Ruídos da recessão: como a alta dos preços da energia na Europa acabou com a vantagem competitiva da zona do euro
Efeitos nocivos da recessão na Europa também devem afetar o Brasil, que fornece matérias-primas e compra maquinários industriais dos europeus

Não é novidade para ninguém que o mundo passa por um momento paradigmático. O aperto monetário em diversos países deverá provocar uma forte desaceleração econômica, podendo resultar, inclusive, em uma recessão.
Notadamente, não deveremos ter uma crise do tamanho da verificada em 2008, mas ainda assim os desdobramentos sobre o crescimento podem ser relevantes e a posterior recuperação não será tão rápida quanto a retomada pós-pandêmica.
Neste contexto, a situação europeia tem chamado a atenção dos investidores, em especial agora com a parada para manutenção do principal gasoduto do continente, o Nord Stream 1, que leva gás russo para a Alemanha.
A importância do gás russo para a Europa
O evento é importante porque as preocupações energéticas na Europa estão ficando cada vez mais sombrias, com uma Rússia engajada em sua posição de prejudicar o bloco por causa de suas pesadas sanções e apoio à Ucrânia.
Ou seja, Vladimir Putin conseguiu transformar sua invasão na Ucrânia de constrangimento para impasse internacional. Hoje, o presidente russo continua encontrando novas maneiras de fazer a Europa pagar por se opor a ele — a recente ordem para fechar temporariamente um terminal de exportação de petróleo do Cazaquistão foi provavelmente mais uma manobra russa.
Não custa lembrar que Moscou fornece à União Europeia cerca de 40% das importações de gás natural e, em países como a Alemanha, esse número chega a 60%. O gás natural é usado principalmente para aquecimento, alimentação e geração de energia para a indústria pesada.
Leia Também
Rodolfo Amstalden: Falta pouco agora
Recentemente, os mercados aumentaram os preços do contrato futuro do gás natural, de modo a refletir melhor a realidade de que a Rússia ainda pode apertar mais a sua oferta, podendo desaparecer completamente com ela no inverno.
Para ilustrar, já na semana passada, a Rússia reduziu a capacidade para a Alemanha via Nord Stream 1 em 40%, ao passo que o país tentava encher seu armazenamento antes do inverno. Agora, outra interrupção atingirá o importante oleoduto nos próximos 10 dias, com trabalhos de manutenção anual ocorrendo de 11 a 21 de julho.
Claro, existem outros grandes gasodutos de gás natural que vão da Rússia à Europa, mas os fluxos vêm diminuindo gradualmente devido a disputas sobre pagamentos de rublos e interferência das forças russas.
Europa teme que manutenção de gasoduto dure mais que o planejado
Dessa forma, a Alemanha e outros países do bloco temem que os russos possam estender a paralisação devido à guerra na Ucrânia, ou até mesmo fechar as torneiras para sempre.
Com isso, o governo alemão já acionou seu plano de emergência de gás — no próximo nível, teríamos o governo racionando o consumo e assumindo o controle da rede de distribuição. Paralelamente, os alemães também abriram várias usinas a carvão para reforçar o fornecimento energético.
A Alemanha, porém, é apenas o exemplo mais dramático dessa mudança. Com déficits comerciais na França e em outros membros, a zona do euro como um todo está agora registrando déficits em sua conta corrente por conta dos preços de energia.
Lembre-se que uma interrupção total dos fluxos russos para a Europa seria equivalente a um choque de oferta de cerca de 40% no mercado de gás europeu. Nesse cenário, veríamos um aumento nos preços do gás como inevitável, aumentando gradualmente as contas de energia para as famílias.
Alternativas em avaliação
Alternativas estão sendo estudadas, como a utilização da Noruega para suprimentos adicionais, ou a compra de gás por meio do Oleoduto Trans Adriático para a Itália e do Gasoduto Transanatólio via Turquia para as nações do sul.
Outras ideias incluem aumentar as importações de GNL ou aumentar a geração de energia a partir de energia nuclear, hidrelétrica, energia renovável ou carvão.
Se nada for feito, o Goldman Sachs estima que as contas aumentariam em algo próximo de 65% a partir deste evento, elevando o custo doméstico total de energia e gás para cerca de € 500 por mês, criando um problema significativo de acessibilidade — as contas de energia teriam aumentado quase 300% nesta base.
Como isso afeta o euro
Para todas essas economias, essa evaporação histórica da vantagem comercial removeu o que em muitos casos era tradicionalmente um importante suporte para suas taxas de câmbio; afinal, de alguma forma é necessário pagar pelos novos déficits.
Se um país não consegue atrair investidores com rendimentos atraentes, principalmente porque os rendimentos dos EUA mantêm seu prêmio graças a um Federal Reserve mais agressivo, é a taxa de câmbio que provará o mecanismo de ajuste.
A narrativa justifica a queda do euro nas últimas semanas — em 12 meses, o euro cai mais de 15%, alcançando a paridade com o dólar pela primeira vez em 20 anos.
Em outras palavras, a maneira europeia de lidar com os déficits comerciais por conta do preço das commodities energéticas é ver o euro enfraquecer persistentemente.
Isso significa outro impulso inflacionário para as economias da Europa, o que, inversamente, seria uma ajuda para os formuladores de políticas dos EUA.
Um dólar mais forte no mundo e uma recessão na Europa poderiam ter efeitos nocivos para a economia global, afetando inclusive o Brasil, muito sensível ao humor internacional.
Como somos fornecedores de matérias-primas para os europeus e consumidores de seus maquinários industriais, não há dúvidas que sofreremos em meio a uma crise europeia.
O dia em que parte da Europa parou: Portugal, Espanha, França e mais três países ficam no escuro
Até o torneio de tênis precisou ser interrompido, com os jogadores retirados de quadra; um fenômeno atmosférico raro teria provocado a falta de luz
Agenda econômica: Balanços, PIB, inflação e emprego estão no radar em semana cheia no Brasil e no exterior
Semana traz IGP-M, payroll, PIB norte-americano e Zona do Euro, além dos últimos balanços antes das decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos de maio
Agenda intensa: semana tem balanços de gigantes, indicadores quentes e feriado
Agenda da semana tem Gerdau, Santander e outras gigantes abrindo temporada de balanços e dados do IGP-M no Brasil e do PIB nos EUA
Adeus ao Papa Francisco: Vaticano inicia rito de 9 dias de celebração fúnebre; saiba o que acontece depois
Papa Francisco morreu aos 88 anos deixando um legado de significativas mudanças de paradigma na Igreja Católica.
Se errei, não erro mais: Google volta com o conversor de real para outras moedas e adiciona recursos de segurança para ter mais precisão nas cotações
A ferramenta do Google ficou quatro meses fora do ar, depois de episódios nos quais o conversor mostrou a cotação do real bastante superior à realidade
Deixa a bolsa me levar: Ibovespa volta a flertar com máxima histórica em dia de IPCA-15 e repercussão de balanço da Vale
Apesar das incertezas da guerra comercial de Donald Trump, Ibovespa está a cerca de 2% de seu recorde nominal
O turismo de luxo na Escandinávia é diferente; hotéis cinco-estrelas e ostentação saem do roteiro
O verdadeiro luxo em uma viagem para a região escandinava está em praticar o slow travel
Por que o ouro se tornou o porto seguro preferido dos investidores ante a liquidação dos títulos do Tesouro americano e do dólar?
Perda de credibilidade dos ativos americanos e proteção contra a inflação levam o ouro a se destacar neste início de ano
Fim da linha para o dólar? Moeda ainda tem muito a cair, diz economista-chefe do Goldman Sachs
Desvalorização pode vir da relutância dos investidores em se exporem a investimentos dos EUA diante da guerra comercial com a China e das incertezas tarifárias, segundo Jan Hatzius
A culpa é da Gucci? Grupo Kering entrega queda de resultados após baixa de 25% na receita da principal marca
Crise generalizada do mercado de luxo afeta conglomerado francês; desaceleração já era esperada pelo CEO, François Pinault
Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar
China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam
Agora 2025 começou: Ibovespa se prepara para seguir nos embalos da festa do estica e puxa de Trump — enquanto ele não muda de ideia
Bolsas internacionais amanheceram em alta nesta quarta-feira diante dos recuos de Trump em relação à guerra comercial e ao destino de Powell
Ibovespa pega carona nos fortes ganhos da bolsa de Nova York e sobe 0,63%; dólar cai a R$ 5,7284
Sinalização do governo Trump de que a guerra tarifária entre EUA e China pode estar perto de uma trégua ajudou na retomada do apetite por ativos mais arriscados
Banco Central acionou juros para defender o real — Galípolo detalha estratégia monetária brasileira em meio à guerra comercial global
Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Gabriel Galípolo detalhou a estratégia monetária do Banco Central e sua visão sobre os rumos da guerra comercial
Bitcoin engata alta e volta a superar os US$ 90 mil — enfraquecimento do dólar reforça tese de reserva de valor
Analistas veem sinais de desacoplamento entre bitcoin e o mercado de ações, com possível aproximação do comportamento do ouro
Roma e Vaticano: o que muda para as viagens próximas após a morte do Papa
Mudança nos horários e dias de visitação dos museus do Vaticano e da Capela Sistina já estão previstos, devido aos rituais da Igreja Católica após a morte do líder religioso
Orgulho e preconceito na bolsa: Ibovespa volta do feriado após sangria em Wall Street com pressão de Trump sobre Powell
Investidores temem que ações de Trump resultem e interferência no trabalho do Fed, o banco central norte-americano
Quem vai substituir o papa: nas bolsas de apostas, surgem os primeiros nomes — “cópia asiática” de Francisco está entre os favoritos
Também começa a surgir nas casas de apostas o nome que o futuro papa pode escolher
A última ameaça: dólar vai ao menor nível desde 2022 e a culpa é de Donald Trump
Na contramão, várias das moedas fortes sobem. O euro, por exemplo, se valoriza 1,3% em relação ao dólar na manhã desta segunda-feira (21)
Adeus ao papa Francisco: o que você precisa saber sobre o legado, a reação internacional e o que acontece agora
O Seu Dinheiro destacou os principais pontos da liderança do pontífice argentino nos 12 anos à frente da igreja católica e também resumo as vitórias e polêmicas do período