Por que Bolsonaro corre o risco de se transformar no primeiro presidente em exercício a perder a reeleição
Em tese, Bolsonaro teria mais chance de manter imunidade – no caso, parlamentar – se concorresse a uma vaga no Senado
Desde que, em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foi aprovada a Proposta de Emenda Constitucional permitindo a reeleição, nenhum presidente da República do Brasil deixou de ser reconduzido ao cargo.
É verdade que Michel Temer nem cogitou a possibilidade, a exceção que confirma a regra.
FHC, Lula e até Dilma conseguiram
FHC foi reeleito no primeiro turno, com 53,06% dos votos, contra 31,71% de Lula e 10,97% de Ciro Gomes.
Em 2006, Lula precisou de uma segunda rodada. Mas deu uma sova de 60,83% a 39,17% em Geraldo Alckmin.
Até Dilma Rousseff, com seu primeiro mandato desastroso, no qual artificializou a economia, conseguiu se manter na Presidência. Graças a golpes televisivos desfechados por seu marqueteiro, João Santana, mas conseguiu.
Foi apertado: 51,64% contra 48,36% de Aécio Neves.
Leia Também
Caneta milagrosa
Com a caneta na mão, um Presidente da República faz milagres. Transforma água em vinho, multiplica os peixes, inaugura uma obra faraônica que jamais irá se materializar.
Ao contrário do que muita gente pensa, Jair Bolsonaro não se elegeu com tanta facilidade em 2018. Foi necessário um segundo turno, no qual disputou os votos contra um adversário que seguia instruções de um homem encarcerado em Curitiba.
O curioso é que, em toda sua vida política, o capitão Jair sempre sofreu grande aversão por parte de diversos segmentos importantes (e numerosos) da sociedade.
Um compêndio de barbaridades
Entre as barbaridades que disse, estão a dedicatória de seu voto a favor do impeachment de Dilma ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, de triste memória por seus atos nos porões da ditadura.
Fora outros barbarismos como:
- “Eu sou favorável à tortura.”
- “Precisamos matar uns 30 mil, começando com o FHC.”
- “Sou a favor, sim, de uma ditadura, de um regime de exceção.”
As três declarações acima foram dadas em 1999, quando Bolsonaro era deputado federal.
Esta é a segunda de uma série de crônicas de Ivan Sant'Anna sobre os pré-candidatos às eleições de 2022.
Confira as outras análises:
- Sergio Moro
- Bolsonaro (você está aqui)
- Lula (em breve)
Alguns episódios favoreceram Bolsonaro
Pode-se dizer, sem medo de errar, que a campanha presidencial do capitão Jair Bolsonaro teve três etapas, ou episódios, que lhe favoreceram.
A primeira delas ocorreu durante uma passeata em Juiz de Fora, quando Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos de idade, atacou o candidato enterrando uma faca em seu abdômen e seccionando seus intestinos.
Me lembro que meu irmão, o também escritor Sérgio Sant’Anna, vítima fatal da Covid em 2020, me ligou logo após a divulgação de que Bolsonaro sobrevivera ao atentado.
“Com isso ele ganhou a eleição”, disse o Sérgio, convicto.
Fora dos debates
Depois de ficar alguns dias correndo sério risco de morte, primeiro na Santa Casa de Juiz de Fora, depois no hospital Albert Einstein, em São Paulo, Jair Bolsonaro alegou, não sem razão, que estava impossibilitado de comparecer aos debates, primeiro contra todos os adversários do primeiro turno, depois contra o petista Fernando Haddad, no segundo.
Antes do esfaqueamento, Bolsonaro compareceu a diversos programas de televisão. Em todos eles, os entrevistadores só lhe perguntaram o que ele se preparara para responder. Coisas como machista, homofóbico, defensor do regime militar.
Ninguém lhe indagou sobre como iria debelar a crise fiscal, sustar uma inflação embrionária etc. E os poucos que fizeram isso receberam a seguinte resposta:
“Isso é com o Posto Ipiranga (Paulo Guedes), que será meu ministro da Economia.”
Música para o mercado financeiro
Tudo que relatei acima é apenas uma parte das argumentações de campanha.
Jair Bolsonaro disse coisas que são música para o mercado financeiro. Tais como:
- “Mais Brasil, menos Brasília.”
- “Farei a reforma da Previdência (promessa que cumpriu).”
- “Vou enxugar a máquina pública.”
- “Promoverei privatizações em massa.”
- “Reduzirei os impostos.”
- “Substituirei os políticos por técnicos nos ministérios.”
Em seu discurso de posse, o presidente reiterou algumas dessas promessas. Tanto é assim que o mercado de ações, medido pelo Ibovespa, subiu mais de 30% no primeiro ano do novo governo.
Mas alguma coisa estava errada
Já no poder, entre um e outro acerto, o capitão se notabilizou pelas coisas que dizia sem pensar. Fora decisões equivocadas como anunciar a mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, imitando o presidente americano Donald Trump.
Isso desgostou profundamente os países árabes, grandes compradores de carnes brasileiras, o que obrigou Bolsonaro a desistir da ideia.
Despachante da classe fardada
Na verdade, Jair Bolsonaro nunca deixou de ser, na política, mero despachante dos interesses dos soldados, cabos e sargentos das Forças Armadas, dos policiais civis e militares, dos bombeiros e agentes penitenciários.
Voltando atrás no tempo até o seu surgimento como figura pública, o capitão paraquedista se notabilizou, após ter saído, de maneira não muito honrosa do Exército, por ter escrito um artigo para a revista Veja (militares são proibidos de dar declarações públicas) criticando os salários baixos dos oficiais das Forças Armadas.
Já na reserva, se tornou popular entre os policiais militares do Rio de Janeiro e suas famílias. Isso lhe valeu uma cadeira na Câmara dos Vereadores da capital fluminense.
Nesse quesito, defesa da classe fardada, justiça seja feita, Jair Bolsonaro obteve enorme êxito. Êxito esse que lhe valeu um assento na Câmara dos Deputados ao longo de sete mandatos.
Quase trinta anos!
Ou seja, ele foi muito mais político do que soldado.
Ladeira abaixo
Durante as manifestações populares a favor do impeachment de Dilma, Bolsonaro se misturou às multidões no Rio de Janeiro, entre apupos de desagrado e aplausos entusiasmados.
O certo é que se tornou uma potência eleitoral.
Só que, já no exercício da presidência da República, sua popularidade não fez outra coisa a não ser descer ladeira abaixo.
Desrespeito à vida, inclusive à própria
Se o chefe de estado Jair Messias Bolsonaro tivesse se colocado na liderança do combate à Covid, visitando hospitais, comparecendo a enterros, viajando para as áreas mais críticas e principalmente sendo um dos primeiros países a promover uma campanha de vacinação em massa, acredito que poderia ter arrebanhado uma multidão de novos admiradores.
Acontece que o capitão não respeita a vida, nem mesmo a própria.
Medo ou certeza de perder?
Eu acho, e isso é uma visão particular minha, que Jair Bolsonaro poderá não se candidatar à reeleição por medo (ou mesmo certeza) de que irá perder.
Talvez prefira concorrer a uma cadeira no Senado pelo Rio de Janeiro e, quem sabe, imitando Donald Trump, esperar a próxima, que lá será em 2024 e aqui em 2026.
No Rio, Bolsonaro vai enfrentar os Romários, Crivellas, Garotinhos etc.
Importante salientar que eleição para senador só tem um turno. Com 20% dos votos possivelmente dá para se reeleger.
Caso esse meu palpite (o do Senado) esteja certo, e Bolsonaro não queira correr risco nenhum de ficar sem imunidade, basta que ele troque seu domicílio eleitoral seis meses antes das eleições. Pode transferir seu título para um dos estados pecuaristas, onde a eleição será uma barbada.
Mas digamos que tudo isso seja fantasia minha
Suponhamos que Jair Bolsonaro vai mesmo encarar Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições deste ano.
Se Lula continuar com essa conversa de acabar com as privatizações, direcionar o comércio exterior brasileiro para a África, restabelecer a amizade com Venezuela, Cuba e Nicarágua, aumentar os impostos dos ricos, acho que o mercado vai apoiar Bolsonaro.
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Veja qual o impacto da decisão de dezembro do banco central dos EUA para os mercados brasileiros e o que deve acontecer com as debêntures incentivadas, isentas de IR
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação
Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?
Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.
As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje
Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional
Felipe Miranda: O paradoxo do banqueiro central
Se você é explicitamente “o menino de ouro” do presidente da República e próximo ao ministério da Fazenda, é natural desconfiar de sua eventual subserviência ao poder Executivo
Hapvida decepciona mais uma vez, dados da Europa e dos EUA e o que mais move a bolsa hoje
Operadora de saúde enfrenta mais uma vez os mesmos problemas que a fizeram despencar na bolsa há mais dois anos; investidores aguardam discurso da presidente do Banco Central Europeu (BCE) e dados da economia dos EUA
CDBs do Master, Oncoclínicas (ONCO3), o ‘terror dos vendidos’ e mais: as matérias mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matéria sobre a exposição da Oncoclínicas aos CDBs do Banco Master foi a mais lida da semana; veja os destaques do SD
A debandada da bolsa, pessimismo global e tarifas de Trump: veja o que move os mercados hoje
Nos últimos anos, diversas empresas deixaram a B3; veja o que está por trás desse movimento e o que mais pode afetar o seu bolso
Planejamento, pé no chão e consciência de que a realidade pode ser dura são alguns dos requisitos mais importantes de quem quer ser dono da própria empresa
Milhões de brasileiros sonham em abrir um negócio, mas especialistas alertam que a realidade envolve insegurança financeira, mais trabalho e falta de planejamento
Rodolfo Amstalden: Será que o Fed já pode usar AI para cortar juros?
Chegamos à situação contemporânea nos EUA em que o mercado de trabalho começa a dar sinais em prol de cortes nos juros, enquanto a inflação (acima da meta) sugere insistência no aperto
A nova estratégia dos FIIs para crescer, a espera pelo balanço da Nvidia e o que mais mexe com seu bolso hoje
Para continuarem entregando bons retornos, os Fundos de Investimento Imobiliários adaptaram sua estratégia; veja se há riscos para o investidor comum. Balanço da Nvidia e dados de emprego dos EUA também movem os mercados hoje
O recado das eleições chilenas para o Brasil, prisão de dono e liquidação do Banco Master e o que mais move os mercados hoje
Resultado do primeiro turno mostra que o Chile segue tendência de virada à direita já vista em outros países da América do Sul; BC decide liquidar o Banco Master, poucas horas depois que o banco recebeu uma proposta de compra da holding Fictor
Eleição no Chile confirma a guinada política da América do Sul para a direita; o Brasil será o próximo?
Após a vitória de Javier Milei na Argentina em 2023 e o avanço da direita na Bolívia em 2025, o Chile agora caminha para um segundo turno amplamente favorável ao campo conservador
Os CDBs que pagam acima da média, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Quando o retorno é maior que a média, é hora de desconfiar dos riscos; investidores aguardam dados dos EUA para tentar entender qual será o caminho dos juros norte-americanos