Rumo a 2026 com a máquina enguiçada e o cofre furado
Com a aproximação do calendário eleitoral, cresce a percepção de que o pêndulo político está prestes a mudar de direção — e, com ele, toda a correlação de forças no país — o problema é o intervalo até lá
Diante da relativa — e temporária — estabilidade no Oriente Médio, as principais teses do primeiro semestre de 2025 voltaram ao radar dos mercados, entre elas a fraqueza do dólar em escala internacional. Seria um ambiente propício para emergentes, e o Brasil, teoricamente, teria muito a ganhar. No entanto, segue tropeçando em seus próprios erros.
As fragilidades domésticas continuam impedindo o país de capitalizar esse vento a favor. O maior entrave, como de costume, é o desequilíbrio fiscal — agravado agora por uma sucessão de decisões desastradas por parte do governo.
A queda do decreto do IOF foi uma derrota histórica para o governo Lula — a primeira do tipo desde os tempos de Collor. Diante disso, o Planalto se vê agora diante de três saídas para cobrir o novo rombo nas contas públicas: judicialização, criação de nova fonte de receita ou cortes adicionais no orçamento.
- VEJA MAIS: Quer investir melhor? Faça parte do clube de investidores do Seu Dinheiro gratuitamente e saiba tudo o que está rolando no mercado
A primeira opção, inicialmente defendida pelo ministro da Fazenda, prevê levar o tema ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas o clima azedo entre os poderes e a percepção de que o governo também poderia ser derrotado por lá faz a proposta perder força. Fernando Haddad, mais uma vez isolado e esvaziado, sente-se traído.
Se houvesse algum apreço pela racionalidade política, o Planalto teria recuado da ideia e buscado compor com o Congresso. Mas a sensatez não faz parte do repertório atual.
Lula, incomodado com a postura do Legislativo, dá sinais de que prefere o confronto à negociação. O problema é que o Executivo chega a essa disputa já fragilizado e, ao insistir no embate, corre o risco de aprofundar ainda mais seu isolamento institucional. A fragilidade fiscal permanece — agora acompanhada por uma instabilidade política.
Leia Também
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Afinal, um governo que se recusa a cortar gastos e não dispõe de força política para aprovar reformas estruturais acaba recorrendo ao caminho mais torto. Com isso, arrasta o país para o que se configura como um confronto aberto entre os poderes.
O desgaste rompe fronteiras
E o desgaste do governo Lula não se restringe ao front doméstico. No plano internacional, as críticas se acumulam. Em editorial publicado no fim de semana, a The Economist ironizou a fixação do presidente brasileiro por temas como Ucrânia e Oriente Médio — cenários nos quais sua presença diplomática é, na melhor das hipóteses, irrelevante.
Ao mesmo tempo, a revista aponta a omissão do Brasil em questões regionais onde, de fato, teria influência, como Venezuela e Haiti.
Essa busca por protagonismo em arenas que não o convidaram, combinada à omissão nos próprios domínios, mina o capital político internacional de Lula — que, ao tentar ocupar um papel para o qual não foi chamado, negligencia sua própria governabilidade interna.
- LEIA TAMBÉM: Onde investir no 2º semestre de 2025? Evento gratuito do Seu Dinheiro reúne as melhores recomendações de ações, FIIs, BDRs, criptomoedas e renda fixa
Planalto encurralado
Agora, todas as atenções se voltam para o relatório bimestral de receitas e despesas primárias, previsto para 22 de julho. O arsenal do governo para ampliar a arrecadação é limitado e o espaço para novos erros fiscais simplesmente não existe. O Planalto está encurralado.
No fundo, a crise do IOF é apenas o sintoma de um problema muito mais profundo: a rigidez estrutural dos gastos públicos. É ela que colocará o país, inevitavelmente, diante de uma encruzilhada fiscal após a próxima eleição. A diferença é que, em 2027, o governo de turno não poderá mais empurrar a conta adiante.
E até lá, o custo da incerteza vai continuar corroendo a confiança — e a paciência — dos investidores. E que não se iludam os mais ingênuos — o Congresso está longe de ser vítima nessa história. Sua retórica reformista não resiste a uma simples comparação com a prática cotidiana, marcada por apetite expansionista e disputa constante por emendas parlamentares.
Parte relevante da atual insatisfação com o Planalto nasce, aliás, da frustração com a liberação de recursos. No meio desse impasse, o Executivo, sem apoio e sem convicção, ajoelha-se diante do sistema. E sem liderança que venha do topo, é quase ingênuo esperar que o Congresso se transforme, espontaneamente, em motor de qualquer mudança de fundo.
O trade eleitoral
É nesse contexto que o “trade eleitoral” ganha importância crescente. Enquanto o país aguarda 2026, seguimos oscilando sobre a corda bamba de uma crise fiscal difícil de ignorar.
No seu mais recente relatório, a Instituição Fiscal Independente (IFI) voltou a alertar: a trajetória da dívida pública segue se deteriorando, e, mantido o ritmo atual, o Brasil ultrapassará os 100% do Produto Interno Bruto (PIB) antes do fim da década. Um cenário insustentável — e que escancara a urgência de uma agenda de reformas sérias e coordenadas.
Mas não é só a frente fiscal que preocupa. Estamos, mais uma vez, diante dos chamados “déficits gêmeos”: além do desequilíbrio nas contas públicas, o país volta a registrar deterioração acelerada nas contas externas.
O déficit em transações correntes saltou de -1,8% do PIB entre janeiro e maio de 2024 para -2,8% no mesmo período deste ano. Em 12 meses, já são 3,3% do PIB — mais que o dobro de um ano atrás.
É um nível de fragilidade que seria preocupante em qualquer economia, mas torna-se ainda mais delicado em um país emergente como o Brasil. Manter simultaneamente desequilíbrios fiscais e externos por muito tempo não é apenas imprudente — é insustentável.
E o tempo para reagir está se esgotando. A dúvida que resta é se o ajuste virá por iniciativa própria ou será imposto pelas circunstâncias.
A escalada da tensão entre Executivo e Congresso só agrava essa vulnerabilidade. A articulação política do governo está esgarçada justamente num momento em que seria crucial consolidar uma base mínima de governabilidade.
Com a aproximação do calendário eleitoral no Brasil, cresce a percepção de que o pêndulo político está prestes a mudar de direção — e, com ele, toda a correlação de forças no país. O problema é o intervalo até lá: o trajeto promete ser conturbado, com elevado risco fiscal, um Executivo cada vez mais isolado e uma base parlamentar mais indócil e imprevisível.
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional
Felipe Miranda: O paradoxo do banqueiro central
Se você é explicitamente “o menino de ouro” do presidente da República e próximo ao ministério da Fazenda, é natural desconfiar de sua eventual subserviência ao poder Executivo
Hapvida decepciona mais uma vez, dados da Europa e dos EUA e o que mais move a bolsa hoje
Operadora de saúde enfrenta mais uma vez os mesmos problemas que a fizeram despencar na bolsa há mais dois anos; investidores aguardam discurso da presidente do Banco Central Europeu (BCE) e dados da economia dos EUA
CDBs do Master, Oncoclínicas (ONCO3), o ‘terror dos vendidos’ e mais: as matérias mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matéria sobre a exposição da Oncoclínicas aos CDBs do Banco Master foi a mais lida da semana; veja os destaques do SD
A debandada da bolsa, pessimismo global e tarifas de Trump: veja o que move os mercados hoje
Nos últimos anos, diversas empresas deixaram a B3; veja o que está por trás desse movimento e o que mais pode afetar o seu bolso
Planejamento, pé no chão e consciência de que a realidade pode ser dura são alguns dos requisitos mais importantes de quem quer ser dono da própria empresa
Milhões de brasileiros sonham em abrir um negócio, mas especialistas alertam que a realidade envolve insegurança financeira, mais trabalho e falta de planejamento
Rodolfo Amstalden: Será que o Fed já pode usar AI para cortar juros?
Chegamos à situação contemporânea nos EUA em que o mercado de trabalho começa a dar sinais em prol de cortes nos juros, enquanto a inflação (acima da meta) sugere insistência no aperto
A nova estratégia dos FIIs para crescer, a espera pelo balanço da Nvidia e o que mais mexe com seu bolso hoje
Para continuarem entregando bons retornos, os Fundos de Investimento Imobiliários adaptaram sua estratégia; veja se há riscos para o investidor comum. Balanço da Nvidia e dados de emprego dos EUA também movem os mercados hoje
O recado das eleições chilenas para o Brasil, prisão de dono e liquidação do Banco Master e o que mais move os mercados hoje
Resultado do primeiro turno mostra que o Chile segue tendência de virada à direita já vista em outros países da América do Sul; BC decide liquidar o Banco Master, poucas horas depois que o banco recebeu uma proposta de compra da holding Fictor
Eleição no Chile confirma a guinada política da América do Sul para a direita; o Brasil será o próximo?
Após a vitória de Javier Milei na Argentina em 2023 e o avanço da direita na Bolívia em 2025, o Chile agora caminha para um segundo turno amplamente favorável ao campo conservador
Os CDBs que pagam acima da média, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Quando o retorno é maior que a média, é hora de desconfiar dos riscos; investidores aguardam dados dos EUA para tentar entender qual será o caminho dos juros norte-americanos
Direita ou esquerda? No mundo dos negócios, escolha quem faz ‘jogo duplo’
Apostar no negócio maduro ou investir em inovação? Entenda como resolver esse dilema dos negócios
Esse número pode indicar se é hora de investir na bolsa; Log corta dividendos e o que mais afeta seu bolso hoje
Relação entre preço das ações e lucro está longe do histórico e indica que ainda há espaço para subir mais; veja o que analistas dizem sobre o momento atual da bolsa de valores brasileira
Investir com emoção pode custar caro: o que os recordes do Ibovespa ensinam
Se você quer saber se o Ibovespa tem espaço para continuar subindo mesmo perto das máximas, eu não apenas acredito nisso como entendo que podemos estar diante de uma grande janela de valorização da bolsa brasileira — mas isso não livra o investidor de armadilhas
Seca dos IPOs ainda vai continuar, fim do shutdown e o que mais movimenta a bolsa hoje
Mesmo com Regime Fácil, empresas ainda podem demorar a listar ações na bolsa e devem optar por lançar dívidas corporativas; mercado deve reagir ao fim do maior shutdown da história dos EUA, à espera da divulgação de novos dados
Rodolfo Amstalden: Podemos resumir uma vida em uma imagem?
Poucos dias atrás me deparei com um gráfico absolutamente pavoroso, e quase imediatamente meu cérebro fez a estranha conexão: “ora, mas essa imagem que você julga horripilante à primeira vista nada mais é do que a história da vida da Empiricus”
Shutdown nos EUA e bolsa brasileira estão quebrando recordes diariamente, mas só um pode estar prestes a acabar; veja o que mais mexe com o seu bolso hoje
Temporada de balanços, movimentos internacionais e eleições do ano que vem podem impulsionar ainda mais a bolsa brasileira, que está em rali histórico de valorizações; Isa Energia (ISAE4) quer melhorar eficiência antes de aumentar dividendos
Ibovespa imparável: até onde vai o rali da bolsa brasileira?
No acumulado de 2025, o índice avança quase 30% em moeda local — e cerca de 50% em dólar. Esse desempenho é sustentado por três pilares centrais
Felipe Miranda: Como era verde meu vale do silício
Na semana passada, o mitológico investidor Howard Marks escreveu um de seus icônicos memorandos com o título “Baratas na mina de carvão” — uma referência ao alerta recente de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, sobre o mercado de crédito
Banco do Brasil (BBAS3) precisará provar que superou crise do agro, mercado está otimista com fim do shutdown nos EUA no horizonte, e o que mais você precisa saber sobre a bolsa hoje
Analistas acreditam que o BB não conseguirá retomar a rentabilidade do passado, e que ROE de 20% ficou para trás; ata do Copom e dados de inflação também mexem com os mercados