Decisão do Copom em xeque: o que muda para a Selic depois dos últimos acontecimentos?
O Banco Central do Brasil enfrentará um grande dilema nas próximas semanas
					Faltam duas semanas para a próxima reunião do Copom, que será nos dias 7 e 8 de maio, um momento crucial para os investidores brasileiros, considerando que ocorrerá uma semana depois da reunião de política monetária nos EUA, entre o dia 30 de abril e 1 de maio.*
A política monetária dos EUA repercute mundialmente e o atraso no início do ciclo de redução dos juros tem afetado negativamente os ativos de risco globalmente, influenciando negativamente o ciclo de redução dos juros no Brasil.
Nos EUA, espera-se que as taxas de juros se mantenham entre 5,25% e 5,50% até que haja evidências concretas de que a inflação esteja efetivamente convergindo para a meta informal de 2%. Até o momento, a inflação tem mostrado resiliência, especialmente com o aumento nos primeiros meses do ano.
Esta semana, será divulgado o índice PCE de março, uma medida de inflação preferida pelo Fed. Qualquer sinal de alívio, no entanto, é mais provável que apareça nos dados de abril em diante. Dados mais fortes do que o esperado podem jogar o primeiro corte de juros nos EUA para setembro ou, no pior dos casos, dezembro. Seria péssimo.
- A nova Selic pode mudar tudo e você precisa se preparar para isso. Descubra onde investir depois da decisão de Campos Neto.
 
Super Quarta à brasileira
No cenário brasileiro, a situação não é menos complicada. A inflação tem sido persistentemente alta, apesar de o índice geral de março ter ficado abaixo do esperado. Em poucas palavras, a inflação de serviços, em particular, continua elevada e desafiadora, preocupando o Banco Central brasileiro.
Nesta sexta-feira, será divulgado o IPCA-15 de abril, que é uma prévia da inflação brasileira. Espera-se uma desaceleração para 0,27% na comparação mensal, ou 3,83% anual. Um resultado abaixo do esperado seria um alívio bem-vindo.
Leia Também
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Como o PCE nos EUA, uma inflação mais contida poderia criar condições para reduções adicionais nas taxas de juros, diminuindo a pressão sobre a curva de juros e melhorando o ambiente para os ativos de risco.
Vale lembrar que a alta dos juros nos EUA tem impacto globalmente, pois a economia americana lidera o sistema financeiro global, o dólar é a moeda de referência mundial e os títulos públicos americanos são considerados o principal investimento livre de risco.
Recapitulando...
Desde o último comunicado, o Banco Central do Brasil já havia sinalizado uma mudança de postura, indicando apenas mais um corte de 50 pontos-base na taxa de juros em maio, ao invés de dois cortes, como vinha sendo prática comum anteriormente. Agora, até mesmo essa ação tornou-se incerta.
Um corte adicional de 50 pontos poderia diminuir ainda mais o diferencial de juros entre o Brasil e os EUA, afetando o carry-trade (a arbitragem de juros entre as duas economias, que atrai investidores estrangeiros) de maneira negativa para o real e os ativos locais. Em outras palavras, o ritmo pode mudar já em maio.
Desde o início do ano, temos observado uma reversão no fluxo de capital estrangeiro que havia sido positivo no final do ano anterior.
Esse fenômeno coincidiu com uma elevação das taxas de juros no exterior, com o rendimento dos títulos de 10 anos dos EUA saltando de 3,8% para 4,6% em pouco tempo.
Essa fuga de capitais prejudicou tanto os investimentos locais quanto a moeda brasileira, que agora se mostra mais frágil frente ao dólar. De fato, a especulação sobre a valorização do dólar em relação ao real alcançou níveis recordes recentemente.
Na ponta do lápis: o efeito de uma nova Super Quarta
A posição líquida comprada em dólar por meio de derivativos por não residentes (incluindo dólar futuro, dólar mini, swaps e cupom cambial) atingiu uma marca histórica de US$ 70 bilhões, refletindo também a brasileiros operando através de "offshores".
Apesar desta situação adversa para o Brasil, ela não é exclusiva. O Dollar Index, que rastreia o desempenho do dólar contra um cesto de moedas estrangeiras, também tem subido, sendo negociado acima de 106,2, enquanto o euro desvaloriza e é negociado abaixo de 1,06.
Essa força global do dólar é prejudicial para a economia brasileira, que pode enfrentar maior persistência inflacionária como resultado, apesar de o fortalecimento do dólar beneficiar a balança comercial do país através das exportações.
Portanto, um indicador de inflação mais baixo nos EUA seria benéfico inclusive para o Banco Central do Brasil, que se encontra diante da decisão de manter o corte de 50 pontos prometido e arriscar agravar a fragilidade do real, comprometendo assim sua política de comunicação de desaceleração dos cortes de juros.
Alternativas do Banco Central para a Super Quarta
Isso implicaria na alternativa de um corte de 25 pontos-base.
De fato, embora seja prejudicial para a credibilidade do Banco Central ir contra suas próprias declarações anteriores, pode ser que não haja outra escolha. Portanto, muitos analistas já estão revisando suas expectativas para a taxa Selic final.
Um levantamento recente mostrou que a mediana das previsões para a taxa de juros no final do ciclo está agora em 9,75%, comparada com 9% da pesquisa anterior em março. Esse número é também mais alto que o atualmente reportado pelo Focus.
Isso não quer dizer que 9,75% ou até 10% representem o fim definitivo, mas talvez apenas o término deste episódio. Na situação atual, o Banco Central poderia desacelerar o ritmo dos cortes, levar a Selic até 10% ou 9,75%, e então pausar, considerando retomar os cortes posteriormente.
A tese do duplo ciclo está de volta.
Quando isso ocorreria?
Quando as taxas de juros começarem a cair nos EUA, para evitar comprimir demais o diferencial de juros.
Quando esse diferencial fica muito apertado, o dólar tende a valorizar-se e a inflação pode escalar devido ao efeito de pass-through.
As incertezas fiscais locais recentes também não ajudam. Espera-se que nesta semana a Receita Federal divulgue os dados de arrecadação de março, sendo que a revisão das metas fiscais a partir de 2025 já acionou alarmes no mercado.
Geralmente, danos à âncora fiscal têm um alto custo para a âncora monetária. Se o governo agir de maneira irresponsável, a credibilidade fiscal é reduzida, exigindo juros mais altos na emissão de títulos, o que complica ainda mais a situação para o BC.
Nunca fui otimista quanto à credibilidade fiscal deste governo, e o mercado também não era. O problema é que ainda falta um plano claro para nos levar até 2026, quando ocorrerá outra eleição.
- VEJA TAMBÉM - NADA COLOCA A ECONOMIA DOS EUA DE JOELHOS? JUROS ALTOS NÃO ESTÃO ADIANTANDO E O MUNDO TODO 'PAGA O PATO'
 
Além da Super Quarta
Portanto, tudo isso pesa contra a manutenção do corte de 50 pontos-base nas próximas duas semanas: a inflação, tanto aqui quanto no exterior, ainda é forte, assim como a atividade econômica, e ainda há muita incerteza fiscal.
E isso sem mencionar o preço do petróleo. Se os conflitos no Leste Europeu e no Oriente Médio elevarem os preços do barril, as expectativas de inflação também serão afetadas, embora este seja um cenário menos provável.
- LEIA TAMBÉM: Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus Research, comenta os impactos do conflito no Oriente Médio nos mercados e responde: como investir nesse cenário? Confira GRATUITAMENTE clicando AQUI.
 
Diante disso, as taxas de juros precisam permanecer mais altas por ora. Dependemos de mais dados para ter uma compreensão mais clara de onde as taxas de juros se encaminharão.
Aliás, um discurso mais coerente e promissor vindo de Brasília poderia ajudar.
Recentemente, críticas públicas à condução das políticas na capital federal sugerem que pode haver uma nova convergência para um discurso mais equilibrado. Lula já solicitou a Haddad e Alckmin mais dinamismo e articulação política.
Até o próprio Ministro de Minas e Energia, Silveira, afirmou que não houve intenção do governo de revisar a capitalização da Eletrobras, e que o Conselho da Petrobras levou em consideração as necessidades da Fazenda na decisão sobre os dividendos.
Esses são sinais positivos, mas ainda insuficientes.
Enquanto isso, o cenário fiscal continua precário. Precisamos de ações mais rápidas e eficazes. Um discurso alinhado, combinado com dados de inflação mais favoráveis no Brasil e nos EUA, já seria um grande avanço.
Este é apenas um dos possíveis cenários, mas a probabilidade de se concretizar ainda é baixa. No entanto, seria um dos caminhos mais benéficos para os ativos de risco no contexto atual. Caso contrário, a situação continuará difícil.
*Texto atualizado para uma correção no primeiro parágrafo, sobre as datas das reuniões do Copom e do Fed
- Seu bolso não precisa esperar a Selic: segundo Matheus Spiess, as perspectivas para a taxa de juros são incertas. Mas não importa se o Copom cortar 25 ou 50 pontos-base – é possível ganhar dinheiro em qualquer cenário, se estiver posicionado nos ativos certos. Saiba como clicando AQUI.
 
Rodolfo Amstalden: O silêncio entre as notas
Vácuos acumulados funcionaram de maneira exemplar para apaziguar o ambiente doméstico, reforçando o contexto para um ciclo confiável de queda de juros a partir de 2026
A corrida para investir em ouro, o resultado surpreendente do Santander, e o que mais mexe com os mercados hoje
Especialistas avaliam os investimentos em ouro depois do apetite dos bancos centrais por aumentar suas reservas no metal, e resultado do Santander Brasil veio acima das expectativas; veja o que mais vai afetar a bolsa hoje
O que a motosserra de Milei significa para a América Latina, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A Argentina surpreendeu nesta semana ao dar vitória ao partido do presidente Milei nas eleições legislativas; resultado pode ser sinal de uma mudança política em rumo na América Latina, mais liberal e pró-mercado
A maré liberal avança: Milei consolida poder e reacende o espírito pró-mercado na América do Sul
Mais do que um evento isolado, o avanço de Milei se insere em um movimento mais amplo de realinhamento político na região
Os balanços dos bancos vêm aí, e mercado quer saber se BB pode cair mais; veja o que mais mexe com a bolsa hoje
Santander e Bradesco divulgam resultados nesta semana, e mercado aguarda números do BB para saber se há um alçapão no fundo do poço
Só um susto: as ações desta small cap foram do céu ao inferno e voltaram em 3 dias, mas este analista vê motivos para otimismo
Entenda o que aconteceu com os papéis da Desktop (DESK3) e por que eles ainda podem subir mais; veja ainda o que mexe com os mercados hoje
Por que o tombo de Desktop (DESK3) foi exagerado — e ainda vejo boas chances de o negócio com a Claro sair do papel
Nesta semana os acionistas tomaram um baita susto: as ações DESK3 desabaram 26% após a divulgação de um estudo da Anatel, sugerindo que a compra da Desktop pela Claro levaria a concentração de mercado para níveis “moderadamente elevados”. Eu discordo dessa interpretação, e mostro o motivo.
Títulos de Ambipar, Braskem e Raízen “foram de Americanas”? Como crises abalam mercado de crédito, e o que mais movimenta a bolsa hoje
Com crises das companhias, investir em títulos de dívidas de empresas ficou mais complexo; veja o que pode acontecer com quem mantém o título até o vencimento
Rodolfo Amstalden: As ações da Ambipar (AMBP3) e as ambivalências de uma participação cruzada
A ambição não funciona bem quando o assunto é ação, e o caso da Ambipar ensina muito sobre o momento de comprar e o de vender um ativo na bolsa
Caça ao Tesouro amaldiçoado? Saiba se Tesouro IPCA+ com taxa de 8% vale a pena e o que mais mexe com seu bolso hoje
Entenda os riscos de investir no título público cuja remuneração está nas máximas históricas e saiba quando rendem R$ 10 mil aplicados nesses papéis e levados ao vencimento
Crônica de uma tragédia anunciada: a recuperação judicial da Ambipar, a briga dos bancos pelo seu dinheiro e o que mexe com o mercado hoje
Empresa de gestão ambiental finalmente entra com pedido de reestruturação. Na reportagem especial de hoje, a estratégia dos bancões para atrair os clientes de alta renda
Entre o populismo e o colapso fiscal: Brasília segue improvisando com o dinheiro que não tem
O governo avança na implementação de programas com apelo eleitoral, reforçando a percepção de que o foco da política econômica começa a se deslocar para o calendário de 2026
Felipe Miranda: Um portfólio para qualquer clima ideológico
Em tempos de guerra, os generais não apenas são os últimos a morrer, mas saem condecorados e com mais estrelas estampadas no peito. A boa notícia é que a correção de outubro nos permite comprar alguns deles a preços bastante convidativos.
A temporada de balanços já começa quente: confira o calendário completo e tudo que mexe com os mercados hoje
Liberamos o cronograma completo dos balanços do terceiro trimestre, que começam a ser divulgados nesta semana
CNH sem autoescola, CDBs do Banco Master e loteria +Milionária: confira as mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matérias sobre o fechamento de capital da Gol e a opinião do ex-BC Arminio Fraga sobre os investimentos isentos de IR também integram a lista das mais lidas
Como nasceu a ideia de R$ 60 milhões que mudou a história do Seu Dinheiro — e quais as próximas apostas
Em 2016, quando o Seu Dinheiro ainda nem existia, vi um gráfico em uma palestra que mudou minha carreira e a história do SD
A Eletrobras se livrou de uma… os benefícios da venda da Eletronuclear, os temores de crise de crédito nos EUA e mais
O colunista Ruy Hungria está otimista com Eletrobras; mercados internacionais operam no vermelho após fraudes reveladas por bancos regionais dos EUA. Veja o que mexe com seu bolso hoje
Venda da Eletronuclear é motivo de alegria — e mais dividendos — para os acionistas da Eletrobras (ELET6)
Em um único movimento a companhia liberou bilhões para investir em outros segmentos que têm se mostrado bem mais rentáveis e menos problemáticos, além de melhorar o potencial de pagamento de dividendos neste e nos próximos anos
Projeto aprovado na Câmara permite divórcio após a morte de um dos cônjuges, com mudança na divisão da herança
Processos iniciados antes do falecimento poderão ter prosseguimento a pedido dos herdeiros, deixando cônjuge sobrevivente de fora da herança
A solidez de um tiozão de Olympikus: a estratégia vencedora da Vulcabras (VULC3) e o que mexe com os mercados hoje
Conversamos com o CFO da Vulcabras, dona das marcas Olympikus e Mizuno, que se tornou uma queridinha entre analistas e gestores e paga dividendos mensais