Dólar despenca 6,52% na semana e fica abaixo de R$ 5,00; Ibovespa dispara mais de 8%
O dólar à vista terminou a semana a R$ 4,99, indo ao menor nível desde 26 de março, enquanto o Ibovespa cravou a sexta alta seguida e voltou ao patamar de 94 mil pontos. Entenda o que motivou toda essa onda de otimismo nos mercados
Lá pelo meio da semana, eu mandei uma mensagem para uma fonte de longa data — na ocasião, o dólar à vista rondava os R$ 5,10 e o Ibovespa girava ao redor dos 93 mil pontos. Como quem não quer nada, disse que achava estranho o rali recente dos mercados.
Mal sabia eu que a disparada da bolsa e o alívio no câmbio ainda estavam no meio do caminho: nesta sexta-feira (5), a moeda americana caiu mais 2,73%, cotada a R$ 4,9909 — a divisa não terminava uma sessão abaixo dos R$ 5,00 desde 26 de março.
No mercado de ações, a movimentação foi ainda mais dramática: o Ibovespa cravou hoje a sexta alta consecutiva, avançando mais 0,86% e chegando aos 94.637,06 pontos, no maior nível desde 6 de março. Somente nesta semana, o índice acumulou ganhos de 8,28%, enquanto o dólar recuou 6,52%.
- O Podcast Touros e Ursos desta semana já está no ar! Eu e o Vinícius Pinheiro falamos sobre os assuntos que movimentaram os mercados na semana e discutimos essa onda de otimismo que tomou conta dos investidores nos últimos dias:
Mas, voltando à troca de mensagens do meio da semana: depois de algumas horas, ele me respondeu. E, para a minha surpresa, concordou com a minha estranheza:
"Não só você, viu... TINA e FOMO — There Is No Alternatives & Fear Of Missing Out", disse ele — algo que pode ser traduzido como "não há alternativas" e "medo de ficar de fora".
Afinal, há sim uma série de motivos que ajuda a reduzir a percepção de risco dos investidores — a reabertura das economias da Europa, os dados econômicos maus fortes que o esperado nos EUA e a calmaria no cenário político local, apenas para citar alguns. No entanto, não é possível dizer que há uma mudança estrutural que justifique essa mudança radical nos mercados.
Sendo assim, a grande dúvida é: o que aconteceu? Por que vimos esse desempenho tão forte dos ativos globais nos últimos dias? A resposta parece vir do grande volume de liquidez atualmente disponível no mercado — uma condição excepcional e que acaba gerando algumas distorções.
Mas, antes, vale lembrar tudo o que aconteceu na semana — e que deu suporte para a visão mais otimista dos agentes financeiros.
Sem estresse
Tanto no Brasil quanto no exterior, tivemos uma série de notícias que agradaram os investidores. Na Europa, países como Itália, Espanha, França e Alemanha estão dando continuidade ao processo de reabertura econômica — e, ao menos por enquanto, tudo parece estar correndo bem, sem sinais de uma eventual segunda onda do coronavírus por lá.
Em paralelo a esse movimento gradual de normalização, há a divulgação de dados econômicos não tão ruins quanto o projetado pelo mercado. É claro que o nível de atividade global ainda está bastante debilitado, mas, ainda assim, qualquer surpresa positiva no front dos indicadores é motivo de comemoração.
Esses dois fatores, combinados, indicam para uma mesma direção: a de uma eventual retomada da economia do mundo num ritmo mais rápido que o inicialmente esperado. E mesmo os sinais vindos da China — país que enfrentou o pico da Covid-19 em janeiro — colaboram com essa percepção, já que, por lá, a atividade também tem se recuperado.
Nesse sentido, um dado divulgado nesta sexta-feira foi particularmente animador: o surpreendente número do payroll, o relatório de emprego dos EUA. Enquanto a previsão dos analistas era de fechamento de mais de 8 milhões de vagas, foram criadas 2,509 milhões postos em maio. A taxa de desemprego caiu de 14,7% em abril para 13,3%.
Mesmo com a alta taxa de desocupação, o número surpreendente demonstra força por parte da economia americana durante o processo de retomada das atividades pós-coronavírus. No Twitter, o presidente Donald Trump comemorou os números:
"Eu estou chocado. Nunca vi números assim, e eu tenho feito isso nos últimos 30 anos", escreveu o presidente americano, num dos diversos tuítes comemorando os números do mercado de trabalho do país.
E se é verdade que, no exterior, a semana foi tranquila, é igualmente verdadeiro que, aqui dentro, também tivemos dias mais calmos. Em Brasília, governo e STF parecem ter entrado numa trégua, diminuindo a percepção de risco político.
Todos esses fatores são mais que suficientes para gerar uma reação positiva nos mercados. No entanto, é difícil acreditar que tais pontos, por si só, fariam o Ibovespa saltar mais de 8% e levariam o dólar para abaixo de R$ 5,00 em condições normais.
Enxurrada de dinheiro
É aqui que entram as questões citadas pela minha fonte em nossa troca de mensagens. O curto prazo, de fato, está melhor, mas também há um fator "liquidez em excesso". Os bancos centrais injetaram dinheiro na economia para estimular a atividade nos tempos de pandemia — só que, num ambiente de juros baixos no mundo, não há grandes destinos possíveis para tais recursos.
Nos EUA, o Federal Reserve já lanço pacotes trilionários de auxílio econômico e, na Europa, o BCE não tem ficado para trás: nesta semana, a autoridade monetária do velho continente expandiu seu programa de compra emergencial de ativos; além disso, a Comissão Europeia tenta aprovar um pacote de socorro de 700 bilhões de euros.
É muito dinheiro circulando e, desta vez, num ambiente sem alternativas de retorno fácil. Assim, as bolsas acabam aparecendo como destinos naturais para quem busca alguma rentabilidade mais polpuda — e, nesta semana, com a menor aversão ao risco, houve uma forte corrida aos mercados acionários.
Tanto é que, nos EUA, o Dow Jones acumulou ganhos de 6,8% nesta semana, o S&P 500 saltou 4,91% e o Nasdaq teve alta de 3,41% — esse último, inclusive, já zerou as perdas do crash de março e tem desempenho positivo em 2020.
E, em meio ao rali, é claro que ninguém quer ficar para trás — o tal medo de ficar de fora. Um cenário que gera uma espécie de bola de neve ao contrário: ao invés de cair e arrastar tudo montanha abaixo, ela sobe e leva todos em conjunto para cima.
Riscos
Esse comportamento dos mercados globais chama a atenção porque ainda há uma série de fatores de risco no horizonte. Em primeiro lugar, há a própria economia mundial, que ainda tem perspectivas muito ruins para 2020 — no Brasil, o boletim Focus já trabalha com um cenário de contração de mais de 6% do PIB neste ano.
Em segundo lugar, a pandemia do coronavírus parece controlada na Europa, mas nos EUA e no Brasil a situação é mais sensível: por aqui, a curva de contágio ainda está numa fase ascendente, com mais de mil pessoas morrendo a cada 24 horas por causa da doença.
Em terceiro, há a enorme tensão social nos EUA, com protestos em diversas cidades americanas após a morte de George Floyd — um homem negro que foi sufocado até a morte por um policial branco. Os desdobramentos desses protestos, tanto no lado político quanto no de saúde pública, ainda são desconhecidos.
E, por fim, há o noticiário doméstico: novas manifestações antifascismo foram convocadas para esse fim de semana — e, a depender da magnitude dos protestos e da intensidade de oposição ao presidente Jair Bolsonaro, é possível termos uma nova escalada nas tensões no cenário político doméstico.
A semana foi amplamente positiva nos mercados financeiros, mas fique atento: é pouco provável que esse raio caia duas vezes no mesmo lugar.
Bolsa ou renda fixa? Como ficam os investimentos após Campos Neto embolar as projeções para a Selic
As estimativas para a Selic subiram com a expectativa de juro elevado por mais tempo e por previsão de Roberto Campos Neto de que afrouxamento pode diminuir já na próxima reunião do Copom
Bolsa hoje: Dólar cai a R$ 5,11 com inflação nos EUA; Ibovespa retoma os 126 mil pontos com NY e avança 1% na semana
RESUMO DO DIA: A ‘Super Sexta’ da inflação movimentou os mercados hoje, com divulgação da prévia dos preços em abril no Brasil e a inflação de março nos Estados Unidos. O Ibovespa fechou em alta de 1,51%, aos 126.526 pontos. Na semana, o principal índice da bolsa brasileira avançou 1,12%. Já o dólar acelerou as […]
Real forte? Esse bancão vê a moeda brasileira vencendo o iene — divisa japonesa atinge o menor nível em 34 anos ante o dólar
O iene, considerado uma das divisas fortes e usada como reserva financeira, tem perdido força contra a moeda norte-americana, mas não só
Usiminas (USIM5) e Banrisul (BRSR6) anunciam dividendos; veja quanto as empresas vão pagar e quem poderá receber
Siderúrgica vai pagar R$ 330 milhões, enquanto o banco gaúcho distribuirá R$ 75 milhões aos acionistas
Cogna (COGN3) nota 10? Banco estrangeiro passa a recomendar compra das ações, que lideram altas da B3
O banco também avalia um preço justo para as ações entre R$ 2,80 e R$ 4,40, o que representa um potencial valorização das ações de até 120%
Bolsa hoje: Com ‘cabo de guerra’ entre Petrobras (PETR4) e Wall Street, Ibovespa fecha em leve queda; dólar sobe a R$ 5,16
RESUMO DO DIA: O dia ficou nublado para os mercados acionários com a divulgação de novos dados econômicos nos Estados Unidos e um impasse de meses solucionado na Petrobras (PETR4). Com alguns raios de sol patrocinados pela petroleira, o Ibovespa sustentou os 124 mil pontos, mas ainda assim termino o dia entre nuvens. O principal […]
Magazine Luiza (MGLU3) recebe sinal verde para grupamento de ações e dá prazo para acionistas ajustarem as posições
A operação será feita na proporção de 10:1. Ou seja, grupos de 10 papéis MGLU3 serão unidos para formar uma única nova ação
Bolsa hoje: Ibovespa cai com bancos e NY antes de resultados da Vale (VALE3); dólar sobe a R$ 5,14
RESUMO DO DIA: O Ibovespa está encarando uma montanha-russa nesta semana, com a temporada de balanços corporativos ganhando tração e Brasília voltando a dividir as atenções dos investidores. Depois de começar o dia em alta, o principal índice da bolsa brasileira terminou o pregão com queda de 0,33%, aos 124.740 pontos. Já o dólar recuperou […]
Exame bem feito: Fleury (FLRY3) acerta o diagnóstico com aquisição milionária e ações sobem 4%
A aquisição marca a entrada do Grupo Fleury em Santa Catarina com a estratégia B2C, o modelo de negócio direto ao consumidor
Bolsa hoje: Ibovespa recua com pressão de Vale (VALE3) na véspera do balanço; dólar cai após dados nos EUA
RESUMO DO DIA: O Ibovespa até começou a semana com o pé direito, mas hoje faltou impulso para sustentar a continuidade de ganhos da véspera O Ibovespa fechou com queda de 0,34%, aos 125.148 pontos. O dólar à vista segue enfraquecido e terminou o dia a R$ 5,1304, com baixa de 0,74%. Por aqui, o […]
Leia Também
-
Bolsa ou renda fixa? Como ficam os investimentos após Campos Neto embolar as projeções para a Selic
-
Prévia da inflação veio melhor que o esperado — mas você deveria estar de olho no dólar, segundo Campos Neto
-
Bolsa hoje: Dólar cai a R$ 5,11 com inflação nos EUA; Ibovespa retoma os 126 mil pontos com NY e avança 1% na semana
Mais lidas
-
1
Preço dos imóveis sobe em São Paulo: confira os bairros mais buscados e valorizados na cidade, segundo o QuintoAndar
-
2
Vale (VALE3) e a megafusão: CEO da mineradora brasileira encara rivais e diz se pode entrar na briga por ativos da Anglo American
-
3
Imposto de 25% para o aço importado: só acreditou quem não leu as letras miúdas