Basicamente, um ‘guia’ para identificar negócios fora da curva
Nesta coluna de João Piccioni, o CIO da Empiricus Gestão explica a importância de identificar certos pilares nas ações antes de montar um portfólio.

Montar portfólios e analisar ações são coisas diferentes no universo dos investimentos. Apesar da simbiose das disciplinas, o ângulo sob o qual o financista deveria observar a parte e o todo é diferente. Comprar ações sem filtro, só observando a performance do mercado e ignorando as nuances dos negócios, por vezes, amplia as incertezas das escolhas. E aglutinar essas seleções sem considerar as vicissitudes da montagem de um portfólio diminui drasticamente o potencial de retornos de longo prazo.
Explico…
Sob qualquer ótica, adquirir ações sem realizar antes uma boa análise pode ser extremamente nocivo. Isso porque sem ela o comportamento do investidor se torna ainda mais inquieto.
A dúvida é o preço da pureza, e os efeitos de se apoiar em narrativas simplistas ou análises rasas quase sempre são perniciosos, por estimular negociações frequentes nas ações.
Quanto menos suporte houver, maior a insegurança do investidor e mais propenso ele fica para se livrar de suas posições (especialmente após ganhos ou perdas importantes).
A estratégia de fatiar a análise de ações em blocos quase sempre gera bons resultados e permite ao investidor ampliar sua confiança na hora de defender uma posição.
Leia Também
Foco em educação: Potencia Ventures faz aporte de R$ 1,5 milhão na UpMat
Foco na geração de receitas da empresa
Para mim, o ponto nevrálgico da construção da tese de investimento deve ser calcado na identificação da estratégia de geração de receitas da companhia.
Tome, por exemplo, o Mercado Livre. Fundamentalmente, sua operação consiste em interligar as pontas entre vendedores e compradores da maneira mais eficaz possível.
Boa parte da monetização do seu negócio é proveniente dessa conexão, e é possível afirmar que a expansão dos seus negócios adjacentes (segmento financeiro, braço logístico, “super app”) fortalece ainda mais o novelo dessa cadeia.
No decorrer do tempo, seus usuários se sentem tão familiarizados com o negócio, que ele praticamente se torna uma extensão da linha de raciocínio quando o assunto é adquirir produtos.
Uma vez compreendido, o núcleo central da tese de investimento elimina a tensão sobre manter ou não a ação na carteira.
A empresa é rentável ao longo do tempo?
A segunda parte da análise está ligada justamente à comprovação: o núcleo da tese é rentável? Aqui não se deve olhar para a linha do lucro líquido, e sim para a escalabilidade do negócio ao longo da história. A margem bruta se mantém estável ou cresce ao longo do tempo? Ou ainda, a proporção entre os custos e as despesas operacionais em relação às receitas se reduzem ao longo do tempo? Esses são pontos-chave da identificação do sucesso da estratégia das companhias.
Somente depois de verificadas as condições acima é que o analista deveria se preocupar com o valuation, múltiplos e preço em tela.
Apesar de importante sob a ótica da construção da tese, essas abordagens não devem deter papel decisório na seleção dos ativos. Isso porque é algo simples de ser replicado e verificado.
Apenas observar um monte de números na planilha e chegar a qualquer conclusão sobre valor sem ter compreendido o negócio é uma abordagem extremamente simplista no mundo dos investimentos.
Confesso que já fui traído por essa linha de pensamento inúmeras vezes e posso afirmar categoricamente: ela não funciona.
De forma geral, a boa análise qualitativa é a única capaz de identificar negócios fora da curva. É por meio dela que descobrimos as verdadeiras “pérolas” do mercado, aquelas companhias capazes de se multiplicar por diversas vezes.
E quando identificamos um modelo de negócio vencedor com um valuation atrativo, aí temos uma conjunção de fatores importantes para ser capturada.
Pois bem, esses vetores, entretanto, não se coadunam diretamente com a construção de portfólios. Não basta identificarmos ações que possuam características fora da curva.
Para se construir um portfólio vencedor no longo prazo, é preciso avaliar a questão do “sizing” (tamanho da posição), equilibrar o grau de risco do portfólio — tanto sob a ótica de concentração quanto sob a ótica dos negócios que nele estão inseridos —, alocar recursos em vetores de prismas diferentes e compreender como tudo funciona em conjunto.
Às vezes, por aqui, nos pegamos utilizando o termo “carteira encaixada”, que, na minha visão, é reflexo de um comportamento dentro das expectativas para o conjunto dos vetores (por exemplo, se o dólar se desvaloriza, o que esperamos é um comportamento mais forte da Bolsa brasileira, ou ainda, um avanço das empresas de tecnologia lá fora).
Na gestão dos fundos de investimentos, o balanço da matriz de riscos precisa ser avaliado constantemente. A análise dos custos de oportunidade (tradeoff) entre os ativos precisa ser feita de forma recorrente.
Nos fundos que utilizam estratégias de alocação (Books), tal dimensão fica ainda mais evidente: tomando como exemplo o Empiricus Money Rider Hedge Fund FIM IE, foi o bom balanço entre as posições em ações de valor (DXJ — ETF de ações japonesas, Berkshire Hathaway e HCA Healthcare); de tecnologia (ETF SMH) do bitcoin que empurrou a carteira para cima nesse começo de ano. Isso sem deixar de lado o excelente desempenho das ações da Instacart, que se destacam no ano — (+57%).
Até a última segunda-feira (18), o fundo avançava 1,75% em março e 7,07% no ano. O caminho para um ano sólido vai se formando.
- LEIA TAMBÉM: Disney, Microsoft e outras 8 ações americanas pra comprar agora. Clique aqui pra descobrir as melhores ações americanas selecionadas pela Empiricus Research.
O comportamento dos mercados em março e os ajustes nas carteiras
Os mercados acionários globais terminaram a semana passada sob os sinais de alerta provenientes da inflação global. A curva de juros recuperou sua força e voltou a subir em todos os vértices. Lá fora, a taxa do Treasury que vence em 10 anos (US10y) voltou a tocar a casa dos 4,30%, gerando a faísca para um possível reapreçamento dos juros mundo afora.
Os juros mais elevados na economia americana têm sido lidos como função de uma economia mais vibrante. Os sinais de que o setor industrial pode ter feito seu piso — não há como duvidar de que ao longo do ano passado tivemos uma recessão no setor —, agora trazem um pouco de gordura à ideia de que os juros realmente podem ficar em níveis mais elevados por mais tempo. No final, o que se descobriu — ou ainda se descobre — é que a reestruturação dos alicerces no pós-pandemia os tornaram mais robustos e capazes de aguentar mais desaforo. Como pontuado pela Steno Research, as recessões econômicas estão cada vez mais curtas e a quantidade de meses nos quais as economias transitam por esse estágio é cada vez menor.
Sob esse ambiente mais resiliente, de forma geral, as Bolsas globais não arredaram o pé. Tanto na Ásia quanto na Europa, os retornos mensais ainda continuam bem dentro do campo positivo, à espera das decisões dos Bancos Centrais.
Após o BoJ (Bank of Japan) determinar o fim dos juros negativos e o encerramento do Yield Curve Control, ferramenta que buscava determinar as taxas de juros dos títulos de 10 anos na noite de terça (18), os olhos se voltarão para o discurso de Jerome Powell, que acontece hoje à tarde.
É provável que o banqueiro mantenha o tom mais duro e que dê um pouco de fôlego para os Bears, que já estão abandonando a ideia de um provável início de afrouxamento do ciclo monetário no mês junho e postergando-o para julho — talvez a última data disponível para se iniciá-lo antes das eleições presidenciais.
Do lado corporativo, finalmente o dia que todos esperavam ansiosamente chegou. Na última segunda-feira (18), Jensen Huang, CEO da Nvidia, levou mais de 300 mil espectadores ao êxtase ao divulgar os novos lançamentos da empresa.
A nova GPU, lançada com o nome de Blackwell, em homenagem ao matemático americano David Blackwell, promete ser a divisora de águas naquilo que Huang definiu como “computação acelerada”. Os números são impressionantes: frente ao seu predecessor, o Hopper H100 GPU, ela oferece um desempenho 30 vezes melhor no processo de inferência e uma eficiência energética 25 vezes maior. Mais uma vez, a “Lei de Moore” se prova bastante viva.
A reação dos investidores, entretanto, pareceu neutra em um primeiro momento. Após oscilarem entre perdas e ganhos no pregão, as ações fecharam ontem (19) aos US$ 893, ou 1,07% de alta. A concorrência foi quem mais sofreu, dado o posicionamento superior dos produtos da Nvidia. As ações da AMD caíram mais de 4% no dia e as perdas acumuladas frente às máximas atingidas no começo do ano já superam os 20%.
Aqui no Brasil, o Ibovespa ainda não engrenou. No mês, o principal índice da Bolsa brasileira perde 1,6% (até o fechamento de ontem), puxado pelas ações da Petrobras e Vale, que desvalorizam 9,47% e 5,02%, respectivamente. Sem grandes novidades no front empresarial, o destaque, por ora, tem ficado com as ações da Caixa Seguridade que avançam mais de 14,54% na esteira do bom desempenho do programa Minha Casa Minha Vida.
Apesar das oscilações nessa primeira metade de março, a maior parte dos nossos fundos se encontram no campo positivo ou acima do seu benchmark. A partir dessa edição, vamos publicar semanalmente os resultados das principais estratégias da casa, nas janelas mensal, anual, semestral e anual. Caso você deseje conferir algum outro fundo que não esteja presente nesta lista, visite o nosso site: www.empiricusgestao.com.br .
Forte abraço,
João Piccioni
Nvidia não escapa de Trump, com restrição a exportação de chips; ‘queridinha’ tem preço-alvo cortado pelo BofA e tomba em NY
Ontem (15), a gigante dos chips informou ao mercado que será atingida por uma decisão do presidente dos EUA, com impacto calculado em US$ 5,5 bilhões
Não foi só a queda do preço do petróleo que fez a Petrobras (PETR4) tombar ontem na bolsa; saiba o que mais pode ter contribuído
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, teria pedido à estatal para rever novamente o preço do diesel, segundo notícias que circularam nesta segunda-feira (7)
XP rebate acusações de esquema de pirâmide, venda massiva de COEs e rentabilidade dos fundos
Após a repercussão no mercado, a própria XP decidiu tirar a limpo a história e esclarecer todas as dúvidas e temores dos investidores; veja o que disse a corretora
Contradições na bolsa: Ibovespa busca reação em dia de indicadores de atividade no Brasil e nos EUA
Investidores também reagem ao andamento da temporada de balanços, com destaque para o resultado da Casas Bahia
“As ações da nossa carteira têm capacidade para até triplicar de valor”, diz gestor de fundo que rende mais que o dobro do Ibovespa desde 2008
Cenário de juros em alta, risco fiscal e incerteza geopolítica parece pouco convidativo, mas representa oportunidade para o investidor paciente, diz Pedro Rudge, da Leblon Equities
Sem exceções: Ibovespa reage à guerra comercial de Trump em dia de dados de inflação no Brasil e nos EUA
Analistas projetam aceleração do IPCA no Brasil e desaceleração da inflação ao consumidor norte-americano em fevereiro
É o fim da “era de ouro” da renda fixa? Investidores sacam quase R$ 10 bilhões de fundos em fevereiro — mas outra classe teve performance ainda pior, diz Anbima
Apesar da performance negativa no mês passado, os fundos de renda fixa ainda mantêm captação líquida positiva de R$ 32,2 bilhões no primeiro bimestre de 2025
Desaceleração econômica e desinflação à vista: a visão dos gestores dos fundos Itaú Janeiro e do BTG Asset para o Brasil
Em evento do BTG Pactual, Bruno Serra Fernandes, da Itaú Asset, diz ver desaceleração econômica e desinflação à frente, ao contrário do que muitos esperam
O desconto na bolsa que poucos falam: fundos isentos de infraestrutura (FI-Infra) negociam com desconto de até 43% na B3
De 21 FI-Infras na bolsa que aplicam em títulos de crédito, como debêntures, nada menos que 19 operam com cotas abaixo do valor patrimonial, segundo levantamento da Empiricus
Taxação de FIIs e Fiagros? Não se depender de Haddad. Governo deve apresentar proposta para manter fundos isentos
O deputado federal Arnaldo Jardim afirma que o ministro da Fazenda e o da Advocacia-Geral da União se comprometeram a apresentar proposta que deixe claro que não haverá impostos sobre FIIs e Fiagros
Taxar ou não taxar os fundos? Anbima pede a derrubada do veto presidencial; entenda os motivos
Lula assinou uma medida que retira os fundos do regime diferenciado na reforma tributária, o qual define que a classe poderia optar entre ser ou não contribuinte dos impostos sobre consumo
Fundos Imobiliários e Fiagros serão taxados? Entenda o impasse gerado pelo veto de Lula na reforma tributária
A lei complementar da reforma tributária trouxe a possibilidade da taxação dos fundos; entidades de investidores criticaram a medida, que pode afetar os fundos imobiliários e Fiagros
Onde investir 2025: Sob o efeito Trump — as melhores oportunidades para quem quer ter retorno em dólar e um alerta sobre o mercado lá fora
No evento organizado pelo Seu Dinheiro, especialistas dizem se vale a pena se expor aos EUA na gestão do republicano, se as big techs continuarão brilhando e apontam armadilhas que os brasileiros devem evitar
A renda fixa vai reinar em 2025? Fundos voltam a ter saldo positivo depois de dois anos; saiba quais receberam mais aportes em 2024 e o que esperar agora
Saldo positivo quebrou uma sequência de dois anos de performance ruim para os fundos de investimentos; ‘é uma demonstração da solidez e da resiliência da indústria’, comenta o diretor da Anbima
AgiBank é avaliado em R$ 9,3 bilhões e recebe investimento de R$ 400 milhões de Daniel Goldberg, que sai do Conselho do Nubank (ROXO34)
O gestor, conhecido por fazer investimentos pouco convencionais e obter sucesso com as operações, também será membro do Conselho de Administração
Que tal investir em empresas fechadas? Fundos de Investimento em Participações (FIPs) podem ser liberados para o público geral
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu, nesta segunda-feira (23), consulta pública sobre os fundos que investem em participações em empresas fechadas, geralmente pequenas e médias, com vistas a ampliar o acesso desses negócios ao mercado de capitais
A Faria Lima apostou contra Lula? O desempenho dos principais gestores de fundos após o anúncio de Haddad conta uma história diferente
Análise da Empiricus Research traz retorno de 132 fundos no dia seguinte ao pronunciamento do ministro da Fazenda sobre o pacote fiscal
Pegando carona com Trump, Hong Kong quer se tornar a capital das criptomoedas com isenção de impostos para ativos digitais
Por enquanto, nem todo mundo vai se beneficiar a medida, que tem como alvos fundos de hedge, private equity e family offices
Stuhlberger compra bitcoin (BTC) na véspera da eleição de Trump enquanto o lendário fundo Verde segue zerado na bolsa brasileira
O Verde se antecipou ao retorno do republicano à Casa Branca e construiu uma “pequena posição comprada” na maior criptomoeda do mundo antes das eleições norte-americanas
Gestor da Itaú Asset aposta em rali de fim de ano do Ibovespa com alta de até 20% — e conta o que falta para a arrancada
Luiz Ribeiro é responsável pelas carteiras de duas famílias de fundos de ações da Itaú Asset e administra um patrimônio de mais de R$ 2,2 bilhões em ativos