A crise na Americanas (AMER3) pode respingar na AmBev (ABEV3)? O que pensa o Credit Suisse
A AmBev não escapou da reação negativa do mercado — os três homens por trás da 3G Capital detêm indiretamente uma participação na empresa por meio da Anheuser-Busch Inbev, de cerca de 20%
O anúncio da Americanas (AMER3) sobre as inconsistências contábeis bilionárias abriu a caixa de Pandora: incertezas tomaram conta do mercado, ações despencaram e brigas judiciais se intensificaram — até que, na quinta-feira (19) passada, a varejista sucumbiu ao pedido pedido de recuperação judicial.
Nem mesmo a AmBev (ABEV3) escapou da reação negativa do rombo, afinal, os três homens por trás da 3G Capital — Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira — detêm indiretamente uma participação na empresa por meio da Anheuser-Busch Inbev, de cerca de 20%.
Desde que o buraco de R$ 20 bilhões foi revelado, as ações ABEV3 estão operando sob pressão: deixaram o patamar dos R$ 14 que vinham sendo negociadas desde o final do ano passado e continuam a descer a ladeira — ainda que em ritmo lento.
Por volta de 17h desta segunda-feira (23), os papéis da Ambev operavam em queda de 1,04%, cotadas a R$ 13,39.
A preocupação com o caso Americanas se justifica?
Quem responde é o Credit Suisse: “embora o caso da Americanas possa ser um problema para as ações, acreditamos que as preocupações são injustificadas”.
O banco cita dois fatores principais para afastar esses temores:
- A AmBev não tem exposição a operações de financiamento de fornecedores;
- Ao contrário da Americanas, a AmBev é um forte gerador de fluxo de caixa livre, com sólida dinâmica de capital de giro.
O Credit ressalta ainda que a AmBev vem passando por uma transformação cultural significativa após as mudanças na gestão em 2020, saindo do chamado '3G-way' em direção a um ecossistema triplo saudável e sustentável: consumidor-cliente- fornecedor.
O banco tem recomendação de compra para as ações ABEV3, com preço-alvo de R$ 18 — o que representa uma potencial de valorização de 33% com relação ao fechamento de sexta-feira (20).
AmBev: caixa líquido x despesas financeiras
A maior parte da dívida bruta da AmBev está relacionada à contabilidade de arrendamento IFRS-16 (cerca de 90% no terceiro trimestre de 2022), enquanto os empréstimos bancários representam a parte restante.
As IFRS (International Financial Reporting Standards) são as Normas Internacionais de Contabilidade. A IFRS-16 fala sobre contratos de arrendamento — ou seja, locações financeiras em geral. No inglês, o arrendamento mercantil é tratado como leasing, termo também utilizado no Brasil.
Em ordem de relevância, a composição das despesas financeiras da AmBev é a seguinte:
- Valor justo das contas a pagar de acordo com os padrões IFRS-13;
- Provisões de opções de venda na República Dominicana;
- Provisionamento de incentivos fiscais e arrendamentos;
- Juros sobre dívidas.
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3G pode exigir dividendos extraordinários para financiar a Americanas?
Alguns investidores têm questionado se os homens da 3G poderiam exigir dividendos extraordinários da AmBev via Anheuser-Busch Inbev para financiar uma possível injeção de capital na Americanas.
Para o Credit Suisse, esse cenário é altamente improvável, uma vez que o trio 3G está vinculado a um acordo de acionistas (“Stichting”) válido até 2034 e, portanto, sujeito a algumas restrições.
Consequentemente, o Stichting restringe os acionistas a transferir suas participações fora dos cessionários ou afiliados permitidos.
Para fins de esclarecimento, a 3G Capital não é acionista da Anheuser-Busch Inbev, mas os três fundadores originais são por meio da entidade Stichting, com uma participação de 33,47%.
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