Um dia após abrir uma brecha para que o conselho — e por tabela, a União —, exerçam um papel mais significativo na política de preços, a Petrobras (PETR4) anunciou que irá reduzir o valor cobrado na venda de gasolina para as distribuidoras.
Segundo comunicado divulgado nesta quinta-feira (28), o preço médio da petroleira passará de R$ 3,86 para R$ 3,71 por litro, uma redução de R$ 0,15 ou cerca de 3,9%. A medida passará a valer a partir de amanhã (29).
Considerando as misturas na composição do combustível comercializado nos postos, a parcela da estatal no preço efetivamente pago pelo consumidor cairá de R$ 2,81, em média, para R$ 2,70 a cada litro vendido na bomba.
A notícia foi bem recebida pelo mercado: os papéis da Petrobras, que já começaram o dia no terreno positivo, seguem em alta no início da tarde. Por volta das 13h05, as ações ON (PETR3) avançam 1,23%, a R$ 34,43, enquanto os papéis PN (PETR4) sobe 1,79%, cotados em R$ 31,91.
Timing suspeito para procedimento padrão?
Apesar do timing suspeito para o anúncio — que também ocorre na mesma data marcada para a divulgação do balanço do segundo trimestre —, a Petrobras garante que a mudança “é coerente” com sua política de preços.
Vale relembrar que as diretrizes utilizadas pela petroleira para definir o valor cobrado pelos combustíveis são alvos de críticas constantes do governo, principalmente do presidente Jair Bolsonaro.
“Essa redução acompanha a evolução dos preços de referência, que se estabilizaram em patamar inferior para a gasolina”, explica a companhia no comunicado.
A petroleira reforça ainda que a política de preços busca o equilíbrio com o mercado global sem repassar para o comércio interno “a volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio”.
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Petrobras (PETR4) abriu brechas para o governo?
Apesar de destacar as vantagens da política de preços na nota de hoje, ontem a Petrobras colocou a pulga atrás da orelha do mercado com um comunicado com pouca clareza e muito espaço para interpretações.
O documento informa que o conselho de administração aprovou uma nova diretriz para a formação das cotações no mercado interno; ao mesmo tempo, ratificou que a diretoria da estatal é responsável pela execução da política de preços.
Atualmente, as decisões sobre reajustes cabem à diretoria executiva, composta em sua maioria por nomes técnicos e executivos como o CEO, o CFO e o diretor de logística. Mas, levantou-se a possibilidade de o conselho de administração — um órgão com maior interferência da União — assumir essa função.
Apesar de manter a política de preços atual, a diretriz formaliza que os conselhos de administração e fiscal passam agora a ter um papel de supervisão dos reportes trimestrais, que precisarão ser apresentados pelos executivos.
Na percepção da maior parte dos especialistas consultados pelo Seu Dinheiro, o texto não é claro. Segundo Nicolas Bolsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, é passível da interpretação de que toda a decisão sobre os preços de petróleo e derivados terão de ser validados pelos Conselhos fiscal e de administração antes de serem efetivados.
Em outras palavras: apesar de não alterar a política de preços atual, a porta abre uma fresta de possibilidade para que o conselho — e por tabela, a União —, exerçam um papel mais significativo nessa tomada de decisão.