Vai ter rali de fim de ano na bolsa? Juros altos nos EUA pressionam, mas uma janela pode estar prestes a se abrir
Tradicionalmente, um ‘rali de fim de ano’ é esperado na bolsa brasileira — e ainda há espaço para que ele aconteça, segundo dados históricos
Ingressamos no quarto trimestre de 2023 com uma lição custosa sobre a importância das taxas de juros nos Estados Unidos, amplamente consideradas como o preço mais importante do cenário financeiro global.
Essa percepção não se restringe somente às taxas de curto prazo, influenciadas pelas decisões do Federal Reserve em suas reuniões de política monetária, mas também se estende às taxas de longo prazo, que vêm sofrendo pressões desde agosto.
Um destaque notável é a taxa de juros de 10 anos, que atingiu a marca de 5%, um nível que não era visto desde 2007, resultando na valorização do dólar e no aumento da pressão sobre ativos de risco.
Consequentemente, o cenário positivo que se delineava para as ações brasileiras entre março e julho foi abruptamente fechado.
Já discutimos em diversas ocasiões os motivos que impulsionam as taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos, prejudicando a materialização do tão esperado "rali de fim de ano", um fenômeno historicamente observado tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
Recentemente, em uma pesquisa aqui na Empiricus, conseguimos analisar esse movimento ao longo dos anos.
De fato, o famoso "rali de final de ano" possui um respaldo histórico sólido desde 1999, quando o sistema de metas de inflação foi adotado no Brasil, marcando uma fase de modernização significativa do mercado financeiro do país.
Leia Também
Rali de fim de ano ocorre em 66,7% das vezes
No período compreendido entre 1999 e 2022, esse rali ocorreu em 66,7% das vezes (ou seja, em 16 dos 24 anos analisados). Durante esses últimos três meses do ano, a média de retorno do principal índice de ações do Brasil foi de 9,41%, com uma mediana de 5,80%.
Vale ressaltar que dezembro se destacou como o melhor mês, apresentando uma média de retorno de quase 4%, com o máximo de retorno atingindo expressivos 24,04%.
Isso é significativo, considerando que o mínimo registrado foi uma queda de 24,20%, durante a crise de 2008.
Portanto, a tradição histórica demonstra a possibilidade de um desempenho sólido durante o último trimestre do ano, apesar das atuais condições adversas do mercado.
Fonte: Empiricus.
Rali de fim de ano é fenômeno de consistência histórica
Além disso, quando observamos um período mais recente, abrangendo os últimos cinco anos, notamos que houve retornos positivos em 60% das vezes, com uma média de crescimento de 8,21% e uma mediana de 10,30%.
Durante o último ciclo de flexibilização da política monetária, que ocorreu de 2016 a 2019, excluindo a queda registrada em 2021, o retorno médio nos últimos três meses do ano foi de 6,77%, com todos os anos apresentando ganhos. Notavelmente, dezembro emergiu como o mês mais propício, exibindo uma média de retorno de quase 4%.
Também é possível visualizar esse mesmo movimento nos últimos 22 anos por meio do gráfico abaixo. Isso reforça a consistência histórica desse fenômeno e demonstra a tendência de um desempenho sólido no último trimestre do ano, mesmo considerando as circunstâncias de mercado atuais.
Fonte: Equity Clock.
É relevante destacar o notável desempenho do índice de Small Caps, que nos últimos cinco anos registrou uma média de retorno positivo de 9,05% durante o último trimestre, com uma mediana de aumento de 20,46%.
Durante o último ciclo de flexibilização que ocorreu entre 2016 e 2019, os resultados foram ainda mais impressionantes, com uma média de alta de 10,48% e uma mediana de 11,67%. Nesse período, o ganho máximo para o índice de Small Caps da B3 atingiu 21% no último trimestre.
Analisando, portanto, o histórico do Ibovespa, podemos identificar um padrão consistente de desempenho positivo nos últimos meses do ano. Portanto, o "rali de final de ano" encontra respaldo em dados consistentes desde a implementação do sistema de metas de inflação em 1999.
Como a alta dos juros nos EUA está interferindo
Contudo, lamentavelmente, até o momento, não vimos a materialização desse padrão em outubro, faltando apenas alguns dias para o término deste primeiro mês do último trimestre.
Isso pode ser atribuído, em grande parte, ao fator que mencionei no início deste texto: o acentuado aumento das taxas de juros nos Estados Unidos.
Esse movimento foi influenciado pela percepção de deterioração fiscal nos EUA e pela falta de demanda por títulos do Tesouro.
O Federal Reserve não atua mais como um grande comprador, mas sim como vendedor.
Outros atores globais, como China, Arábia Saudita, Japão e até mesmo o Brasil, entre outros, também deixaram de adquirir títulos, devido ao temor de uma dollar weaponization, uma estratégia geopolítica cada vez mais evidente após o que ocorreu com a Rússia em 2022.
Leia também
- Por que a meta fiscal de 2024 preocupa tanto mercado — e o que precisaria acontecer para destravar o rali de fim de ano no Ibovespa
- 5 investimentos que estão fora do radar agora, mas nos quais é melhor ficarmos de olho nos próximos cinco anos
- Guerra na Terra Santa: como o conflito entre Israel e o Hamas influencia Campos Neto na busca pela meta da inflação
Treasurys estão em níveis atraentes
O mercado também precifica a possibilidade de que a economia dos EUA permaneça aquecida por um período mais prolongado, caracterizando um cenário de "no landing".
No entanto, à medida que as taxas de juros se aproximam dos 5%, chamam a atenção dos investidores. A transição de 3% para 5% difere consideravelmente de uma transição de 5% para 7%. Nesse patamar, cresce o risco de eventos inesperados.
Pessoalmente, nunca apoiei a tese do "no landing", pois ela contraria os princípios fundamentais da teoria econômica.
Embora o mundo possa ter evoluído, alguns princípios ainda permanecem válidos. Talvez estejamos vivendo em um período no qual a política monetária leve mais tempo para surtir efeito.
No entanto, os juros mais elevados atualmente, mesmo que devam superar os níveis insustentáveis a longo prazo observados após a crise de 2008, não devem permanecer nesses patamares para sempre. Pelo menos não nos níveis atuais.
Não teremos os juros quase zerados novamente, mas também não viveremos com a situação de agora.
Ciclo de crescimento dos EUA pode estar próximo do pico
Os próximos dias serão cruciais nesse contexto, pois teremos dados importantes, como o PIB dos Estados Unidos, na quinta-feira, e o índice PCE, a métrica de inflação preferida pelo Federal Reserve, na sexta-feira.
Embora estejamos tratando dos resultados do terceiro trimestre, que foram notavelmente fortes, é possível que esse período represente o pico deste ciclo de crescimento nos Estados Unidos.
Se esse for o caso, poderíamos começar a observar sinais mais evidentes de normalização e consequentemente desaceleração já a partir de outubro, com isso se desenvolvendo em novembro e dezembro.
Esse cenário abriria caminho para taxas de juros mais baixas, aliviando a pressão sobre os mercados.
Esta é a oportunidade que temos para que o tão mencionado "rali de final de ano", que descrevi anteriormente, se torne uma realidade.
Mas e os títulos?
Enquanto isso, além da atenção às ações, as taxas de juros nominais dos títulos soberanos de 10 anos dos EUA a 5% ao ano chamam a atenção, o que é positivo para aqueles que estão planejando investir a longo prazo.
Os TIPS (títulos do Tesouro dos EUA indexados à inflação) pagando 2,4% ou 2,5% de juros reais me parecem particularmente atrativos.
No Brasil, uma taxa de juros real a longo prazo de 6% também parece muito interessante.
Com efeito, como muito bem lembrou Tony Volpon, historicamente, investir em NTN-B com um rendimento de 6% de juros reais no Brasil tem sido lucrativo.
No entanto, é fundamental realizar essa estratégia com uma alocação adequada de acordo com o seu perfil de risco e garantir a diversificação da sua carteira, incluindo as proteções necessárias.
- Renda diária na sua conta com investimentos? Matheus Spiess, Felipe Miranda e outros “tubarões” da Empiricus Research acabam de lançar um treinamento completo para mostrar como você pode fazer o seu dinheiro trabalhar por você. Faça sua pré-inscrição aqui.
Ibovespa imparável: até onde vai o rali da bolsa brasileira?
No acumulado de 2025, o índice avança quase 30% em moeda local — e cerca de 50% em dólar. Esse desempenho é sustentado por três pilares centrais
Felipe Miranda: Como era verde meu vale do silício
Na semana passada, o mitológico investidor Howard Marks escreveu um de seus icônicos memorandos com o título “Baratas na mina de carvão” — uma referência ao alerta recente de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, sobre o mercado de crédito
Banco do Brasil (BBAS3) precisará provar que superou crise do agro, mercado está otimista com fim do shutdown nos EUA no horizonte, e o que mais você precisa saber sobre a bolsa hoje
Analistas acreditam que o BB não conseguirá retomar a rentabilidade do passado, e que ROE de 20% ficou para trás; ata do Copom e dados de inflação também mexem com os mercados
Promovido, e agora? Por que ser bom no que faz não te prepara para liderar pessoas
Por que seguimos promovendo técnicos brilhantes e esperando que, por mágica, eles virem líderes preparados? Liderar é um ofício — e como todo ofício, exige aprendizado, preparo e prática
Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje
Depois de rebranding, Axia Energia anuncia R$ 4 bilhões em dividendos; veja o que mais mexe com a bolsa, que bate recorde depois de recorde
Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis
Mesmo com os gastos de rebranding, a empresa entregou bons resultados no 3T25 — e há espaço tanto para valorização das ações como para mais uma bolada em proventos até o fim do ano
FII escondido no seu dia a dia é campeão entre os mais recomendados e pode pagar dividendos; mercado também reflete decisão do Copom e aprovação da isenção de IR
BTGLG11 é campeão no ranking de fundos imobiliários mais recomendados, Copom manteve Selic em 15% ao ano, e Senado aprovou isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil
É bicampeão! FII BTLG11 volta ao topo do ranking dos fundos mais recomendados em novembro — e tem dividendos extraordinários no radar
Pelo segundo mês consecutivo, o BTLG11 garantiu a vitória ao levar quatro recomendações das dez corretoras, casas de análise e bancos consultados pelo Seu Dinheiro
Economista revela o que espera para a Selic em 2025, e ações ligadas à inteligência artificial sofrem lá fora; veja o que mais mexe com o mercado hoje
Ibovespa renovou recorde antes de decisão do Copom, que deve manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, e economista da Galapagos acredita que há espaço para cortes em dezembro; investidores acompanham ações de empresas de tecnologia e temporada de balanços
O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje
O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro
Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação
Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.
Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários
Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos
Petrobras (PETR4) pode surpreender com até R$ 10 bilhões em dividendos, Vale divulgou resultados, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A petroleira divulgou bons números de produção do 3° trimestre, e há espaço para dividendos bilionários; a Vale também divulgou lucro acima do projetado, e mercado ainda digere encontro de Trump e Xi
Dividendos na casa de R$ 10 bilhões? Mesmo depois de uma ótima prévia, a Petrobras (PETR4) pode surpreender o mercado
A visão positiva não vem apenas da prévia do terceiro trimestre — na verdade, o mercado pode estar subestimando o potencial de produção da companhia nos próximos anos, e olha que eu nem estou considerando a Margem Equatorial
Vale puxa ferro, Trump se reúne com Xi, e bolsa bateu recordes: veja o que esperar do mercado hoje
A mineradora divulga seus resultados hoje depois do fechamento do mercado; analistas também digerem encontro entre os presidentes dos EUA e da China, fala do presidente do Fed sobre juros e recordes na bolsa brasileira
Rodolfo Amstalden: O silêncio entre as notas
Vácuos acumulados funcionaram de maneira exemplar para apaziguar o ambiente doméstico, reforçando o contexto para um ciclo confiável de queda de juros a partir de 2026
A corrida para investir em ouro, o resultado surpreendente do Santander, e o que mais mexe com os mercados hoje
Especialistas avaliam os investimentos em ouro depois do apetite dos bancos centrais por aumentar suas reservas no metal, e resultado do Santander Brasil veio acima das expectativas; veja o que mais vai afetar a bolsa hoje
O que a motosserra de Milei significa para a América Latina, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A Argentina surpreendeu nesta semana ao dar vitória ao partido do presidente Milei nas eleições legislativas; resultado pode ser sinal de uma mudança política em rumo na América Latina, mais liberal e pró-mercado
A maré liberal avança: Milei consolida poder e reacende o espírito pró-mercado na América do Sul
Mais do que um evento isolado, o avanço de Milei se insere em um movimento mais amplo de realinhamento político na região