Odebrecht e você: um olhar diferente
Eu gostaria que o caso da Odebrecht servisse de exemplo pra você. Calma. Não é um discurso politicamente correto pedindo para que você continue ético e probo. O ponto é que eu não gostaria que você se afastasse de si, da sua origem
“Somos diferentes do que parecemos. (…) Talvez piores, talvez melhores, mas certamente diferentes. Somos estranhos a nós mesmos.” Lembrei desse trecho, do livro “O Estranho”, de Richard Wright, ao ver a formalização da recuperação judicial da Odebrecht.
Sabe, se você me perguntasse qual livro de gestão empresarial mais me impactou, talvez eu apontasse “Sobreviver, Crescer e Perpetuar”, do Norberto Odebrecht. E digo mais: não é exclusividade minha. Muitos empreendedores brasileiros com perfil executivo também foram notadamente influenciados pela obra.
Ali já havia um princípio interessante sobre a necessidade de a empresa servir ao cliente em vez de ser servida, além de uma obstinação por deixar uma contribuição única para a sociedade. Pode ser exagero de minha parte, e sei das devidas proporções evidentemente, mas noto algo de Jeff Bezos e sua obsessão por colocar o cliente no centro. Também percebo a ideia do propósito transformador massivo, tão referenciado hoje pela turma das Organizações Exponenciais.
Bicho, ele escreveu isso em 1983, quando não tinha conversinha descolada. Gestão empresarial mais parecia com bangue-bangue e o cara estava pensando em management descentralizado, descobertas por serendipity no nível mais capilar subindo para o topo e depois sendo compartilhadas, espraiando-se para outras unidades menos eficientes a priori, metas e cobrança fortes sobre gestores e sobre o pessoal da operação, extreme ownership, ética do trabalho. Olhando com profundidade, está tudo lá, sob uma defesa ferrenha dos mais rigorosos preceitos éticos e morais — ao menos no discurso, vai saber…
Tendo as diretrizes acima como referência, vejo com tristeza tudo que aconteceu. Nada pior do que afastar-se de si mesmo. Daniel Galera talvez me recordasse: “Há apenas dois lugares possíveis para uma pessoa. A família é um deles. O outro é o mundo inteiro. Às vezes, não é fácil saber em qual dos dois estamos”.
A Odebrecht se afastou de si. Deu no que deu. Ok, eu posso ser o último romântico dos litorais desse oceano Atlântico. Sei lá se o livro era só um amontoado de princípios e ideias bem formuladas, sem aplicação no dia a dia da empresa. Na teoria, até o comunismo funciona. Mas, lendo o livro, parece que o cara realmente acreditava naquilo. Acho que a Odebrecht era aquilo mesmo. Ou, ao menos, nasceu para ser aquilo mesmo. Depois veio a trair sua alma. E, como nós sabemos, esse é um pecado imperdoável. Se traída, sua alma vai se vingar de você. E o pior: para seu próprio bem, é melhor que assim seja. Você não há de querer o perdão de sua alma, pois somente a vingança dela para consigo é uma forma de reconciliar-se com aquele menino que você via aos 18 anos no espelho. O pathos precisa ser pago para que possamos nos reequilibrar.
Leia Também
Não se afaste da origem
Eu gostaria que o caso da Odebrecht servisse de exemplo pra você. Calma. Não é um discurso politicamente correto pedindo para que você continue ético e probo — se achasse que precisava disso, nem continuaríamos conversando. O ponto é que eu não gostaria que você se afastasse de si, da sua origem, das suas raízes. Pense no mito de Anteu, que ao ter os pés levantados e perder o contato com o chão (a terra, sua mãe Gaia), foi derrotado por Hércules em um de seus 12 trabalhos.
A verdade é que estou preocupado. Falo de coração aberto aqui. Explico o ponto.
Ontem, o Fernando Ferrer, como faz todas as manhãs, me mandou o desempenho da Carteira Empiricus. A imagem, tal como ele me enviou num e-mail interno, está colocada abaixo:

Como mostra a tabela, o portfólio sugerido, que poderia ser comparado a um multimercado (justiça seja feita: aqui ele está bruto de taxas e impostos; para efeitos práticos, retire grosseiramente algo em torno de uns dois pontos percentuais do retorno se quiser pensar em termos líquidos), sobe 12,38 por cento em 2019.
É um desempenho estapafúrdio.
A princípio, era para ser boa notícia. De fato, é uma boa notícia, em si. Ao mesmo tempo, quando olhei esse percentual de retorno, fui subitamente capturado pela ideia de que ele pode representar uma armadilha.
A verdade é que existe uma chance material de que você, sendo um dos três leitores desta coluna (soube do falecimento de um companheiro nessa madrugada), esteja ganhando um bom dinheiro neste ano. Fique claro: o mérito é seu, e sejamos sinceros, um pouco da sorte também — a aleatoriedade sempre desempenha um papel superior em nossas vidas ao que gostaríamos de supor.
Mas é aí que mora o perigo. O sucesso é um mal professor. Tenho duas preocupações principais diante do fenômeno.
A primeira de cunho mais emocional e psicológico, mas com resultados potenciais bastante tangíveis. Existe um risco objetivo de que você se torne arrogante. Passe a achar que resultados como esse são normais de serem obtidos. Sendo um super-herói, você poderia se concentrar e até se alavancar nos casos de sua maior convicção. Lamento decepcioná-lo, mas super-heróis não existem. Nem você, nem eu, nem o Rodolfo, nem o Stuhlberger, nem o Buffett, nem o Taleb — ah, talvez o Taleb, só para ser justo.
Não tome bons resultados recentes como um indício de que você pode bater o mercado com facilidade. Continue focado na gestão do portfólio, sempre — e também sempre — na base da boa diversificação, do devido balanceamento e da adequada gestão de risco. Esqueça este ou aquele case, esta ou aquela bala de prata, esta ou aquela dica esperta passada pelo seu cunhado. Sempre que pensar em finanças, pense na gestão de portfólio.
A segunda é mais pragmática e direta, sendo até um corolário da primeira. Conforme você monta uma carteira e ela vai evoluindo dinamicamente, precisa revisitar aquela seleção e verificar se não seria o caso de um rebalanceamento, caso os pesos tenham destoado muito dos originalmente pretendidos.
Apenas como o exemplo ilustrativo, olhe para a Carteira Empiricus. O book de ações indicado sobe 26 por cento no ano. Ou seja, se você não vender um pouco das ações, esse book vai ficar maior do que deveria no todo. Quer dizer que eu não gosto mais de Bolsa? Ao contrário, gosto muito, talvez até mais do que antes. Mas é preciso vender um pouco para rebalancear.
Vale para as classes de ativos e também para as ações individuais. Os papéis do Banco Pan, por exemplo, subiram mais de 100 por cento desde sua inclusão no portfólio. Se você pegou essa alta, precisa recalibrar sua posição, mesmo que a perspectiva para a ação ainda seja bastante positiva.
Paralelamente, eu, Felipe, sempre gosto de fazer pequenas loucuras quando as coisas estão muito bem. Mas loucuras responsáveis, fique claro, sem riscos de ferimentos. Lá vou eu saltar de paraquedas. Quando os lucros são altos, gosto de pegar um pouquinho da minha grana, sei lá, pode ser 0,1–0,2 por cento, e distribuir em coisas totalmente fora do radar, de altíssimo risco. Essas paradas que ninguém dá muita bola, mas de repente podem explodir do dia pra noite e te deixar rico. Nanotecnologia, criptomoedas, empresas de maconha (em especial private equity), grafeno, opções fora do dinheiro — qualquer pozinho (no bom sentido), que pode valer muito algum dia.
Ao mesmo tempo, também separo um dinheiro para comprar mais seguros (normalmente puts fora do dinheiro) para proteger os retornos contra uma eventual catástrofe inesperada. Trato meu portfólio como algo dinâmico. Minha cabeça está sempre trabalhando para uma gestão mais eficiente. Acho que ela aprendeu com o Norberto Odebrecht.
Mercados
Mercados iniciam a terça-feira em clima positivo, acompanhando otimismo no exterior. Propensão a risco ganha terreno após Mario Draghi sinalizar possibilidade de uso de vários instrumentos para responder a uma eventual desaceleração adicional da economia europeia. Vem mais liquidez por aí e isso é sempre uma boa notícia para mercados emergentes — ao menos no curto prazo. Uma hora a gente vai precisar se reconciliar com a economia real, mas é assunto pra depois. Por ora, chegou mais cerveja e ganhamos mais duas horas de festa.
Agenda é fraca por aqui, contando apenas com prévia do IGP-M na economia. Mercado acompanha com atenção início do debate do parecer do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) sobre a reforma da Previdência na comissão especial. Nos EUA, sai construção de casas iniciadas em maio. Há certa expectativa no ar pelas decisões de política monetária tanto aqui quanto nos EUA amanhã.
Enquanto isso na Sala da Justiça, Ibovespa Futuro sobe 0,95 por cento. Dólar e juros futuros caem.
Embraer (EMBJ3) está descontada na bolsa, e JP Morgan eleva preço-alvo para potencial de alta de até 42%
O JP Morgan atualizou suas estimativas para a ação da Embraer (EMBJ3) para R$ 108 ao final de dezembro de 2026. A nova projeção não está tão distante da anterior, de R$ 107 por ação, mas representa uma alta de até 27%. Incluindo a divisão EVE, subsidiária de veículos elétricos de pouso vertical, os chamados […]
Laranjinha vs. Roxinho na Black Friday: Inter (INBR32) turbina crédito e cashback enquanto Nubank (ROXO34) aposta em viagens
Inter libera mais de R$ 1 bilhão para ampliar poder de compra no mês de novembro; Nubank Ultravioleta reforça benefícios no Nu Viagens
Cemig (CMIG4) vira ‘moeda de troca’ de Zema para abater dívidas do Estado e destravar privatização
O governador oferta a participação na elétrica para reduzir a dívida de MG; plano só avançaria com luz verde da assembleia para o novo modelo societário
Petrobras (PETR4) ignora projeção, tem lucro 2,7% maior no 3T25 e ainda pagará R$ 12,6 bilhões em dividendos
Nos cálculos dos analistas ouvidos pela Bloomberg, haveria uma queda do lucro entre julho e setembro, e os proventos viriam na casa dos R$ 10 bilhões
Banco ABC Brasil (ABCB4) quer romper o teto histórico de rentabilidade e superar os 15% de ROE: “nunca estamos satisfeitos”, diz diretor
Mesmo com ROE de 15,5%, o diretor financeiro, Ricardo Moura, afirma que está “insatisfeito” e mapeia as alavancas para entregar retornos maiores
Magazine Luiza (MGLU3) tem lucro quase 70% menor no 3T25 e CFO culpa a Selic: “ainda não estamos imunes”
A varejista registrou lucro líquido ajustado de R$ 21 milhões entre julho e setembro; executivo coloca o desempenho do período na conta dos juros elevados
“Estamos vivendo um filme de evolução”, diz CFO da Espaçolaser (ESPA3). Receita e Ebitda crescem, mas 3T25 ainda é de prejuízo
A rede de depilação fechou o trimestre no vermelho, mas o diretor Fabio Itikawa vê 2025 como um ano de reconstrução: menos dívida, mais caixa e expansão apoiada em franquias
Cogna (COGN3) acerta na lição de casa no 3T25 e atinge menor alavancagem em 7 anos; veja os destaques do balanço
A companhia atribui o resultado positivo do terceiro trimestre ao crescimento e desempenho sólido das três unidades de negócios da empresa: a Kroton, a Vasta e a Saber
Axia (ELET3): após o anúncio de R$ 4,3 bilhões em dividendos, ainda vale comprar a ação da antiga Eletrobras?
Bancos consideraram sólido o desempenho da companhia no terceiro trimestre, mas um deles alerta para a perda de valor do papel; saiba o que fazer agora
Adeus home office: Nubank (ROXO34) volta ao escritório por “custos invisíveis”; funcionários terão tempo para se adaptar ao híbrido
O Nubank se une a diversas empresas que estão chamando os funcionários de volta para os escritórios
Minerva (BEEF3) tem receita líquida e Ebitda recordes no 3T25, mas ações desabam na bolsa. Por que o mercado torce o nariz para o balanço?
Segundo o BTG Pactual, com um trimestre recorde para a Minerva, o que fica na cabeça dos investidores é: o quão sustentável é esse desempenho?
Rede D’Or (RDOR3) brilha com lucro 20% acima das expectativas, ação é a maior alta da bolsa hoje e ainda pode subir mais
No segmento hospitalar, a empresa vem conseguindo manter uma alta taxa de ocupação dos leitos, mesmo com expansão
Vai caber tudo isso na Raposo Tavares? Maior empreendimento imobiliário do Brasil prepara “cidade própria”, mas especialistas alertam para riscos
Reserva Raposo prevê 22 mil moradias e até 80 mil moradores até 2030; especialistas alertam para mobilidade, infraestrutura e risco de sobrecarga urbana
iPhone, iPad, MacBook e mais: Black Friday da iPlace tem produtos da Apple com até 70% de desconto, mas nem tudo vale a pena
Rede autorizada Apple anuncia descontos em iPhones, MacBooks, iPads e acessórios, mas valores finais ainda exigem avaliação de custo-benefício
Banco ABC Brasil (ABCB4) corta guidance e adota tom mais cauteloso para 2025, mesmo com lucro e rentabilidade em alta no 3T25
O banco entregou mais um trimestre previsível, mas decidiu ajustar as metas para o ano; veja os principais números do resultado
O melhor está por vir para a Petrobras (PETR4)? Balanço do 3T25 pode mostrar que dividendo de mais de R$ 10 bilhões é apenas o começo
A produção de petróleo da estatal deve seguir subindo, de acordo com bancos e corretoras, abrindo caminho para novas distribuições robustas de proventos aos acionistas
Empreender na América Latina exige paciência, mas o país menos burocrático da região vai deixar você de queixo caído
Estudo internacional mostra que este país reduziu o tempo para abrir empresas e agora lidera entre os países latino-americanos, enquanto outro enfrenta o maior nível de burocracia
Serena Energia (SRNA3) está mais perto de se unir à lista de empresas que deram adeus à bolsa, após Ventos Alísios comprar 65% da empresa
A operação é resultado do leilão realizado no âmbito da oferta pública de aquisição (OPA) para fechamento de capital e saída da Serena do segmento Novo Mercado da B3
C&A (CEAB3) dá close no Ibovespa: ações figuram entre as maiores altas do dia, e bancos apontam a tendência do 4T25
A expectativa é de que a C&A continue reduzindo a diferença em relação à sua maior concorrente, a Lojas Renner — e os números do terceiro trimestre de 2025 mostram isso
RD Saúde (RADL3), dona da Raia e Drogasil, é vítima do próprio sucesso: ação chegou a ser a maior queda do Ibovespa e agora se recupera do tombo
Receita com medicamentos como Ozempic e Mounjaro engordou os resultados da rede de farmácias, mas essas vendas podem emagrecer quando genéricos chegarem ao mercado