Todas as histórias do petróleo: há 4 caminhos possíveis para a principal commodity do mundo, mas só um deve prevalecer
Uma grande aposta em andamento contra o petróleo faz com que a commodity funcione como uma proteção estratégica para a carteira

Nos últimos dias, o mercado de petróleo testemunhou uma escalada de preços, impulsionada principalmente por tensões geopolíticas, destacando-se os riscos associados ao Oriente Médio.
O preço do Brent manteve-se próximo de suas máximas de três semanas, atingindo US$ 83 por barril, após um incidente em que um navio foi atacado por um míssil no Mar Vermelho, forçando sua tripulação a evacuar.
Em paralelo, a crescente tensão entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza sobre a questão dos reféns intensifica a incerteza na região, com uma iminente operação terrestre em Rafah, caso os reféns não sejam liberados antes de meados de março.
Essa situação nos leva a ponderar sobre quatro narrativas predominantes no setor petrolífero.
1 - Transição energética
A primeira, relacionada à transição energética, prevê uma redução significativa ou até mesmo o fim da indústria de petróleo e gás após 2050.
Pessoalmente, considero improvável a extinção completa dessa indústria neste século, uma visão que deixo para os especialistas em futurismo.
Leia Também
17 X 0 na bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje, com disputa entre Israel e Irã no radar
Sexta-feira, 13: Israel ataca Irã e, no Brasil, mercado digere o pacote do governo federal
Ainda assim, temos um vetor negativo para os preços da commodity em um futuro distante.
2 - Diminuição da capacidade produtiva
A segunda narrativa decorre justamente dessa percepção de que o mundo eventualmente se afastará dos combustíveis fósseis, o que levou a um investimento insuficiente no setor na década antes da pandemia, resultando em uma capacidade produtiva inadequada para atender à demanda crescente.
Isso sugere que os preços do petróleo permanecerão nesses patamares elevados nos próximos anos devido à escassez de oferta. Menos oferta significa maiores preços.
3 - Tensões geopolíticas
A terceira história é marcada por tensões geopolíticas, como a invasão da Ucrânia pela Rússia e a resposta de Israel aos atentados do Hamas, que impactam diretamente os preços do petróleo, elevando-os.
Essa narrativa considera os efeitos dessas tensões na logística global, exemplificados pelos ataques no Mar Vermelho que levaram as transportadoras a adotar rotas alternativas mais longas e caras, como a viagem ao redor do Cabo da Boa Esperança.
Essas mudanças de rota aumentam significativamente os custos de transporte e os prazos de entrega, potencialmente afetando os preços dos produtos e ameaçando o alívio da inflação observado recentemente.
A interrupção das rotas comerciais devido aos ataques no Mar Vermelho provocou atrasos significativos nas entregas, estendendo-se de 10 a 15 dias em destinos como o porto de Barcelona, por exemplo, e resultou em uma diminuição abrupta de 70% no fluxo de contêineres pela rota em dezembro.
Este cenário impactou diretamente o comércio da União Europeia, com reduções de 2% nas exportações e 3,1% nas importações, refletindo uma queda de 1,3% no comércio global. Ou seja, a crise exacerbou a escassez de contêineres e triplicou seus preços, acentuando os desafios logísticos.
4 - Desaceleração econômica
Por fim, enfrentamos o desafio de desaceleração econômica, nossa quarta narrativa.
A inflação pós-pandêmica levou os bancos centrais a elevar as taxas de juros, visando controlar a escalada dos preços.
Embora estejamos começando a ver um relaxamento dessas medidas, o aperto monetário teve como consequência a desaceleração da atividade econômica, diminuindo a demanda e pressionando os preços para baixo.
Nesse contexto, os cortes de oferta da OPEP+ e as políticas dos EUA de estabelecer um preço de referência para recomposição de suas reservas estratégicas agem como fatores adicionais de suporte aos preços do petróleo.
Petróleo vai subir ou vai cair?
Assim, encontramo-nos diante de quatro narrativas que moldam o mercado do petróleo: duas pressionando os preços para cima, devido à diminuição estrutural da oferta e às tensões geopolíticas, e duas pressionando para baixo, refletindo a transição energética e a redução da demanda no curto prazo.
Cinco anos atrás, diante do cenário de recusa europeia às exportações energéticas russas em resposta à invasão da Ucrânia e do risco de conflito regional no Oriente Médio, poderíamos prever preços do petróleo alcançando US$ 150 por barril.
Cotações do petróleo seguem em relativa estabilidade
No entanto, o mercado atual apresenta uma complexidade que vai além dessas expectativas.
Apesar do entrelaçamento de várias dinâmicas globais, os preços do petróleo têm se mantido relativamente estáveis, oscilando entre US$ 75 e US$ 85 por barril, encontrando um ponto de suporte adicional em US$ 70, influenciado por fatores secundários.
Neste panorama, destaca-se o papel dos Estados Unidos como líder indiscutível na produção de petróleo e gás natural nos últimos quinze anos, um título conquistado através da revolução do xisto.
Este movimento, impulsionado por avanços tecnológicos, permitiu a exploração e extração de reservas energéticas que antes eram consideradas inalcançáveis.
Contrariando as expectativas de alguns analistas sobre um declínio iminente nos benefícios da revolução do xisto, os dados recentes da Administração de Informação de Energia dos EUA indicam um futuro promissor: a produção de petróleo, que já havia batido recordes em 2023, é projetada para crescer ainda mais nos próximos anos.
Esta expansão na oferta de energia é um fator contribuinte para a estabilidade dos preços do petróleo, apesar dos desafios impostos pela Opep+ e as tensões geopolíticas envolvendo a Rússia e o Oriente Médio.
Demanda global por petróleo vai continuar em alta
Outro ponto para prestarmos atenção deriva de um relatório recente da OPEP, que sugere que a demanda global por petróleo continuará a crescer, potencialmente alcançando 116 milhões de barris por dia até 2045, impulsionada principalmente pelo aumento do consumo em países como China, Índia, África e Oriente Médio.
Este cenário desafia os apelos por uma desaceleração nos investimentos em novos projetos de petróleo e destaca a necessidade crítica de financiamento, agora estimado em US$ 14 trilhões até 2045, para evitar um futuro de instabilidade econômica e energética.
Leia também
- Uma nova bolha está se formando? Ganhos concentrados em poucas ações soam o alarme em Wall Street
- Nunca aposte contra o Tio Sam: Mercado leva mais uma invertida da economia dos EUA e dólar tem margem para seguir valorizado
Essa complexidade de fatores, que inclui a resistência estrutural à queda dos preços do petróleo e as implicações da expansão da produção energética, ilustra o delicado equilíbrio entre avanço tecnológico, demanda crescente por energia e os imperativos climáticos globais.
Por isso, mantendo uma perspectiva equilibrada sobre os investimentos em petróleo, este ativo continua sendo uma opção atrativa dada a volatilidade geopolítica, particularmente no Oriente Médio.
Mesmo diante de análises que preveem um potencial excesso de oferta e uma tendência de queda nos preços, uma redução significativa na produção dessa região poderia surpreender o mercado global.
A grande aposta contra o petróleo
Atualmente, existe uma grande aposta contra o petróleo, refletindo um consenso geral de pessimismo sobre a commodity. Isso, paradoxalmente, torna o petróleo um hedge econômico relativamente acessível.
Afinal, um aumento súbito nos preços do petróleo poderia complicar o processo de desinflação em curso, limitando a margem para redução das taxas de juros e impactando negativamente os mercados acionários.
Considerando isso, o petróleo funciona como um hedge estratégico neste momento, oferecendo uma espécie de seguro contra eventos adversos que poderiam abalar o mercado.
Opções de investimento em petróleo
Investir em empresas petrolíferas brasileiras é uma opção válida, com a Petrobras (PETR4) liderando as escolhas domésticas, ao lado de alternativas como a 3R Petroleum (RRRP3), ambas com seus desafios específicos, mas ainda assim valiosas para uma carteira bem diversificada.
Para aqueles que preferem diversificar globalmente, um ETF como o SPDR S&P Oil & Gas Exploration & Production (NYSE: XOP) ou uma ação de uma companhia estabelecida, como a BP (NYSE: BP), pode ser a escolha ideal.
Essa exposição, embora não deva predominar na carteira, deve ser suficientemente sólida para capitalizar sobre o potencial positivo do setor e atuar como um escudo contra a inflação, possivelmente mantendo sua relevância nos próximos anos.
É crucial calibrar o peso desses investimentos de acordo com o perfil de risco individual, integrando-os a uma estratégia de diversificação abrangente e adotando as medidas de proteção apropriadas para garantir um equilíbrio ideal na carteira de investimentos.
- Petrobras (PETR4) ou 3R Petroleum (RRRP3)? Apenas uma delas está entre as 10 recomendações dos analistas da Empiricus Research para você investir agora. Veja a lista completa neste relatório gratuito.
Rodolfo Amstalden: Mais uma anomalia para chamar de sua
Eu sou um stock picker por natureza, mas nem precisaremos mergulhar tanto assim no intrínseco da Bolsa para encontrar oportunidade; basta apenas escapar de tudo o que é irritantemente óbvio
Construtoras avançam com nova faixa do Minha Casa, e guerra comercial entre China e EUA esfria
Seu Dinheiro entrevistou o CEO da Direcional (DIRR3), que falou sobre os planos da empresa; e mercados globais aguardam detalhes do acordo entre as duas maiores potências
Pesou o clima: medidas que substituem alta do IOF serão apresentadas a Lula nesta terça (10); mercados repercutem IPCA e negociação EUA-China
Entre as propostas do governo figuram o fim da isenção de IR dos investimentos incentivados, a unificação das alíquotas de tributação de aplicações financeiras e a elevação do imposto sobre JCP
Felipe Miranda: Para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve
O anúncio do pacote alternativo ao IOF é mais um reforço à máxima de que somos o país que não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade. Insistimos num ajuste fiscal centrado na receita, sem anúncios de corte de gastos.
Celebrando a colheita do milho nas festas juninas e na SLC Agrícola, e o que esperar dos mercados hoje
No cenário global, investidores aguardam as negociações entre EUA e China; por aqui, estão de olho no pacote alternativo ao aumento do IOF
Azul (AZUL4) no vermelho: por que o negócio da aérea não deu samba?
A Azul executou seu plano com excelência. Alcançou 150 destinos no Brasil e opera sozinha em 80% das rotas. Conseguiu entrar em Congonhas. Chegou até a cair nas graças da Faria Lima por um tempo. Mesmo assim, não escapou da crise financeira.
A seleção com Ancelotti, e uma empresa em baixa para ficar de olho na bolsa; veja também o que esperar para os mercados hoje
Assim como a seleção brasileira, a Gerdau não passa pela sua melhor fase, mas sua ação pode trazer um bom retorno, destaca o colunista Ruy Hungria
A ação que disparou e deixa claro que mesmo empresas em mau momento podem ser ótimos investimentos
Às vezes o valuation fica tão barato que vale a pena comprar a ação mesmo que a empresa não esteja em seus melhores dias — mas é preciso critério
Apesar da Selic, Tenda celebra MCMV, e FII do mês é de tijolo. E mais: mercado aguarda juros na Europa e comentários do Fed nos EUA
Nas reportagens desta quinta, mostramos que, apesar dos juros nas alturas, construtoras disparam na bolsa, e tem fundo imobiliário de galpões como sugestão para junho
Rodolfo Amstalden: Aprofundando os casos de anomalia polimórfica
Na janela de cinco anos podemos dizer que existe uma proporcionalidade razoável entre o IFIX e o Ibovespa. Para todas as outras, o retorno ajustado ao risco oferecido pelo IFIX se mostra vantajoso
Vanessa Rangel e Frank Sinatra embalam a ação do mês; veja também o que embala os mercados hoje
Guerra comercial de Trump, dados dos EUA e expectativa em relação ao IOF no Brasil estão na mira dos investidores nesta quarta-feira
O Brasil precisa seguir as ‘recomendações médicas’: o diagnóstico da Moody’s e o que esperar dos mercados hoje
Tarifas de Trump seguem no radar internacional; no cenário local, mercado aguarda negociações de Haddad com líderes do Congresso sobre alternativas ao IOF
Crônica de uma ruína anunciada: a Moody’s apenas confirmou o que já era evidente
Três reformas estruturais se impõem como inevitáveis — e cada dia de atraso só agrava o diagnóstico
Tony Volpon: O “Taco Trade” salva o mercado
A percepção, de que a reação de Trump a qualquer mexida no mercado o leva a recuar, é uma das principais razões pelas quais estamos basicamente no zero a zero no S&P 500 neste ano, com uma pequena alta no Nasdaq
O copo meio… cheio: a visão da Bradesco Asset para a bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje
Com feriado na China e fala de Powell nos EUA, mercados reagem a tarifas de Trump (de novo!) e ofensiva russa contra Ucrânia
Você já ouviu falar em boreout? Quando o trabalho é pouco demais: o outro lado do burnout
O boreout pode ser traiçoeiro justamente por não parecer um problema “grave”, mas há uma armadilha emocional em estar confortável demais
De hoje não passa: Ibovespa tenta recuperação em dia de PIB no Brasil e índice favorito do Fed nos EUA
Resultado do PIB brasileiro no primeiro trimestre será conhecido hoje; Wall Street reage ao PCE (inflação de gastos com consumo)
A Petrobras (PETR4) está bem mais próxima de perfurar a Margem Equatorial. Mas o que isso significa?
Estimativas apontam para uma reserva de 30 bilhões de barris, o que é comparável ao campo de Búzios, o maior do mundo em águas ultraprofundas — não à toa a região é chamada de o “novo pré-sal”
Prevenir é melhor que remediar: Ibovespa repercute decisão judicial contra tarifaço, PIB dos EUA e desemprego no Brasil
Um tribunal norte-americano suspendeu o tarifaço de Donald Trump contra o resto do mundo; decisão anima as bolsas
Rodolfo Amstalden: A parábola dos talentos financeiros é uma anomalia de volatilidade
As anomalias de volatilidade não são necessariamente comuns e nem eternas, pois o mercado é (quase) eficiente; mas existem em janelas temporais relevantes, e podem fazer você ganhar uma boa grana