De São Paulo a Xangai em um clique: China abre seu mercado de ações para o Brasil em uma parceria rara de ETFs recíprocos
Primeiros fundos lançados na B3 para investir direto em ações chinesas são da Bradesco Asset e já estão sendo negociados

A distância entre Brasil e China está menor, pelo menos no que diz respeito aos investimentos em ações por meio de fundos de índices (ETFs).
A bolsa brasileira, B3, e as bolsas chinesas de Shenzhen e Xangai fecharam uma parceria rara que abre o mercado de capitais do País Asiático para os brasileiros.
Mas, mais do que isso, abre o mercado de capitais do Brasil para os chineses.
- LEIA TAMBÉM: Restituição do IR: quem tem direito? Tire essa e outras dúvidas no guia gratuito de previdência privada do Seu Dinheiro
O programa ETF Connect permitirá que brasileiros invistam diretamente nas ações chinesas por meio de fundos listados na B3, enquanto os chineses poderão investir em ações brasileiras da mesma forma com os fundos listados nas bolsas de lá.
Parece simples? Mas não é.
O mercado de capitais chinês é extremamente restrito quanto aos investidores estrangeiros que podem investir diretamente no país e mais restrito ainda em relação aos ativos estrangeiros em que os chineses podem aportar recursos.
Leia Também
Em entrevista ao Seu Dinheiro, Luiz Masagão, vice-presidente de produtos e clientes da B3, explicou que o conceito de reciprocidade do ETF Connect é um conceito chinês, que foi oferecido ao Brasil.
“A regulamentação chinesa é super restrita. Eles só permitem que chineses invistam em outros países se tiver um caminho aberto para os residentes deste outro país investirem na China também. E aí eles criaram o conceito do Connect. A gente está entrando numa regulamentação cujo conceito já existe na China”, diz Masagão.
O Brasil é o primeiro país da América Latina (e do Ocidente) a fechar uma parceria do Connect com a China — e o quarto no mundo a trabalhar com essa reciprocidade.
Japão, Hong Kong e Cingapura têm a mesma parceria com o Gigante Asiático, enquanto Estados Unidos e Europa trabalham com acordos mais restritos.
“As primeiras conversas sobre o assunto surgiram ainda em 2018. Foi um longo processo com o regulador chinês e a CVM para tirar esse projeto do papel. A autorização formal saiu em março deste ano, quando conseguimos assinar o memorando de entendimento com as bolsas de Xangai e Shenzhen”, conta o vice-presidente da B3.
ETF Connect é diferente dos ETFs Globais
Mas a B3 já não tem ETFs de ações chinesas? Sim, mas não é a mesma coisa.
O ETF Connect oferece uma exposição direta à China e a empresas locais.
Os fundos listados na B3, como o XINA11, oferecem exposição a recibos de ações (BDRs) de empresas chinesas que estão listadas nas bolsas de Nova York, NYSE e Nasdaq.
Ou seja, não é uma exposição direta à China, mas a empresas chinesas, em sua maioria, multinacionais.
“A exposição direta à China é uma quebra de paradigma”, diz Masagão. “O mercado chinês está mudando de patamar. O crescimento chinês é notório.”
A gestora pioneira na listagem dos ETFs chineses pelo Connect no Brasil foi a Bradesco Asset — uma das maiores do país, com R$ 940 bilhões sob gestão.
Os ETFs PKIN11 e TEXC11 foram listados na B3 na última segunda-feira (26), e lançados oficialmente na terça-feira (27), com direito a toque do sino na bolsa brasileira.
- E MAIS: Classe de FIIs negociada ‘com desconto’ pode pagar dividendos de até 14% ao ano; confira
Durante o evento, em que o Seu Dinheiro esteve presente, Ricardo Eleutério, diretor da Bradesco Asset, afirmou que a parceria era um marco na história de 23 anos da gestora.
“Acho que o mais legal desse processo todo é que além do produto em si, a gente tem um acordo de cooperação de troca de informações. Nós vamos receber as assets, o time da China aqui no Brasil para um roadshow, para falar do mercado chinês, e o inverso é verdadeiro”, disse Eleutério.
A imprensa chinesa também esteve presente para cobrir o lançamento dos fundos na B3.
A Bradesco Asset tem um escritório em Hong Kong desde 2011 e considera que essa representação local ajudou a estabelecer parceria com as gestoras China Universal e China AMC, com quem fechou a parceria dos ETFs recíprocos.
Para que uma gestora brasileira possa criar e administrar um fundo dentro do projeto Connect é necessário que ela tenha uma parceira chinesa que lista o fundo de ações brasileiras.
A Itaú Asset também entrou no projeto da B3, mas ainda está em processo de negociação com gestoras chinesas para colocar o seu fundo no ar.
O ETF PKIN11 (B-Index Connect China Universal CSI 300) é o fundo das grandes empresas chinesas. Ele espelha um fundo da China Universal que acompanha o índice CSI 300, das 300 maiores empresas do país.
Já o ETF TEXC11 (B-Index Connect China AMC ChiNext) é o fundo das pequenas e médias empresas chinesas, que espelha um fundo da China AMC que acompanha o índice ChiNext.
Os dois estão disponíveis para negociação na B3, pelo público geral, desde o dia 26 de maio. O preço inicial estabelecido foi de R$ 100 por cota, com uma taxa de administração de 0,40% ao ano.
De real direto para yuan (e vice-versa): Brasil e China trocam ações e recursos
Mais do que trocar fundos e ações, China e Brasil vão trocar recursos entre si. A reciprocidade, que é o ponto central do projeto de ETFs, prevê um fluxo financeiro entre os países.
Funciona assim: investidores brasileiros compram cotas do ETF PKIN11, em reais, como fazem com qualquer outro ETF. A Bradesco Asset recolhe o volume financeiro, faz o câmbio para yuan, e com esse dinheiro compra cotas do fundo chinês equivalente.
O inverso é feito pela asset chinesa que fechou a parceria com a Bradesco Asset. Todo volume financeiro que é investido no fundo brasileiro listado na China é remetido para o Brasil.
“Na prática, é um investimento direto do brasileiro na China e do chinês no Brasil. E isso na moeda corrente dos países, que também é um diferencial interessante”, diz Masagão.
A B3 tem grandes expectativas em relação ao fluxo financeiro que pode vir dessa parceria.
Embora o mercado de capitais da China seja bastante fechado, as bolsas de Xangai e Shenzhen somam um volume médio de negociação diária de US$ 300 bilhões — 60 vezes mais do que os US$ 5 bilhões da B3.
“Durante as tratativas com as bolsas chinesas, eles [os chineses] pontuaram que a alocação inicial poderia ser baixa, que levaria um tempo para os investidores de lá absorverem uma diversificação no Brasil. Eu brinquei que o que eles consideram uma alocação baixa, provavelmente seria um volume significativo que valeria muito a pena para a gente”, disse Masagão, da B3.
O Bradesco e as assets chinesas já têm planos para ajudar na disseminação dos fundos.
Em julho, o time do Brasil vai para a China para fazer um roadshow, apresentar o produto e falar sobre o mercado de capitais brasileiro. Na sequência, o time chinês deve desembarcar por aqui com o mesmo propósito.
Eleutério, da Bradesco Asset, afirma que a gestora não tem uma expectativa definida para os ETFs, que pretende fazer apresentações para os maiores clientes e trabalhar na educação financeira sobre diversificação como parte de uma estratégia maior.
“Não dá para ignorar o mercado chinês. Estamos falando de um mercado robusto, que vem trabalhando em muito desenvolvimento tecnológico, incentivos cada vez maiores. Tem que ter no portfólio para diversificação, nem que seja uma pontinha”, disse o diretor da Bradesco Asset.
A tese de investir na China, entretanto, não é predominante entre agentes do mercado financeiro. O país enfrenta uma desaceleração econômica e os incentivos do governo são vistos como um impulso momentâneo, não estrutural.
Diante disso, a tese doméstica é a mais incerta, enquanto tecnologia robótica, de inteligência artificial e veículos elétricos têm mais adesão, como indicam os especialistas nesta matéria.
Índia vem aí?
Masagão acredita que todo o aprendizado com a parceria com a China pode ser aproveitado para outros países.
Quando questionado sobre qual seria o próximo país, o vice-presidente de produtos e clientes da B3 afirmou que a Índia está no radar.
“Nosso time está começando as tratativas com o regulador indiano, para entender a viabilidade da parceria nesse formato bilateral. É um país que está crescendo rapidamente e já ouvimos de alguns investidores institucionais que existe demanda por essa exposição”, disse.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também estaria interessada no avanço dessa agenda de investimentos internacionais.
Segundo a B3, a CVM ofereceu suporte para o projeto do ETF Connect desde as primeiras tratativas com o regulador chinês.
Marina Copola de Carvalho, diretora da CVM, que esteve presente no lançamento dos fundos da Bradesco, afirmou em seu discurso de lançamento que esses fundos representam um avanço concreto para o mercado de capitais brasileiro se tornar mais global.
Para ela, esse produto foi trabalhado desde o início para ter todo o suporte regulatório e oferecer segurança jurídica para os investidores brasileiros e chineses, de modo que a construção de pontes para os investimentos internacionais avançou e encaminha o Brasil para ter um mercado de capitais mais relevante globalmente.
Novo trem noturno vai atender demanda aquecida do destino da vez no verão europeu
O serviço começa a funcionar no dia 27 de junho e vai até final de agosto, marcando exatamente a alta temporada
BofA reitera compra para Cosan (CSAN3) e Raízen (RAIZ4) — mas uma teve o preço-alvo revisto para baixo e tem mais desafios pela frente
Ambas as empresas estão dedicadas em encontrar soluções para reduzir a dívida, e o Bank of America acredita que a estratégia está no caminho certo
Vale (VALE3): foco nas margens e mudança de estratégia agrada bancões, mas não impedem que um deles corte o preço-alvo; o que fazer com a ação?
Mineradora demonstrou que quer aproveitar melhor as condições do mercado, em vez de insistir apenas no minério premium, para ter mais rentabilidade
Azul (AZUL4) despenca mais de 70% em 2025, e BTG e XP colocam ação sob revisão
Para os analistas, apesar dos intensos esforços para gerir passivos e reestruturar a dívida, a alavancagem financeira da Azul permaneceu alta, agravada pela volatilidade cambial e pelo aumento das taxas de juros
Fuga da bolsa brasileira: investidores abandonam as ações — mas sair da renda variável pode custar caro no futuro
Enquanto investidores se afastam cada vez mais da bolsa brasileira, o cenário se torna cada vez mais favorável para a renda variável local
“Foi aula de psicologia gratuita sobre o que o PT pensa de nós”, diz Stuhlberger sobre aumento do IOF
Gestor do lendário fundo Verde vê como “assustador” sinal do governo de que investidor precisa pagar pedágio para comprar dólar
Copel (CPLE6) em promoção dois por um: Itaú BBA eleva preço-alvo e destaca dividendos e gatilhos para valorização das ações
Analistas ajustaram a avaliação da Copel para incorporar novas metas para 2025 e atualizar os preços de energia
“Você chama isso de amarelar?” Trump não gosta do apelido “TACO Trade” para suas tarifas e diz que é estratégia de negociação
Termo “TACO Trade” – Trump Always Chickens Out – foi adotado pela constante mudança de ideia do republicano sobre a tarifação de outros países
2025 só começa agora: até esta quinta (29), você trabalhou apenas para pagar impostos ao governo, diz estudo
O volume de dias trabalhados para arcar com a carga tributária brasileira mais que dobrou desde a década de 1970, segundo o IBPT
Mais risco = mais retorno? Nem sempre. No mercado de fundos imobiliários, o buraco tem sido mais embaixo; entenda
Levantamento do BTG Pactual e da Empiricus Research revelou que carteira de FIIs com menor volatilidade apresentou melhor desempenho do que o CDI acumulado
Recuperação Judicial da Azul (AZUL4) causará turbulência para seus acionistas minoritários; entenda como processo pode afetar as ações
Companhia aérea entrou com pedido de reestruturação nos Estados Unidos — o temido Chapter 11 — nesta quarta (28)
Bolsas se animam com decisão de tribunal americano que barrou tarifas de Trump; governo já recorreu
Tribunal de Comércio Internacional suspendeu tarifas fixa de 10%, taxas elevadas e recíprocas e as relacionadas ao fentanil. Tarifas relacionadas a alumínio, aço e automóveis foram mantidas
Haddad está com os dias contados para discutir alternativas ao aumento do IOF — mas não há nenhuma proposta concreta até agora
O líder do governo no Congresso afirmou que o governo tem 10 dias para dialogar sobre alternativas ao decreto que elevou as alíquotas do IOF
Prevenir é melhor que remediar: Ibovespa repercute decisão judicial contra tarifaço, PIB dos EUA e desemprego no Brasil
Um tribunal norte-americano suspendeu o tarifaço de Donald Trump contra o resto do mundo; decisão anima as bolsas
Lisboa ou Porto: qual cidade portuguesa tem mais a sua cara?
História, gastronomia e vinho: qual o estilo, onde ficar e o roteiro de um dia perfeito entre os contrastes de Lisboa e a tradição do Porto
É só até esta sexta (30)! Este guia rápido ajuda quem deixou para declarar o imposto de renda 2025 na última hora
Veja como agilizar o preenchimento da declaração para não perder o prazo e acabar pagando multa
Entenda a resolução do BC que estremeceu as provisões dos bancos e custou ao Banco do Brasil (BBAS3) quase R$ 1 bilhão no resultado do 1T25
Espelhada em padrões internacionais, a resolução 4.966 requer dos bancos uma abordagem mais preventiva e proativa contra calotes. Saiba como isso afetou os resultados dos bancões e derrubou as ações do Banco do Brasil na B3
Quina rouba a cena e faz o mais novo milionário do Brasil; Lotofácil tem 3 ganhadores
Ganhador da Quina efetuou aposta premiada em casa lotérica estabelecida na cidade de São Paulo; Mega-Sena corre hoje valendo R$ 11 milhões na faixa principal
Rodolfo Amstalden: A parábola dos talentos financeiros é uma anomalia de volatilidade
As anomalias de volatilidade não são necessariamente comuns e nem eternas, pois o mercado é (quase) eficiente; mas existem em janelas temporais relevantes, e podem fazer você ganhar uma boa grana
Do risco elevado ao calote de fato: Azul (AZUL4) recebe classificação D das agências de rating após pedido de recuperação judicial
Fitch e S&P Global já haviam rebaixado notas de crédito da companhia para CCC- recentemente, indicando nível elevado de calote