Expansão do mercado: crescer para os lados é a solução
Expansão do mercado deve ocorrer de maneira horizontal através de IPOs, o que evitará inevitáveis bolhas e seus respectivos crashes.
Raciocinando por exagero ou absurdo (reduction ad absurdum, na definição de Aristóteles em Analytica Priora), imaginemos que apenas três ações fossem negociadas na B3. Banco do Brasil, Vale e Petrobras, por exemplo.
Como as aplicações em títulos de renda fixa não estão rendendo nada, e cada vez mais investidores se voltam para a Bolsa, esses três papéis estariam hipervalorizados. Felizmente, há três ou quatro centenas de outros, embora não em quantidade e liquidez suficientes para absorver o fluxo de dinheiro que está migrando para a renda variável.
Nessa toada, logo teremos múltiplos P/L (relação preço/lucro) e ebitdas (Earnings before interest, Taxes, Depreciation and Amortization – Receitas antes dos juros, Impostos, Depreciação e Amortização) obscenos.
Repetindo: o número de companhias listadas na B3 é ínfimo se levarmos em conta a quantidade de sociedades anônimas de grande porte existentes no Brasil.
No atual cenário de escassez de papéis rentáveis, é preciso que haja grande quantidade de IPOs para que o mercado possa crescer horizontalmente. Caso contrário, estaremos nos encaminhando para uma bolha. E bolha, como todos sabem, estoura. Pior, estoura nas mãos dos últimos que entraram na roda.
Quem acompanha de perto a movimentação das ações, sabe que novos IPOs estão para acontecer ainda este ano e no primeiro semestre de 2021. Não na velocidade ideal, mas estão.
Leia Também
Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje
Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis
Na página 24 de meu livro Projeto Maratona (Editora de Cultura, 2009) explico como esses lançamentos começaram.
“Vieram então os descobrimentos. As viagens de Cristóvão Colombo (1492), Vasco da Gama (1497), Américo Vespúcio (1499), Pedro Álvares Cabral (1500) e Fernão de Magalhães (1519) foram apenas o ponto de partida para inúmeras outras. O financiamento dessas expedições ensejou a oportunidade de investimentos de altíssimo risco, contrabalançados por retornos espetaculares quando as caravelas retornavam abarrotadas de especiarias, ouro, prata, seda e produtos os mais diversos.
Em 24 de setembro de 1599, por exemplo, 24 comerciantes de Londres fundaram uma empresa com o capital de 72 mil libras, subscrito por 125 acionistas. Objetivo: importar pimenta das Índias, comércio até então exclusivo dos holandeses.
Com as bolsas de valores e de commodities e a negociação de cotas-partes desses empreendimentos além-mar, a pequena burguesia pôde sonhar com riquezas até então só acessíveis aos nobres. Tímida e lentamente, o capital começou a ser democratizado.”
Ao longo da história, sempre houve IPOs fraudulentos. Nas páginas 346 e 347 de meu livro Os mercadores da noite, edição da Inversa, menciono dois deles:
“…na década de 1710, tendo Paris como cenário, um escocês, de nome John Law, para uns gênio das finanças, para outros espertalhão, falsário e, até mesmo, assassino – batera-se em duelo, de maneira não muito leal, em Londres, em 1694 −, estabeleceu a Compagnie de’Occident. Esta foi agraciada pela coroa francesa com os direitos de exploração de ouro no território da Louisiana, na época pertencente à França.
Law ofertou ações da nova companhia ao público. A aceitação foi fantástica, embora não houvesse nenhum indício da existência de ouro na Louisiana. Uma investigação mais apurada mostraria que a Compagnie de”Occident nem mesmo chegou a iniciar uma prospecção. Mas isso era um detalhe irrelevante para os especuladores parisienses. Lançaram-se ávidos à compra e venda dos novos papéis, no velho mercado de valores da Rue Quincampoix.
Em 1720, o mercado vacilou. Um príncipe, De Conti, suscitara algumas dúvidas sobre a existência daquele ouro. John Law respondeu aos rumores contratando centenas de mendigos nas ruas de Paris. Equipou-os de pás e picaretas. Fê-los marchar pela cidade, como se dirigissem à Louisiana. Mas, quando, algumas semanas depois, os especuladores viram os pedintes de volta, em seus pontos tradicionais, perderam as esperanças. O mercado desabou, lançando na miséria milhares de investidores.
Enquanto em Paris as pessoas se lançavam em busca da fortuna fácil, em Londres, não se fazia por menos. A South Sea Company, fundada por Robert Harley, conde de Oxford, vendia ações ao público, acenando-lhe com a possibilidade de lucros gigantescos, a serem obtidos na exploração das riquezas da costa ocidental da América do Sul. Relegava-se a um segundo plano o fato de que a Coroa de Espanha, soberana das terras em questão, autorizara a South Company a fazer uma única viagem anual à região.
A febre tomou conta dos investidores ingleses. Entre janeiro de 1720 e o fim do verão daquele ano, quando sobreveio o crash, as ações da South Company pularam de 128 libras para mil.”
O crash de outubro de 1929 também se deveu, em grande parte, à enorme quantidade de IPOs sem a menor consistência.
No auge do grande bull market brasileiro de ações que durou de 1967 a 1971, os aplicadores compravam tudo que aparecia pela frente. O resultado não podia ser outro. Uma geração de investidores que poderiam mudar o país para sempre, e para melhor, simplesmente se perdeu.
O fenômeno se repete ciclicamente, em todos os cantos.
Entre 1994 e 2000, centenas de milhares de americanos acharam que poderiam ficar ricos comprando ações de empresas virtuais, as chamadas dot.com, a maioria originária de fundo de quintal.
Percebendo que aquilo poderia se transformar em um novo 1929, o chairman do FED, Alan Greenspan, acabou com a festa ao classificá-la como “exuberância irracional”.
No Brasil, uma nova ocasião ideal para expansão saudável e horizontal do mercado de ações ocorreu no final da década de 2000. Sob a batuta de Henrique Meirelles, o Banco Central administrava com maestria as reservas cambiais e a taxa Selic.
Como se não bastasse, o PIB crescia a taxas robustas, tendo chegado a 6,1% em 2007. Sem pressões inflacionárias, diga-se de passagem.
A Bolsa respondeu a contento e os IPOs se sucederam.
Veio então a crise do subprime, subestimada como “marolinha” pelo presidente Lula. O governo não agiu a tempo e deu no que deu: uma década de crescimento pífio.
Agora, tudo indica que chegou a vez de um novo ciclo de papéis novos na Bolsa. Com a taxa Selic no nível mais baixo de todos os tempos, restaram poucas opções de investimento que não os de renda variável.
Mais do que necessários, imprescindíveis, os IPOs já começaram a ressurgir. Com uma novidade. Além da B3, algumas empresas estão lançando ações na Nasdaq.
Esses lançamentos tanto podem ser péssimos negócios como investimentos espetaculares, não raro para toda a vida.
O importante é agir sob a orientação de um especialista.
A Inversa, conta com gente que se debruça em análises não só das perspectivas futuras das empresas que estão sendo lançadas como também de seus respectivos setores de atividade.
Se tudo ocorrer como se espera, teremos um crescimento saudável e horizontal do mercado brasileiro de ações. Isso evitará inevitáveis bolhas e seus respectivos crashes.
Aproveito para indicar a leitura do livro “Ivan: 30 Lições de Mercado” de minha autoria. Você pode ter adquirir as verdades mais importantes que TODO investidor deve saber, clique aqui.
Um grande abraço,
Ivan Sant'Anna
O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje
O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro
Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação
Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.
Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários
Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos
Petrobras (PETR4) pode surpreender com até R$ 10 bilhões em dividendos, Vale divulgou resultados, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A petroleira divulgou bons números de produção do 3° trimestre, e há espaço para dividendos bilionários; a Vale também divulgou lucro acima do projetado, e mercado ainda digere encontro de Trump e Xi
Dividendos na casa de R$ 10 bilhões? Mesmo depois de uma ótima prévia, a Petrobras (PETR4) pode surpreender o mercado
A visão positiva não vem apenas da prévia do terceiro trimestre — na verdade, o mercado pode estar subestimando o potencial de produção da companhia nos próximos anos, e olha que eu nem estou considerando a Margem Equatorial
Vale puxa ferro, Trump se reúne com Xi, e bolsa bateu recordes: veja o que esperar do mercado hoje
A mineradora divulga seus resultados hoje depois do fechamento do mercado; analistas também digerem encontro entre os presidentes dos EUA e da China, fala do presidente do Fed sobre juros e recordes na bolsa brasileira
Rodolfo Amstalden: O silêncio entre as notas
Vácuos acumulados funcionaram de maneira exemplar para apaziguar o ambiente doméstico, reforçando o contexto para um ciclo confiável de queda de juros a partir de 2026
A corrida para investir em ouro, o resultado surpreendente do Santander, e o que mais mexe com os mercados hoje
Especialistas avaliam os investimentos em ouro depois do apetite dos bancos centrais por aumentar suas reservas no metal, e resultado do Santander Brasil veio acima das expectativas; veja o que mais vai afetar a bolsa hoje
O que a motosserra de Milei significa para a América Latina, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A Argentina surpreendeu nesta semana ao dar vitória ao partido do presidente Milei nas eleições legislativas; resultado pode ser sinal de uma mudança política em rumo na América Latina, mais liberal e pró-mercado
A maré liberal avança: Milei consolida poder e reacende o espírito pró-mercado na América do Sul
Mais do que um evento isolado, o avanço de Milei se insere em um movimento mais amplo de realinhamento político na região
Os balanços dos bancos vêm aí, e mercado quer saber se BB pode cair mais; veja o que mais mexe com a bolsa hoje
Santander e Bradesco divulgam resultados nesta semana, e mercado aguarda números do BB para saber se há um alçapão no fundo do poço
Só um susto: as ações desta small cap foram do céu ao inferno e voltaram em 3 dias, mas este analista vê motivos para otimismo
Entenda o que aconteceu com os papéis da Desktop (DESK3) e por que eles ainda podem subir mais; veja ainda o que mexe com os mercados hoje
Por que o tombo de Desktop (DESK3) foi exagerado — e ainda vejo boas chances de o negócio com a Claro sair do papel
Nesta semana os acionistas tomaram um baita susto: as ações DESK3 desabaram 26% após a divulgação de um estudo da Anatel, sugerindo que a compra da Desktop pela Claro levaria a concentração de mercado para níveis “moderadamente elevados”. Eu discordo dessa interpretação, e mostro o motivo.
Títulos de Ambipar, Braskem e Raízen “foram de Americanas”? Como crises abalam mercado de crédito, e o que mais movimenta a bolsa hoje
Com crises das companhias, investir em títulos de dívidas de empresas ficou mais complexo; veja o que pode acontecer com quem mantém o título até o vencimento
Rodolfo Amstalden: As ações da Ambipar (AMBP3) e as ambivalências de uma participação cruzada
A ambição não funciona bem quando o assunto é ação, e o caso da Ambipar ensina muito sobre o momento de comprar e o de vender um ativo na bolsa
Caça ao Tesouro amaldiçoado? Saiba se Tesouro IPCA+ com taxa de 8% vale a pena e o que mais mexe com seu bolso hoje
Entenda os riscos de investir no título público cuja remuneração está nas máximas históricas e saiba quando rendem R$ 10 mil aplicados nesses papéis e levados ao vencimento
Crônica de uma tragédia anunciada: a recuperação judicial da Ambipar, a briga dos bancos pelo seu dinheiro e o que mexe com o mercado hoje
Empresa de gestão ambiental finalmente entra com pedido de reestruturação. Na reportagem especial de hoje, a estratégia dos bancões para atrair os clientes de alta renda
Entre o populismo e o colapso fiscal: Brasília segue improvisando com o dinheiro que não tem
O governo avança na implementação de programas com apelo eleitoral, reforçando a percepção de que o foco da política econômica começa a se deslocar para o calendário de 2026
Felipe Miranda: Um portfólio para qualquer clima ideológico
Em tempos de guerra, os generais não apenas são os últimos a morrer, mas saem condecorados e com mais estrelas estampadas no peito. A boa notícia é que a correção de outubro nos permite comprar alguns deles a preços bastante convidativos.