Felipe Miranda: Proteja-se da inflação
Temos de escolher entre a cloroquina para covid ou para a inflação, cada uma com seu próprio desrespeito à ciência

O sonho acabou. Nem a utopia brasileira temos mais. De brinde, perdemos também a hipótese de sermos o país do futuro, que foi sequestrado pela dívida pública muito alta. Nossos filhos e netos devem ter feito algo muito grave para nos vingarmos com a imposição dessa herança maldita. Castigo severo.
Quando o Brasil completou 100 anos de independência, celebramos com a Semana da Arte Moderna. Tarsila faz sucesso até hoje em Paris. Aos 200 anos, o que tivemos? Nada, rigorosamente nada. Sobrou-nos o troféu consolação de um show pop de Caetano e Bethânia, com direito a música gospel.
Depois deles, não há nada. Ou só há o nada. Talvez o leitor mais rigoroso possa apontar que existe Anitta, o que, me desculpem, eu consideraria um reforço ao ponto, não um contra-argumento.
Inflação à brasileira
Com o manifesto antropofágico, sonhávamos em absorver o melhor do estrangeiro, misturando-o à “vitalidade iorubá” e à “improvisação ameríndia”, filtrado pela “ternura portuguesa”. Até alertávamos para o risco de, ao nos civilizarmos, incorrermos em neuroses que nos entristecesse demais. Metaforicamente, perderíamos a alegria nas pernas para ceder ao rigor tático das duas linhas de 4 dos italianos. Dionísio teria dificuldades em conviver com Apollo, perderia a luta.
Podemos ficar tranquilos. Não corremos esse risco. Parecemos condenados a algo pior do que o sugerido pelo “mal estar na civilização”. Não nos civilizamos direito e não temos mais qualquer movimento cultural relevante. A miscigenação brasileira, merecidamente celebrada no “Elogio do vira-lata”, encontra um apartheid intelectual.
O estrangeiro, de onde poderíamos beber o progresso técnico, insumos de ponta e baratos, e a fronteira do conhecimento, é combatido em prol da proteção do conteúdo nacional. A dialética entre grupos distintos de pensamento é interrompida porque quem defende a minuta do golpe não suporta aqueles que rasgaram (sem ler) os livros de Economia. Temos de escolher entre a cloroquina para covid ou para a inflação, cada uma com seu próprio desrespeito à ciência.
Leia Também
Rodolfo Amstalden: A falácia da “falácia da narrativa”
A direita truculenta e a esquerda que não faz conta. A falsa dicotomia entre a responsabilidade social e fiscal, como se a primeira pudesse ser feita sem a segunda.
E assim perdemos a mistura, a diversidade, o sincretismo, cada um envolto à sua própria prisão sem grades. Sem a alternativa, a hipótese nula não pode ser falseada. Não há avanço em direção à síntese, por construção. Paramos na tese, na largada. E até no futebol, perdemos também.
O risco de 2025
“Ai, que preguiça”. O herói duplamente preguiçoso talvez tenha sido a única herança preservada de alguma manifestação brasileira típica. Ignoramos a disciplina, o estudo, a técnica, para promover a retórica da catimba contra a Faria Lima e contra Roberto Campos Neto, que, aliás, tem sido mais do que um ótimo banqueiro central — com o aumento de 100 pontos na Selic e seu forward guidance, ele foi além de seu próprio mandato, blindando Galípolo e garantindo uma transição mais suave. Não seria essa a definição de estadista?
“É Fantásticô”, realmente. Se "o único problema é o juro, mas vamos cuidar disso também”, escancaramos o risco de perdermos não só a âncora fiscal, mas também a monetária. A inflação projetada para 2025 já marca 6%, com viés de alta caso o câmbio não se acomode. Se o juro for menor do que o apontado pelos modelos consagrados para controlar a inflação, pela simples aplicação da paridade câmbio-juro, perderemos a moeda. O dólar não vai ser R$ 6,50 ou R$ 7,00. Não devemos subestimar o papel do câmbio para promover o ajuste forçado — a lira turca perdeu 95% a partir de uma experiência monetária mal-sucedida.
A realidade se impõe. Podemos fechar os olhos para a aritmética das contas públicas, mas, cedo ou tarde, sentaremos num banquete das consequências. Quando o ajuste fiscal não é feito pelo corte de gastos, ele acontece por meio da inflação. Vamos ver isso em 2025. Quando a dívida pública é paga pelo “calote branco”. Ruim para o pobre, pois a inflação concentra renda. Ele tem quase a integralidade da renda destinada a consumo, não sobra nada para poupança. O rico está protegido em NTN-B e em investimentos no exterior.
Esta talvez seja a maior prescrição para 2025: há um risco não-desprezível de a inflação ser muito maior do que todos estão supondo, de modo que o investidor deveria se proteger contra esse cenário.
O dólar segue como um bom refúgio. O excepcionalismo americano é um call de consenso e muito povoado. Apesar da posição técnica não ser boa, o fundamento segue apontando nessa direção.
Os prefixados devem ser preteridos aos indexados. Não me iludo. Se as coisas continuarem piorando, vamos terminar com algum controle de capitais, algum tipo de tabelamento e algum tipo de criatividade para mensurar a inflação. Por ora, no entanto, não estamos lá. E há boas formas de garantir um bom retorno real, protegido da inflação.
Ações de empresas com dificuldades para remarcar preços deveriam ter desempenho ruim em termos relativos. Aquelas com pricing power tendem a ir bem. Foque naquelas cujos contratos estão vinculados à inflação. Eletrobras oferece uma TIR real superior a 15%.
O consolo cultural brasileiro é o filme “Ainda estou aqui”. Faz referência à ditadura. Mas também poderia falar da inflação.
A dieta do Itaú para não recorrer ao Ozempic
O Itaú mostrou que não é preciso esperar que as crises cheguem para agir: empresas longevas têm em seu DNA uma capacidade de antecipação e adaptação que as diferenciam de empresas comuns
Carne nova no pedaço: o sonho grande de um pequeno player no setor de proteína animal, e o que move os mercados nesta quinta (11)
Investidores acompanham mais um dia de julgamento de Bolsonaro por aqui; no exterior, Índice de Preços ao Consumidor nos EUA e definição dos juros na Europa
Rodolfo Amstalden: Cuidado com a falácia do take it for granted
A economia argentina, desde a vitória de Javier Milei, apresenta lições importantes para o contexto brasileiro na véspera das eleições presidenciais de 2026
Roupas especiais para anos incríveis, e o que esperar dos mercados nesta quarta-feira (10)
Julgamento de Bolsonaro no STF, inflação de agosto e expectativa de corte de juros nos EUA estão na mira dos investidores
Os investimentos para viver de renda, e o que move os mercados nesta terça-feira (9)
Por aqui, investidores avaliam retomada do julgamento de Bolsonaro; no exterior, ficam de olho na revisão anual dos dados do payroll nos EUA
A derrota de Milei: um tropeço local que não apaga o projeto nacional
Fora da região metropolitana de Buenos Aires, o governo de Milei pode encontrar terreno mais favorável e conquistar resultados que atenuem a derrota provincial. Ainda assim, a trajetória dos ativos argentinos permanece vinculada ao desfecho das eleições de outubro.
Felipe Miranda: Tarcisiômetro
O mercado vai monitorar cada passo dos presidenciáveis, com o termômetro no bolso, diante da possível consolidação da candidatura de Tarcísio de Freitas como o nome da centro-direita e da direita.
A tentativa de retorno do IRB, e o que move os mercados nesta segunda-feira (8)
Após quinta semana seguida de alta, Ibovespa tenta manter bom momento em meio a agenda esvaziada
Entre o diploma e a dignidade: por que jovens atingidos pelo desemprego pagam para fingir que trabalham
Em meio a uma alta taxa de desemprego em sua faixa etária, jovens adultos chineses pagam para ir a escritórios de “mentirinha” e fingir que estão trabalhando
Recorde atrás de recorde na bolsa brasileira, e o que move os mercados nesta sexta-feira (5)
Investidores aguardam dados de emprego nos EUA e continuam de olho no tarifaço de Trump
Ibovespa renova máxima histórica, segue muito barato e a próxima parada pode ser nos 200 mil pontos. Por que você não deve ficar fora dessa?
Juros e dólar baixos e a renovação de poder na eleição de 2026 podem levar a uma das maiores reprecificações da bolsa brasileira. Os riscos existem, mas pode fazer sentido migrar parte da carteira para ações de empresas brasileiras agora.
BRCR11 conquista novos locatários para edifício em São Paulo e reduz vacância; confira os detalhes da operação
As novas locações colocam o empreendimento como um dos destaques do portfólio do fundo imobiliário
O que fazer quando o rio não está para peixe, e o que esperar dos mercados hoje
Investidores estarão de olho no julgamento da legalidade das tarifas aplicadas por Donald Trump e em dados de emprego nos EUA
Rodolfo Amstalden: Se setembro der errado, pode até dar certo
Agosto acabou rendendo uma grata surpresa aos tomadores de risco. Para este mês, porém, as apostas são de retomada de algum nível de estresse
A ação do mês na gangorra do mundo dos negócios, e o que mexe com os mercados hoje
Investidores acompanham o segundo dia do julgamento de Bolsonaro no STF, além de desdobramentos da taxação dos EUA
Hoje é dia de rock, bebê! Em dia cheio de grandes acontecimentos, saiba o que esperar dos mercados
Terça-feira terá dados do PIB e início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de olhos voltados para o tarifaço de Trump
Entre o rali eleitoral e o malabarismo fiscal: o que já está nos preços?
Diante de uma âncora fiscal frágil e de gastos em expansão contínua, a percepção de risco segue elevada. Ainda assim, fatores externos combinados ao rali eleitoral e às apostas de mudança de rumo em 2026, oferecem algum suporte de curto prazo aos ativos brasileiros.
Tony Volpon: Powell Pivot 3.0
Federal Reserve encara pressão do presidente dos EUA, Donald Trump, por cortes nos juros, enquanto lida com dominância fiscal sobre a política monetária norte-americana
Seu cachorrinho tem plano de saúde? A nova empreitada da Petz (PETZ3), os melhores investimentos do mês e a semana dos mercados
Entrevistamos a diretora financeira da rede de pet shops para entender a estratégia por trás da entrada no segmento de plano de saúde animal; após recorde do Ibovespa na sexta-feira (29), mercados aguardam julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que começa na terça (2)
O importante é aprender a levantar: uma seleção de fundos imobiliários (FIIs) para capturar a retomada do mercado
Com a perspectiva de queda de juros à frente, a Empiricus indica cinco FIIs para investir; confira