmos príncipes alocadores começam a cobrar resultados dos gestores de fundos depois dos primeiros 12 meses sem performance — claro que se a distância para a marca d’água estiver grande, dificultando o rebate da taxa de performance, a agilidade para o saque é ainda maior.
De onde vem tanta superioridade intelectual?
Vejo alguns dados simples:
Home bias na alocação do outro é refresco.
Os mesmos vieses cognitivos que acometem os investidores de varejo incidem também sobre os institucionais, talvez diferindo um pouco no tom e na intensidade.
A concentração local nos investimentos é só um deles. Outro típico é o viés de representatividade. O gestor que perdeu dinheiro com Tele Centro Oeste Celular ou BRTO não quer nunca mais saber de telecom. Se o ciclo de 2011 a 2015 foi destruidor para os fundos de small caps, então condenamos para sempre a classe — e assim muitos fundos perderam a multiplicação de 2016-19. Seria mesmo um problema da classe ou apenas do ciclo?
A sapiência dos doutores agora descarta as incorporadoras, talvez pelos erros do passado. É legítimo. Gato escaldado tem medo de água fria. Mas será mesmo que a situação atual não é outra? Será que não aprendemos nada com a expansão geográfica desenfreada do ciclo anterior? Será que o próprio avanço tecnológico não permite hoje um nível de controle de obra totalmente diferente e uma redução do risco de estouro de orçamento? Será que hoje não temos um pouco mais de profusão de instrumentos de crédito que nos permitam atravessar uma Selic um pouco mais alta? Ou, ao menos: será que não conseguimos separar o joio do trigo? Ou, ainda, pelo menos aproveitar um ciclo de médio prazo favorável?
Ontem, falei aqui da excelente prévia de Direcional, de quanto essa operação está na mão, do expressivo crescimento da companhia e do valuation muito atrativo de suas ações — sem nem mencionar as surpresas a caminho no terceiro trimestre.
Hoje, vou falar de Mitre.
A empresa apresentou um crescimento de 443% das vendas líquidas em relação ao primeiro trimestre e de 127% sobre o mesmo período do ano anterior. Sabemos, claro, da base de comparação fraca — sem ingenuidade. Mas, mesmo assim, o crescimento e o nível em que a companhia começa a operar chamam atenção. Os lançamentos voltaram no segundo trimestre, marcando um VGV de R$ 237 milhões, dobrando frente a igual período de 2020.
Ainda mais interessante é a velocidade de vendas, em 29,5%. Mitre tem sido uma das maiores VSO do segmento, combinando isso a um nível de rentabilidade muito elevado. Inclusive, entendo que a próxima surpresa vem do patamar de margens no trimestre — a companhia tem conseguido colocar preço nos lançamentos e, mais surpreendente, também no estoque, que praticamente não subiu no trimestre.
Uma coisa legal e que quase ninguém fala: a empresa lançou 11 empreendimentos desde o IPO, sendo que em 10 deles a velocidade de vendas veio acima de 60% — honestamente, não conheço uma execução assim.
A companhia não tem dívida, não tem esqueleto no armário nem legado ruim, pode entregar um ROE superior a 20% com alguma tranquilidade. Companhia a 6 vezes lucros para 2022, com operação na mão.
Fundamento está redondo. Técnico é um pouco ruim, seja por conta do preconceito enorme com o setor, seja porque ainda há um vendedor grande — é um único, mas ele ainda está lá, com alguma coisa perto de 1,5 milhão de ações remanescentes. Se rasparem o cara, isso voa para R$ 14-15 rapidinho.
Para mim, lembra muito a Eztec lá atrás. Mas essa é uma verdade que ninguém quer acreditar. Ao menos por enquanto.
O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje
O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro
Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação
Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.
Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários
Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos
Petrobras (PETR4) pode surpreender com até R$ 10 bilhões em dividendos, Vale divulgou resultados, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A petroleira divulgou bons números de produção do 3° trimestre, e há espaço para dividendos bilionários; a Vale também divulgou lucro acima do projetado, e mercado ainda digere encontro de Trump e Xi
Dividendos na casa de R$ 10 bilhões? Mesmo depois de uma ótima prévia, a Petrobras (PETR4) pode surpreender o mercado
A visão positiva não vem apenas da prévia do terceiro trimestre — na verdade, o mercado pode estar subestimando o potencial de produção da companhia nos próximos anos, e olha que eu nem estou considerando a Margem Equatorial
Vale puxa ferro, Trump se reúne com Xi, e bolsa bateu recordes: veja o que esperar do mercado hoje
A mineradora divulga seus resultados hoje depois do fechamento do mercado; analistas também digerem encontro entre os presidentes dos EUA e da China, fala do presidente do Fed sobre juros e recordes na bolsa brasileira
Rodolfo Amstalden: O silêncio entre as notas
Vácuos acumulados funcionaram de maneira exemplar para apaziguar o ambiente doméstico, reforçando o contexto para um ciclo confiável de queda de juros a partir de 2026
A corrida para investir em ouro, o resultado surpreendente do Santander, e o que mais mexe com os mercados hoje
Especialistas avaliam os investimentos em ouro depois do apetite dos bancos centrais por aumentar suas reservas no metal, e resultado do Santander Brasil veio acima das expectativas; veja o que mais vai afetar a bolsa hoje
O que a motosserra de Milei significa para a América Latina, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A Argentina surpreendeu nesta semana ao dar vitória ao partido do presidente Milei nas eleições legislativas; resultado pode ser sinal de uma mudança política em rumo na América Latina, mais liberal e pró-mercado
A maré liberal avança: Milei consolida poder e reacende o espírito pró-mercado na América do Sul
Mais do que um evento isolado, o avanço de Milei se insere em um movimento mais amplo de realinhamento político na região
Os balanços dos bancos vêm aí, e mercado quer saber se BB pode cair mais; veja o que mais mexe com a bolsa hoje
Santander e Bradesco divulgam resultados nesta semana, e mercado aguarda números do BB para saber se há um alçapão no fundo do poço
Só um susto: as ações desta small cap foram do céu ao inferno e voltaram em 3 dias, mas este analista vê motivos para otimismo
Entenda o que aconteceu com os papéis da Desktop (DESK3) e por que eles ainda podem subir mais; veja ainda o que mexe com os mercados hoje
Por que o tombo de Desktop (DESK3) foi exagerado — e ainda vejo boas chances de o negócio com a Claro sair do papel
Nesta semana os acionistas tomaram um baita susto: as ações DESK3 desabaram 26% após a divulgação de um estudo da Anatel, sugerindo que a compra da Desktop pela Claro levaria a concentração de mercado para níveis “moderadamente elevados”. Eu discordo dessa interpretação, e mostro o motivo.
Títulos de Ambipar, Braskem e Raízen “foram de Americanas”? Como crises abalam mercado de crédito, e o que mais movimenta a bolsa hoje
Com crises das companhias, investir em títulos de dívidas de empresas ficou mais complexo; veja o que pode acontecer com quem mantém o título até o vencimento
Rodolfo Amstalden: As ações da Ambipar (AMBP3) e as ambivalências de uma participação cruzada
A ambição não funciona bem quando o assunto é ação, e o caso da Ambipar ensina muito sobre o momento de comprar e o de vender um ativo na bolsa
Caça ao Tesouro amaldiçoado? Saiba se Tesouro IPCA+ com taxa de 8% vale a pena e o que mais mexe com seu bolso hoje
Entenda os riscos de investir no título público cuja remuneração está nas máximas históricas e saiba quando rendem R$ 10 mil aplicados nesses papéis e levados ao vencimento
Crônica de uma tragédia anunciada: a recuperação judicial da Ambipar, a briga dos bancos pelo seu dinheiro e o que mexe com o mercado hoje
Empresa de gestão ambiental finalmente entra com pedido de reestruturação. Na reportagem especial de hoje, a estratégia dos bancões para atrair os clientes de alta renda
Entre o populismo e o colapso fiscal: Brasília segue improvisando com o dinheiro que não tem
O governo avança na implementação de programas com apelo eleitoral, reforçando a percepção de que o foco da política econômica começa a se deslocar para o calendário de 2026
Felipe Miranda: Um portfólio para qualquer clima ideológico
Em tempos de guerra, os generais não apenas são os últimos a morrer, mas saem condecorados e com mais estrelas estampadas no peito. A boa notícia é que a correção de outubro nos permite comprar alguns deles a preços bastante convidativos.