Café é o novo vinho? Um papo com o único brasileiro entre as melhores cafeterias do mundo
Gabriel Penteado, da premiada Cupping Café, explica as semelhanças e as diferenças entre os wine e os coffee lovers
A Cupping Café, em uma simpática rua na Vila Madalena, em São Paulo, não é grande nem suntuosa. Poderia até passar despercebida como “mais uma cafeteria” — se não ostentasse na fachada o título de uma das melhores do mundo. Mais especificamente, a única cafeteira brasileira no ranking The World's 100 Best Coffee Shops.
Contrastando diretamente com o frenesi da “Vila Madá”, a sensação é de estar tomando um café no fim de tarde no quintal de casa em algum interior pacato. O protagonista é o café, claro, mas não é o grão sozinho que “faz verão”.
“Além do café em si ser especial, o que vai fazer diferença é a cafeteria, o barista, a máquina ser especial”, declara Gabriel Penteado, fundador da Cupping.
A especialização extrema do espaço faz lembrar aquela de outra comunidade igualmente dedicada, a dos amantes de vinho. Se, por muito tempo, o culto ao vinho foi o status quo da apreciação, hoje são os amantes do café que fazem da análise criteriosa da bebida uma cultura completa, entre grãos especiais, moedores, métodos de preparação e até xícaras diferenciadas.
Em uma coincidência totalmente intencional, “cupping” é o nome dado à degustação criteriosa e em várias etapas na qual um profissional especializado avalia a qualidade do grão e define as notas sensoriais.
- A avaliação segue critérios internacionais definidos pela Specialty Coffee Association (SCA), que tem como representante brasileiro a Brazilian Specialty Coffee Association (BSCA).
Novamente, as semelhanças com a bebida de Dionísio aparecem. Na verdade, até com uma provocação a mais de Gabriel: “dizem que o café é bem mais complexo sensorialmente do que o vinho.”
Leia Também
Do terroir à xícara
Se, no mundo do vinho, o local e as técnicas de produção da uva importam, no café, não é diferente. Um vinho de Napa Valley não é a mesma coisa de um da França, assim como um café colombiano não imprime as mesmas notas que um café etíope.
Acontece que os apreciadores do grão encontram um pouco mais de dificuldade para expandir o paladar para outros terroirs cafeicultores.
- O terroir é um conjunto de condições geográficas, climáticas e até mesmo culturais que determinam a produção e o gosto dos vinhos e de outros produtos agrícolas.
Isso porque é proibido importar o café verde para o Brasil, ou seja, o grão antes de ser torrado. Como a torra é algo que também importa na produção do café e varia de acordo com a técnica de cada profissional, isso acaba resultando em uma restrição para o consumo de cafés estrangeiros pelos coffee lovers brasileiros.
Sim, ainda é possível importar o café torrado e vendê-lo aqui, mas Gabriel ressalta que o timing não ajuda nesse caso.
“[Não poder importar o café verde] é um limitador muito grande. O café, depois de torrado, permanece com a qualidade intacta por pouco tempo, um mês, no máximo dois meses. Basicamente, a gente não consegue ter cafés internacionais de qualidade, nas condições ideais”, explica.
Em oposição, o vinho, depois de engarrafado, “sobrevive” sem ressalvas, permitindo que os apreciadores da bebida experimentem uvas de todos os lugares do mundo.
A prática é bem diferente em cafeterias especiais fora do Brasil, já que elas costumam trabalhar com grãos de origens diferentes, inclusive com o brasileiro.
- LEIA TAMBÉM: Estamos na quarta onda do café? Especialistas apontam tendências para elevar o ritual da bebida em 2025
Quem for à Cupping nos próximos dias poderá experimentar cafés de diferentes terroirs de Minas Gerais. Mas, por lá, já passaram grãos da Bahia, Paraná, Espírito Santo e São Paulo.
O cenário atual de preço elevado do café e baixa disponibilidade fez com que Gabriel tivesse que reduzir as opções do menu, que nem de longe sugere modéstia. Por lá, se encontram grãos diferentes a cada semana, que podem ser preparados usando métodos diversos como Aeropress, Hario V60, Clever e entre outros — todos por R$ 14 a xícara.
Aficionados podem ainda comparar rótulos diferentes de produtos de uma mesma região, como é o caso dos grãos mineiros Catuaí Vermelho 44 (R$ 47/250g) e Acaiá (R$ 85/250g), com sabores — ou melhor, notas sensoriais — bastante distintos ao paladar.
Segundo o fundador da cafeteria, não é porque os cafés são todos da mesma região que eles terão as mesmas características.
“Todo o processo do café importa. O terroir tem uma influência, mas outras questões importam tanto quanto. Dentro de uma mesma fazenda, você pode ter cafés com perfis totalmente diferentes”, explica.
Os rituais do café
Não dá para falar de bebida sem falar de comida. É por isso que a harmonização é um tema tão caro para os apreciadores de vinhos e cafés.
No menu da Cupping, os ingredientes dos doces — croissant, bolos, muffins — são combinados de uma forma que a doçura deles não sobreponha a do café.
Mesmo quem não tem tanto apreço pelo grão consegue se deleitar na cafeteria, que investiu forte em um menu de padaria para se adequar ao novo cenário de “boom” dos brunches.
Entre as opções de bebidas, estão também gelados sem café, como o frapê tropical (R$ 21) e a vitamina power (R$ 19). Até mesmo um suco verde detox (R$ 18).
- VEJA TAMBÉM: Do grão à xícara: 10 itens fundamentais para amantes do café artesanal, de cafeteiras a moedor
Gabriel se mostra mais flexível quanto às regras dos coffee lovers, digamos, mais extremos. É o caso da máxima de não colocar açúcar na bebida, por exemplo. Em todas as mesas da Cupping, sachês de açúcar e adoçante estão disponíveis para o cliente que tem o costume de adoçar a bebida — seja um grão especial ou não.
Para ele, a premissa é de que existe o lado técnico da cultura do café especial e existe o hábito de cada consumidor. “Algumas coisas têm um porquê, tecnicamente falando, mas elas não podem se sobressair de modo impositivo ao que é o hábito da pessoa”, diz.
Não à toa, o slogan da Cupping é: “café especial pode ser simples”. Sem moedores nem prensas francesas, o que mais importa é, acima de tudo, o grão de qualidade.
Mas como mesmo um líder do setor tem que ter suas opiniões, insistimos em saber como Gabriel, o coffee lover pessoa física, responde à dúvida existencial dos amantes da bebida: adoçar ou não, eis a questão? Ao que o barista responde com uma colher de açúcar: “café ruim, você tem que adoçar mesmo”.
Serviço
- Cupping Café
- Rua Wisard, 171 — Vila Madalena, São Paulo - SP
- Terça a sábado, das 10h às 18h
- Domingo, das 9h às 17h
- Instagram: @cuppingcafe
Então é (quase) Natal: 16 panetones que vão surpreender em 2025; veja quanto custam e o que trazem de diferente
Doces têm combinações de ingredientes inusitadas, bem como sabores não esperados para o clássico natalino
O melhor uísque do mundo pode custar até R$ 13 mil; saiba qual é e por que ele ganhou o título mundial
Destaque de garrafa 18 anos consagrada na International Spirits Challenge 2025 está na suavidade e intensidade do sabor
Da Geórgia à Romênia, sommeliers traçam um tour pelos vinhos do leste europeu
De Tokaj às encostas do Cáucaso, vinícolas da Geórgia, Hungria, Moldávia, Romênia e Eslovênia revelam tradições milenares, terroirs singulares e um novo fôlego para o vinho europeu
Matcha foi a febre do verão no Hemisfério Norte; mas será que a trend pega por aqui?
Especialistas discutem a popularização do ingrediente, como ela tem se refletido no Brasil e se a moda permanecerá a longo prazo
O retorno do fogo: do Chile à Capadócia, a cozinha em chama viva ganha o luxo e movimenta milhões
O fogo voltou a ser o ingrediente mais valioso da gastronomia global, e está transformando eventos, restaurantes e negócios ao redor do mundo
Gin sem álcool não pode ser chamado de gin, determina Tribunal da União Europeia
A medida aponta que apenas os destilados feitos com a substância etílica, aromatizadas com bagas de zimbro, e que contenham um teor mínimo alcoólico de 37,5%, possam ser denominados como gim
São Paulo emplaca seis restaurantes e lidera lista estendida do The Latin America’s 50 Best 2025
Salvador tem o melhor brasileiro rankeado; restaurantes do Rio de Janeiro e de Curitiba também aparecem na lista
No hype das experiências instagramáveis, restaurante em São Paulo propõe brincadeira saborosa – e cara – para adultos
Inspirado no internacional Le Petit Chef, o molecular O Alaric tem um chef holográfico que apresenta a sequência de oito pratos; experiência imersiva custa R$ 450 por pessoa e só funciona sob reserva
Rosewood São Paulo abre pop-up com doces da chef confeiteira Saiko Izawa
A inauguração marca a primeira vez que suas criações são vendidas diretamente ao público; o espaço conta com opções clássicas e receitas de sucesso da chef para viagem
O renascimento da Criolla: a redescoberta da uva autóctone da América do Sul
Deixadas de lado por décadas, castas que deram origem à viticultura no continente são resgatadas por produtores que buscam uma identidade genuinamente sul-americana
100 anos de Pinotage: a trajetória da uva ícone da África do Sul
Criada em 1925, a casta enfrentou décadas de má reputação, mas se reinventou com novos terroirs e vinificação. Especialistas analisam a evolução e indicam os melhores rótulos para celebrar o centenário
A Estrela Verde está apagando? Mudanças no Guia Michelin lançam dúvidas sobre selo sustentável
Selo concedido desde 2020 reconhece os restaurantes com práticas sustentáveis. No entanto, movimentos recentes apontam para seu desaparecimento nas plataformas do Guia Michelin, que se posiciona: ‘a Estrela Verde continua existindo’
Em São Paulo, chefs desafiam a tradição para criar o futuro da gastronomia italiana na capital
Em uma cidade marcada pela tradição das cantinas, uma nova geração de chefs revisita receitas clássicas e dialoga com ingredientes brasileiros para provar que é possível inovar sem abandonar as raízes
Champanhe, prosecco e cava: entenda as diferenças entre os espumantes mais famosos do mundo
Embora pareçam sinônimos para o consumidor desavisado, os vinhos espumantes carregam universos distintos dentro de cada garrafa; a seguir, contamos as diferenças dos métodos de produção, uvas e terroir que definem a identidade de cada rótulo
Corrientes 348 promove festival com cortes exclusivos do terroir argentino
Em edição limitada, a casa traz lote selecionado em parceria com a Cabaña Juramento, tradicional produtora de carnes premium da Argentina
The World’s 50 Best Bars 2025: Tan Tan, em São Paulo, é eleito o 24º melhor bar do mundo
Endereço brasileiro sobe 7 posições; confira a lista completa e o que nossas previsões acertaram
Márcio Silva, do Exímia, detalha o caminho (e faz suas apostas) para o The World’s 50 Best Bars 2025
Bartender por trás do endereço brasileiro eleito o 61º melhor bar mundo, fala de retorno à lista e faz seus lances sobre quem deve aparecer entre os 50 melhores na cerimônia desta quarta-feira (8)
The World’s 50 Best Bars 2025: as tendências, as apostas e o que esperar da cerimônia em Hong Kong?
Lista que elege os 50 melhores bares do mundo será divulgada na madrugada desta quarta-feira (8)
Rubaiyat renova menu de sobremesas com frutas brasileiras e clássicos com ‘plot twist’
Novo cardápio doce de restaurantes inclui criações de Nina Piccini como petit gâteau de pistache e tiramisu com laranja Bahia
De 1988 a 1997: Don Melchor inclui três safras históricas e raras em marketplace brasileiro; saiba quais
Os rótulos de 1988, 1989 e 1997 se destacam por expressar plenamente o terroir do vinhedo de Puente Alto e impulsionar o reconhecimento internacional dos vinhos chilenos
