Está faltando papel? Emissões de LCIs e LCAs caíram pela metade depois de aumento do prazo de carência
Levantamento do JP Morgan mostra queda anual de 40% nas novas emissões de LCIs e LCAs e baixas de 50% a 60% desde aprovação das novas regras; estudo da XP também mostra impacto das medidas na emissão de CRIs e CRAs

A mudança na regulação dos títulos de renda fixa isentos de imposto de renda utilizados para financiar o mercado imobiliário e o agronegócio já vem reduzindo a emissão de novas LCIs, LCAs, CRIs, CRAs e LIGs, tornando esses papéis mais escassos.
No início de fevereiro, o Conselho Monetário Nacional (CMN) publicou duas resoluções que limitam os tipos de emissores e/ou garantias desses títulos, além de aumentar o prazo de carência para vencimento ou resgate de LCIs e LCAs de três para 12 e nove meses, respectivamente.
As restrições já começaram a mostrar efeito. Nesta sexta-feira (05), o JP Morgan publicou as conclusões de um levantamento feito com dados da B3 mostrando que, no período que abarca os meses de fevereiro e março, a emissão de novas LCIs e LCAs caiu 40% em comparação ao mesmo período do ano passado. A emissão de LIGs (Letras Imobiliárias Garantidas), por sua vez, caiu nada menos 97% na mesma base de comparação.
Na base mensal, a queda também foi forte. As novas emissões de LCIs e LCAs caíram de 50% a 60% de fevereiro para março, enquanto as de LIGs baixaram 99%.
- IPCA+ 9%: ‘É isso que o investidor de renda fixa deveria procurar todo dia’, diz analista; veja 4 recomendações de títulos premium
Já os saldos alocados em LCIs e LCAs se mantiveram estáveis ou tiveram queda desde janeiro. "No geral, as mudanças regulatórias (...) parecem ter tido um impacto sobre esses instrumentos", diz o relatório.
O banco também analisou os dados da B3 referentes a CDBs. Embora possam ser um pouco enganosos, uma vez que esses títulos são usados para aplicações automáticas em contas-correntes, as novas emissões também caíram no período de março e fevereiro em relação ao mesmo período de 2023, "implicando que esses fluxos possam estar se movendo em direção a outras classes de ativos".
Leia Também
Nesta reportagem, já havíamos comentado que debêntures e fundos de renda fixa absorveram parte desse fluxo, pois são instrumentos que agora são mais líquidos do que LCIs e LCAs com carências mais longas, além de poderem ser isentos de imposto de renda (caso das debêntures incentivadas).
Outra classe de ativos que vem absorvendo parte desses recursos é a de fundos imobiliários, que também dispõem de boa liquidez, além de pagarem rendimentos isentos de IR e serem menos voláteis que ações, por exemplo.
LCIs foram mais penalizadas que LCAs
Outro estudo feito com dados da B3 e publicado no início de março, desta vez pela XP Investimentos, já havia mostrado o efeito das novas regras um mês depois das mudanças na regulação, não só em LCIs e LCAs como também em CRIs e CRAs.
O levantamento da XP analisou a variação do estoque desses ativos entre o fim de janeiro e o fim de fevereiro e o volume depositado por dia na B3, o que indica novas operações.
No caso das LCIs, houve queda de 1,66% no estoque no período (de R$ 373,0 bilhões para R$ 366,8 bilhões), "interrompendo o histórico de crescimento e praticamente anulando o incremento de volume ocorrido em janeiro de 2024", diz o relatório.
Segundo a XP, as LCIs vinham registrando aumento ano após ano no volume de estoque, principalmente após 2021, e a tendência havia sido mantida em janeiro deste ano, antes da publicação das novas regras.
Já o volume depositado por dia em LCIs na B3 teve queda de quase 50% quando comparado às médias diárias entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024 e o mês de fevereiro: de cerca de R$ 1,18 bilhão por dia, em média nos 12 meses terminados em janeiro, para R$ 600 milhões por dia, em média, em fevereiro.
No mesmo mês, o total depositado na B3 para LCIs foi de apenas R$ 10,8 bilhões, queda de 65% ante janeiro.
No caso das LCAs, o estoque mostrou certa estabilidade, com queda de R$ 478,3 bilhões para R$ 476,8 bilhões (queda de 0,31%) entre janeiro e fevereiro. Já o volume depositado por dia na B3 caiu quase 40% entre fevereiro e os 12 meses terminados em janeiro (de média de R$ 1,73 bilhão por dia para média de R$ 1,10 bilhão por dia). A queda em fevereiro com relação a janeiro foi de 56%.
Os números provavelmente se devem ao fato de que as novas regras penalizaram mais as LCIs, cujo prazo de carência aumentou para 12 meses, do que as LCAs, cuja carência aumentou para nove meses.
ONDE INVESTIR EM ABRIL: VEJA OS MELHORES INVESTIMENTOS NA BOLSA - AÇÕES, FUNDOS IMOBILIÁRIOS E BDRS
CRIs e CRAs
No caso de CRIs e CRAs, o mesmo estudo da XP mostra que o efeito maior da nova regulação foi sobre o número de requerimentos de oferta pública de distribuição primária (novas emissões) junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o que já podia ser esperado, dado que as mudanças justamente restringem quem pode emitir esses papéis e que ativos podem servir como garantia.
Enquanto o estoque de CRIs apresentou apenas uma pequena queda em fevereiro ante janeiro, o número de pedidos de novas emissões passou de 48 ofertas em janeiro para 32 em fevereiro, queda de 33%. Em volume financeiro, o recuo foi de 61%, de R$ 6,4 bilhões para R$ 2,5 bilhões.
Já no caso dos CRAs, houve até um certo aumento no estoque em fevereiro ante janeiro, mas o número de pedidos de novas emissões no período caiu 40%, de 17 para 10. Em volume financeiro, o recuo foi de 43%, passando de R$ 4,6 bilhões para R$ 2,6 bilhões.
A XP não fez nenhum comparativo anual uma vez que o início de 2023 foi marcado pela descoberta da fraude contábil da Americanas e a recuperação judicial da Light, eventos que distorceram o mercado de crédito privado.
Menos oferta e mesma demanda = preços mais altos e taxas mais baixas
Em relação às LCIs e LCAs, títulos emitidos por bancos, a XP diz que, considerando que não houve alteração significativa na demanda, a consequência direta da menor oferta é a redução da remuneração de tais produtos, de modo a equilibrar o mercado.
"Entretanto, ressaltamos que tal movimento foi mais nítido nos grandes bancos, que se utilizavam mais das operações de curtíssimo prazo (90 dias), sendo possível encontrar no mercado LCIs e LCAs de 90% do CDI (ou mais), como praticado antes das novas regras do CMN", diz o relatório da corretora.
A expectativa do JP Morgan para os bancos brasileiros parece corroborar essa avaliação. Em seu estudo, o banco americano diz manter uma leitura positiva para XP e BTG, enquanto tem uma primeira leitura ligeiramente negativa para os bancos, "pois há mais competição por instrumentos de financiamento quando vemos a recuperação de alguma nova originação de crédito, o que poderia implicar uma maior pressão sobre o custo marginal de captação."
Em outras palavras, as novas regras podem obrigar os bancões a pagarem mais para os investidores para captar recursos no mercado (que é o que eles estão fazendo quando emitem CDBs, LCIs, LCAs e LIGs, por exemplo).
Instituições financeiras focadas em investimentos como XP e BTG, por sua vez, embora de grande porte e com grande número de clientes, já tendiam a remunerar mais para os investidores em suas LCIs e LCAs.
A forte migração de recursos para as debêntures, que teve como uma das razões a mudança na regulação dos títulos isentos, provocou o mesmo efeito no mercado de títulos emitidos por empresas, com valorização dos papéis e recuo nas taxas neste início de ano.
Não são só as LCIs e LCAs! CRI, CRA e debêntures incentivadas também devem perder isenção; demais investimentos terão alíquota única
Pacote de medidas para substituir o aumento do IOF propõe tributação de 5% em todos os títulos de renda fixa hoje isentos, além de alíquota única de 17,5% nas demais aplicações
Ainda vale a pena investir em LCI e LCA com o imposto de 5% proposto por Haddad? Fizemos as contas
Taxação mexe com um dos investimentos preferidos do investidor pessoa física; LCI e LCA hoje são isentas de imposto de renda
Neon lança CDB que rende até 150% do CDI, de olho em novos clientes; veja como investir
Os Certificados de Depósito Bancário tem aporte mínimo de R$ 100; promoção será válida por dois meses
Petrobras (PETR4) está considerando emitir R$ 3 bilhões em debêntures incentivadas, isentas de imposto de renda
Oferta da estatal seguiria outra oferta bilionária de dívida anunciada na semana passada, a da Vale
Vale (VALE3) anuncia emissão de R$ 6 bilhões em debêntures isentas de imposto de renda com retorno inferior ao dos títulos públicos
Com isenção, porém, papel deve se manter atrativo em relação aos títulos Tesouro IPCA+; oferta será restrita a investidores profissionais
CMN reduz prazo de carência de LCIs e LCAs de nove para seis meses, mas fecha um pouco mais o cerco a CRIs, CRAs e CDCAs
Órgão afrouxa restrição imposta em fevereiro de 2024 a LCIs e LCAs, mas aperta um pouco mais as regras para outros títulos isentos de imposto de renda
Vencimento de Tesouro IPCA+ paga R$ 153 bilhões nesta semana; quanto rende essa bolada se for reinvestida?
O Seu Dinheiro simulou o retorno do reinvestimento em novos títulos Tesouro IPCA+ e em outros papéis de renda fixa; confira
Retorno recorde nos títulos IPCA+ de um lado, spreads baixos e RJs do outro: o que é de fato risco e oportunidade na renda fixa privada hoje?
Em carta a investidores, gestora de renda fixa Sparta elenca os pontos positivos e negativos do mercado de crédito privado hoje
Retorno da renda fixa chegou ao topo? Quanto rendem R$ 100 mil na poupança, em Tesouro Selic, CDB e LCI com a Selic em 14,75%
Copom aumentou a taxa básica em mais 0,50 ponto percentual nesta quarta (7), elevando ainda mais o retorno das aplicações pós-fixadas; mas ajuste pode ser o último do ciclo de alta
Onde investir na renda fixa em maio: Tesouro IPCA+ e CRA da BRF são destaques; indicações incluem LCA e debêntures incentivadas
Veja o que BB Investimentos, BTG Pactual, Itaú BBA e XP Investimentos recomendam comprar na renda fixa em maio, especialmente entre os ativos isentos de IR
Selic em alta atrai investidor estrangeiro para a renda fixa do Brasil, apesar do risco fiscal
Analistas também veem espaço para algum ganho — ou perdas limitadas — em dólar para o investidor estrangeiro que aportar no Brasil
Criptoativos de renda fixa: tokens de crédito privado oferecem retorno de até CDI+4% ao ano; é seguro investir?
Empresas aproveitam o apetite do investidor por renda fixa e aumentam a oferta de criptoativos de dívida, registrados na blockchain; entenda os benefícios e os riscos desses novos investimentos
Tesouro Direto pagará R$ 153 bilhões aos investidores em maio; veja data de pagamento e qual título dá direito aos ganhos
O valor corresponde ao vencimento de 33,5 milhões de NTN-Bs, que remuneram com uma taxa prefixada acrescida da variação da inflação
CDBs do Banco Master que pagam até 140% do CDI valem o investimento no curto prazo? Títulos seguem “baratos” no mercado secundário
Investidores seguem tentando desovar seus papéis nas plataformas de corretoras como XP e BTG, mas analistas não veem com bons olhos o risco que os títulos representam
As empresas não querem mais saber da bolsa? Puxada por debêntures, renda fixa domina o mercado com apetite por títulos isentos de IR
Com Selic elevada e incertezas no horizonte, emissões de ações vão de mal a pior, e companhias preferem captar recursos via dívida — no Brasil e no exterior; CRIs e CRAs, no entanto, veem emissões caírem
Não foi só o Banco Master: entre os CDBs mais rentáveis de março, prefixado do Santander paga 15,72%, e banco chinês oferece 9,4% + IPCA
Levantamento da Quantum Finance traz as emissões com taxas acima da média do mercado; no mês passado, estoque de CDBs no país chegou a R$ 2,57 trilhões, alta de 14,3% na base anual
Renda fixa para abril chega a pagar acima de 9% + IPCA, sem IR; recomendações já incluem prefixados, de olho em juros mais comportados
O Seu Dinheiro compilou as carteiras do BB, Itaú BBA, BTG e XP, que recomendaram os melhores papéis para investir no mês
CDBs do Banco Master pagam até 160% do CDI no mercado secundário após investidores desovarem papéis com desconto
Negócio do Master com BRB jogou luz nos problemas de liquidez do banco, o que levou os investidores a optarem por resgate antecipado, com descontos de até 20%; taxas no secundário tiram atratividade dos novos títulos emitidos pelo banco, a taxas mais baixas
O ativo que Luis Stuhlberger gosta em meio às tensões globais e à perda de popularidade de Lula — e que está mais barato que a bolsa
Para o gestor do fundo Verde, Brasil não aguenta mais quatro anos de PT sem haver uma “argentinização”
Banco Master diminui taxas de CDBs em meio à possível compra pelo BRB; veja como ficam as remunerações agora
O grupo Master já soma R$ 52 bilhões em CDBs investidos, mas o Banco de Brasília assumiria apenas uma parte desse passivo — que agora pode aumentar ainda mais