Por que o dólar está subindo?
O dólar à vista já sobe mais de 8% desde o início do ano e, com isso, busca níveis nunca antes atingidos. Entenda a dinâmica por trás do mercado de câmbio e os fatores que têm pressionado a moeda
Que o dólar à vista está numa tendência de alta, você já sabe: desde o início de 2020 — mais precisamente, até o dia 12 de maio —, a moeda americana acumulou ganhos maiores que 45% — em uma escalada que levou a divisa a novos recordes em termos nominais.
O tema tem gerado debates acalorados e despertado uma curiosidade que vai muito além do mercado financeiro. Um levantamento preparado pelo Google mostra que o câmbio aparece entre os assuntos mais procurados pelos brasileiros em sua ferramenta de pesquisas.
Sendo assim, vamos responder às cinco maiores dúvidas em relação ao comportamento da moeda americana. Eu não sei se você vai encontrar a resposta no Google, mas ela está aqui no Seu Dinheiro. Vamos começar pela pela grande dúvida de todos:
1 - Por que o dólar está subindo?
Esse não é um questionamento simples, já que a tendência de alta da moeda americana é fruto de uma série de motivos que atuam em conjunto, e não apenas de um único ponto de estresse. Tanto no exterior quanto no Brasil, há diversos fatores que trazem pressão ao câmbio.
Em primeiro lugar, há o ambiente de maior cautela visto lá fora. É bom lembrar que, no início do ano, tivemos um enorme fator de estresse que, hoje, quase não é mais lembrado: os atritos geopolíticos entre Estados Unidos e Irã.
Por mais que a tensão entre americanos e iranianos não tenha se desdobrado num conflito militar propriamente dito, o mercado viveu dias turbulentos nas primeiras semanas de janeiro, temendo uma escalada bélica no Oriente Médio — e essa preocupação se traduziu numa primeira onda de valorização do dólar ante as moedas de países emergentes, como o real.
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E, quando os ânimos dos investidores começavam a se acalmar, veio a segunda onda de cautela: o surgimento, na China, de uma nova variedade do coronavírus, dando origem a um surto global de uma doença misteriosa e, em alguns casos, fatal.
O coronavírus mexe com o dólar porque afetará crescimento da economia mundial. A China, epicentro inicial do problema, é uma consumidora importante de commodities e uma participante relevante do comércio internacional. Europa e Estados Unidos, epicentros seguintes, possuem as maiores economias do planeta.
Assim, o mercado busca mecanismos de defesa — e um deles é comprar dólares, uma moeda forte e estável.
A explosão de novos casos da doença em outros países a partir do fim de fevereiro, com destaque para Itália, Coreia do Sul e Estados Unidos, a percepção de risco do mercado aumentou ainda mais.
Afinal, uma questão que, a princípio, parecia quase restrita à China, ganhou proporções mundiais — o que, naturalmente, aumentou o medo quanto a uma desaceleração da economia global, com menor demanda por produtos, contração na atividade e menor fluxo de comércio internacional.
Como se o panorama não estivesse suficientemente nebuloso, tivemos um terceiro fator de risco surgindo no radar: a guerra de preços do petróleo, travada por Arábia Saudita e Rússia.
Em resumo: os sauditas defendiam um corte na produção da commodity, de modo a se ajustar a um ambiente de menor demanda global por causa dos impactos do coronavírus. Os russos, no entanto, não concordaram com o plano — o que gerou um impasse na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Sem conseguir um acordo, a Arábia Saudita adotou uma estratégia de 'terra arrasada': cortou violentamente os preços do petróleo vendido para outros países, provocando um colapso na cotação da commodity. O país, assim, prejudicou seus próprios interesses para causar um impacto ainda maior à economia russa, tentando forçar o governo de Moscou a voltar à mesa de negociações.
Esse imbróglio fez o petróleo desabar ao nível de US$ 35 por barril — há um ano, valia perto de US$ 70 — e desencadeou um movimento de pânico nos mercados no dia 9 de março: as bolsas globais despencaram e o dólar se valorizou imensamente, num movimento de busca por proteção.
Além dos fatores externos, há também as questões domésticas. Aqui, há o "efeito Selic": com a taxa básica de juros sendo reduzida, o Brasil fica menos atraente para os investidores estrangeiros que buscavam retornos fáceis.
Esse é um ponto estrutural da economia brasileira, e tem relação com o risco associado ao país. Em resumo: o investidor compara a taxa de juros do Brasil e dos Estados Unidos e, quanto maior a diferença, mais rentável será a aplicação de recursos por aqui.
No entanto, com os sucessivos cortes na Selic, esse diferencial nas taxas caiu bastante — ao ponto que, ao olhar para a atual classificação de risco do Brasil, o investidor que busca apenas esse tipo de retorno já não encontra muita vantagem.
Assim, o fluxo de dinheiro 'especulativo' em direção ao Brasil, que antes era abundante, tem minguado — e, com menos dólares entrando no país, a cotação da moeda americana sobe.
Há também a desconfiança do mercado em relação à retomada do crescimento da economia brasileira. Se, no fim do ano passado, a percepção era a de que a atividade doméstica finalmente engrenaria em 2020, agora o clima é de muito menos entusiasmo.
Na reta final de 2019, a tão aguardada guinada da economia brasileira não se concretizou — dados de produção industrial, vendas no varejo e outros indicadores econômicos ficaram aquém do esperado, jogando um balde de água fria nas expectativas do mercado.
O crescimento de 1,1% do PIB do país em 2019 apenas coroou a frustração quanto aos rumos da economia brasileira — no início do ano passado, falava-se numa expansão próxima a 3%. E, para 2020, já começam a ser revisadas para baixo as projeções de alta de 2% do PIB brasileiro.
O surto de coronavírus impacta as perspectivas para a economia doméstica, mas o panorama conturbado em Brasília adiciona ao estresse, especialmente a partir de abril.
Com as saídas de Luiz Henrique Mandetta e de Sergio Moro dos ministérios da Saúde e da Justiça e da Segurança Pública, respectivamente, a política entrou no radar dos investidores. Neste particular, a saída de Moro, considerado um dos pilares do governo, da forma como se deu, levantou a incerteza de continuidade do governo, sem falar da possibilidade de queda de outro pilar da gestão Bolsonaro, o chefe da Economia, Paulo Guedes.
Antes disso, já se convivia com constantes embates entre governo e Congresso, o que contribuía para diminuir as expectativas sobre a economia brasileira. As turbulências no front político apenas trazem mais ruído e atrasam a tramitação das reformas econômicas.
2. Quanto está o dólar hoje?

No fechamento da sessão de 12 de maio, o dólar chegou a R$ 5,8686, um avanço de 0,82%. Este é o maior patamar histórico de da moeda para encerramento de pregões. Ao acelerar o movimento de alta, a taxa de câmbio reage ao corte maior do que o esperado da Selic e à tensão política doméstica, além da visão de que a pandemia do coronavírus terá efeitos severos na atividade econômica.

É importante ressaltar o uso do termo 'nominal' ao falarmos dos sucessivos recordes do dólar. Esses picos referem-se ao valor de face da taxa de câmbio, sem considerar a inflação.
3. Quando o dólar vai baixar?

Veja bem, essa é uma pergunta bastante complicada. O câmbio, afinal, é o mercado que está exposto ao maior número de variáveis, tanto domésticas quanto internacionais — o que dificulta qualquer previsão para o comportamento do dólar.
É quase impossível cravar uma data em que a moeda americana vai cair, mas é perfeitamente viável citar alguns fatores que podem ajudar a tirar a pressão do câmbio.
Caso a economia brasileira comece a dar sinais mais firmes de aquecimento, a tendência é de alívio na cotação do dólar à vista. Afinal, os dados de crescimento do PIB são o cartão de visitas do país aos investidores estrangeiros — e uma economia forte é um fator-chave para atrair recursos de fora.
Ainda no Brasil, o avanço da agenda de reformas econômicas no Congresso também é importante para a retomada da confiança do mercado. A aprovação das novas regras da Previdência foi bem recebida pelos investidores, que agora esperam o avanço das reformas tributária e administratva.
No exterior, os desdobramentos do coronavírus serão acompanhados de perto pelo mercado. Caso o surto da doença se aprofunde, o dólar tende a avançar ainda mais; caso ocorra o contrário e a economia global não seja muito afetada, a tendência é de queda na aversão ao risco — e, assim, de maior demanda por moedas de países emergentes.
Dito tudo isso, uma boa dica é: sempre tenha dólares em sua carteira de investimentos. Na pior das hipóteses, a moeda americana atuará como proteção para o seu portfólio, se valorizando quando todo o resto está em queda; na melhor, você terá um ativo seguro em mãos.
4. Por que o dólar subiu tanto?

O nome do jogo é 'aversão ao risco'. Os mercados financeiros odeiam situações em que não tem previsibilidade quanto ao que ocorrerá no futuro — e, até agora, 2020 está recheado de circunstâncias desse tipo.
No câmbio, há uma estratégia clássica para lidar com períodos de estresse: na dúvida, é melhor vender as moedas mais arriscadas, como as de países emergentes — caso do real, do peso mexicano, do rublo russo, do peso chileno ou do rand sul-africano, entre outras — e buscar opções mais seguras.
Entre essas bolas de segurança, aparecem o dólar, o euro e o iene. Outra boa pedida é o ouro — desde o início do ano, a commodity já sobe mais de 9%.
Em março, o Banco Central (BC) já atuou diversas vezes no câmbio para tentar conter a disparada do dólar. Num primeiro momento, a autoridade monetária promoveu leilões extraordinários de swap cambial — ou seja, operou no mercado futuro. Essa estratégia, no entanto, não conseguiu trazer alívio às negociações.
Assim, o BC trocou de arma, passando a promover leilões no segmento à vista — entre os dias 9 e 10 de março, a autoridade injetou mais de US$ 5 bilhões no sistema, uma postura que ajudou a reduzir o pânico dos investidores no momento mais tenso da crise do petróleo.
Contudo, vale ressaltar que tais atuações são esporádicas e ocorrem apenas nos momentos em que o Banco Central identifica algum tipo de disfunção no mercado.
Afinal, o regime cambial no Brasil é flutuante — assim, em tese, o BC não tenta controlar artificialmente as oscilações da moeda ou defender uma cotação específica do dólar.
5. O que faz o dólar subir?

Há variáveis domésticas e externas capazes de influenciar a cotação do dólar. O que esses fatores têm em comum é a capacidade de diminuir a previsibilidade em relação ao futuro, aumentando a percepção de risco por parte dos investidores.
Assim, o coronavírus mexe com o dólar porque o mercado não sabe se o surto da doença vai mexer com a economia global, se a China vai consumir menos commodities ou se o fluxo de pessoas vai sofrer alguma restrição; a reforma da Previdência afetava o câmbio porque, caso não fosse aprovada, o Brasil entraria numa situação fiscal muito difícil.
Quanto à Selic, os investidores agora estão numa espécie de bifurcação. Por um lado, o BC sinalizou na última reunião do Copom que não vai mais cortar os juros; por outro, os dados fracos da economia brasileira sugerem que ainda há necessidade de estímulos extras, o que pode ser feito via uma nova redução nas taxas.
Caso a Selic caia novamente, o diferencial de juros em relação aos EUA irá diminuir ainda mais, afastando alguns investidores; se a Selic ficar estável, o diferencial continua nos patamares atuais. Portanto, eis aqui mais um fator de incerteza.
Em resumo, é isso: quem acompanha o mercado de câmbio deve estar atento a uma série de variáveis, de modo a mapear os mais diversos fatores de risco. Uma tarefa complexa, mas que, ao fim do dia, ajuda a entender um pouco o comportamento do dólar.

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