Falas antigas de Bolsonaro viram arma de servidores
Associações que representam os servidores públicos querem explorar contradições do próprio presidente para tentar barrar pontos da reforma
Para tentar barrar os pontos da reforma da Previdência que endurecem as regras da aposentadoria para os servidores públicos, as associações que representam essa categoria acreditam ter um trunfo. Elas querem explorar as contradições do próprio presidente Jair Bolsonaro, que já se pronunciou publicamente contra diversos pontos que entraram no texto, como a elevação das alíquotas para servidores.
"Você já tem alíquota de imposto de renda altíssima, que não é corrigida ano após ano. Acho injusta essa questão: 11% (alíquota previdenciária atual dos servidores) é suficiente, mais os 27,5% do Imposto de Renda", disse Bolsonaro, em entrevista logo após assumir o mandato, no início de janeiro.
"Esse tipo de contradição, e outras, iremos explorar para enfraquecer a base governista", afirma Mauro Silva, diretor da Unafisco, entidade que representa os auditores fiscais da Receita Federal. Quem ingressa na carreira começa ganhando R$ 21 mil mensais, salário que pode chegar a R$ 27,3 mil com as progressões.
A posição do Ministério da Economia, porém, é de que os servidores têm uma série de privilégios em relação aos trabalhadores da iniciativa privada e que isso precisa ser combatido. "Ter pessoas dentro do poder público que, por alguma questão judicial, estão ganhando acima de R$ 39 mil é fazer escárnio com quem ganha o salário mínimo", disse, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o secretário especial de Trabalho e Previdência, Rogério Marinho.
Redes
As redes sociais também serão campo de batalha para a guerra que as categorias vão travar contra as medidas que afetam os servidores. A Unafisco, que durante as discussões da reforma do ex-presidente Michel Temer financiou uma série de ações para combater a proposta, pretende resgatar vídeos em que Bolsonaro falava contra a reforma da Previdência.
O presidente já disse, recentemente, que suas posições em relação ao tema no passado foram "um erro", mas a ideia é explorar a questão como sinal de falta de convicção do governo sobre a necessidade da reforma.
Já os policiais pretendem aproveitar a ampliação da bancada da segurança pública na Câmara para fazer valer suas demandas, que incluem uma idade mínima de aposentadoria diferente para mulheres, menor que os 55 anos estipulados na proposta. "Vamos contar com a bancada policial, que está bem maior", afirma o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Antônio Boudens.
As categorias também preparam o lançamento de uma frente parlamentar que defenda a Previdência dos servidores, prevista para 20 de março.
"Teremos atuação forte na mídia, junto ao Parlamento e na articulação política", diz o presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques. A entidade representa cerca de 200 mil servidores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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