Um dragão desbotado: mercado está frustrado com o crescimento econômico da China, mas o gigante asiático não está à beira do colapso
A China enfrenta desafios complexos, mas está adotando medidas de estímulo e cenário pode não ser tão catastrófico quanto se temia
Nas últimas semanas, as atenções voltaram-se novamente para as disputas tecnológicas entre os Estados Unidos e a China.
No centro dessa discussão está a alta dos preços das ações das fabricantes de semicondutores no primeiro semestre deste ano, à medida que a inteligência artificial se tornou o tema mais quente de 2023.
O que mudou recentemente foi o lançamento controverso do novo telefone Mate 60 Pro da Huawei, uma empresa chinesa concorrente da Apple, que lançará a nova versão do iPhone nesta terça-feira, dia 12.
Este lançamento por parte da chinesa provocou uma série de investigações nos Estados Unidos sobre como a Huawei conseguiu produzir um telefone tão avançado, mesmo após anos de restrições dos EUA destinadas a limitar seu acesso à tecnologia 5G.
Isso sugere que a tecnologia chinesa está avançando mais rapidamente do que se pensava anteriormente.
A corrida pela supremacia tecnológica entre os Estados Unidos e a China tem sido marcada por altos custos ao mercado financeiro global.
Leia Também
Há preocupações entre os americanos de que o governo chinês possa obter chips tão avançados quanto os dos EUA.
A produção mundial de semicondutores ocorre principalmente em Taiwan e na Coreia do Sul — e a China tem buscado aumentar sua produção nos últimos anos.
Empresas da China têm conseguido contornar restrições dos EUA
Além disso, cerca de um terço dos dispositivos eletrônicos do mundo já são montados na China, em empresas como a Foxconn, que encomendaram uma quantidade significativa de equipamentos dos Estados Unidos para aumentar sua capacidade na indústria de semicondutores.
Essas empresas estão até desenvolvendo alguns semicondutores de alta tecnologia, apesar das proibições e tarifas impostas pelos EUA nos últimos anos.
Tudo isso ocorre em meio à crescente rivalidade entre os Estados Unidos e a China, que está se transformando em uma nova guerra fria aos olhos do mundo.
Os desafios internos da China
No entanto, ao mesmo tempo que enfrenta os EUA, a China também está lidando com seus próprios desafios internos, como a desaceleração estrutural de seu crescimento que vem frustrando as expectativas.
Durante muito tempo, houve debates sobre o momento em que a desaceleração da economia chinesa começaria.
Parece que esse momento finalmente chegou e a percepção em relação à economia chinesa passou por uma mudança radical desde o início do ano.
Inicialmente, os investidores estavam otimistas de que a China lideraria uma vigorosa recuperação após o fim dos prolongados bloqueios associados à política "zero-Covid", impulsionando o crescimento global ou atuando como um amortecedor contra a desaceleração das economias centrais que iniciaram um ciclo de aperto monetário.
No entanto, à medida que ficou evidente que o impulso não seria tão forte quanto o esperado, o mercado passou a considerar que a fragilidade econômica poderia pressionar as autoridades chinesas a implementar estímulos econômicos.
No entanto, os problemas econômicos estão se manifestando de maneira mais profunda do que se temia inicialmente.
A crise no setor imobiliário chinês
Isso levou as autoridades chinesas a reduzirem as taxas de juros para impulsionar a atividade econômica, enquanto enfrentam a queda acentuada no setor imobiliário, baixo consumo e indicadores macroeconômicos preocupantes.
Mesmo com a introdução do estímulo, parece que o entusiasmo não foi generalizado, indicando que mais medidas podem ser necessárias.
O epicentro desses problemas econômicos está no mercado imobiliário chinês, que representa pelo menos um quarto do PIB do país.
As vendas, preços de imóveis e investimentos no setor imobiliário estão em declínio, sendo que há preocupações sobre o efeito deflacionário na economia como um todo.
Leia também
- O dragão virou lagartixa? Por que a frustração com o PIB da China preocupa o mercado
- Meta de déficit zero em 2024 é irrealista, mas nem o mercado espera isso — então o que ele deseja afinal?
Grandes empresas do setor, como a China Evergrande, estão enfrentando uma crise de liquidez e acumulam enormes passivos.
Outras incorporadoras chinesas também estão sob escrutínio por não terem pago dívidas denominadas em dólares.
Além disso, o consumo dos chineses, a produção industrial e os investimentos em ativos de longo prazo, como propriedades e equipamentos, estão desacelerando, com a contração nas vendas no varejo sendo uma das maiores preocupações.
Dessa forma, a China enfrenta desafios significativos enquanto tenta lidar com esses problemas econômicos complexos.
Alguns investidores estão expressando preocupações sobre a possibilidade de uma situação "semelhante ao Lehman" na China.
A expectativa de uma recuperação significativa no setor imobiliário está diminuindo, especialmente considerando que os estoques de aço voltaram a aumentar e não indicam uma normalização tão cedo.
Infelizmente, é possível que a China continue representando um fator negativo por um período mais prolongado do que o previsto.
Mundo habituou-se a uma China pujante
De fato, o mundo está habituado a lidar com uma China economicamente forte há bastante tempo. As implicações de uma China enfraquecida talvez não tenham sido devidamente ponderadas.
Nas últimas três décadas, a comunidade internacional acostumou-se a contar com o crescimento chinês pujante. A seguir, é possível observar como a China se transformou em um pilar da economia mundial ao longo desses anos.
Os principais bancos também expressam preocupações.
Morgan Stanley, JPMorgan Chase e Barclays passaram a prever que a China não atingirá sua meta de crescimento governamental de cerca de 5% para 2023.
Esse prognóstico está bem distante do sentimento predominante na primavera, quando essa meta era amplamente vista como excessivamente conservadora.
Uma desaceleração prolongada e generalizada suscita diversas preocupações.
Se as previsões de crescimento do JPMorgan, estimando taxas de 4,8% e 4,2% para este ano e o próximo, forem confirmadas, a China enfrentaria sua primeira sequência de três anos consecutivos com crescimento abaixo de 5% desde antes de 1980 (a economia registrou crescimento de 3% em 2022).
Ansiedade é palpável
A crescente ansiedade em relação à capacidade da China de reverter sua atual queda é palpável, especialmente considerando que suas margens para aplicar estímulos adicionais estão limitadas e as autoridades relutam em adotar medidas drásticas que resultem em mais endividamento.
Questões estruturais também desempenham um papel, incluindo a desaceleração da urbanização e o declínio populacional, o que pode implicar que as políticas econômicas precisem se adequar a um período mais prolongado de crescimento moderado.
Uma estratégia de "tudo ou nada" pode ser a única saída deste ciclo, envolvendo o governo na absorção de ativos problemáticos.
No entanto, esse caminho enfrenta desafios, incluindo o risco de deflação e a incerteza sobre até que ponto essa abordagem restauraria a confiança dos investidores.
Outro tópico amplamente discutido é a falta de resposta mais enérgica do governo. Após a reunião do Politburo em julho, que sugeriu um apoio maior, o mercado esperava ansiosamente um suporte fiscal substancial que, no entanto, não foi entregue.
China não está à beira do colapso
É importante discernir o excesso de manchetes da realidade dos acontecimentos. Sem dúvida, a economia chinesa enfrenta uma série de desafios amplamente reconhecidos, o que resultou em várias medidas tomadas pelo governo para tentar reverter o desaceleramento.
No entanto, a China está demonstrando que, embora não esteja em uma situação de crescimento robusto, também não está à beira de um colapso.
O país está implementando uma série de medidas de estímulo monetário e fiscal, que estão se acumulando e ajudando a conter a deterioração econômica.
Recentemente, vimos, por exemplo, a autorização para que as seguradoras adquiram mais ações. O desenrolar dessa situação pode ser menos catastrófico do que muitos imaginam.
- Como buscar lucros no mercado internacional? Os analistas da Empiricus Research selecionaram 5 BDRs que, na opinião deles, são as melhores apostas no mercado gringo para o mês de setembro. Confira gratuitamente neste relatório.
As lições do Chile para o Brasil, ata do Copom, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Chile, assim como a Argentina, vive mudanças políticas que podem servir de sinal para o que está por vir no Brasil. Mercado aguarda ata do Banco Central e dados de emprego nos EUA
Chile vira a página — o Brasil vai ler ou rasgar o livro?
Não por acaso, ganha força a leitura de que o Chile de 2025 antecipa, em diversos aspectos, o Brasil de 2026
Felipe Miranda: Uma visão de Brasil, por Daniel Goldberg
O fundador da Lumina Capital participou de um dos episódios de ‘Hello, Brasil!’ e faz um diagnóstico da realidade brasileira
Dividendos em 2026, empresas encrencadas e agenda da semana: veja tudo que mexe com seu bolso hoje
O Seu Dinheiro traz um levantamento do enorme volume de dividendos pagos pelas empresas neste ano e diz o que esperar para os proventos em 2026
Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje