As ações de tecnologia estão caras ou baratas? Saiba como os analistas fazem as contas
Com o tempo, a análise dessas empresas migrou da abordagem de tradicional para um modelo de probabilidades e grandes números
Olá, seja muito bem vindo ao nosso papo de domingo que às vezes é sobre tecnologia, às vezes sobre investimentos, mas raramente sobre algo interessante.
Geralmente, minhas conversas com assinantes da Empiricus interessados em empresas de tecnologia começam com uma pergunta superobjetiva:
Mas essas ações não estão muito caras?
Faz alguns anos que tenho praticado, mas nunca consigo dar uma resposta diferente de "depende".
Respostas vagas são a maldição dos economistas.
Naturalmente, a tréplica é objetiva: "depende do quê?"
Leia Também
Dedicarei a coluna de hoje aos fatores que acredito ajudarem a explicar se uma ação está cara ou barata; mais especificamente, se uma ação de tecnologia está cara ou barata.
Modelo financeiro
Por mais abstrato que seja, a ação está vinculada a uma entidade viva. Uma empresa com funcionários, fornecedores, produtos, admiradores e haters.
Não é racional pensar que um restaurante de bairro, tocado pelo professor de wrestling da escola local, possa valer mais de 1 bilhão de dólares.
Existe um fio condutor conectando essas pontas: o preço da ação e as características da empresa subjacente.
Esse fio são os seus fluxos de caixa.
Não os fluxos de caixas passados, afinal, esses já foram embolsados e utilizados, mas sim a sua capacidade de gerar fluxos de caixa no futuro.
Pense num imóvel.
Seu imóvel não pode ser alugado por R$ 2 mil ao mês porque ele vale R$ 450 mil. Na verdade, ele vale R$ 450 mil porque pode ser alugado a R$ 2 mil ao mês.
É a capacidade de gerar fluxos de caixa que determina o valor de um ativo, e não o contrário.
Essa é a essência do "valuation". Geralmente, é o planilhão que nós, analistas, fazemos com base nos demonstrativos financeiros das empresas, tentando estimar quais serão seus fluxos de caixa no futuro.
Esses fluxos de caixa no futuro serão a nossa referência para dizer se a ação está cara ou barata.
Boneca russa
Essa é uma visão geral e genérica sobre o exercício. Mas claro, cada caso é um caso.
A modelagem será tão mais precisa, quanto mais estáveis forem esses fluxos de caixa.
No exemplo do imóvel, é relativamente simples projetar seu fluxo de caixa futuro.
É o aluguel de hoje, corrigido pela inflação, e talvez com um aumento/contração de preços no vencimento do contrato.
Se estivermos falando de uma empresa regulada, como uma transmissora de energia, que têm seus contratos fechados e valores aprovados por um agente regulador, temos também um exercício relativamente simples.
Temos o capex (investimento) estimado para construção da linha, sabemos o indexador e a receita que irá remunerar essa operação; conhecemos relativamente bem o gasto necessário de manutenção, e temos o vencimento do contrato.
Com essas informações podemos estimar um fluxo de caixa bastante digno…
É trabalhoso e braçal, porém simples.
Ambos são exemplos com alta previsibilidade, uma característica típica de empresas maduras, estabelecidas ou reguladas.
Isso é tudo o que uma empresa de tecnologia não é.
Numa empresa de tecnologia, tudo pode mudar em questão de 12 meses.
Um exemplo real
O Méliuz (CASH3) é uma das novas empresas de tecnologia que chegaram à B3.
Seu novo produto, o cartão de crédito, levou um ano e meio para alcançar 1,5 milhão de clientes.
Ao projetar os fluxos de caixa do Méliuz, quanto tempo você imaginaria ser necessário para que eles alcançassem seu próximo 1,5 milhão de cartões?
O mesmo um ano e meio? Um ano? Seis meses?
Na prática, demorou apenas um trimestre.
Com esse exemplo eu quero dizer o seguinte: estimar os fluxos de caixa de uma empresa de tecnologia é ordens de magnitude mais complexo do que de uma empresa tradicional.
Com o tempo, a análise dessas empresas migrou dessa abordagem de tradicional para um modelo de probabilidades e grandes números.
Como assim?
Quando você vê uma notícia como essa: Clubhouse é avaliado em 4 bilhões de dólares em nova captação, você pensa: como uma empresa sem receitas pode valer 4 bilhões de dólares?
Existem duas respostas possíveis: a primeira é "não, não pode valer, isso é completamente irracional, não há premissas que justifiquem".
Ou você pode pensar em termos relativos: "não tenho como saber quando eles começarão a monetizar o produto, mas trata-se de uma rede social, um modelo escalável, com efeitos de rede e muito potencial de viralizar."
Quem é o grande expoente do setor com as características acima?
Resposta: o Facebook.
O Facebook vale US$ 867 bilhões.
De maneira subjacente, ao avaliar o Clubhouse em 4 bilhões de dólares, seus investidores estão assumindo uma probabilidade de ~0,5% (4 bilhões / 867 bilhões) de que, no futuro, o Clubhouse possa se tornar o novo Facebook.
Alguns acharão uma probabilidade muito baixa, que justifica o investimento. Outros acharão uma probabilidade muito alta, e não farão o investimento.
Unit Economics
Claro, o exemplo que eu usei é bastante extremo. Não devemos ficar comparando todo mundo com o Facebook.
Na verdade, tentamos comparar a própria empresa de tecnologia com o que ela pode vir a ser no futuro.
- Qual o problema de negócios que essa empresa resolve?
- Qual o tamanho do mercado em que essa empresa está inserida? E como esse mercado poderá se expandir ou contrair?
- Se ela for bem sucedida, quais margens podem ser obtidas?
- Essas margens podem gerar que tamanho de fluxos de caixa no futuro?
- A que múltiplo deveria negociar uma empresa como essa, na maturidade?
Esse conjunto de perguntas compõem o "depende" que responde à minha pergunta inicial.
No presente, todas as empresas de tecnologia irão parecer ações caras mesmo.
(i) Algumas delas, porém, estão imersas num mercado tão grande, com tantas oportunidades, que seus preços de hoje parecerão pechincha se eles forem bem sucedidos.
(ii) Mas claro, eles podem fracassar. Nesse caso, os preços que hoje parecem caros, de fato são caríssimos.
O grande problema nessa construção é que os resultados — (i) ou (ii) — serão conhecidos apenas no futuro.
Tudo o que podemos fazer a respeito dele no presente é estudar, qualitativamente, e apostar em probabilidades.
Na maioria dos casos, a hipótese (ii) se provará a correta. A maioria das empresas de tecnologia fracassam.
Porém, na minoria dos casos em que a hipótese (i) se provar verdadeira, o retorno será tão grande que vai mais do que justificar todos os demais erros cometidos ao longo do caminho, desde que você tenha sabido dosar suas apostas.
Investir em tecnologia demanda muitas coisas, entre elas, humildade.
Contato
Se você gostou dessa coluna, pode entrar em contato comigo através do e-mail telaazul@empiricus.com.br, com ideias, críticas e sugestões.
Também pode conhecer o fundo de investimentos que implementa as ideias que eu, o Rodolfo Amstalden e Maria Clara Sandrini nos dedicamos semanalmente a produzir.
E claro, siga acompanhando meu trabalho através do Podcast Tela Azul, em que, todas as segundas-feiras, eu e meus amigos André Franco e Vinicius Bazan falamos sobre tecnologia e investimentos.
Aproveite para se inscrever no nosso Telegram; todos os dias, postamos comentários sobre o impacto da tecnologia no mercado financeiro (e no seu bolso).
Um abraço!
Negócios de mais de R$ 1 bilhão sugerem que essas ações de grande potencial não vão ficar esquecidas por muito tempo
Você não precisa ser milionário para fazer um bom negócio no setor de ISP. Com muito menos, você entra no home broker e compra algumas ações com potencial de valorização bem atrativo
O strike de Trump na bolsa: dólar perde força, Ibovespa vai à mínima e Petrobras (PETR4) recua. O que ele disse para mexer com os mercados?
O republicano participou do primeiro evento internacional depois da posse ao discursar, de maneira remota, no Fórum Econômico Mundial de Davos. Petróleo e China estiveram entre os temas.
Não deu para o Speedcat: Ações da Puma despencam mais de 20% após resultados de 2024 e empresa fará cortes
No dia anterior, a Adidas anunciou que superou as projeções de lucro e receita em 2024, levando a bolsa alemã a renovar máxima intradia
A bolsa da China vai bombar? As novas medidas do governo para dar fôlego ao mercado local agrada investidores — mas até quando?
Esta não é a primeira medida do governo chinês para fazer o mercado de ações local ganhar tração: em outubro do ano passado, o banco central do país lançou um esquema de swap para facilitar o acesso de seguradoras e corretoras à compra de ações
Todo vazio será ocupado: Ibovespa busca recuperação em meio a queda do dólar com Trump preenchendo o vácuo de agenda em Davos
Presidente dos Estados Unidos vai participar do Fórum Econômico Mundial via teleconferência nesta quinta-feira
Na ‘batalha’ contra o iPhone, Samsung lança novos modelos Galaxy e aposta em funcionalidade ‘futurista’ para se tornar a favorita dos usuários
Atualização mais recente da linha S acirra a guerra com a Apple
Dólar abaixo de R$ 6: moeda americana renova série de mínimas graças a Trump — mas outro motivo também ajuda na queda
Enquanto isso, o Ibovespa vira e passa a operar em baixa, mas consegue se manter acima dos 123 mil pontos
Na conta do Round 6, de Mike Tyson e da NFL: balanço da Netflix supera expectativas do mercado e ação dispara em NY
Número expressivo de novos assinantes ajudou a empresa a registrar lucro operacional recorde e receita 16% maior na comparação anual
Quando o sonho acaba: Ibovespa fica a reboque de Wall Street em dia de agenda fraca
Investidores monitoram Fórum Econômico Mundial, decisões de Donald Trump e temporada de balanços nos EUA e na Europa
Efeito Trump na bolsa e no dólar: Nova York sobe de carona na posse; Ibovespa acompanha, fica acima de 123 mil pontos e câmbio perde força
Depois de passar boa parte da manhã em alta, a moeda norte-americana reverteu o sinal e passou a cair ante o real
Metralhadora giratória: Ibovespa reage às primeiras medidas de Trump com volta do pregão em Nova York
Investidores ainda tentam mensurar os efeitos do retorno de Trump à Casa Branca agora que a retórica começa a se converter em ações práticas
Donald Trump está de volta com promessa de novidades para a economia e para o mercado — e isso abre oportunidades temáticas de investimentos
Trump assina dezenas de ordens executivas em esforço para ‘frear o declínio americano e inaugurar a Era de Ouro da América’.
Donald Trump 2T1E: Ibovespa começa semana repercutindo troca de governo nos EUA; BC intervém no dólar pela primeira vez em 2025
Enquanto mercados reagem à posse de Trump, Banco Central vende US$ 2 bilhões em dois leilões de linha programados para hoje
Banco Central fará primeira intervenção no dólar em 2025 no dia da posse de Donald Trump nos EUA
Banco Central venderá US$ 2 bilhões nesta segunda-feira (20) em dois leilões de linha; entenda como e quando ocorrem as operações
As ações queridinhas dos gestores estão na promoção e eles não podem fazer nada. Azar o deles!
Enquanto os gestores estão chupando o dedo, assistindo boas oportunidades passar sem poder fazer nada, você pode começar a montar uma carteira de ações de empresas sólidas por valuations que raramente são vistos
Entre a paciência e a ansiedade: Ibovespa se prepara para posse de Trump enquanto investidores reagem a PIB da China
Bolsas internacionais amanhecem em leve alta depois de resultado melhor que o esperado da economia chinesa no quarto trimestre de 2024
Empresas recompram R$ 26 bilhões das próprias ações na B3 em 2024. E vem mais por aí — saiba para onde o investidor deve olhar neste ano
Na ponta vendedora aparecem os investidores estrangeiros e institucionais, com montantes de R$ 32 bilhões e R$ 39 bilhões, respectivamente
A Nova Zelândia é aqui: Ibovespa tenta manter recuperação em dia de IBC-Br e varejo nos EUA depois de subir quase 3%
Enquanto a temporada de balanços começa em Wall Street, os investidores buscam sinais de desaquecimento econômico no Brasil e nos EUA
Onde investir 2025: essas são as 9 ações favoritas para lucrar na bolsa em 2025 — e outros 5 nomes para garantir dividendos pingando na conta
Para quem estiver disposto a desafiar o pessimismo macroeconômico, há quem veja 2025 como uma janela interessante para aproveitar ativos atraentes; veja as indicações
Agora vai? Ibovespa engata alta de mais de 2% junto com Nova York e chega aos 122 mil pontos; dólar fecha em baixa de R$ 6,0252
Dados de inflação e da indústria nos EUA mexem com as bolsas aqui e lá fora, mas tem banco grande dizendo que a euforia pode ser exagerada; entenda os motivos