O efeito assustador da alavancagem: Como avaliar o patrimônio de uma empresa endividada?
Quanto mais endividada uma empresa, maior é o risco do investimento — e o caso de Americanas mostra que, a companhia tiver mais dívida do que capacidade de gerar caixa, uma hora o negócio degringola
![Miniatura de um homem encarando pilhas de moedas | bolsa dividendos](https://media.seudinheiro.com/uploads/2021/12/shutterstock_649743250_Easy-Resize.com_-715x402.jpg)
Se você é daqueles que aprecia um papo raiz sobre a técnica que envolve o processo de análise de ações, o último episódio do Market Makers foi um deleite.
Depois de ouvir ao episódio três vezes - e por ser um ouvinte frequente do MMs - eu posso cravar com algum grau de certeza que o conteúdo transmitido no episódio #28 poderia ser desmembrado em algumas aulas de finanças.
Você poderia argumentar que essa minha análise carrega um certo tipo de viés, afinal eu sou fundador e analista de ações do MMakers. Sim, é verdade, mas peço um voto de confiança.
Já escutei diversos episódios - desde a outra encarnação - e esse entrou na lista daqueles que eu sempre vou ouvir quando tiver que reforçar os conceitos mais importantes da minha profissão como analista de ações.
A alavancagem de uma empresa
Dentre as diversas pílulas de conhecimento, uma delas me fez refletir bastante e é justamente essa que eu gostaria de trazer na CompoundLetter de hoje: o efeito da alavancagem em uma avaliação de empresa.
Meu objetivo hoje é explicar o conceito prático por trás de uma das frases que o Camilo Marcantonio, fundador da Charles River, trouxe e que é fundamental nos dias de hoje tendo em vista o patamar de 13,75% que a taxa Selic se encontra. Vamos a ela:
"Quanto mais alavancada uma empresa, mais difícil de avaliar o equity [patrimônio] dela. Se eu errar 10% do EV [sigla para Enterprise Value ou Valor da Firma] de uma empresa que não está alavancada [sem dívida no balanço], vou errar 10% do equity. Se a empresa estiver 5 vezes alavancada, vou errar em 50% o valor do equity. Quanto mais alavancada a empresa maior o risco de errar o equity."
O caso Americanas e a falência
Eu vou explicar o conceito acima, mas intuitivamente os 7 leitores dessa newsletter já devem saber que quanto mais endividada uma empresa, maior é o risco do investimento. Inclusive, o caso de Americanas tá aí pra corroborar essa tese: se a empresa tiver mais dívida do que capacidade de gerar caixa, uma hora o negócio degringola.
Como disse Ernest Hemingway, existem duas formas de ir à falência: gradualmente, e então de repente.
Antes de falar da relação entre dívida, patrimônio e valor da empresa, é preciso entender as motivações de uma empresa quando busca levantar dinheiro junto aos acionistas e credores.
Isto é, para criar valor para o acionista, uma empresa deve ser capaz de encontrar projetos que consigam gerar retornos que excedam o custo do financiamento (ou custo de capital).
Da mesma forma que o investidor precisa considerar cuidadosamente a relação entre risco e retorno antes de tomar uma decisão.
Fluxo de caixa e financiamento de uma empresa
É justamente essa relação entre a capacidade da empresa de crescer a sua base de ativos e a forma como ela faz a gestão do dinheiro captado que um balanço patrimonial busca refletir.
Ativos (à esquerda do balanço) são os recursos que a empresa emprega para gerar fluxos de caixa, enquanto que o passivo e o patrimônio líquido (ambos à direita) mostram como a empresa financia esses recursos.
Dívida e patrimônio líquido são as formas mais populares de financiamento. A dívida é uma obrigação contratual entre uma empresa e seus credores, na qual a empresa se compromete a fazer pagamentos pontuais de juros e devolver o principal no final do período especificado.
E o patrimônio é um contrato entre a empresa e seus acionistas, que investem vislumbrando receber parte do crescimento do patrimônio lá na frente - que só acontece após a empresa pagar todas as outras partes interessadas, incluindo fornecedores (contas a pagar), governo (impostos) e funcionários (salários).
Entretanto, financiar somente com patrimônio é caro. Como o acionista é o último a receber o dinheiro, ele exige um retorno maior pelo risco que está correndo. Por um outro lado, se a empresa se financiar majoritariamente por dívida existe o risco comentado pelo Camilo e que torna a empresa muito mais vulnerável.
O valor de uma empresa alavancada
Imagina uma empresa que o valor da companhia como um todo (enterprise value, que é igual ao valor do patrimônio somado à dívida líquida) é de R$ 1 milhão sendo R$ 800 mil de dívida e R$ 200 mil de patrimônio.
Neste exemplo hipotético, a empresa alavancou o seu patrimônio em 5 vezes (1000/200), tal como no exemplo do Camilo. Supondo que o EV da companhia seja 10% menor, ou seja de R$ 900 mil, e que a dívida líquida permaneça em R$ 800, o patrimônio deveria valer R$ 100 mil ou 50% a menos do que valia antes.
Diante de problemas para transformar sua dívida em patrimônio, a empresa certamente encontrará dificuldades para honrar seus compromissos financeiros e, provavelmente, necessitará de uma injeção de capital por parte dos sócios.
Esse exemplo mostra o quão desafiador é avaliar o valor do patrimônio de uma empresa alavancada.
Essa foi apenas uma das mini aulas que o episódio proporcionou. Quer ouvir todas as outras? Clique aqui.
Abraço,
Matheus Soares
Com mundo de olho na abertura dos Jogos Olímpicos, mercado aguarda PCE para o pontapé inicial na bolsa
Além de Wall Street, Ibovespa também repercute hoje os números do Governo Central e o balanço da Vale no segundo trimestre
“Caçadores de ações”: a empresa que ainda está fora do radar dos investidores, mas é por pouco tempo
A ótima prévia operacional nos deixa mais confiantes de que essa companhia está no caminho certo para voltar a dar lucro ainda em 2024, podendo inclusive se tornar uma boa pagadora de dividendos para quem tem paciência e pensa no longo prazo
Bugs, bolhas e tecnologia: Big techs azedam o clima nas bolsas em dia de PIB dos EUA e de IPCA-15
Ibovespa ainda tem que lidar com petróleo e minério de ferro em queda e dólar em alta com mercado à espera do balanço da Vale
Rodolfo Amstalden: Obrigado, mas não, obrigado
Recentemente, a startup de cibersegurança Wiz deixou passar uma oferta de US$ 26 bilhões feita pela dona do Google
A maionese desanda na bolsa: Big techs e minério de ferro pesam sobre os mercados internacionais e Ibovespa paga a conta
Enquanto resultados trimestrais da Tesla e da dona do Google desapontam investidores, Santander Brasil dá início à safra de balanços dos bancões por aqui
Tudo o que você precisa saber sobre os ETFs de Ethereum (ETH) que acabaram de ser lançados
Segue um dashboard da Bloomberg mostrando as gestoras que estão criando seus respectivos ETF´s de Ether, tickers, taxas, exchanges de negociação e custodiantes
Ibovespa fica a reboque do exterior antes dos balanços das big techs
Enquanto temporada de balanços ganha tração em meio a agenda fraca, Ibovespa se prepara para os resultados dos bancões
Uma rotação setorial está em andamento — e ela conversa com o ‘Trump Trade’
Rotação setorial coincide com esgotamento da valorização das ‘big techs’ em Wall Street e inflação desacelerando nos EUA
Felipe Miranda: Erro de design na indústria de multimercados
O que aconteceu para os conhecedores de política monetária restritiva perderem tanto dinheiro no começo de 2024?
O poder dos fatos novos: Ibovespa reage a desistência de Biden e corte de juros na China
A bolsa brasileira tem pela frente uma agenda carregada, com os balanços da Vale e do Santander e o IPCA-15; lá fora, PCE é o destaque