A lavanderia do papai e o valor do dinheiro na mão
O confisco da poupança e o bloqueio, por 18 meses, de valores acima de 50 mil cruzados novos depositados em contas-correntes anunciados pelo presidente Fernando Collor estavam lá, martelando meu cérebro.

Lá em casa, éramos quatro e duas tartarugas, minis, em março de 1990.
Com o anúncio do Plano Collor bateu o desespero. Perplexidade, a primeira reação, foi compartilhada com os colegas na Redação, onde, acredito, virei jornalista. Era a Gazeta Mercantil. A ideia de que uma volta num shopping ajudaria a espairecer mostrou-se infundada. Impressos na vitrine, os perfis de dois economistas de prestígio pra lá de acadêmico assustaram. Pérsio Arida e André Lara Resende – “pais” do Plano Cruzado ao lado de Edmar Bacha e João Sayad – também estavam estupefatos com as novidades.
Eu, que não acredito em coincidências, considerei o encontro casual um prenúncio de confusão. Afinal, o Plano Cruzado havia sido a primeira tentativa de estabilização monetária realizada no Brasil na fase da redemocratização – em meados da década de 1980 – com o fim do regime militar que durou 21 anos.
Meu sexto sentido falou alto.
Afundei num mar de dúvidas. O confisco da poupança e o bloqueio, por 18 meses, de valores acima de 50 mil cruzados novos depositados em contas-correntes anunciados pelo presidente Fernando Collor estavam lá, martelando meu cérebro. Quem teria dinheiro em casa? Quem trocaria um cheque por alguns trocados? Pela frente teríamos três dias de feriado bancário. Quando as agências reabrissem a moeda já seria “cruzeiro”, ainda que sem perder qualquer zero; as operações “overnight” estariam extintas; os bancos não teriam a oferecer os fundos de investimentos subitamente instituídos pelo governo recém-empossado; as filas nos caixas seriam gigantescas e as contas estariam vencendo. A pagar, tudo! Inclusive o salário da Dona Maria, nossa assistente do lar. Praticamente a dona da casa.
Meu pai! E dessa vez não era força de expressão nem apelo ao altíssimo.
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Sobrava o meu pai.
Conduzi, com cuidado, a minha Brasília vermelha até o outro lado da cidade.
Abri o portão, entrei e, sem mais, quase implorei um trocado ao meu pai, um caminhoneiro pobre (mas previdente). Ele haveria de aceitar um cheque de sua filha preferida. Eu!
Com alguma cerimônia, ele fez um gesto pedindo silêncio. Me puxou pelo braço até o quintal do antigo sobrado e resgatou da encrencada Westinghouse verde, no futuro comparada ao Incrível Hulk, dois sacos de papelão do Jumbo Hipermercado repletos de notas grandes e pequenas de “cruzado novo” (novo mesmo!). Essa moeda brasileira teve vida curtíssima: circulou de 16 de janeiro de 1989 a 16 de março de 1990.
Ao final do feriado bancário de três dias, que selou “uma das mais drásticas intervenções do Estado na economia brasileira”, nas palavras do professor Carlos Eduardo Carvalho, um estudioso do Plano Collor, aquelas notas já estariam rebatizadas. Seriam um bocado de “cruzeiros”.
Talvez por ter um pouco (um pouco, veja bem!) mais de idade do que boa parte dos que me cercam neste escritório, essa imagem seja o que me vem à mente quando vejo investidores animadíssimos com a Bolsa, títulos de crédito de vencimento distante, COEs que vão travar o dinheiro por muitos e muitos anos. Gosto de ter ao menos um pouco de dinheiro à mão. Sempre.
Acredito que essa imagem não esteja somente na minha mente, mas na de muitos brasileiros. Talvez acomodados aos anos e anos de juros altos, gostamos mesmo é de uma boa liquidez. Os fundos de investimentos, notei um dia desses, mantêm em carteira 990 bilhões de reais em títulos públicos. Essa montanha de papéis é quase um terço da dívida que o governo federal tem em mercado.
Acho saudável avançarmos para um portfólio mais diversificado, mas o que acredito que posso dividir com você da minha experiência é: nem tanto, meu filho. Tenha sempre um pouco de liquidez, porque a vida pode ser longa. E o futuro (aprendi!) é um tempo que nunca chega.
Não estou dizendo que uma catástrofe nos espreita. Não acredito nisso. Nem que você precise, literalmente, lavar dinheiro como o meu pai.
Acredito que tenhamos avançado institucionalmente nesse sentido a ponto de contar com o título público, em fundo de investimento, no Tesouro Direto ou remunerado pela taxa Selic como reserva de emergência.
O governo brasileiro nunca deixou de pagar seus títulos, ainda que em alguns momentos tenha mexido de leve no cálculo da correção monetária. Mas correção monetária faz parte de um passado de inflação tão grande que nem cabia na calculadora da padaria do Kiko.
Lembra do Plano Collor que ficou com parte do nosso dinheiro?
Pois é, não deu muito certo. O governo abriu torneirinhas para que em alguns casos (que se tornaram muitos), os correntistas sacassem parte de seus recursos bloqueados. As torneirinhas viraram um chuveiro. O presidente Fernando Collor caiu. Não só pelo aguaceiro, mas por notícias de mau uso do dinheiro público.
Para consertar mais estragos na economia, tivemos outro Plano (o Real, que virou o nome da nossa moeda).
Algumas das mudanças feitas antes, no Plano Collor, não foram desfeitas. E uma delas foi o fim do “overnight” e a criação dos fundos de investimento. Isso você já sabe. Mas acho bom lembrar que enquanto existia o "overnight", quem corria o risco de levar um calote com título público eram os bancos. Com a criação dos fundos, o risco passou a ser dos cotistas – eu, você, todo mundo. Por isso, escolha bem onde vai colocar o seu suado dinheirinho.
Não estou dizendo que algum banco possa quebrar. O Brasil tem alguns dos bancos mais fortes do mundo.
Aprendi muito sobre isso quando trabalhei no Banco Central. Faz anos. Tive a honra de compor a equipe de comunicação de Henrique Meirelles. Estava lá quando os bancos quebraram na esteira do Lehman Brothers, em 2008. Vi o tanto de regras que os bancos precisam cumprir para que possam funcionar. Assisti a mudanças que tornaram nossa economia mais resistente também.
Hoje em dia, mais provável do que um confisco do nosso dinheiro em situação extrema é a volta da inflação. Nada que se compare ao passado, quando ela chegou a 60, 70, 80 por cento ao mês. Confio que esses tempos acabaram.
Mas a inflação pode ter muitas causas. E nem todas dependem de nós ou do nosso governo. O petróleo pode subir em outros países e fazer aumentar o preço da gasolina, por exemplo. O dólar é a moeda dos EUA e também do mundo. Dependendo do que acontecer com a economia americana, o dólar pode subir no mundo inteiro. Aqui também. E dólar mais caro também ajuda a produzir inflação.
Lembra da greve dos caminhoneiros em maio do ano passado? Os produtos não chegavam nas cidades, nos supermercados. E os consumidores, com dinheiro na mão para comprar mercadorias que não estavam nas prateleiras, também fizeram com que os preços subissem. Tudo o que é raro, custa mais caro.
Mesmo quando a inflação parece baixinha, como a nossa nos últimos anos, os títulos indexados à inflação podem servir de proteção.
Mas se você for como eu, e prefere estar garantido para emergências, pense em ter sempre algum dinheiro à mão. Já pensei em deixar uns trocados na máquina de lavar. Meu filho Júlio guarda algum num pote de vidro na cozinha. A verdade é que não sabemos o dia de amanhã.
O mercado externo está mais azedo nesta quinta. A produção industrial da China – em alta de 5,3 por cento no agregado de janeiro e fevereiro, ante alta de 5,7 por cento em dezembro – dá um tom negativo aos negócios no exterior, onde o Parlamento britânico será destaque com a votação do projeto que prevê adiar o Brexit. Originalmente, o Reino Unido deve deixar a União Europeia no próximo dia 29. Contudo, o Parlamento rejeitou ontem uma saída sem acordo. No mercado local, investidores estarão de olho na B3. A expectativa é de que o Ibovespa ultrapasse os 100 mil pontos. Ontem, o principal indicador da Bolsa chegou a ultrapassar 99 mil. O dólar, por sua vez, resistiu no patamar de 3,81 reais, mas captações de recursos externos por empresas acenam com entrada da divisa americana no país em breve. Variável inesperada que pode afetar os negócios ou entrar em discussão é a intenção do novo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de “tornar o mercado mais aberto para os estrangeiros, com uma eventual moeda conversível que sirva de referência para a região”.
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