China: uma nova economia com velhos hábitos e epidemias – e uma commodity resistente ao coronavírus
Colunista relembra as transformações político e econômicas do país, destaca que o hábito de comer bichos exóticos e peçonhentos perdura e aponta uma commodity que tem tido uma saída honrosa em meio ao novo coronavírus

Ao final da Segunda Guerra Mundial, havia duas correntes políticas fortes na China. Os comunistas, liderados por Mao Tsé-Tung, e os nacionalistas, por Chiang Kai-shek.
Embora ambos tivessem apoiado os Aliados durante o conflito, assim que este acabou iniciou-se uma luta fratricida pelo poder, conhecida como Guerra Civil Chinesa.
A União Soviética, como não podia deixar de ser, ficou do lado de Mao. Os Estados Unidos, do generalíssimo Chiang.
Após três anos de combates ferozes, os comunistas expulsaram os nacionalistas. Estes se refugiaram na ilha de Taiwan, que a China classificava como província rebelde, denominação que usa até hoje.
Liderados pelos Estados Unidos, os países da recém-criada ONU não só reconheceram Taiwan como representante de toda a China (inclusive, é claro, a continental comunista) e lhe deram um assento permanente no Conselho de Segurança com poder de veto.
Excluindo-se as relações (nem sempre muito amistosas) com a União Soviética e paternais com a Coreia do Norte, o governo chinês fechou suas fronteiras. Não recebiam turistas e muito menos seus habitantes podiam viajar para fora.
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Se havia epidemias na China, o mundo, quando tomava conhecimento, não dava importância justamente porque elas não ultrapassavam os limites do país.
Embora a população tivesse o hábito de, literalmente, comer cobras e lagartos (sem contar morcegos, ratos, escorpiões e cachorros), o isolamento funcionava como barreira sanitária.
Nos últimos dez anos de vida do líder Mao Tsé-Tung (1966 a 1976) o poder passou a ser exercido pela “Camarilha dos Quatro” (ou Gangue dos Quatro), como eram mais conhecidos, da qual fazia parte a última mulher de Mao, Jiang Qing.
Foi a época da Revolução Cultural. Se até então os ocidentais, com seus hábitos “decadentes”, eram rejeitados, passaram a ser demonizados.
Mas algumas mudanças importantes aconteceram:
Em 1971, por pressão da União Soviética, a China Continental foi admitida nas Nações Unidas, com direito a assento permanente no Conselho de Segurança Nacional e poder de veto. Ao mesmo tempo, Taiwan foi expulsa da ONU, estando de fora até hoje.
Como as relações entre Pequim e Moscou andavam tensas, com alguns incidentes graves e reivindicações de fronteira, o presidente Richard Nixon, que assumira em 1969, ensaiou os primeiros passos de uma aproximação.
Em abril de 1971, uma equipe americana de jogadores de tênis de mesa aceitou, com autorização de Washington, um convite para disputar um torneio em Pequim.
Foi o primeiro grupo de cidadãos dos Estados Unidos a visitar a China desde 1949.
Três meses mais tarde, o Assessor de Segurança Nacional de Nixon, Henry Kissinger, fez uma visita secreta a Pequim, sendo recebido por Chou En-Lai, segundo na hierarquia do poder. Sua missão: preparar uma viagem oficial de Richard Nixon à China.
O encontro Nixon/Mao, em 1972, deixou o mundo pasmo.
Em plena Revolução Cultural, americanos e chineses estendiam, ainda timidamente, as mãos, dando início a uma nova era.
Logo após a morte de Mao Tsé-Tung, em 9 de setembro de 1976, a Gangue dos Quatro foi presa e julgada com grande exposição na mídia, coisa raríssima na China.
Com exceção de um deles, que pegou 20 anos, os demais receberam pena de morte, mais tarde comutada em prisão perpétua. Quinze anos depois, a viúva de Mao Tsé-Tung cometeria suicídio em sua cela.
Entre 1976 e 1978, a China entrou em processo de transição. Começaram a surgir as primeiras fábricas de produtos destinados à exportação, o consumo doméstico cresceu. Os guardas vermelhos, brandindo o livro de Mao, desapareceram das ruas.
Surgiu então o verdadeiro revolucionário, Deng Xiaoping, que a História provavelmente irá comparar, em importância como transformador, ao turco Mustafa Kemal Ataturk (1881/1938).
Deng não foi apenas o homem que disse que “não importa se o gato é preto ou branco, desde que mate o rato”. Comercialmente falando, ele escancarou a China para o mundo.
Em 1991, numa viagem que fiz à Flórida, para que minha filha caçula, então com nove anos de idade, conhecesse a Disney, parei num hipermercado Walmart para comprar uma mala.
Fiquei impressionado com a quantidade de produtos chineses: ferramentas, loucas, eletrodomésticos, desentupidores de pia, pias, canos, torneiras e quinquilharias as mais diversas. Tudo vinha da China. Inclusive a mala que adquiri.
Nos 13 anos que antecederam àquela minha compra prosaica, a China cresceu anualmente a taxas que não raro ultrapassaram dois dígitos.
A economia do país continuou se expandindo. Eles se tornaram os maiores exportadores mundiais (2,5 trilhões de dólares em 2018), o segundo maior importador (2,1 trilhões no mesmo ano) e acumularam reservas cambiais de mais de 3 trilhões de dólares.
Só que alguns costumes não mudaram, entre eles o hábito de comer bichos exóticos, peçonhentos, repelentes e criados em condições sanitárias as mais precárias.
Em pleno 2020, ainda se vê na China galinhas e patos sendo engordados em gaiolas, gaiolas essas empilhadas em cima de um chiqueiro. Ou seja, os porcos vivem em meio às suas próprias fezes e as fezes das aves que moram na “cobertura”.
O país tornou-se o maior exportador de…. de pandemias.
Exemplos marcantes:
- 1997: Gripe Aviária A (H5N1)
- 2003: SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave);
- 2019: Gripe suína
- 2020: Coronavírus (em fase de expansão)
***
Há menos de um mês, diversas commodities fizeram máximas acima das ocorridas em todo o ano de 2019. Entre elas, o petróleo e as agrícolas soja, trigo, café e açúcar.
Veio então a notícia de que um novo vírus (coronavírus, nome que todo mundo já aprendeu) surgira em Wuhan, capital e principal cidade da província de Hubei, metrópole de 11 milhões de habitantes situada na China Central.
Trata-se de um polo industrial importante que abriga, entre outras indústrias, as montadoras francesas Peugeot, Citroën e Renault.
Não por acaso, os primeiros infectados eram todos fregueses de um mercado que vendia, entre outras “iguarias”, cobras e morcegos, vivos, bem entendido, para abate e preparo na casa do comprador.
Já há alguns anos a China, com seus atuais um bilhão e quase quatrocentos milhões de consumidores, é o maior influenciador do preço das commodities.
Começando pelo petróleo:
Os chineses têm a maior frota de veículos automotores do mundo, com 340 milhões de unidades. Agora imaginem a quantidade de carros, caminhões e ônibus parados, ou rodando muito menos, por causa de restrições de viagens, e isolamento de cidades, impostas pelo governo para tentar conter o coronavírus.
Aos automóveis se somam os aviões. Trinta e sete companhias aéreas internacionais, muitas delas importantes como a American e a United Airlines e a British Airways suspenderam seus voos para a China.
Algumas fizeram isso para não se tornarem agentes espalhadores da doença, outra por causa do baixíssimo índice de ocupação dos voos, por motivos óbvios.
Consequência: em apenas 28 dias (03.01.20/31.01.20) o preço do barril de petróleo (tipo WTI – Western Texas Intermediate) caiu 18,22%, de US$ 63,05 para US$ 51,56.
Nesse mesmo período, outros produtos levaram grandes tombos.
- O bushel (medida de volume) de soja saiu de US$ 9,145 para US$ 8,725 (- 4,5%)
- A libra-peso de café, de US$ 1,2635 para US$ 1.0265 (- 18,76%)
Os preços à vista e futuros das commodities não são formados por fórmulas matemáticas exatas. Tipo, a safra foi tanto, o consumo tanto, o preço tem de ser tanto.
Sempre há um grande componente especulativo.
Numa época de juros baixíssimos, os traders procuram (e, se não acham, inventam) motivos para puxar o preço de commodities. Por outro lado, os produtores, ao verem os preços subirem, seguram suas vendas na expectativa de cotações maiores.
Só que quando o comércio internacional sofre um impacto, como esse provocado pelo coronavírus, sai todo mundo (especuladores e produtores) vendendo pelo preço que encontram.
A única e honrosa exceção tem sido o açúcar. No início do ano estava cotado a US$ 0,1331 e fechou o mês de janeiro a US$ 0,1461, uma alta expressiva de 9,77%.
Já tenho repetido isso ad nauseam, mas não posso deixar de dizer mais uma vez:
“Qualquer mercado que responde bem a uma notícia ruim é um mercado de alta.”
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Não era minha intenção sugerir compra de açúcar futuro neste artigo. Mas, ao fazer meu dever de casa para escrevê-lo, descobri que nem a crise mundial provocada pela pandemia do início do ano do rato (bicho que Deng Xiaoping queria ver morto) está afetando a doce subida do açúcar.
Sugar: buy on small dips. (Açúcar, comprem em pequenos recuos).
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