Há exatamente um mês, o presidente russo teve sua prisão decretada pelo Tribunal Internacional Penal. Nesta segunda-feira (17), Vladimir foi detido e vai cumprir 25 anos de prisão… mas não estamos falando de Putin e sim do jornalista opositor e xará do chefe do Kremlin: Vladimir Kara-Murza.
O ativista foi condenado na Rússia por acusações ligadas às suas críticas à guerra na Ucrânia. Ele foi considerado culpado de traição, de espalhar informações consideradas falsas sobre o exército russo e de ser afiliado a uma organização indesejável.
Kara-Murza, o último de vários opositores de Putin a ser preso ou forçado a fugir da Rússia, negou as acusações.
Assim que recebeu a sentença de 25 anos, o opositor russo-britânico gritou: “A Rússia será livre!”.
Quem é Vladimir Kara-Murza, o opositor de Putin
Kara-Murza, de 41 anos, passou anos falando contra Putin e, junto com a guerra na Ucrânia, também criticou a repressão do governo russo aos dissidentes.
Ele foi preso há um ano em Moscou, inicialmente por desobedecer a um policial. Acusações mais sérias foram feitas a ele quando ele estava sob custódia.
Na semana passada, Kara-Murza afirmou em um comunicado que não se arrependia de nada do que tinha dito — pelo contrário: o jornalista se dizia orgulhoso de cada palavra.
"Eu sei que chegará o dia em que a escuridão que envolve nosso país se dissipará", afirmou Kara-Murza. "Nossa sociedade abrirá os olhos e estremecerá quando perceber que crimes foram cometidos em seu nome", acrescentou.
Além de criticar Putin, o jornalista pressionou os governos ocidentais a impor sanções à Rússia e aos russos individualmente por supostas violações dos direitos humanos.
Em uma entrevista à CNN transmitida horas antes de ser preso, Kara-Murza disse que a Rússia estava sendo governada por um “regime de assassinos”.
Ele também usou discursos nos EUA e em toda a Europa para acusar Moscou de bombardear alvos civis na Ucrânia.
"Eu só me culpo por uma coisa", disse Kara-Murza. "Não consegui convencer o suficiente de meus compatriotas e políticos em países democráticos do perigo que o atual regime do Kremlin representa para a Rússia e para o mundo", acrescentou.
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A sentença
Ao contrário do que pode acontecer nos tribunais russos, bastaram apenas alguns minutos para o juiz decidir sobre o caso de Kara-Murza.
O juiz disse que o opositor de Putin cumpriria pena de 25 anos em uma "colônia correcional de regime estrito" e que seria multado em 400 mil rublos (R$ 24,1 mil).
Segundo especialistas, a dura sentença é um sinal de que na Rússia de hoje as autoridades não estão apenas determinadas a silenciar os críticos, mas também a neutralizar qualquer coisa ou pessoa que acreditem representar uma ameaça ao sistema político.
A imprensa estrangeira não teve acesso ao tribunal e pouco jornalistas da mídia estatal russa tiveram acesso, junto com a mãe e o advogado do réu.
Em vez disso, repórteres e embaixadores internacionais se aglomeraram em uma sala separada para assistir aos trâmites em duas telas de TV.
Falando fora do tribunal após a sentença, Maria Eismon, advogada de Kara-Murza, disse que a sentença foi "aterrorizante", mas também uma "grande apreciação" do trabalho de seu cliente.
"Quando [o Sr. Kara-Murza] soube que eram 25 anos, ele disse: minha auto-estima até aumentou, percebi que estava fazendo tudo certo!", afirmou ela.
Uma chuva de críticas contra Putin
A sentença de Kara-Murza foi amplamente condenada mundo afora, com o governo britânico convocando seu embaixador russo e dizendo que analisaria medidas para responsabilizar os envolvidos na detenção e maus-tratos do jornalista.
O Reino Unido já havia sancionado o juiz que presidiu o julgamento por envolvimento anterior em violações de direitos humanos.
"A falta de compromisso da Rússia em proteger os direitos humanos fundamentais, incluindo a liberdade de expressão, é alarmante", disse o secretário de Relações Exteriores britânico, James Cleverly, em comunicado.
A Organização das Nações Unidas (ONU), a Alemanha e o Departamento de Estado dos EUA também condenaram o veredicto, com o último descrevendo Kara-Murza como "mais um alvo da crescente campanha de repressão do governo russo".
O líder da oposição russa, Alexei Navalny, que também está preso, classificou a sentença como "vingança do Kremlin".
Já o grupo sem fins lucrativos Human Rights Watch descreveu o veredicto como uma "farsa da justiça" e pediu à Rússia que "revogue imediatamente a decusão e o liberte incondicionalmente".
*Com informações da BBC, da CNN Internacional e da CNBC