Volatilidade? Não, obrigado! Existe outro indicador de risco melhor
Considerada uma das principais medidas de risco adotadas pelo mercado, a volatilidade tem dois problemas práticos graves

A volatilidade é, de longe, a principal medida de risco usada no mercado financeiro.
A definição mais formal do indicador seria: a dispersão das variações diárias de um ativo em torno de sua média.
Para simplificar, eu prefiro dizer que a medida representa o quanto um ativo “balançou” ao longo do tempo.
Uma volatilidade alta significa que o ativo subiu e caiu bastante e, possivelmente, tornou uma ou duas noites de sono do investidor um pouco mais desconfortáveis – ao menos daqueles desavisados, que não sabiam onde estavam colocando o seu dinheiro.
Apesar de ser um indicador muito utilizado pelo mercado – talvez pela facilidade de seu cálculo, ou somente por sua tradicionalidade –, em nossas análises internas de fundos de investimento optamos por outra medida de risco que consideramos muito mais justa: o Ulcer Index.
Antes de apresentá-lo, porém, te mostrarei na prática os dois principais problemas da volatilidade.
Leia Também
Os fantasmas de Nelson Rodrigues: Ibovespa começa o semestre tentando sustentar posto de melhor investimento do ano
Rumo a 2026 com a máquina enguiçada e o cofre furado
- [Guia gratuito] Veja onde investir no 2º semestre, segundo os especialistas consultados pelo Seu Dinheiro. Baixe o material completo aqui.
O fundo ‘balançou’ muito... mas para qual direção?
A primeira crítica à volatilidade é muito simples: não há distinção entre retornos positivos ou negativos.
O gráfico abaixo representa a simulação de dois fundos fictícios em um determinado período:
Pela imagem, você diria que ambos os fundos possuem o mesmo risco? Eu com certeza não.
Por incrível que pareça, ambos possuem a mesma volatilidade, de 4,7%. Isso acontece por possuírem variações iguais, mas com sinais invertidos, o que não é capturado no resultado final do indicador.
É claro que se trata apenas de uma simulação, mas o uso da volatilidade pode distorcer a percepção de risco entre fundos, quando comparados exclusivamente através da análise dessa medida.
Os fins justificam os meios?
Veja o gráfico abaixo, em que cada linha representa uma série de retornos diferentes:
Olhando apenas a imagem, qual deles você escolheria para investir? Note que as três, no final, chegam ao mesmo resultado.
Aqueles com perfil de risco mais conservador talvez escolheriam a linha azul, por ser visualmente mais estável.
Outros, com mais apetite a risco, não suportariam investir em um ativo que ficou tanto tempo “parado” (como o da linha azul), optando então pela linha preta.
Eu não sei sua resposta exata, mas uma coisa eu tenho certeza: você não escolheu a linha vermelha, que acumulou uma perda superior a 97% na maior parte de seu histórico.
Que volatilidade é essa?
O mais impressionante é: as três séries são os retornos diários do índice Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira, com algumas modificações.
A linha vermelha representa o índice com a ordem dos retornos diários reorganizados da mais negativa para a mais positiva. Por isso, a linha inicia com quedas bruscas e se recupera apenas no final.
A linha azul, por outro lado, é uma otimização dos retornos diários do índice para que ele sempre tenha o menor período de perda possível. De um modo geral, sempre há retornos negativos seguidos por outros positivos.
A linha preta, por fim, é o Ibovespa puro, sem alterações.
LEIA TAMBÉM: Vale a pena investir sob as orientações de um prêmio Nobel?
O caminho importa
Como as variações diárias são iguais, apenas com a ordem modificada, a volatilidade dos três, no fim, é a mesma.
Assim, caso você tivesse apenas a informação da volatilidade e do retorno de cada um – que são iguais –, poderia acabar colocando o seu dinheiro em uma estratégia inadequada para o seu perfil de risco – e, convenhamos, a maioria já teria resgatado o investimento na linha vermelha bem antes de sua recuperação.
Podemos pensar em uma série de motivos para não querer que um fundo possua um período de perda (drawdown) muito relevante – o valor para que uma queda seja considerada “grande” de fato ainda é uma incógnita, mas já fizemos estudos que sugerem algo superior a 40%.
Um gestor amador pode, por exemplo, se arriscar demais em posições controversas para tentar se recuperar de uma perda profunda. Nesse caso, os cotistas também seriam afetados, possivelmente migrando seus recursos para outras alternativas de investimento e prejudicando a saúde financeira da gestora.
As consequências são muitas, mas a principal mensagem aqui é: o caminho importa.
VEJA TAMBÉM — Pensão alimentícia: valor estabelecido é injusto! O que preciso para provar isso na justiça? Veja em A Dinheirista
Ulcer Index: corrigindo os problemas da volatilidade
Consideramos o Ulcer Index como uma medida mais apropriada para a análise de fundos justamente por endereçar os dois problemas ilustrados para a volatilidade.
Sua função matemática é a seguinte:
Repare que a medida leva em consideração apenas os períodos em que o fundo esteve com um desempenho negativo, retirando o uso da “volatilidade boa” – em que o fundo teve retornos positivos – do cálculo de risco.
Além disso, é feito ainda um ajuste para considerar apenas as perdas abaixo do benchmark (índice de referência) do fundo. Afinal, um fundo que caiu menos que seu benchmark em um determinado período deveria receber algum reconhecimento, não é mesmo?
Outro fator interessante é que as perdas são elevadas ao quadrado. Com isso, o cálculo penaliza os fundos que possuem períodos de queda mais intensos – importante ressaltar que, quanto maior o Ulcer Index, mais arriscado é o fundo.
No exemplo anterior das versões do índice Ibovespa, o Ulcer Index capturou com precisão o risco de cada linha, como visto abaixo:
A volatilidade é muito utilizada principalmente por fazer parte da composição do Índice Sharpe, o indicador de eficiência (relação entre retorno e risco) mais utilizado pelo mercado.
Nossas críticas à volatilidade, consequentemente, afetam o Sharpe, que também possui um substituto melhor dentro de nossas análises. Talvez eu o traga aqui em uma próxima ocasião.
Um grande abraço,
Pedro Claudino
Atenção aos sinais: Bolsas internacionais sobem com notícia de acordo EUA-China; Ibovespa acompanha desemprego e PCE
Ibovespa tenta manter o bom momento enquanto governo busca meio de contornar derrubada do aumento do IOF
Siga na bolsa mesmo com a Selic em 15%: os sinais dizem que chegou a hora de comprar ações
A elevação do juro no Brasil não significa que chegou a hora de abandonar a renda variável de vez e mergulhar na super renda fixa brasileira — e eu te explico os motivos
Trocando as lentes: Ibovespa repercute derrubada de ajuste do IOF pelo Congresso, IPCA-15 de junho e PIB final dos EUA
Os investidores também monitoram entrevista coletiva de Galípolo após divulgação de Relatório de Política Monetária
Rodolfo Amstalden: Não existem níveis seguros para a oferta de segurança
Em tese, o forward guidance é tanto mais necessário quanto menos crível for a atitude da autoridade monetária. Se o seu cônjuge precisa prometer que vai voltar cedo toda vez que sai sozinho de casa, provavelmente há um ou mais motivos para isso.
É melhor ter um plano: Ibovespa busca manter tom positivo em dia de agenda fraca e Powell no Senado dos EUA
Bolsas internacionais seguem no azul, ainda repercutindo a trégua na guerra entre Israel e o Irã
Um longo caminho: Ibovespa monitora cessar-fogo enquanto investidores repercutem ata do Copom e testemunho de Powell
Trégua anunciada por Donald Trump impulsiona ativos de risco nos mercados internacionais e pode ajudar o Ibovespa
Um frágil cessar-fogo antes do tiro no pé que o Irã não vai querer dar
Cessar-fogo em guerra contra o Irã traz alívio, mas não resolve impasse estrutural. Trégua será duradoura ou apenas mais uma pausa antes do próximo ato?
Felipe Miranda: Precisamos (re)conversar sobre Méliuz (CASH3)
Depois de ter queimado a largada quase literalmente, Méliuz pode vir a ser uma opção, sobretudo àqueles interessados em uma alternativa para se expor a criptomoedas
Nem todo mundo em pânico: Ibovespa busca recuperação em meio a reação morna dos investidores a ataque dos EUA ao Irã
Por ordem de Trump, EUA bombardearam instalações nucleares do Irã na passagem do sábado para o domingo
É tempo de festa junina para os FIIs
Alguns elementos clássicos das festas juninas se encaixam perfeitamente na dinâmica dos FIIs, com paralelos divertidos (e úteis) entre as brincadeiras e a realidade do mercado
Tambores da guerra: Ibovespa volta do feriado repercutindo alta dos juros e temores de que Trump ordene ataques ao Irã
Enquanto Trump avalia a possibilidade de envolver diretamente os EUA na guerra, investidores reagem à alta da taxa de juros a 15% ao ano no Brasil
Conflito entre Israel e Irã abre oportunidade para mais dividendos da Petrobras (PETR4) — e ainda dá tempo de pegar carona nos ganhos
É claro que a alta do petróleo é positiva para a Petrobras, afinal isso implica em aumento das receitas. Mas há um outro detalhe ainda mais importante nesse movimento recente.
Não foi por falta de aviso: Copom encontra um sótão para subir os juros, mas repercussão no Ibovespa fica para amanhã
Investidores terão um dia inteiro para digerir as decisões de juros da Super Quarta devido a feriados que mantêm as bolsas fechadas no Brasil e nos Estados Unidos
Rodolfo Amstalden: São tudo pequenas coisas de 25 bps, e tudo deve passar
Vimos um build up da Selic terminal para 15,00%, de modo que a aposta em manutenção na reunião de hoje virou zebra (!). E aí, qual é a Selic de equilíbrio para o contexto atual? E qual deveria ser?
Olhando para cima: Ibovespa busca recuperação, mas Trump e Super Quarta limitam o fôlego
Enquanto Copom e Fed preparam nova decisão de juros, Trump cogita envolver os EUA diretamente na guerra
Do alçapão ao sótão: Ibovespa repercute andamento da guerra aérea entre Israel e Irã e disputa sobre o IOF
Um dia depois de subir 1,49%, Ibovespa se prepara para queimar a gordura depois de Trump abandonar antecipadamente o G-7
Acima do teto tem um sótão? Copom chega para mais uma Super Quarta mirando fim do ciclo de alta dos juros
Maioria dos participantes do mercado financeiro espera uma alta residual da taxa de juros pelo Copom na quarta-feira, mas início de cortes pode vir antes do que se imagina
Felipe Miranda: O fim do Dollar Smile?
Agora o ouro, e não mais o dólar ou os Treasuries, representa o ativo livre de risco no imaginário das pessoas
17 X 0 na bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje, com disputa entre Israel e Irã no radar
Desdobramentos do conflito que começou na sexta-feira (13) segue ditando o humor dos mercados, em semana de Super Quarta
Sexta-feira, 13: Israel ataca Irã e, no Brasil, mercado digere o pacote do governo federal
Mercados globais operam em queda, com ouro e petróleo em alta com aumento da aversão ao risco