A dinâmica do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2022 explica pelo menos em parte por que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o Banco Central (BC) para a briga nos primeiros meses de seu governo.
A economia brasileira cresceu 2,9% no acumulado de 2022, o último ano de Jair Bolsonaro na presidência. Entretanto, a maior parte do crescimento deu-se no primeiro semestre.
No último trimestre do ano passado, o PIB recuou 0,2% em relação ao período anterior, dando continuidade a uma desaceleração que já vinha sendo antecipada pelos economistas.
Os dados consolidados da economia brasileira em 2022 foram divulgados nesta quinta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Alta dos juros pressiona a economia
Essa desaceleração deriva em grande do forte aperto monetário promovido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC entre o primeiro trimestre de 2021 e o segundo semestre de 2022.
Num intervalo inferior a um ano e meio, a taxa básica de juro passou de 2% para 13,75% ao ano para debelar a inflação que chegou a superar os dois dígitos ao longo de 2022.
“Essa é uma tendência global”, afirma Rafaella Vitória, economista-chefe do Banco Inter.
A política monetária mais restritiva ajuda, inclusive, a explicar por que a expectativa para 2023 é de que a economia continue a desacelerar.
A estimativa atual do Banco Inter para o crescimento do PIB em 2023 é de uma alta de 0,8%, puxada por uma recuperação do setor agropecuário, que encolheu 1,7% em 2022. Segundo Rafaella, o resultado de 2022 não é suficiente para uma alteração dessa projeção.
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O que puxou o PIB em 2022
No ano passado, a economia brasileira foi puxada pelo setor de serviços, com expansão de 4,2% na comparação com 2021.
Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest, observa que o choque da pandemia foi seguido de uma reorganização do consumo das famílias, impulsionado mais pelos serviços do que por bens.
De acordo com ela, as projeções da AZ Quest para a economia em 2023 devem ser revisadas para cima, em grande parte graças a uma expectativa de forte recuperação do setor agropecuário ao longo do ano.
De qualquer modo, o resultado do PIB de 2022 reflete em grande parte o cenário de juros elevados e aperto do crédito que desacelerou a economia no segundo semestre. “E essa deve ser a fotografia de 2023”, disse Carlos Lopes, economista do BV.
Diante do cenário, Rafaella Vitória critica a política fiscal expansionista do governo Lula. Segundo ela, a postura atual não abre espaço para que o BC reduza os juros e a inflação caia.
“A expansão fiscal neste momento de inflação elevada estimula a alta dos preços sem estimular a atividade econômica”, afirma.
Lula, Campos Neto e o PIB
O Banco Central pode ter feito a parte dele para combater a inflação subindo os juros. Mas Lula não parece muito disposto a pagar o preço da disparada dos preços na gestão do antecessor, que vai esfriar o PIB logo no primeiro ano do governo petista.
Diante da pressão sobre a economia com a Selic nos atuais 13,75% ao ano, Lula partiu para o ataque contra o BC e, em particular, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto.
O governo não gostou nada da última decisão do Copom, que não só manteve os juros como sinalizou que as taxas ficarão nos patamares atuais por um período mais longo para conter a inflação. O IPCA, vale lembrar, segue bem acima da meta de 3,25% para este ano.
Para agentes do mercado, porém, a disputa pública só ajudou a colocar mais fogueira sobre os juros. Tanto que, nos últimos dias, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conseguiu costurar um “armistício” entre o governo e o BC, que possui autonomia garantida em lei desde 2021.