Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?
Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação

Começo a semana com duas recomendações culturais. Ambos são episódios do podcast Market Makers, que está assumindo uma posição semelhante àquela de Joe Rogan nos EUA, tamanha relevância e repercussão entre agentes econômicos.
O primeiro conta com participação dos gestores Daniel Goldberg e Luis Stuhlberger. O segundo entrevista Luiz Guerra, CIO da Pragma. Sugiro que o investidor percorra essa ordem, pois o último faz referência ao primeiro.
Entre eles, se estabelece um rico debate que, em última instância, se debruça sobre a questão: vale a pena investir em ações no Brasil?
Em linguagem técnica, o assunto é apresentado como prêmio de risco de mercado, ou seja, quanto as ações brasileiras rendem, na média, comparativamente ao CDI? Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação.
- VEJA TAMBÉM: cobertura completa da temporada de balanços - Saiba o que esperar do mercado e como se posicionar
A experiência global e o caso brasileiro
Observando vários mercados no mundo, em particular nos países desenvolvidos, o tal prêmio é facilmente identificável. Apesar de volátil ao longo do tempo e, por definição, de não se materializar todo ano, várias formas de calcular, fatiando o tempo de diversas maneiras diferentes, apontam a existência do prêmio positivo para se investir em ações.
Para os interessados, Aswath Damodaran calcula de maneira recorrente esse excedente de retorno para a bolsa norte-americana.
Leia Também
A dieta do Itaú para não recorrer ao Ozempic
No caso brasileiro, a resposta não é óbvia. Mais do que isso, a evidência empírica dos últimos 15 anos (e poucos diriam que isso é curto prazo) aponta para um prêmio de risco negativo das ações brasileiras. Ou seja, elas pagaram menos do que a renda fixa, mesmo carregando uma volatilidade muito maior.
Veja: essa não é uma discussão teórica. Embora se assente sobre conceitos elementares da Teoria das Decisões Financeiras, dela decorre um corolário prático bastante importante: ora, se as ações brasileiras rendem sistematicamente menos do que a renda fixa, o investidor teria um portfólio mais eficiente se apenas evitasse essa classe de ativo. Dito de outra forma, a renda variável no Brasil deveria ser preterida.
É nesse contexto que se inserem as exposições de Daniel Goldberg e Luiz Guerra. Dando aqui um pequeno spoiler e incorrendo no risco do problema clássico do princípio da não-tradução, de modo que insisto na sugestão de que recorram aos originais, arrisco uma síntese dos argumentos, para depois eu mesmo dar uma posição a respeito.
Se eu não estiver sendo fiel e justo com os expositores, peço desculpas de antemão, já firmando o compromisso de eventual correção subsequente. Qualquer erro na terceirização do discurso será fruto de deslize involuntário, não de qualquer posição dolosa ou tentativa de enviesar a conversa.
Daniel Goldberg identifica um prêmio de risco negativo para as ações brasileiras, de fato, sugerindo que o histórico aponta nessa direção. Com efeito, ao longo dos últimos anos, a Bolsa local tem sido um mau investimento.
Quando perguntado as razões para essa distorção, Daniel sugere que, na verdade, isso acontece porque aquilo que costumamos chamar de ativo livre de risco no Brasil (títulos da dívida pública) não é realmente livre de risco.
Luiz Guerra concorda com a afirmação de que o ativo visto como livre de risco no Brasil, na verdade, não é 100% seguro. Mas rebate a ideia do prêmio de risco negativo. Segundo ele, o prêmio é, na verdade, positivo.
Estamos apenas um longo período recente negativo e concluindo que a Bolsa é estruturalmente ruim. Ele lembra que mesmo o S&P 500 já teve décadas de performance negativa ou zerada. O prêmio só existe porque ele demora muito tempo para se materializar. Se ele fosse estável e ocorresse todo ano, seria arbitrado, deixando de existir.
De forma direta: se estendêssemos a janela temporal para horizontes mais dilatados, identificaríamos a Bolsa rendendo acima do CDI.
LEIA TAMBÉM: Felipe Miranda: O pico do excepcionalismo norte-americano?
Ações, renda fixa e risco
Afirmar que o prêmio de risco de mercado no Brasil é negativo significa dizer que:
- i) há um ativo (ações) de maior risco do que outro (renda fixa) e que rende menos estruturalmente; ou
- ii) as ações são menos arriscadas do que a renda fixa.
Se i) for verdadeiro, precisamos reescrever os livros de Finanças e Economia adicionando um asterisco qualificador, algo assim: “os ativos de maior risco tendem a ter retorno potencial maior, com exceção do caso brasileiro”. Se, sistematicamente, as ações (de maior risco) rendem menos do que a renda fixa, por que ninguém arbitra isso? O mercado brasileiro é estruturalmente ineficiente?
A respeito do ponto ii), podemos até admitir que, em determinadas situações muito extremas, as ações possam ser menos arriscadas do que a renda fixa. Também sabemos que volatilidade não é necessariamente uma boa medida de risco. Mas colocar estruturalmente as ações como menos arriscadas do que a renda fixa fere um princípio básico das finanças corporativas, de senioridade dos credores sobre os acionistas.
Aqui, inclusive, reside minha ponderação sobre o argumento de Daniel Goldberg. Ele tem o apoio inquestionável dos dados empíricos dos últimos 15 anos. A Bolsa realmente foi ruim nesse longo intervalo. Ele também está correto sobre a existência de risco nos títulos soberanos brasileiros.
No entanto, esse risco dos títulos públicos não explica, na essência, a má performance da Bolsa em termos relativos. Para isso ser verdade, não bastaria a renda fixa ter risco. Ela precisaria ter mais risco do que a Bolsa, o que, como argumentamos acima, não parece ser o caso. Lembre-se: o prêmio de risco, por definição, é um critério relativo. Renda fixa ter risco por si só não justifica o caso aqui em questão.
Já minha ressalva sobre os pontos de Luiz Guerra recai sobre a ausência de evidência empírica para sustentar a tese do prêmio de risco positivo e sistemático nas ações brasileiras. Ele traz excelentes dados sobre os mercados globais. Mas a existência do prêmio lá fora não garante, necessariamente, seu paralelo no Brasil.
Recorrendo aos dados locais, não conseguimos identificar de maneira tão simples e sistemática o prêmio, como fazemos para os EUA. Há vários momentos, a depender da forma como se corta e se mede, em que o prêmio é, sim, positivo, mas, de novo, essa não é uma conclusão estável e longeva. O momento do ciclo em que você corta e o horizonte temporal interferem muito na análise, em especial para um histórico que, para esse tipo de análise, ainda é curto.
Talvez a resposta definitiva para a questão venha somente nos próximos anos. Com o ciclo mudando em favor de mercados emergentes, uma Selic menor mais à frente e uma eventual mudança do pêndulo de economia política, podemos chegar a uma conclusão muito diferente daquela da década anterior. Não sendo o caso, Daniel terá vencido a argumentação nesta cova de leões.
Os investimentos para viver de renda, e o que move os mercados nesta terça-feira (9)
Por aqui, investidores avaliam retomada do julgamento de Bolsonaro; no exterior, ficam de olho na revisão anual dos dados do payroll nos EUA
A derrota de Milei: um tropeço local que não apaga o projeto nacional
Fora da região metropolitana de Buenos Aires, o governo de Milei pode encontrar terreno mais favorável e conquistar resultados que atenuem a derrota provincial. Ainda assim, a trajetória dos ativos argentinos permanece vinculada ao desfecho das eleições de outubro.
Felipe Miranda: Tarcisiômetro
O mercado vai monitorar cada passo dos presidenciáveis, com o termômetro no bolso, diante da possível consolidação da candidatura de Tarcísio de Freitas como o nome da centro-direita e da direita.
A tentativa de retorno do IRB, e o que move os mercados nesta segunda-feira (8)
Após quinta semana seguida de alta, Ibovespa tenta manter bom momento em meio a agenda esvaziada
Entre o diploma e a dignidade: por que jovens atingidos pelo desemprego pagam para fingir que trabalham
Em meio a uma alta taxa de desemprego em sua faixa etária, jovens adultos chineses pagam para ir a escritórios de “mentirinha” e fingir que estão trabalhando
Recorde atrás de recorde na bolsa brasileira, e o que move os mercados nesta sexta-feira (5)
Investidores aguardam dados de emprego nos EUA e continuam de olho no tarifaço de Trump
Ibovespa renova máxima histórica, segue muito barato e a próxima parada pode ser nos 200 mil pontos. Por que você não deve ficar fora dessa?
Juros e dólar baixos e a renovação de poder na eleição de 2026 podem levar a uma das maiores reprecificações da bolsa brasileira. Os riscos existem, mas pode fazer sentido migrar parte da carteira para ações de empresas brasileiras agora.
BRCR11 conquista novos locatários para edifício em São Paulo e reduz vacância; confira os detalhes da operação
As novas locações colocam o empreendimento como um dos destaques do portfólio do fundo imobiliário
O que fazer quando o rio não está para peixe, e o que esperar dos mercados hoje
Investidores estarão de olho no julgamento da legalidade das tarifas aplicadas por Donald Trump e em dados de emprego nos EUA
Rodolfo Amstalden: Se setembro der errado, pode até dar certo
Agosto acabou rendendo uma grata surpresa aos tomadores de risco. Para este mês, porém, as apostas são de retomada de algum nível de estresse
A ação do mês na gangorra do mundo dos negócios, e o que mexe com os mercados hoje
Investidores acompanham o segundo dia do julgamento de Bolsonaro no STF, além de desdobramentos da taxação dos EUA
Hoje é dia de rock, bebê! Em dia cheio de grandes acontecimentos, saiba o que esperar dos mercados
Terça-feira terá dados do PIB e início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de olhos voltados para o tarifaço de Trump
Entre o rali eleitoral e o malabarismo fiscal: o que já está nos preços?
Diante de uma âncora fiscal frágil e de gastos em expansão contínua, a percepção de risco segue elevada. Ainda assim, fatores externos combinados ao rali eleitoral e às apostas de mudança de rumo em 2026, oferecem algum suporte de curto prazo aos ativos brasileiros.
Tony Volpon: Powell Pivot 3.0
Federal Reserve encara pressão do presidente dos EUA, Donald Trump, por cortes nos juros, enquanto lida com dominância fiscal sobre a política monetária norte-americana
Seu cachorrinho tem plano de saúde? A nova empreitada da Petz (PETZ3), os melhores investimentos do mês e a semana dos mercados
Entrevistamos a diretora financeira da rede de pet shops para entender a estratégia por trás da entrada no segmento de plano de saúde animal; após recorde do Ibovespa na sexta-feira (29), mercados aguardam julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que começa na terça (2)
O importante é aprender a levantar: uma seleção de fundos imobiliários (FIIs) para capturar a retomada do mercado
Com a perspectiva de queda de juros à frente, a Empiricus indica cinco FIIs para investir; confira
Uma ação que pode valorizar com a megaoperação de ontem, e o que deve mover os mercados hoje
Fortes emoções voltam a circular no mercado após o presidente Lula autorizar o uso da Lei da Reciprocidade contra os EUA
Operação Carbono Oculto fortalece distribuidoras — e abre espaço para uma aposta menos óbvia entre as ações
Essa empresa negocia atualmente com um desconto de holding superior a 40%, bem acima da média e do que consideramos justo
A (nova) mordida do Leão na sua aposentadoria, e o que esperar dos mercados hoje
Mercado internacional reage ao balanço da Nvidia, divulgado na noite de ontem e que frustrou as expectativas dos investidores
Rodolfo Amstalden: O Dinizismo tem posição no mercado financeiro?
Na bolsa, assim como em campo, devemos ficar particularmente atentos às posições em que cada ação pode atuar diante das mudanças do mercado