🔴 ONDE INVESTIR EM OUTUBRO? MELHORES AÇÕES, FIIS E DIVIDENDOS – CONFIRA AQUI

Cassino: o dilema da máfia

Várias vezes me deparei com a pergunta: “A Bolsa é um cassino?”. Sempre respondi, para mim mesmo silenciosamente ou para terceiros, com uma enfática negativa

19 de maio de 2020
10:41 - atualizado às 13:26
Façam suas apostas
Façam suas apostas - Imagem: Shutterstock

Como costuma acontecer nos filmes de Martin Scorsese, há várias frases geniais em “Cassino”, proferidas por Sam Rothstein (Robert De Niro). Algumas delas:

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“For guys like me, Las Vegas washes away your sins. It’s like a morality car wash.”

“At night, you couldn’t see the desert that surrounds Las Vegas. But it’s in the desert where lots of the town’s problems are solved.”

Tenho a minha favorita:

“I’m not only legitimate but running a Casino, and that’s like selling people dreams for cash.”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Eis o dilema típico da máfia, uma espécie de paradoxo: conforme ela cresce e ganha relevância, quer abandonar as atividades que a fizeram ser quem ela é. Para isso, ela precisa se institucionalizar, legitimar-se em operações legalizadas e tradicionais. Ao fazer isso, começa a enfrentar contradições. Resumidamente, como um fora da lei pode voltar as costas para o próprio passado e passar a atuar dentro das leis? Em grande medida, esse é um dos elementos centrais de obras de ficção envolvendo a máfia, como em “O Poderoso Chefão”, “O Ano Mais Violento”, “Peaky Blinders” e o próprio “Cassino”.

Leia Também

Obras de ficção, fique claro. Qualquer relação com cleptocracias latino-americanas são meras coincidências — e lá se vai a diretoria de Ações Educacionais do FNDE. 

Stanley Druckenmiller diz nunca ter visto uma combinação tão ruim de risco e retorno para a Bolsa americana. Warren Buffett não diz muita coisa, mas faz. Desde que começou a crise, não há notícia de que tenha comprado algo relevante, embora tenha se desfeito, na íntegra, de suas ações de aéreas e de 84% de sua posição em Goldman Sachs, além de ter vendido também um pedaço da exposição em JP Morgan, no primeiro trimestre.

Calma, o salto na narrativa é apenas aparentemente desconexo. Os dois assuntos — o ceticismo dos megainvestidores e as frases de Sam Rothstein — estão relacionados.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Várias vezes me deparei com a pergunta: “A Bolsa é um cassino?”. Sempre respondi, para mim mesmo silenciosamente ou para terceiros, com uma enfática negativa. Como muito bem sintetizou certa vez Robert Rubin, “investimentos são, na verdade, o exato oposto de um cassino. Quando bem feitos, representam o uso das probabilidades a seu favor; enquanto, no cassino, quem vai contar com as chances a seu favor é a banca, apenas ela”. Mais uma vez resgatando Sam Rothstein: “That’s the truth about Las Vegas. We’re the only winners. The players don’t stand a chance”.

A verdade, contudo, é que a Bolsa pode ser um cassino, se você assim quiser e permitir. Enquanto um processo diligente e fundamentado faz com que, ao longo do tempo, as probabilidades estejam a seu favor, análises rápidas e superficiais, juntas a processos malfeitos e horizonte de curtíssimo prazo, implicam apenas um jogo de probabilidade de 50/50, em que, a cada rodada, você deixa algo para a banca — B3 e corretoras — via custos de transação.

Ontem, a Azul não se tornou uma empresa 29,87% superior àquela mesma Azul de sexta-feira. A CVC também não melhorou 19,24% — apesar da presença do Leonel, quando tudo isso passar e varrermos os problemas ainda existentes no balanço, poder sugerir dias melhores lá no Longo Prazo (deliberadamente com maiúsculas; precisei escrever para evitar a correção da turma da revisão). Para citar uma ação de que eu mesmo gosto de modo a não parecer algo enviesado, Braskem também não mereceu 14,97% de alta ontem. Na outra ponta, frigoríficos e empresas de papel & celulose não tiveram fluxos de caixa de hoje até o infinito aproximadamente 10% diminuídos de sexta para cá.

O curto prazo é a vitória da aleatoriedade, dos elementos técnicos (de disputas entre comprados e vendidos no vencimento de opções, de zeragens compulsórias e do short squeeze) e do domínio do fluxo imediato frente aos fundamentos. Nele, não há probabilidades a seu favor. Há chutes, apostas na sorte e torcida. Toda a chance que você poderia ter a seu favor é transferida para a banca. Bem-vindo ao cassino.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Também na Bolsa existem situações em que o cassino fica um pouco mais institucionalizado. Ontem mesmo, logo depois do anúncio de notícias alvissareiras sobre os sucessos em sua fase 1 de testes para a vacina contra o coronavírus, a Moderna fez uma chamada de capital. Enquanto isso, investigação no Twitter apontava seu CEO, Stephane Bancel, de estar vendendo pesadamente as ações, enquanto uma misteriosa companhia de nome Flagship Pioneer, maior acionista da Moderna, também estaria se desfazendo dos papéis. Logo vieram as acusações de clássico “pump and dump”, em uma faceta institucionalizada e legitimada — o gestor Richard Clark prontamente comentou sobre os compradores dessa oferta de ações: “sou lembrado do clichê: se você está sentado numa mesa de pôquer e ainda não descobriu quem é o pato, o pato é você”.

Há uma certa confusão sobre o papel do analista ou do gestor. Nós não estamos aqui para falar quais ações e títulos mais vão subir. Até porque nós não sabemos quais ações e títulos mais vão subir. Ninguém sabe, pois é impossível saber — embora, claro, existam aqueles que acham que sabem, justamente os mais perigosos. Atalho rápido para identificar um analista e gestor perigoso: procure por arrogância e muita convicção. Se ele não duvida de si e das próprias crenças, ele não se belisca nem testa apropriadamente suas convicções. Logo ele vai errar e, como é muito convicto e prepotente, vai estar com posições grandes. O prejuízo será brutal. Trajetórias consistentes de longo prazo são necessariamente acompanhadas de ceticismo e humildade epistemológica. 

A tarefa do bom analista ou gestor é perseguir as melhores combinações de risco e retorno, o que é bem diferente de adivinhar ex-ante as maiores altas do próximo mês ou ano. Adivinhações são diferentes de análises. Se eu tivesse lhe proposto, há dez anos, comprar 100% do seu patrimônio em bitcoins e você seguisse a sugestão, hoje estaria multimilionário. A questão é: teria sido uma boa escolha?

Como disse Fabio Okumura, da Gauss, ao Seu Dinheiro: “A gente não precisa se gabar de ganhar o dinheiro mais difícil do mundo, nosso trabalho é obter o maior retorno possível com menor risco.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Qualquer trajetória precisa considerar risco e retorno. Não só retorno. Um exemplo muito simples: se você atinge o mesmo resultado com uma carteira concentrada em reais frente a outra com um pouco de dólares, você fez um melhor trabalho no segundo caso, porque teve a mesma performance com muito menos risco”. 

Quando Stanley Druckenmiller diz nunca ter visto uma combinação tão ruim de risco e retorno para a Bolsa americana e Warren Buffett só faz vender mesmo na crise, não está se afirmando necessariamente que Wall Street vai cair. Estamos apenas enxergando uma distribuição de probabilidades de eventos futuros que enseja muitos riscos perante os retornos potenciais associados. Isso é usar as probabilidades a seu favor. O resto é cassino.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Caça ao Tesouro amaldiçoado? Saiba se Tesouro IPCA+ com taxa de 8% vale a pena e o que mais mexe com seu bolso hoje

22 de outubro de 2025 - 7:58

Entenda os riscos de investir no título público cuja remuneração está nas máximas históricas e saiba quando rendem R$ 10 mil aplicados nesses papéis e levados ao vencimento

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Crônica de uma tragédia anunciada: a recuperação judicial da Ambipar, a briga dos bancos pelo seu dinheiro e o que mexe com o mercado hoje

21 de outubro de 2025 - 8:00

Empresa de gestão ambiental finalmente entra com pedido de reestruturação. Na reportagem especial de hoje, a estratégia dos bancões para atrair os clientes de alta renda

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Entre o populismo e o colapso fiscal: Brasília segue improvisando com o dinheiro que não tem

21 de outubro de 2025 - 7:35

O governo avança na implementação de programas com apelo eleitoral, reforçando a percepção de que o foco da política econômica começa a se deslocar para o calendário de 2026

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Um portfólio para qualquer clima ideológico

20 de outubro de 2025 - 19:58

Em tempos de guerra, os generais não apenas são os últimos a morrer, mas saem condecorados e com mais estrelas estampadas no peito. A boa notícia é que a correção de outubro nos permite comprar alguns deles a preços bastante convidativos.

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A temporada de balanços já começa quente: confira o calendário completo e tudo que mexe com os mercados hoje

20 de outubro de 2025 - 7:52

Liberamos o cronograma completo dos balanços do terceiro trimestre, que começam a ser divulgados nesta semana

BOMBOU NO SD

CNH sem autoescola, CDBs do Banco Master e loteria +Milionária: confira as mais lidas do Seu Dinheiro na semana

19 de outubro de 2025 - 15:02

Matérias sobre o fechamento de capital da Gol e a opinião do ex-BC Arminio Fraga sobre os investimentos isentos de IR também integram a lista das mais lidas

VISAO 360

Como nasceu a ideia de R$ 60 milhões que mudou a história do Seu Dinheiro — e quais as próximas apostas

19 de outubro de 2025 - 8:00

Em 2016, quando o Seu Dinheiro ainda nem existia, vi um gráfico em uma palestra que mudou minha carreira e a história do SD

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A Eletrobras se livrou de uma… os benefícios da venda da Eletronuclear, os temores de crise de crédito nos EUA e mais

17 de outubro de 2025 - 7:55

O colunista Ruy Hungria está otimista com Eletrobras; mercados internacionais operam no vermelho após fraudes reveladas por bancos regionais dos EUA. Veja o que mexe com seu bolso hoje

SEXTOU COM O RUY

Venda da Eletronuclear é motivo de alegria — e mais dividendos — para os acionistas da Eletrobras (ELET6)

17 de outubro de 2025 - 6:07

Em um único movimento a companhia liberou bilhões para investir em outros segmentos que têm se mostrado bem mais rentáveis e menos problemáticos, além de melhorar o potencial de pagamento de dividendos neste e nos próximos anos

VONTADE DOS CÔNJUGES

Projeto aprovado na Câmara permite divórcio após a morte de um dos cônjuges, com mudança na divisão da herança

16 de outubro de 2025 - 15:22

Processos iniciados antes do falecimento poderão ter prosseguimento a pedido dos herdeiros, deixando cônjuge sobrevivente de fora da herança

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A solidez de um tiozão de Olympikus: a estratégia vencedora da Vulcabras (VULC3) e o que mexe com os mercados hoje

16 de outubro de 2025 - 8:09

Conversamos com o CFO da Vulcabras, dona das marcas Olympikus e Mizuno, que se tornou uma queridinha entre analistas e gestores e paga dividendos mensais

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: O que o Nobel nos ensina sobre decisões de capex?

15 de outubro de 2025 - 19:57

Bebendo do alicerce teórico de Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt se destacaram por estudar o papel das inovações tecnológicas nas economias modernas

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)

15 de outubro de 2025 - 7:47

A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje

14 de outubro de 2025 - 8:08

Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China

14 de outubro de 2025 - 7:48

O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo

13 de outubro de 2025 - 19:58

Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?

13 de outubro de 2025 - 7:40

Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano

TRILHAS DE CARREIRA

ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho

12 de outubro de 2025 - 7:04

Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)

10 de outubro de 2025 - 7:59

No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação

SEXTOU COM O RUY

Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe

10 de outubro de 2025 - 6:03

Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar