Um corpo boiando no criptoverso: As lições para o mercado de criptomoedas após a crise da FTX
A história é mais uma sobre destruição de valor no mercado cripto, mas está longe de ser apenas isso. É também uma história sobre irresponsabilidade e falta de transparência
"Se formos a maior exchange, [comprar o Goldman ou a CME] não está fora de questão”
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADECONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE— Samuel Bankman-Fried, ou SBF, fundador da corretora de criptomoedas FTX
Toda grande crise financeira tem um símbolo. Um corpo que aparece boiando e depois é empalhado para servir de exemplo aos que vierem em seguida — metaforicamente falando, é claro.
Na crise do subprime, em 2008, esse papel coube ao Lehman Brothers, que quebrou devido a uma gestão de risco inconsequente.
No inverno cripto de 2022, essa missão educativa agora é da FTX, terceira maior exchange (corretora de criptomoedas) do mundo, cujo fiasco já está sendo chamado de “um evento Lehman” pela indústria.
Sim, a história a seguir é mais uma sobre destruição de valor no mercado cripto, mas está longe de ser apenas isso.
Leia Também
É uma história sobre irresponsabilidade, falta de transparência, má alocação de capital e, possivelmente, de astúcia empresarial. Vamos a ela.
Origens do caos na corretora de criptomoedas FTX
Até a semana passada, a FTX era considerada uma empresa excelente, bem administrada e eficiente.
Com capacidade de gerar até US$ 100 milhões de receita por dia, na sua última rodada de captação, em janeiro, havia levantado US$ 400 milhões de fundos de venture capital como Sequoia, SoftBank, Temasek e Tiger Global, sendo avaliada em US$ 32 bilhões.
Tudo começou a mudar no dia 2 deste mês, quando o CoinDesk publicou uma reportagem expondo uma situação, digamos, perniciosa. E para entender essa história direito, é preciso estar atento ao seguinte “detalhe”.
A FTX é comandada desde sua criação, em 2019, por seu fundador, Samuel Bankman-Fried, o SBF, que também criou a Alameda, uma prop trading (empresa que gere o próprio dinheiro visando ganho de capital, como uma tesouraria de banco) especializada em cripto.
A ligação umbilical entre duas empresas de atividades com interesses tão diferentes e conflituosos sempre gerou algum mal-estar no mercado, sobretudo tendo-se em vista que em uma exchange os ativos não ficam separados por cliente, como em uma corretora tradicional.
O texto revelava que grande parte do balanço da Alameda era formado pelo token FTT, um criptoativo emitido pela própria FTX e cujo preço também pode ser controlado por ela. O conteúdo da reportagem estava longe de ser um batom na cueca.
Revelava, sim, que SBF provavelmente havia borrado a fronteira entre os dois negócios que é dono, possivelmente misturando o dinheiro de investidores ao da Alameda.
Hoje, a principal suspeita é a de que o dinheiro dos clientes tenha sido usado para salvar a Alameda da falência
O texto ficou no ar por cinco dias, sem grande repercussão. Até que o CEO da Binance, Chengpeng Zhao, o CZ, começou a tuitar.
Batalha entre a CZ, da Binance, e a FTX
CZ havia sido um dos primeiros investidores da FTX, e, ao desinvestir, recebeu de volta US$ 529 milhões em FTT. No dia 6, no Twitter, ele anunciou que “dadas as mais recentes revelações'' sobre FTX, iria se desfazer de seus tokens.
Na sua thread, assoprou e mordeu: ao mesmo tempo que dizia que não se tratava de um ataque a um concorrente, por que a “Binance sempre encoraja a colaboração entre os players da indústria”, decretou a morte da concorrente: “nossa indústria está nascendo, e sempre que um projeto fracassa publicamente, todas as plataformas saem machucadas”.
Foi o necessário para começar uma espécie de corrida bancária na FTX, com saques de milhares de bitcoins (então US$ 600 milhões) e venda desesperada do FTT, que perdeu 90% do valor.
Sem reservas e cheia de um token irrelevante, a FTX estava oficialmente insolvente, com um rombo que pode chegar a US$ 8 bilhões, e foi pedir socorro justamente à Binance.
A princípio, CZ se comprometeu com a rival, mas horas depois desistiu.
Nos bastidores do mercado, conta-se que havia muito mais em jogo do que concorrência por clientes. A disputa entre FBS e CZ também é regulatória.
O dono da FTX é um dos maiores doadores políticos nos Estados Unidos e estaria usando a influência que comprou junto ao partido Democrata para fazer passar uma lei que restringiria a atuação da Binance no país.
Para CZ, portanto, tratava-se também de não deixar que outra empresa construísse um fosso para si. Ele jogava duas partidas de xadrez ao mesmo tempo, e ganhou ambas.
Rescaldo no mercado de criptomoedas
Desde que a saúde da FTX foi posta em dúvida, mais de US$ 50 bilhões em valor de mercado de criptomoedas evaporaram.
- Leia também: Bitcoin desaba para menor patamar em dois anos; entenda o que fez as criptomoedas derreterem hoje
Some-se a isso mais US$ 32 bilhões do valuation da FTX e temos uma destruição enorme de capital e de confiança que podem atrasar a indústria significativamente — investidor escaldado, profissional ou não, tem medo de água fria.
Para a maioria, no entanto, o sentimento é o de que a marcha inevitável dos criptoativos segue, apesar de ter sido mais uma vez foi atrapalhada por um irresponsável que gerou medo, incerteza e dúvida para uma indústria que se vê justamente como a solução para um mercado financeiro tradicional problemático.
A esperança é a de que o corpo empalhado (metaforicamente) da FTX se une ao de Luna e Celsius e eduque quem vem atrás.
Abraços,
Renato Santiago
Eleição no Chile confirma a guinada política da América do Sul para a direita; o Brasil será o próximo?
Após a vitória de Javier Milei na Argentina em 2023 e o avanço da direita na Bolívia em 2025, o Chile agora caminha para um segundo turno amplamente favorável ao campo conservador
Os CDBs que pagam acima da média, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Quando o retorno é maior que a média, é hora de desconfiar dos riscos; investidores aguardam dados dos EUA para tentar entender qual será o caminho dos juros norte-americanos
Direita ou esquerda? No mundo dos negócios, escolha quem faz ‘jogo duplo’
Apostar no negócio maduro ou investir em inovação? Entenda como resolver esse dilema dos negócios
Esse número pode indicar se é hora de investir na bolsa; Log corta dividendos e o que mais afeta seu bolso hoje
Relação entre preço das ações e lucro está longe do histórico e indica que ainda há espaço para subir mais; veja o que analistas dizem sobre o momento atual da bolsa de valores brasileira
Investir com emoção pode custar caro: o que os recordes do Ibovespa ensinam
Se você quer saber se o Ibovespa tem espaço para continuar subindo mesmo perto das máximas, eu não apenas acredito nisso como entendo que podemos estar diante de uma grande janela de valorização da bolsa brasileira — mas isso não livra o investidor de armadilhas
Seca dos IPOs ainda vai continuar, fim do shutdown e o que mais movimenta a bolsa hoje
Mesmo com Regime Fácil, empresas ainda podem demorar a listar ações na bolsa e devem optar por lançar dívidas corporativas; mercado deve reagir ao fim do maior shutdown da história dos EUA, à espera da divulgação de novos dados
Rodolfo Amstalden: Podemos resumir uma vida em uma imagem?
Poucos dias atrás me deparei com um gráfico absolutamente pavoroso, e quase imediatamente meu cérebro fez a estranha conexão: “ora, mas essa imagem que você julga horripilante à primeira vista nada mais é do que a história da vida da Empiricus”
Shutdown nos EUA e bolsa brasileira estão quebrando recordes diariamente, mas só um pode estar prestes a acabar; veja o que mais mexe com o seu bolso hoje
Temporada de balanços, movimentos internacionais e eleições do ano que vem podem impulsionar ainda mais a bolsa brasileira, que está em rali histórico de valorizações; Isa Energia (ISAE4) quer melhorar eficiência antes de aumentar dividendos
Ibovespa imparável: até onde vai o rali da bolsa brasileira?
No acumulado de 2025, o índice avança quase 30% em moeda local — e cerca de 50% em dólar. Esse desempenho é sustentado por três pilares centrais
Felipe Miranda: Como era verde meu vale do silício
Na semana passada, o mitológico investidor Howard Marks escreveu um de seus icônicos memorandos com o título “Baratas na mina de carvão” — uma referência ao alerta recente de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, sobre o mercado de crédito
Banco do Brasil (BBAS3) precisará provar que superou crise do agro, mercado está otimista com fim do shutdown nos EUA no horizonte, e o que mais você precisa saber sobre a bolsa hoje
Analistas acreditam que o BB não conseguirá retomar a rentabilidade do passado, e que ROE de 20% ficou para trás; ata do Copom e dados de inflação também mexem com os mercados
Promovido, e agora? Por que ser bom no que faz não te prepara para liderar pessoas
Por que seguimos promovendo técnicos brilhantes e esperando que, por mágica, eles virem líderes preparados? Liderar é um ofício — e como todo ofício, exige aprendizado, preparo e prática
Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje
Depois de rebranding, Axia Energia anuncia R$ 4 bilhões em dividendos; veja o que mais mexe com a bolsa, que bate recorde depois de recorde
Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis
Mesmo com os gastos de rebranding, a empresa entregou bons resultados no 3T25 — e há espaço tanto para valorização das ações como para mais uma bolada em proventos até o fim do ano
FII escondido no seu dia a dia é campeão entre os mais recomendados e pode pagar dividendos; mercado também reflete decisão do Copom e aprovação da isenção de IR
BTGLG11 é campeão no ranking de fundos imobiliários mais recomendados, Copom manteve Selic em 15% ao ano, e Senado aprovou isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil
É bicampeão! FII BTLG11 volta ao topo do ranking dos fundos mais recomendados em novembro — e tem dividendos extraordinários no radar
Pelo segundo mês consecutivo, o BTLG11 garantiu a vitória ao levar quatro recomendações das dez corretoras, casas de análise e bancos consultados pelo Seu Dinheiro
Economista revela o que espera para a Selic em 2025, e ações ligadas à inteligência artificial sofrem lá fora; veja o que mais mexe com o mercado hoje
Ibovespa renovou recorde antes de decisão do Copom, que deve manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, e economista da Galapagos acredita que há espaço para cortes em dezembro; investidores acompanham ações de empresas de tecnologia e temporada de balanços
O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje
O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro
Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação
Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.