“Depois de dar aula por 3 anos, me seduzi pela onda de concursos e hoje trabalho na Receita Federal. Confesso que não sei se teria feito essas escolhas todas novamente, seja pela falta de pujância profissional, seja porque me conduziram, sub-repticiamente e à minha revelia, a uma estagnação de objetivos profissionais (o que é mentalmente muito danoso).”
Esse é o trecho de uma mensagem que recebemos no [email protected], o email do nosso podcast semanal da Empiricus.
Recebemos muitos emails parecidos, de pessoas que não se sentem completamente realizadas nas suas carreiras, muitas vezes gostariam de sair, mas não sabem o que fazer. Acomodar-se ou tomar uma decisão ousada de ir buscar algo que lhes traga mais tesão?
É muito difícil responder sem avaliar caso a caso.
Mas eu defenderia que a pergunta honesta mais importante a ser feita é esta: quanto você tem clareza sobre o que gostaria de fazer e quanto você acha que seria um profissional realmente extraordinário nessa nova carreira?
Se você está perdido, mas tem apenas uma vaga ideia de onde gostaria de estar, é o caso de ter em mente que todo trabalho tem seus defeitos, que perfeição não existe, e que a grama do vizinho sempre parece mais verde.
Caso seu trabalho seja bem remunerado, ainda que meio chato, por que não achar um hobby? Se tornar um fotógrafo, escrever um romance, um blog, ter uma banda, fazer um doutorado? O que fala ao seu coração? Não há nada de errado em ter um emprego que pague as contas de um lado e, com a segurança do holerite, achar propósito em outros campos da vida.
O problema é se você tem de fato uma grande paixão e acha que vai se arrepender para sempre se não tentar.
De modo que a primeira pergunta é esta: quanto dinheiro você tem? Quanto você gasta? Está disposto a eventualmente tomar risco financeiro?
Muita gente sonha em empreender, por exemplo. Se der errado, você tem a possibilidade de voltar atrás? Ou você vive de mês em mês, sem flexibilidade nenhuma para se dar ao luxo de tentar?
Há um caso famoso de um dos editores da Companhia das Letras que largou uma promissora carreira de advogado para trabalhar com livros. Hoje ele tem uma posição super importante na editora, embora provavelmente ganhe bem menos do que poderia estar ganhando como advogado. Ele pagou o preço da transição -- mas, no final, se encontrou.
De modo que aqui vai o segundo ponto: você está convencido de forma muito firme que tem talento e potencial para o que deseja fazer? O risco de um salto na carreira já é alto. Certamente nosso amigo da Companhia das Letras já era muito apaixonado pelos livros, desde sempre. Isso minimizou o risco da transição, ao reduzir muito a possibilidade de que ele começasse a trabalhar com livros e descobrisse que não era bem isso.
Talvez seu sonho seja abrir uma confeitaria. Você passou a vida fazendo bolos, sempre foi amplamente elogiado por isso, é uma obsessão desde sempre ou é apenas um capricho, uma ideia que passou, e você teria de aprender tudo meio do zero?
Claro que tudo são probabilidades, mas a chance de dar certo no primeiro caso é muito maior do que no segundo. Se você está largando uma carreira segura por uma paixão duvidosa, assegure-se de que essa paixão realmente é avassaladora, e não uma ideia que lhe passou pela cabeça sem maiores compromissos.
Muitas pessoas, por exemplo, sonham em ser jornalistas, uma carreira meio cruel com os seus profissionais. Será que você é realmente louco por notícias, por jornais em todos os seus formatos, ou é só uma vaga impressão de que ia ser legal?
A decisão segura muitas vezes é a decisão certa. O cemitério dos fracassos é meio invisível. No fundo, só você pode saber o quanto mudar de carreira vai lhe fazer a pessoa mais feliz do mundo ou vai lhe fazer ficar pior do que hoje.
A gente falou muito sobre isso no último episódio do podcast Empiricus Puro Malte. Ouve lá:
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