O que antes era visto como um cenário desastroso se consolidou. A uma semana da eleição, Jair Bolsonaro deve enfrentar Fernando Haddad em um segundo turno. E o mercado não parece mais tão preocupado com isso. Não parece...
Nas conversas com “gente de mercado”, a impressão que foi se consolidando ao longo da última semana é de que o PT, no caso de retorno ao poder, será pragmático. Vai sim conter a ala mais radical do partido e fazer um ajuste fiscal e algum tipo de reforma da Previdência.
Fernando Haddad abandonou o programa que ajudou a escrever e passou a adotar um discurso mais “market friendly”. E ele tem se esforçado. Desautorizou o eterno assessor econômico Márcio Pochmann, que também baixou o tom, acenou ao presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, e teve encontros com analistas e gestores.
Falta dizer quem vai ocupar o Ministério da Fazenda. E a escolha pode sedimentar essa tese de que o PT não seria tão ruim assim. O nome que vai comandar o Bloco P da Esplanada dos Ministérios e seu anúncio, no entanto, devem vir após deliberação a ocorrer lá em Curitiba.
A visão estrangeira
Outro ponto interessante é a diferença de avaliação entre locais e estrangeiros. Segundo um amigo, “lá fora os investidores não têm medo dele [Haddad]”.
Fui conferir com um “gringo original”, que acompanha de perto o Brasil. E ele me confirmou.
“É isso mesmo. O estrangeiro ainda considera que o PT não é tão ruim assim. Ele acredita que o PT não terá muito espaço para promover ainda mais estragos.”
Esse mesmo amigo gringo discorda frontalmente de seus pares, mas pondera que “eles têm o dinheiro”. E de forma bem-humorada completa dizendo: “eles leem a ‘The Economist’ e o ‘Financial Times’”. Além disso, conta que algumas consultorias políticas têm dito ao estrangeiro que o Haddad não é tão perigoso assim.
Para esse gringo, o estrangeiro não tem dimensão de quão grave é a situação fiscal do Brasil. E não importa quem assuma o Planalto, se não atacar essa questão vai colocar o país em um caminho de destruição.
A cor local
Por aqui, mesmo com muitos “locais” também entrando nessa tese. A dispersão de percepções é maior. Ouvi com frequência um “não sei, não”. E de alguns o famoso “vai dar merda”, seguido da previsão de dólar para cima e bolsa para baixo. Também ouvi que se o PT de fato voltar, a preocupação é com as ruas. Ou que o movimento da semana é mera “correção de preços”, e que há, sim, preocupação com o PT.
Outra postura em voga é de que confirmado um segundo turno PT contra Bolsonaro, a eleição é plebiscitária e que “não tem como o PT voltar depois de tudo que aconteceu”.
O que se nota também é que é mais fácil para o mercado acreditar em uma conversão de Bolsonaro de estatal-desenvolvimentista em liberal do que em um Haddad convictamente reformista. Tentando resumir a questão:
Bolsonaro é aceito, não por seus predicados, mas por outras razões. Haddad é engolido, tolerado ou nem isso.
Quando um mesmo fato tem mais de uma explicação é sinal de que ninguém sabe nada. E não poderia ser diferente. A resposta vem domingo e a semana deve trazer surpresas variadas. Há quem aposte que as tais pesquisas vão mostrar Haddad na frente, há quem diga que podemos ter algum “dossiê”, que aliás estão desaparecidos nesta campanha, e há, também, quem não espere nada.
Aliás, o trocadilho “buy acima de tudo, Deus acima de todos”, que ouvi de alguns participantes do mercado na semana, aceita variações, como “buy acima de tudo, Volatilidade acima de todos”. Quem estiver na Bolsa, é bom preparar o estômago.