O escândalo da super quarta e o pecado original
O melhor a fazer hoje é bloquear o contato do seu gerente ou do seu agente autônomo. Esta quarta-feira exigirá de você que seja mais, maior e melhor
Eu queria escrever uma folha em branco hoje. E escrever uma folha em branco é bem diferente de não escrever nada. O primeiro é uma manifestação da imperiosa necessidade de não se fazer coisa alguma, uma decisão deliberada pela inação. O segundo poderia ser esquecimento, desleixo ou, mais provável, esgotamento de ideias.
Não conta pra ninguém: segredo nosso, de nós quatro, mas, na verdade, isso já aconteceu faz tempo. Eu tenho é só uma única ideia, que repito aqui com outra roupa todos os dias. Diante da complexidade e da não previsibilidade do mundo, só nos restam a convexidade e a assimetria de retornos, cujos desdobramentos práticos são a diversificação em ativos que podem nos pagar muito caso o cenário positivo se confirme e nos machucar pouco num ambiente adverso. Se repetirmos o procedimento a longo prazo, sairemos vencedores. Gostaria de ter um prato melhor a servir, mas é o que tem para hoje. Para amanhã. E depois, e depois…
Para tanto, precisamos, claro, chegar no longo prazo, o que exige uma estratégia de sobrevivência até lá. John Kelly sistematizou a prática no chamado “Kelly Criterion”, cuja prescrição, de forma muito grosseira, é de aumentar o tamanho de sua aposta caso haja sucesso na rodada anterior e de reduzi-la caso tenha ocorrido prejuízo no jogo passado. Assim, garante-se matematicamente que você nunca morre no meio do caminho — e as finanças são como a vida: nenhuma estratégia que implique risco de morte (no caso, falência) são minimamente atraentes, independentemente da suposta atratividade das probabilidades e dos payoffs associados. Você entraria num avião cuja velocidade fosse 30 por cento maior e a probabilidade de queda fosse de 5 por cento? Quando o impacto envolve sobrevivência diante de probabilidades não desprezíveis, a única decisão racional é não participar.
Resgatada a ideia de sempre, retomo a ideia de hoje. A arte imita a vida.
Na excepcional peça “O Escândalo de Phillippe Dussaert”, o famoso artista opta por pintar justamente o “nada”. Para surpresa dos críticos mais tradicionais, Dussaert encontra enorme repercussão e estrondoso sucesso, passando a ser um dos maiores expoentes da arte contemporânea europeia, a ponto de lançar uma exposição completa da coleção “o nada”. Não havia absolutamente nada na vernissage — nem mesmo um banquinho para o segurança sentar. Até porque, vamos combinar, se deixarem um banquinho de segurança largado numa vernissage de arte contemporânea, nego já vai considerar uma obra-prima!
A exposição arrebentou, a ponto da mais alta cúpula do MoMA ir de Nova York a Paris para arrematar, por vários milhões de dólares, a famigerada tela “O Nada”. Saíram de Nova York literalmente para… nada.
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Provavelmente, hoje, na batizada “Super Quarta”, você vai se deparar com uma serpente, pronta para oferecer-lhe o gosto do fruto proibido. Todos serão estimulados, por vieses cognitivos próprios e também por incentivos de terceiros, a girar suas carteiras.
Ao fixar-se ao monitor, o investidor conta para si, muitas vezes de forma não deliberada, a história de que, para cuidar adequadamente de seu patrimônio, ele precisa agir, como se todo dia exigisse uma nova decisão e uma nova atitude. Nada pior do que isso.
Ao mesmo tempo, as corretoras, claro, querem de você justamente o giro. Elas ganham diretamente com isso por meio de corretagem. E aquelas que não cobram corretagem talvez sejam até piores, porque encontram um incentivo monetário para torcer contra o cliente — a zeragem compulsória de posições perdedoras, em especial as mais alavancadas, rende-lhes uma boa monta.
Não se surpreenda com sugestões de que a nova decisão do Fed, as discussões comerciais entre EUA e China, a atualização da Selic, o PIB da Zona do Euro ou qualquer um dos outros relevantes indicadores econômicos desta quarta-feira exige “fazer um giro na carteira”. O melhor a fazer hoje é bloquear o contato do seu gerente ou do seu agente autônomo. “Ah, mas eles nem podem sugerir nada.” É, eu sei, mas também sei que, na prática, a teoria é outra. “Eu não te recomendei tal ação, eu só disse que ela é incrível, pode subir 100 por cento e que estou comprando para os meus filhos. Isso não quer dizer nada.”
A imprensa também dá a sua contribuição para o mecanismo. Ela precisa de seus estereótipos hiperbólicos, manchetes superlativas e títulos histriônicos para vender jornal ou caçar uns cliques por aí. Qualquer alteração marginal precisa ser transformada em alarmante. E, assim, muitos acreditam num novo paradigma vindo do que, na verdade, é apenas um problema de dados de alta frequência, confundindo ruído com sinal.
Deixe-me falar uma coisa: a vida está boa aqui no Jardim do Éden. Estamos num bull market e o Cara já alertou que se comermos do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal vamos morrer. Eva, nem vem. Se você comeu, é problema seu. Eu estou bem aqui e não quero ser expulso deste lugar.
Não acho que Santo Agostinho estivesse certo ao dar ao pecado original uma conotação congênita e hereditária. Lá sou eu culpado pelo que o Adão foi aprontar? Ah, não. O que você fez, você fez. É só seu e ponto. Estou mais com o Pelágio da Bretanha. O pecado (não necessariamente em sua conotação católica, mas como uma atitude ruim, antiética, equivocada, maléfica, deletéria) é só um exemplo a não ser seguido e a salvação depende é da gente mesmo.
Se você vier a lucrar ou a fazer besteira com seu dinheiro, a responsabilidade é só sua. Não tergiverse sobre isso, por mais que sejam tentadoras as narrativas alheias. A grana e a decisão final são suas. Portanto, se algum gerente indicou algo, você seguiu e perdeu dinheiro, não transfira a culpa. Você ouviu ou leu a indicação, compactou com aquilo e decidiu seguir. Ponto-final.
Saiba a dimensão do que está diante de você hoje. Trata-se, possivelmente, de um dos dias mais relevantes em termos de indicadores econômicos e balanços corporativos. Eu, de educação jesuíta, não poderia deixar de notar que isso tenha se dado no aniversário da morte de Santo Ignacio de Loyola. Talvez os valores da ferrenha disciplina, da obediência à doutrina (no caso, à própria filosofia de investimentos) e, acima desses, o conceito do “magis” da Companhia de Jesus podem lhe ser úteis, a despeito de qualquer tipo de fé religiosa ou falta dela. Esta quarta-feira exigirá de você que seja mais, maior e melhor. Sempre podemos experimentar um avanço em relação àquilo que já fazemos ou vivemos.
Começamos digerindo os dados do PMI chinês, em 49,7 pontos em julho, acima das projeções de 49,5, e o bom balanço da Apple reportado ontem à noite, catalisadores para uma forte alta de suas ações no after-market.
Temos referência de emprego nos EUA com o ADP Employment, estoques de petróleo norte-americano e a atividade na região de Chicago. Além disso, há a retomada das negociações comerciais entre EUA e China.
Os verdadeiros destaques, porém, são de política monetária. O banco central dos EUA deve reduzir sua taxa básica em 25 pontos — todo o consenso está nesse call. A questão sensível aqui permeia eventuais sinalizações sobre um novo corte neste ano. Meu feeling pessoal — o nome que resolvi dar para chute — é de que vem um “hawkish cut”, ou seja, um corte acompanhado de comentários de austeridade e viés menos frouxo para a frente.
Mais tarde, já com os mercados fechados, o Copom atualiza a taxa Selic e daí deve vir uma diminuição de 0,50 ponto percentual, embora parte do mercado aposte numa postura mais cautelosa da ordem de 0,25. Estou no primeiro time.
Seja lá quais forem os resultados, a verdade é que tudo isso se apresenta como um exercício de adivinhação. Mas, para mim, pouco importa. Digo isso porque, a despeito da capacidade de se adicionar volatilidade nos mercados no curto prazo, as condições estruturais para a continuidade do bull market estrutural aqui dentro estão dadas.
Por isso, a prescrição de hoje é de ordem ortopédica e ergonômica: senta na mão.
Lá fora, mesmo que o Fed seja conservador em seus comentários, não há nenhum indício material de que, estruturalmente, esgotamos o ambiente de juros baixos. Ao contrário, os sinais sugerem taxas ainda mais cadentes, penetrando territórios mais profundos da zona negativa. Talvez você dissesse que esses sinais podem esconder riscos sob o tapete, no que eu concordaria. Infelizmente, porém, é o que resta para nos basear. Não é bom, mas é o que tem para hoje.
Veja que a Alemanha acaba de apurar um yield negativo em 0,41 por cento em seu bond de 10 anos, marcando nova mínima histórica. Em artigo no Valor de hoje, originalmente publicado no Financial Times, de título “Era de juros extremamente baixos veio para ficar”, referenda alguns desses elementos. Destaco um trecho: “As autoridades do Fed estimam que as taxas vão se acomodar em 2,5 por cento ao ano no longo prazo. Se descontados os 2 por cento de meta de inflação, o retorno real do capital será de mísero 0,5 por cento ao ano. A taxa equivalente na Europa e no Japão será certamente muito mais baixa”.
Dois corolários aqui: i) as taxas de juro excepcionalmente baixas no mundo desenvolvido balizam também os juros nos emergentes, como o Brasil (a taxa no Brasil é, basicamente, a taxa internacional livre de risco mais um prêmio de risco-país); e ii) com juros muito baixos por lá, o capital tende a fluir com maior naturalidade para a periferia, sendo o Brasil um dos destinos prováveis — somos grandes demais para sermos ignorados; cedo ou tarde, voltaremos à agenda do gringo.
Já sobre o Copom, as pessoas ainda parecem subestimar o efeito do juro baixo e por muito tempo. Isso vai transformar o país (e a vida do investidor) de uma maneira ainda não devidamente capturada pela maior parte das pessoas. Juros mais baixos estimulam o tal “financial deepening” (já tratei disso algumas vezes, evitando aqui a repetição), mas também a economia real. Investimentos que antes não eram considerados atrativos (VPL negativo) passam agora a ser considerados apropriados, pois o capital consegue ser remunerado de maneira razoável quando comparado a alternativas mais convencionais. Mais investimento significa, claro, economia crescendo mais. Então, temos impacto inclusive sobre nosso problema fiscal — se o PIB cresce mais, a relação dívida/PIB encontra trajetória mais favorável. Além disso, com juros menores paga-se muito menos serviço de dívida. Em tempo: uma coisa é ter 80 por cento de dívida líquida sobre PIB com juro de 15 por cento sobre essa dívida; outra, bem diferente, é ter os mesmos 80 por cento de dívida/PIB com juro de 5 por cento.
Pode ser que as coisas mudem para frente. As condições materiais postas à mesa, porém, não indicam essa direção. Poucas vezes reunimos condições tão impressionantes para um bull market em ações quanto esta. O ciclo econômico não se mede em 24 horas, mas, sim, em anos. Desligue o computador, pois, como diria o protagonista de “Meu Nome Não É Johnny”: “Eu não faço nada, não, mas sou muito bom no que faço”.
Mercados iniciam a quarta-feira próximos do zero a zero, em compasso de espera pelas decisões do Fed e do Copom. Nos futuros de Wall Street, até prevalece um clima mais favorável, mas não é suficiente para animar as negociações por aqui. A verdade é que, hoje, todos querem saber do Fed. E isso é tudo.
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