Mais vibrações em Brasília: ruídos do governo voltaram e podem atrapalhar — mas é preciso olhar além do xadrez político
Depois de flertar com um aprimoramento de ambiente entre março e abril, o governo volta a se prejudicar, gerando ruídos e entraves desnecessários para a resolução de questões econômicas importantes. A mediocridade pode estar falando mais alto novamente, abrindo uma janela para novos anos perdidos
É difícil entender o nosso país. A máxima sobre não perdermos uma oportunidade de perder uma oportunidade é verdadeira. Cada vez mais, na verdade. Ontem, por exemplo, o mercado financeiro local apresentou movimentos instáveis, impulsionados por novos eventos vindos de Brasília (para variar um pouco).
Se, na semana passada, vivemos em meio às expectativas para a Super Quarta (que é um nome horrível, por sinal), os próximos dias servirão para digerirmos a inflação de abril e a ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa de juros em 13,75% ao ano, mas suavizou marginalmente o tom do discurso.
A autoridade monetária reconheceu formalmente pela primeira vez que voltar a subir a Selic é um cenário pouco provável, fato que já sabíamos há muito tempo. Ainda assim, o reconhecimento é importante pois trata-se de um primeiro passo para a posterior flexibilização da política monetária em si, com a queda dos juros e assim por diante.
O processo só deve começar, porém, no terceiro trimestre, muito provavelmente em agosto — nesta altura do campeonato, pouco importa se será na reunião de agosto ou setembro, na verdade. Acontece que estamos caminhando para uma queda sustentável e gradual da taxa básica de juros, o que pode ser positivo para as ações.
Nos corredores de Brasília, o sentimento é diferente
Não foi o suficiente para o governo, contudo, que voltou a criticar a postura do Banco Central, ainda que sem o devido embasamento técnico.
A taxa de juros no Brasil está bem elevada, sim, mas só o está por conta da incerteza fiscal e da inflação corrente ainda em patamares não aceitáveis, especialmente os núcleos do índice.
Leia Também
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Nada será feito enquanto o arcabouço fiscal não for devidamente aprovado e a inflação não se mostrar mais controlada. E veja, o mais provável é que o IPCA continue desacelerando até o final do semestre, devendo voltar a acelerar na segunda metade de 2023, muito por conta do efeito base versus o ano passado, que polui o indicador.
No fim das contas: quando os juros devem cair?
Isso significa que os juros devem cair a partir do terceiro trimestre mesmo com o índice oficial da inflação fechando o ano por volta de 6% no acumulado do período, bem acima da banda superior da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Isso acontece porque as expectativas parecem razoavelmente ancoradas.
Vale deixar bem claro que o mercado foi bem incapaz de antecipar bem a inflação. Me deparei recentemente com este gráfico construído com dados públicos do Banco Central e do IBGE que mostra o contraste entre as projeções dos economistas ao Boletim Focus do BC para os próximos 12 meses e o índice efetivamente realizado.

Sim, as projeções normalmente estão erradas, ainda mais em períodos tão turbulentos como os que vivemos. Sabendo da difícil tarefa do BC, de pouco serve os novos atritos do governo, que já demonstrou fraqueza recentemente com a derrota envolvendo os decretos do saneamento de Lula, que foram derrubados.
A sinalização, ainda que relativamente normal para governos que estão começando (já que o Congresso quer mostrar força), indica que não há tempo a perder e que erros serão menos tolerados, especialmente considerando que o governo já goza de pouco apoio dentro e fora do Congresso.
- Ainda tem dúvidas sobre como fazer a declaração do Imposto de Renda 2023? O Seu Dinheiro preparou um guia completo e exclusivo com o passo a passo para que você “se livre” logo dessa obrigação – e sem passar estresse. [BAIXE GRATUITAMENTE AQUI]
Brasília se movimenta para manter seu 'status'
O governo não parece ter entendido isso, no entanto. Mais recentemente, o dólar à vista registrou expressiva valorização em relação ao real, refletindo a adoção de posições defensivas pelos investidores. O estresse começou quando a Advocacia Geral da União (AGU) entrou no STF para recuperar poder de voto na Eletrobras.
O movimento foi visto como uma manobra para reverter a privatização da companhia, o que eu entendo como sendo um cenário altamente improvável, e exerceu pressão de compra sobre a moeda norte-americana logo no início do pregão de segunda-feira. Mesmo que o governo tenha negado tal possibilidade, o estrago já estava feito.
O contexto só prejudica a ala econômica, que precisa não só aprovar o arcabouço fiscal com o menor número de alterações possível, como também arrumar maneiras de elevar a receita do governo (arrecadação).
Em outras palavras, os desgastes adicionais criados pelo próprio partido do presidente Lula podem custar caro para o país.
Um nome de dentro do governo
O cenário tornou-se ainda mais desfavorável com a indicação de Gabriel Galípolo, atual secretário-executivo da Fazenda (braço direito de Haddad), para a vaga de diretor de Política Monetária do BC. A escolha não foi tão bem recebida pelo mercado, que a interpretou como uma tentativa de interferência no rumo da política monetária.
Nesse contexto, a leitura de segunda ordem criou a especulação de que Galípolo possa vir a assumir o comando do BC após o término do mandato de Roberto Campos Neto, em 2024, o que agravou ainda mais o clima de incerteza — juros longos voltaram a subir, depois de terem devolvido bons prêmios ao longo de abril.
Por outro lado, a indicação de Galípolo pode nos sugerir que a ala econômica não vai querer dar um cavalo de pau no CMN. A próxima reunião poderia manter as metas já previstas para 2024 e 2025 de 3%, mudando apenas o horizonte de cumprimento para um prazo de dois anos (ao invés um) e as bandas para até 2% (ao invés de 1,5%).
No fim das contas...
Em sendo o caso, as alterações não seriam tão danosas.
Entretanto, é preocupante a impressão de que o governo esteja criando obstáculos para a resolução de questões essenciais da economia brasileira, especialmente aquelas relacionadas à política fiscal e monetária. Essa postura, inevitavelmente, impacta os ativos nacionais.
As taxas de juros reais de longo prazo do Brasil têm se mantido em patamares relativamente altos, acima de 6%, desde o início deste ano. Isso sugere a existência de um risco fiscal significativo.
Mesmo que os yields dos títulos do governo de 10 anos já tenham caído em mais de 50 pontos-base desde o pico de fevereiro, quando alcançaram mais de 6,5%, ainda há um longo percurso a ser trilhado.
No momento, os investidores estão majoritariamente preocupados com a situação fiscal do país. Contudo, as eventuais aprovações do novo quadro fiscal e da Reforma Tributária poderão fazer com que as taxas reais de longo prazo caiam ainda mais. Isso, por sua vez, poderá desencadear uma reavaliação positiva do Ibovespa.
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Veja qual o impacto da decisão de dezembro do banco central dos EUA para os mercados brasileiros e o que deve acontecer com as debêntures incentivadas, isentas de IR
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação
Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?
Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.
As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje
Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional