Não é a meta fiscal, mas o plano de voo — entenda o que vem abalando a confiança dos investidores no governo
A volatilidade dos ativos financeiros acompanha as preocupações dos participantes do mercado com a trajetória do déficit fiscal

Podemos afirmar que os ativos locais acompanharam, em grande parte, a tendência global entre agosto e outubro de 2023.
O aumento nas taxas de juros de mercado nos Estados Unidos, especialmente nos títulos de 10 anos, resultou em uma correção nos ativos de risco em escala global e na valorização do dólar.
No entanto, desde a semana passada, esse cenário começou a ser revertido, principalmente após a reunião do Federal Reserve e a divulgação do relatório do mercado de trabalho nos EUA, indicando uma pressão reduzida na curva de juros.
Com a diminuição da pressão sobre a taxa de risco global, há a possibilidade de um retorno ao otimismo em relação aos ativos locais, de forma semelhante ao que ocorreu entre março e julho deste ano.
Meta fiscal é motivo de disputa dentro do governo
Contudo, a incerteza reside na questão fiscal do Brasil, que tem sido um ponto de fragilidade.
À medida que aguardamos a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro e alguns resultados corporativos relevantes, a atenção permanece voltada para as questões em Brasília.
Leia Também
Em relação à meta fiscal, o mercado está acompanhando as últimas tentativas de Fernando Haddad para convencer Lula a manter a meta fiscal zero, pelo menos até março.
Nesse momento, o governo avaliará se há receita suficiente para cobrir as despesas projetadas para o próximo ano.
Caso seja necessário efetuar cortes, algo que não agrada o presidente, poderia ser decidido um déficit de até 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
No entanto, vale ressaltar que, no fim das contas, a meta em si tem uma importância limitada, uma vez que o mercado nunca acreditou nela.
A questão não é a meta fiscal
Não houve, de fato, um indivíduo sério que acreditasse na promessa do governo de zerar o déficit já no próximo ano.
O foco não está apenas em quando esse déficit será zerado, mas, sobretudo, na trajetória para alcançar esse objetivo.
Há um tempo, o mercado já antecipava um déficit na ordem de 0,8% do PIB para o próximo ano, mesmo com a manutenção, por parte do Ministério da Economia, da meta de 0%.
Essa perspectiva, assim como o orçamento proposto para o próximo ano, são vistas com uma dose considerável de ceticismo, quase como peças de ficção.
Fonte: Banco Central do Brasil
Observe, em primeiro lugar, que o mercado já estava antecipando um déficit fiscal zero apenas para o período posterior a 2026, provavelmente entre 2028 e 2029.
Essa perspectiva não era motivo de grande preocupação. No entanto, a ausência de um plano fiscal crível afeta negativamente a percepção dos investidores.
Para complicar ainda mais a situação, o presidente Lula recentemente declarou publicamente a inviabilidade de cumprir a meta fiscal.
Teoricamente, isso não deveria surpreender ninguém, mas na prática, a declaração teve um impacto negativo.
ONDE INVESTIR EM NOVEMBRO: AÇÕES, DIVIDENDOS, FIIs, BDRs, CRIPTOMOEDAS - VEJA INDICAÇÕES GRATUITAS
Esforços políticos em direções divergentes
Fernando Haddad se reuniu com o presidente na noite de sexta-feira passada, logo após Lula reforçar sua oposição a qualquer tipo de contingenciamento e enviar uma mensagem firme à equipe econômica.
Na verdade, o governo parece estar dividido quanto à estratégia para a alteração da meta fiscal no Congresso.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, apoia o envio de uma mensagem modificativa da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ao Congresso, enquanto Padilha prefere uma emenda à LDO.
Analistas políticos sugerem que, se Haddad perder a disputa pela manutenção da meta e Lula optar por já alterá-la, a opção provável será a emenda à LDO, que deverá ser apresentada na próxima semana, possivelmente no dia 16, véspera do prazo final para a alteração do texto (um dia antes do prazo para o Congresso dos EUA decidir sobre a possibilidade de um shutdown, inclusive).
Leia também
- 5 investimentos que estão fora do radar agora, mas nos quais é melhor ficarmos de olho nos próximos cinco anos
- Vai ter rali de fim de ano na bolsa? Juros altos nos EUA pressionam, mas uma janela pode estar prestes a se abrir
A leitura do relatório preliminar da LDO está agendada para terça-feira e o parecer final deve ser divulgado por volta do dia 20.
O contingenciamento é uma questão crucial, uma vez que o governo optou por buscar um ajuste fiscal focado principalmente no aumento da receita, o que tem suas limitações.
É evidente que o governo necessitaria de uma receita significativamente maior do que a atualmente disponível, principalmente porque o Congresso não parece muito disposto a aumentar a arrecadação apenas por solicitação do governo.
Conforme demonstrado abaixo, para cumprir a meta fiscal do próximo ano, ainda seriam necessários 1,4% do PIB em receitas, uma meta que parece difícil de alcançar.
Fonte: Banco Central do Brasil
O xis da questão
Todo o exposto visa transmitir uma ideia fundamental: a questão central não reside na própria meta em si, mas sim no plano de voo do governo.
A possibilidade de um déficit no próximo ano não é o ponto crítico, desde que o governo apresente uma visão clara sobre como pretende reduzi-lo nos anos subsequentes, mesmo que isso implique em medidas de contenção de gastos, algo que o presidente Lula não parece inclinado a considerar neste momento.
Infelizmente, a situação fiscal no Brasil pode tirar o ânimo de um possível rali de fim de ano, que se torna viável agora devido à menor pressão dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Vai perder a chance?
O governo brasileiro está perdendo a disputa pela confiança no que tange à política fiscal. Isso se reflete no fato de que as taxas das NTN-Bs voltaram a atingir 5,80% ao ano em termos reais.
Se o Brasil persistir nesse caminho, corre o risco de perder uma oportunidade extraordinária oferecida pelo cenário internacional.
Nos próximos meses, mais importante do que o resultado das contas públicas, cuja meta para o próximo ano está sob pressão política, é a necessidade de preservar o arcabouço fiscal do país. O fundamental é seguir o que foi institucionalmente aprovado.
Embora seja improvável que o governo cumpra a promessa de eliminar o déficit das contas primárias em 2024, conforme estabelecido no orçamento, contanto que se estabeleça um plano crível para os próximos anos, é possível ao menos evitar uma percepção de descontrole fiscal doméstico no curto prazo.
- Quer saber onde investir em novembro no meio deste turbilhão de incertezas? Os analistas da Empiricus Research liberaram 27 recomendações nas mais diversas classes de ativos para você poder proteger o seu patrimônio e buscar lucros. Baixe os relatórios GRATUITAMENTE clicando aqui.
CNH sem autoescola, CDBs do Banco Master e loteria +Milionária: confira as mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matérias sobre o fechamento de capital da Gol e a opinião do ex-BC Arminio Fraga sobre os investimentos isentos de IR também integram a lista das mais lidas
Como nasceu a ideia de R$ 60 milhões que mudou a história do Seu Dinheiro — e quais as próximas apostas
Em 2016, quando o Seu Dinheiro ainda nem existia, vi um gráfico em uma palestra que mudou minha carreira e a história do SD
A Eletrobras se livrou de uma… os benefícios da venda da Eletronuclear, os temores de crise de crédito nos EUA e mais
O colunista Ruy Hungria está otimista com Eletrobras; mercados internacionais operam no vermelho após fraudes reveladas por bancos regionais dos EUA. Veja o que mexe com seu bolso hoje
Venda da Eletronuclear é motivo de alegria — e mais dividendos — para os acionistas da Eletrobras (ELET6)
Em um único movimento a companhia liberou bilhões para investir em outros segmentos que têm se mostrado bem mais rentáveis e menos problemáticos, além de melhorar o potencial de pagamento de dividendos neste e nos próximos anos
Projeto aprovado na Câmara permite divórcio após a morte de um dos cônjuges, com mudança na divisão da herança
Processos iniciados antes do falecimento poderão ter prosseguimento a pedido dos herdeiros, deixando cônjuge sobrevivente de fora da herança
A solidez de um tiozão de Olympikus: a estratégia vencedora da Vulcabras (VULC3) e o que mexe com os mercados hoje
Conversamos com o CFO da Vulcabras, dona das marcas Olympikus e Mizuno, que se tornou uma queridinha entre analistas e gestores e paga dividendos mensais
Rodolfo Amstalden: O que o Nobel nos ensina sobre decisões de capex?
Bebendo do alicerce teórico de Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt se destacaram por estudar o papel das inovações tecnológicas nas economias modernas
A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)
A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA
Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje
Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump
100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China
O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim
Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?
Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano
ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho
Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office
A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)
No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação
Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe
Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap
Menos leão no IR e mais peru no Natal, e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (9)
No cenário local, investidores aguardam inflação de setembro e repercutem derrota do governo no Congresso; nos EUA, foco no discurso de Powell
Rodolfo Amstalden: No news is bad news
Apuração da Bloomberg diz que os financistas globais têm reclamado de outubro principalmente por sua ausência de notícias
Pão de queijo, doce de leite e… privatização, e o que mexe com os mercados nesta quarta-feira (8)
No Brasil, investidores de olho na votação da MP do IOF na Câmara e no Senado; no exterior, ata do Fomc e shutdown nos EUA
O declínio do império americano — e do dólar — vem aí? Saiba também o que mexe com os mercados hoje
No cenário nacional, investidores repercutem ligação entre Lula e Trump; no exterior, mudanças políticas na França e no Japão, além de discursos de dirigentes do Fed
O dólar já não reina sozinho: Trump abala o status da moeda como porto seguro global — e o Brasil pode ganhar com isso
Trump sempre deixou clara sua preferência por um dólar mais fraco. Porém, na prática, o atual enfraquecimento não decorre de uma estratégia deliberada, mas sim de efeitos colaterais das decisões que abalaram a confiança global na moeda