Chianti em seis séculos: como um castelo histórico acompanhou a evolução de um dos vinhos mais emblemáticos da Toscana
A família Mazzei é uma das mais tradicionais no que diz respeito a produção do Chianti Classico; na vinícola Castello di Fonterutoli, acompanhamos as mudanças históricas na produção do vinho
Da Catedral de Siena, cerca de 30 minutos de carro na direção norte conduzem ao Castello di Fonterutoli. Ali, a propriedade ocupa, há quase 600 anos, papel importante no desenvolvimento do vinho que se tornou emblema de Toscana, o Chianti Classico.
Localizado em Castellina in Chianti, o castelo é, desde 1435, sede histórica da família Mazzei – uma estirpe ainda anterior, que tem seu nome associado à produção vitivinícola italiana desde o século 11.

Mesmo antes de se estabelecerem na região, os Mazzei já atuavam como comerciantes de vinhos em Florença, comprando e vendendo a produção local. Durante séculos, porém, a atividade foi encarada como um hobby pela família.
Sua profissionalização veio ocorrer nos últimos 70 anos, justamente quando o Chianti, por sua vez, passou por algumas das transformações mais importantes de sua história.
- Hoje se fala principalmente em Chianti e Chianti Classico. Enquanto Chianti pode se referir a uma área mais ampla da Toscana, o Classico se refere à área histórica e mais restrita entre Florença e Siena.
Antes de mais nada, o Chianti
Um dos vinhos mais tradicionalmente associados à Toscana, o Chianti não é feito a partir de uma uva específica. Na verdade, historicamente, ele já teve diferentes denominações, chegando, inclusive, a ser um vinho majoritariamente branco. Em geral, porém, trata-se de uma bebida com base nas uvas Sangiovese com adição de outras variedades.

Essas mudanças e determinações têm a ver com o terroir toscano. Os vinhos da região têm como característica natural a acidez, devido ao solo calcário, que dá frescor à bebida. Contudo, quando combinada com taninos em excesso, pode resultar em uma agressividade no paladar.
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Entre idas e vinda, o Chianti acabou ganhando parâmetros de vinificação mais rígidos, definidos pelos selos DOC - Denominazione di origine controllata ou DOCG - Denominazione d'Origine Controllata e Garantita. Na origem, estaria uma receita supostamente postulada por um barão do século 19, que determinava que o vinho levaria uma base Sangiovese, mesclada a outras variedades necessariamente locais, como Canaiolo e Malvasia.
Até 1994, portanto, era proibido adicionar vinhos franceses como Merlot ou Cabernet ao Sangiovese nos Chianti Classico. Mesmo pequenas porcentagens desclassificavam o vinho perante às regulações.
Os Super Toscanos
Com o tempo, porém, alguns produtores, propensos a experimentações para melhorar o sabor dos vinhos, passaram a tentar outras fórmulas. Estas tentativas acabariam reunidas em outra categoria, os Super Toscanos, vinhos de alta qualidade feitos fora das regras tradicionais, como é o caso do Le Pergole Torte, feito 100% de Sangiovese.
Somente em 1994 as regras mudaram, permitindo flexibilidade entre 80% e 100% de Sangiovese, com até 20% de outras uvas, como Merlot, Cabernet, Malvasia Nera e Colorino — mas sem a inclusão de uvas brancas.
As regras reformuladas em 1994 permitiram novas combinações, incluindo variedades internacionais, mas sempre respeitando a predominância do Sangiovese. Foi destacado que em Chianti Classico a exigência mínima é de 80% de Sangiovese, enquanto em Chianti a porcentagem pode ser menor, variando entre 70% e 75%.
“Em termos do Chianti Classico, as únicas regras que temos que respeitar se referem a idade. Um ano para o Chianti Classico, dois anos para Reserva e três anos para Gran Seleccione, a parte mais alta do Chianti Classico e que se assemelha ao Cru da França. Não há obrigações para o tipo de madeira dos barris, mas preferimos barris médios ou grandes para o Sangiovese, por valorizarem o caráter singular do Chianti Classico”, diz Jury Maccianti, embaixador da marca Castello di Fonterutoli.
Essa busca pela qualidade dos vinhos locais nos últimos 20 anos coincidiu com novos hábitos da sociedade italiana, que passou a beber em menor quantidade, em busca de melhores rótulos. Uma transição que impulsionou a revalorização do Chianti Clássico como região de prestígio e qualidade.

Os vinhos da família Mazzei
Hoje, o objetivo dos produtores é preservar a acidez, mas evitar o excesso de taninos, buscando vinhos mais suaves e equilibrados. E aí entram os Mazzei com uma produção diversificada, que reflete a história repleta de sobressaltos do próprio vinho Chianti.
Com mais de 700 mil garrafas produzidas por ano, os Mazzei atuam tanto na produção do que se tem de mais sólido em matéria de Chianti atualmente, como também propõem inovações de tiragem limitada.
O carro-chefe e cartão de visita da vinícola atualmente é o Chianti Classico Regolare. Como um bom Chianti clássico, ele leva principalmente uvas Sangiovese proveniente de diferentes vinhedos, o que assegura uniformidade de sabor. Essa é a variedade mais produzida pela vinícola, sendo exportada para diferentes países, com o Canadá como seu principal mercado.

Seu perfil é de coloração suave, aromas simples de cereja e frutas vermelhas frescas, com acidez equilibrada. É considerado versátil, podendo ser consumido jovem ou após dois a três anos de guarda, chegando a ter potencial de envelhecimento de até dez anos. Ele pode ser encontrado por 21 euros em Florença, com preços mais altos em restaurantes, que variam entre 40 e 50 euros.
Onde a Toscana encontra o Merlot
Na sequência, está o Chianti Classico Riserva Ser Lapo, em homenagem a Lapo Mazzei, um ancestral da família Mazzei. Lapo foi um dos primeiros a comercializar o vinho Chianti e a fazer referência à denominação Chianti, em 1398.

O vinho, que deve ter ao menos dois anos de idade antes da venda, é uma mistura de vários vinhedos. É semelhante ao Regolare, mas com uma diferença: ali se adicionam 10% de Merlot, o que o torna distinto.
Graças ao uso do Merlot, o vinho se torna mais frutado, menos ácido e mais elegante que o Regolare. Indicado para acompanhar pratos mais encorpados, como carnes de caça, é bastante popular em várias partes do mundo, especialmente na América do Norte, o apreciam inclusive sem comida.
O preço do Riserva é próximo ao do Regolare, ficando entre 19 e 21 euros, e ambos saem em grandes quantidades — cerca de 300 mil e 200 mil garrafas, respectivamente.
Segundo Jury Maccianti, quando a safra não tem qualidade suficiente para vinhos mais sofisticados, a produção se concentra nesses dois, que são verdadeiros flagships da vinícola.
“Para avaliar a qualidade de um produtor de vinho, é importante começar pelos vinhos de entrada, pois um bom produtor deve ser capaz de expressar excelência desde os rótulos mais simples.”
Para servir estes vinhos, a temperatura correta é entre 18°C e 20°C, enquanto para refrigeradores a faixa ideal é de 16°C e 17°C, especialmente em dias quentes.
Chianti selecionado
Acima destes, está o Vicoregio 36, classificado como Gran Selezione. Ele é feito 100% de Sangiovese, envelhecido por três anos em barricas novas.
Situado a 300 metros de altitude, esse vinhedo confere ao vinho maior intensidade de sabor, suavidade e teor alcoólico mais elevado. Ele é proveniente de vinhedos a 10 quilômetros ao sul, em área com microclima e insolação distintos.
Trata-se de uma seleção de 36 clones de Sangiovese com fermentação em barro e, desde 2017, se classifica como Gran Selezione. Sua produção é bastante limitada, com apenas 7 mil garrafas, e não ocorre todos os anos. O preço gira em torno de 57 euros.
Outro Gran Selezione é o Castelo Fonterutoli, produzido desde 1995, feito também com 100% de uvas Sangiovese. Ele tem menor intensidade de cor e sabor, mas maior frescor e acidez, representando a identidade da região de origem.

O destaque aqui foi a safra 2008. Lançado a 35 euros, ele gira hoje em torno de 70 a 80 euros a garrafa. Atualmente na vinícola há apenas três litros do vinho disponíveis.
*O jornalista esteve na vinícola da família Mazzei durante suas férias
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