A raposa e o porco-espinho, o erro de Jim Collins e a carta da Atmos
Com frequência, escuto coisas do tipo: “Ah, mas isso é porque ele é novato em Bolsa. O investidor pessoa física tem pouca experiência e conhecimento”. Não! A grande questão não é essa
Probabilidades nunca foram o forte dos economistas, administradores e financistas. Embora sua humildade tão característica certamente argumente em contrário. Mesmo os especialistas mais admirados e supostamente incontestáveis cometem erros fragorosos nesse terreno.
Julgam-se as coisas pelo resultado ex-post, esquecendo-se que as decisões em ambientes de incerteza devem ser consideradas ex-ante.
Com frequência, escuto coisas do tipo: “Ah, mas isso é porque ele é novato em Bolsa. O investidor pessoa física tem pouca experiência e conhecimento”. Não! A grande questão não é essa. O problema do mundo não são as pessoas que não sabem, mas aquelas que não sabem o suficiente, mais uma vez citando Taleb — numa versão adaptada para a mesma ideia contida em “não ter mapa é melhor do que ter um mapa errado”.
Os ditos especialistas me parecem o problema, porque deles emana uma suposta sabedoria (inexistente!) e argumentos de autoridade que acabam empurrando os não especialistas numa determinada direção — a manada segue o berrante. Essa direção nem sempre é a certa.
Jim Collins é talvez a maior referência de consultor e pesquisador sobre administração de empresas do mundo. Certamente, figura entre as maiores. Autor de best-sellers, ex-McKinsey, professor distinto de Stanford, com longa tradição de bons conselhos empresariais, respeito entre os pares, conhecido por produzir sólida e, supostamente, rigorosa pesquisa acadêmica e, para eliminar de vez qualquer dúvida entre os camaradinhas brasileiros, escritor do prefácio do livro “Sonho Grande”, do nosso querido e também incontestável trio da cerveja.
Collins tem dois livros mais conhecidos.
Leia Também
Bolsonaro é preso preventivamente a pedido da PF
Resumindo aqui muito grosseiramente, em “Built to Last: Successful Habits of Visionary Companies”, ele tenta explicar a alta performance empresarial a partir de um conjunto de diretrizes que conduziria companhias à perenidade. Haveria uma espécie de lista de regras e condutas a ser adotadas rigidamente que garantiria o sucesso no longo prazo — se você pensou na ideia de que as imutáveis leis da física podem se aplicar ao empreendedorismo, bingo! Physics envy, sempre eles!
Já em “Good to Great”, o objetivo é identificar quais estratégias transformam empresas medianamente boas em companhias de destacada alta performance, entre a minoria mais apta. A obra foi um sucesso instantâneo e é tratada por muitos como o grande suprassumo capaz de explicar a alta performance empresarial, os verdadeiros determinantes do sucesso.
Por isso, vamos entrar um pouco mais em “Good to Great”. Em determinado momento do livro, Collins recupera a metáfora clássica de Isaiah Berlin sobre a divisão entre raposas e porcos-espinhos — os grandes contadores de história tipicamente usam das metáforas e de imagens fortes como eficientes instrumentos de retórica; e se tem uma coisa realmente admirável em Jim Collins é sua capacidade como storyteller.
De forma simples e rápida, Isaiah Berlin remete ao poeta grego Arquíloco e sua famosa frase: “A raposa sabe muitas coisas, mas o porco-espinho sabe uma grande coisa”. As raposas seriam mais generalistas, desfocadas, perseguiriam vários objetivos, teriam vários conceitos na cabeça e múltiplos desafios, enquanto os porcos-espinhos seriam mais metódicos, focados, disciplinados, com uma grande visão e um grande conceito capaz de explicar o mundo. Importante notar que, no original de Berlin, não há necessariamente vitória para um lado ou outro, seriam apenas duas formas de observar a experiência humana, embora esse ponto talvez tenha escapado a Jim Collins, mas deixemos isso de lado. Platão seria um porco-espinho; Aristóteles, uma raposa. Dante, porco-espinho; Shakespeare, raposa. Dostoiévski e Nietzsche, ambos porcos-espinhos; Goethe e Joyce, belas raposas.
Segundo “Good to Great”, a alta performance estaria associada com um foco estreito bem-definido e sua perseguição obstinada de forma disciplinada. As companhias verdadeiramente bem-sucedidas, aquelas que estavam no topo, eram porcos-espinhos! A prescrição, portanto, era óbvia, de acordo com o próprio autor: ora, se as empresas do pódio são porcos-espinhos, seja um porco-espinho.
Estaria correto o raciocínio?
Vamos dar um passo atrás. Pensemos na seguinte situação: eu e você vamos a um cassino e observamos os maiores vencedores da noite. Se nós olharmos para os grandes ganhadores de dinheiro daquele dia e investigarmos com profundidade suas estratégias, o que provavelmente vamos encontrar? Basicamente, um grupo de sujeitos que apostou quantias grandiosas e concentradas na ocorrência de eventos de baixa probabilidade (ex-ante) que, por alguma atuação da Providência, acabaram se materializando (ex-post). Essa é a forma de uma minoria se destacar frente à grande multidão. Eram porcos-espinhos apostando em poucas coisas. As raposas dificilmente vão estar lá entre os 5% mais aptos, porque elas diversificam suas apostas, espalham entre várias possibilidades.
A estratégia da minoria vencedora deve ser perseguida? Seria essa uma postura adequada para adotarmos nos cassinos? Qual o problema aqui?
O fato de termos encontrado, sei lá, dez porcos-espinhos no topo não significa que, na média, os porcos-espinhos superem as raposas. Estamos enxergando somente os vencedores, esquecendo-nos do claro viés de seleção, sem contemplar todos os outros porcos-espinhos que perderam seu dinheiro por concentrá-lo em apostas arriscadas. O cemitério dos fracassados não está aí para contar história. Na média, é muito provável que as raposas, no geral, tenham superado os porcos-espinhos, mas nós não estamos observando os porcos-espinhos derrotados. Isso acontece porque as raposas foram mais prudentes e evitaram grandes fracassos e prejuízos, enquanto os porcos-espinhos correram riscos demais — claro que, ao correr muitos riscos, um pequeno percentual acaba sendo ultra bem-sucedido, o que não significa que devemos correr muitos riscos.
No caso específico de “Good to Great”, de um universo de 1.435, tivemos 11 “great companies” selecionadas por Collins, os porcos-espinhos vencedores. Mas do resto de 1.424 empresas, quantos porcos-espinhos morreram por focar em estratégias que se provaram inadequadas? E desses mortos, quantos poderiam ter sobrevivido se tivessem diversificado entre várias possibilidades?
Parece razoável supor que, na média, companhias que são resilientes, adaptáveis, abertas a novas ideias e menos rígidas tendem a ter desempenho melhor do que as demais, muito focadas num único princípio e numa visão de mundo.
O erro de Jim Collins foi ter julgado do resultado final para o começo. Trazendo para nosso cotidiano, o investidor mais bem-sucedido da última década, excluindo aqui a possibilidade de alavancagem, foi aquele que concentrou 100% do seu patrimônio em bitcoin. O porco-espinho das criptomoedas, do “good to great” em poucos anos. Agora pergunto: a estratégia do nosso querido hedgehog lhe parece apropriada? Você gostaria de replicá-la para si mesmo? Acha razoável?
Essa mensagem é especialmente válida para investidores em começos de ano, quando eles são bombardeados com a elaboração de rankings das mais variadas naturezas, feitos por suas corretoras, pelos seus bancos ou mesmo pelas suas empresas de pesquisa favoritas (desculpem-nos por isso!). O investidor que lidera o ranking é possivelmente alguém cuja gestão de risco não está devidamente calibrada. Ele se concentrou num determinado ativo cuja probabilidade de sucesso era baixa e acabou dando certo.
Talvez o leitor mais atento possa contra-argumentar dizendo que, embora as chances de ser um porco-espinho bem-sucedido sejam reais e obviamente menores, o payoff de seu sucesso, em tempos de organizações exponenciais e retornos convexos, é tão grande que vale a pena correr o risco. De fato, é um ótimo ponto, mas, em nenhum momento, nem de perto, foi essa a interpretação e, mais, a prescrição de Jim Collins. Ele não afirma que as empresas devem adotar esse caminho, apesar de seus riscos. Collins não fala que o retorno potencial de uma estratégia concentrada e focada é alto a ponto de compensar a menor chance de sucesso. Aliás, muito pelo contrário. A lição passada é justamente que qualquer companhia pode se tornar “great” sendo focada e persistente, que o sucesso não é uma questão de circunstância e que o caminho, quando percorrido adequadamente, é inexorável. E aí mora o perigo!
Críticas a Jim Collins à parte — afinal, elas não são o real objetivo disto aqui —, há alguma forma de evitar os riscos excessivos da estratégia do porco-espinho sem abrir mão dos payoffs avassaladores típicos da era das organizações exponenciais e dos retornos convexos?
Quem melhor resumiu o ponto foi a gestora Atmos em carta aos cotistas, com seu brilhantismo e sua erudição costumeiros (sim, rigor epistemológico faz diferença em termos de retorno no longo prazo e esses caras, junto com a Dynamo, talvez sejam os melhores nisso): “Expressar tais apostas binárias com valor esperado elevado de forma pulverizada dentro do portfólio pode ser uma alternativa interessante ao paradigma falsificacionista puro”.
Pode parecer complicado colocado assim fora de contexto, mas em português seria mais ou menos o seguinte (tradução livre minha e, portanto, provavelmente mal-feita): diante de um mercado informacionalmente eficiente em geral, de um ambiente inexoravelmente permeado pela incerteza e de um mundo com retornos exponenciais e convexos, espalhe suas apostas em vários ativos com valor esperado alto. Alguns deles vão dar certo, outros vão dar errado. No final, você sai vencedor.
Bem-vindo ao novo value investing.
Adeus, tarifas: governo Trump retira sobretaxa de 40% sobre importações brasileiras de mais de 200 produtos
EUA retiram a tarifa adicional de 40% sobre carne, café, suco de laranja, petróleo e peças de aeronaves vindos do Brasil
Vai precisar de CNH para andar de bicicleta? Se for ela motorizada, a resposta está aqui
Contran atualiza as regras para bicicletas elétricas, ciclomotores e equipamentos motorizados; entenda quando será obrigatório ter CNH, placa e licenciamento.
Caixa paga Bolsa Família a beneficiários com NIS final 5
A ordem de pagamento do benefício para famílias de baixa renda é definida pelo último número do NIS
Terceira indicação de Lula ao STF neste mandato: conheça Jorge Messias, o nome escolhido pelo presidente para a vaga de Barroso
Formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Messias ocupa o cargo de advogado-geral da União desde de janeiro de 2023
Grande incêndio na COP30: chamas se alastram e levam autoridades a evacuar área; veja vídeo
Chamas atingiram a BlueZone, área que reúne pavilhões de países; segurança evacuou o local e autoridades afirmam que o incêndio já foi controlado
Conselho do BRB elege novo presidente após afastar o antigo em meio à liquidação do Banco Master e prisão de Daniel Vorcaro
O Banco de Brasília (BSLI4) indicou Nelson Antônio de Souza como presidente da instituição bancária e destituiu, com efeito imediato, Paulo Henrique Costa do cargo de presidente
Botijão grátis? Confira se você tem direito ao vale-recarga do novo Programa Gás do Povo
Gás do Povo chega para substituir o Auxílio Gás; meta do governo é atender mais de 50 milhões de pessoas até março de 2026
Fome na colônia, fartura no Quilombo: Como era a economia de Palmares, da qual o líder Zumbi inspirou o Dia da Consciência Negra?
O Quilombo dos Palmares resistiu por quase um século graças à autossuficiência econômica da comunidade; entenda como funcionava a organização
Mais dinheiro e menos trabalho: as ilusões do empreendedorismo no Brasil
Milhões de brasileiros sonham em abrir um negócio, mas especialistas alertam que a realidade envolve insegurança financeira, mais trabalho e falta de planejamento
Golpistas surfam no caos do Banco Master; confira passo a passo para não cair nas armadilhas
Investidores do Banco Master agora têm direito ao FGC; saiba como evitar golpes e proteger o bolso
Black Friday: Apple chega a 70% OFF, Samsung bate 60%; quem entrega os melhores descontos?
A Apple entra com 70% OFF, pagamento dividido e entrega rápida; a Samsung equilibra o duelo com 60% OFF, mais categorias e descontos progressivos
Do Rio de Janeiro ao Amapá, ninguém escapou do Banco Master: fundos de pensão se veem com prejuízo de R$ 1,86 bilhão, sem garantia do FGC
Decisão do Banco Central afeta 18 fundos de previdência de estados e municípios; aplicações feitas não têm cobertura do FGC
Lotofácil vacila e Dia de Sorte faz o único milionário da noite; Mega-Sena encalha e volta só no sábado
Lotofácil acumula pelo terceira vez nos últimos cinco concursos e vai para último sorteio antes de pausa para o feriado com R$ 5 milhões em jogo
A B3 também vai ‘feriadar’? Confira o que abre e o que fecha no Dia da Consciência Negra
Bolsa, bancos, Correios, rodízio em São Paulo… desvendamos o que funciona e o que não funciona no dia 20
Caixa paga Bolsa Família nesta quarta (19) para NIS final 4; veja quem recebe
A ordem de pagamento do benefício para famílias de baixa renda é definida pelo último número do NIS
CDBs do Will Bank e do Banco Master de Investimento também serão pagos pelo FGC?
Ambas são subsidiárias do Banco Master S.A., porém somente o braço de investimentos também foi liquidado. Will Bank segue operando
Qual o tamanho da conta do Banco Master que o FGC terá que pagar
Fundo Garantidor de Créditos pode se deparar com o maior ressarcimento da sua história ao ter que restituir os investidores dos CDBs do Banco Master
Liquidação do Banco Master é ‘presente de grego’ nos 30 anos do FGC; veja o histórico do fundo garantidor
Diante da liquidação extrajudicial do Banco Master, FGC fará sua 41ª intervenção em três décadas de existência
Investiu em CDBs do Banco Master? Veja o passo a passo para ser ressarcido pelo FGC
Com a liquidação do Banco Master decretada pelo Banco Central, veja como receber o ressarcimento pelo FGC
Debate sobre renovação da CNH de idosos pode baratear habilitação; veja o que muda
Projetos no Congresso podem mudar regras da renovação da CNH para idosos, reduzir taxas e ampliar prazos para motoristas acima de 60 anos