Entre riscos econômicos e geopolíticos, mercado idealiza soft-landing nos EUA em 2024 — mas essa tese está longe de ser infalível
Mudança do Federal Reserve para chance de cortes de juros impulsiona ações, mas desaceleração econômica e tensões geopolíticas preocupam
Refletindo sobre os anos recentes, podemos considerar que:
- 2020 foi dominado pela Covid;
- 2021 caracterizou-se pela vacinação e pelos choques nas cadeias de suprimento;
- 2022 foi marcado pela ressaca inflacionária pós-pandemia; e
- em 2023, a taxa de juros das economias emergiu como o tema central.
Naturalmente, ao analisarmos mais profundamente, podemos interpretar o ano que está prestes a terminar em poucos dias como multifacetado, conforme evidenciado no gráfico abaixo.
Fontes: Bloomberg e Santander
Na representação gráfica, observamos o desempenho do S&P 500, um dos principais índices de ações dos EUA, que se recuperou ao longo de 2023 após a significativa correção vivenciada em 2022.
Como ilustrado, foram abordados cinco temas distintos até o momento. No entanto, é perceptível que pelo menos metade dessas temáticas foi verdadeiramente guiada pela questão relacionada ao ciclo de aperto monetário, reforçando a pertinência da simplificação anterior.
Risco de recessão nos EUA é substancial
Olhando para o futuro, ainda vislumbro o debate em torno de um soft landing, ou seja, a possibilidade de o Federal Reserve reduzir a inflação sem empurrar a economia americana para uma recessão.
Leia Também
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Esse cenário seria ideal para os ativos de risco, mas, infelizmente, não considero essa tese infalível, dado o real e substancial risco de uma recessão (hard landing).
À medida que nos aproximamos rapidamente de 2024, há várias razões pelas quais os investidores podem expressar gratidão durante as festas de final de ano.
A mudança significativa do Fed na semana passada, afastando-se dos aumentos das taxas de juro e inclinando-se para cortes, destaca-se como a mais proeminente.
Esse movimento impulsionou as ações, enquanto os rendimentos dos títulos e as taxas hipotecárias declinaram, representando notícias muito positivas.
Leia também
A manutenção dos custos de energia em níveis mais baixos também contribui para o cenário otimista.
No início de 2023, a preocupação estava centrada na capacidade dos preços do petróleo em sustentar a inflação após atingir o pico em 2022.
Mesmo com a limitação da produção pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), os preços encerram o ano com uma queda superior a 10%.
O crescimento econômico tem sido robusto até agora, e os gastos dos consumidores não entraram em colapso, mesmo com a exaustão das poupanças pandêmicas e o aumento das taxas de juro ao longo do ano.
Diante de toda essa positividade, é compreensível por que o S&P 500 está a um passo de seu recorde máximo alcançado no início de 2022.
Boa notícia pode virar má notícia
Entretanto, esses aspectos positivos podem se transformar em motivos de preocupação.
O sinal de mudança da Fed não é uma garantia, e os bancos centrais na Europa permanecem em alerta por mais tempo, apesar de suas economias parecerem mais fracas.
A Opep pode adotar uma postura mais firme para sustentar os preços do petróleo, e, se esses preços permanecerem baixos, isso pode afetar negativamente as empresas de energia.
A DINHEIRISTA - VENDI MEU VALE-ALIMENTAÇÃO E AGORA ESTOU SENDO AMEAÇADA!
Desaceleração econômica e geopolítica no centro do debate
Portanto, a desaceleração econômica resultante das medidas de austeridade entre 2022 e 2023 para controlar a inflação pós-pandêmica será um ponto central para os investidores globais no próximo ano.
No entanto, não é apenas isso.
Atualmente, o maior risco para os investimentos em 2024 parece ser de natureza geopolítica.
As relações e alianças tradicionais estão desmoronando, dando lugar a um mundo mais polarizado que apresenta riscos estruturais ao mercado.
Preparar-se para essas eventualidades será desafiador, embora uma cobertura abrangente e estratégias defensivas possam desempenhar um papel crucial na estratégia de investimento para o novo ano.
Riscos visíveis e invisíveis
Um desses riscos já está claramente visível, com os rebeldes Houthi, apoiados pelo Irã no Iêmen, realizando repetidos ataques de drones e mísseis contra navios comerciais que transitam pelo Mar Vermelho.
O Estreito de Bab el-Mandeb, uma passagem marítima crucial que facilita um sexto do comércio mundial, é vital para o transporte global de mercadorias, incluindo petróleo bruto.
Inicialmente, os Houthis afirmaram que atacariam navios vinculados a Israel para expressar solidariedade ao Hamas.
No entanto, essa ameaça expandiu-se para todos os navios com destino a Israel, e os ataques continuaram, mesmo contra embarcações independentemente de seu destino.
Em decorrência, os prêmios de seguro aumentaram, levando as maiores companhias marítimas de contêineres do mundo a evitar o Canal de Suez, redirecionando suas cargas para rotas mais longas contornando a África.
Isso ocorre enquanto as tropas americanas no Iraque e na Síria foram alvo de representantes apoiados pelo Irã mais de 90 vezes desde meados de outubro.
Este exemplo é apenas um entre muitos. A falta de liderança global e o aumento dos conflitos geopolíticos têm caracterizado o mundo há algum tempo.
Esse quadro se agrava paralelamente à perda de capacidade das entidades de cooperação internacional (instituições multilaterais, alianças tradicionais e cadeias de abastecimento globais) para absorver choques.
Qual é a guerra mesmo?
Hoje, ao falarmos de guerra, é necessário especificar qual delas estamos abordando.
A guerra na Ucrânia reconfigurou a arquitetura de segurança da Europa e interrompeu o dividendo da paz? Ou a guerra em Israel, desestabilizando o Oriente Médio e ameaçando um conflito religioso global? Novos conflitos podem surgir.
Ao mesmo tempo, questiona-se seriamente a sustentabilidade do crescimento econômico da China, a nação que, ao lado dos Estados Unidos, mais contribuiu nas últimas décadas para impulsionar a economia global.
Dúvidas também surgiram sobre o bem-estar político dos Estados Unidos, especialmente com as eleições presidenciais do próximo ano, que deve repetir a polarização de 2020.
Esses desafios convergem para criar uma situação perigosa e sem precedentes na cena global.
- A melhor forma de buscar ganhos e proteção para o seu patrimônio em 2024: veja a carteira com 10 ações recomendadas pelos analistas da Empiricus Research para investir ainda em dezembro. O relatório gratuito está disponível aqui.
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Veja qual o impacto da decisão de dezembro do banco central dos EUA para os mercados brasileiros e o que deve acontecer com as debêntures incentivadas, isentas de IR
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação
Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?
Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.
As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje
Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional