NuCrashed: Ainda vale a pena deixar os bancões como o Itaú de lado para investir em fintechs como o Nubank?
Com a temporada de balanços agitada e a intensificação da crise de relações públicas do Nubank, é preciso escolher bem onde colocar o dinheiro; conheça a visão de Felipe Miranda sobre o setor financeiro

“O papel da WeWork é elevar a consciência mundial.”
Rebecca Neumann
Depois da surpresa negativa no resultado trimestral, os analistas querem saber como modelar o lifetime value do cliente de varejo para a frente. O management insiste em contar a história da venda da Ranger.
O mercado também quer entender os lucros do business institucional. O management rebate, argumentando que não olha a companhia assim.
Prefere falar em off com aquele analista dedicado, para, claro, poupar o tempo dos demais presentes no call, desinteressados (será mesmo?) naquele pequeno detalhe.
Abril e os tempos de queda da bolsa
Será, então, que podemos ter uma cor do mês de abril, dado o início de ano mais poluído? A Diretoria evita o disclosure.
Diz que está focada no longo prazo, evitando dados de alta frequência, essencialmente voláteis e ruidosos. Sabe como é: em tempos de queda da Bolsa, day trader vira investidor de dividendo.
Leia Também
A simplicidade é a maior das sofisticações na hora de investir
Marcas da independência: Vitreo agora é Empiricus Investimentos
O que está acontecendo com empresas que até pouco tempo atrás eram grandes queridinhas e agora enfrentam quedas de 40%, 50%, até 80% em suas ações?
Mudanças macroeconômicas e as empresas na bolsa
Há uma leitura (correta, esclareça-se) de que grande parte dessa mudança de percepção decorre de uma alteração macroeconômica e sistêmica.
A nova configuração para taxas de juro em âmbito global e também local exige uma importante atualização dos valuations e impacta os lucros para a frente.
Foram companhias nascidas e criadas num ambiente de financial deepening, numa espécie de farra do dinheiro barato, dos powerpoints bonitos e dos CEOs messiânicos.
Tempos fáceis criam homens (e empresas) fracos. O sucesso é sempre um mau professor, escondendo fragilidades estruturais e empurrando para debaixo do tapete desvantagens competitivas e disputas internas.
De underdog a mainstream
Tudo isso é verdade. Contudo, essa interpretação estritamente financeira não me parece contar toda a história.
Ofereço uma explicação adicional para a coisa — em nenhuma medida ela conflita com a anterior; ao contrário, trata-se apenas de um reforço.
O contexto macro desafiador apenas facilita trazer à superfície as adversidades culturais.
O mercado subestima a priori o quanto é difícil fazer uma transição da posição do estereótipo do underdog, do franco atirador contra um sistema opressivo, para uma situação mais mainstream, de incumbente.
A alternativa aos defeitos
No primeiro estágio, a empresa nascente desafia o sistema, se coloca como alternativa aos defeitos alheios. Nutre-se do arquétipo do herói que vem enfrentar os vilões estabelecidos.
O neobank desnudo de taxas e produtos ruins cresce exponencialmente a partir de cores e narrativas reluzentes em prol do cliente.
Ainda sem grande escala e sem muito produto para vender, o atendimento é impecável, o correntista é bem tratado. O boca a boca rola solto, o CAC é baixo e passamos a observar os benefícios da externalidade de rede. A coisa vai bem até certo momento.
Fintech ou maior banco da América Latina?
Mas então a fintech vira o maior banco da América Latina em valor de mercado. Fica difícil falar mal do sistema se você virou o próprio sistema.
E se continua pagando imposto como fintech, começa a oferecer seguro de vida caro aos clientes, passa a não atender os correntistas com a maior eficiência e, pior, alimenta seus executivos, que por sua vez estão em Punta, em Dubai ou na Disney, com bônus multimilionários, a coisa fica um pouco mais delicada.
A natureza do underdog é essencialmente diferente da natureza do incumbente. Davi tem suas próprias características definidoras. Magro, jovem, desconhecido. Ele não pode ser Golias.
Uma fintech e as escolhas
Pois, então, encaramos a difícil escolha de uma das situações:
1 — O desafiante original terá de se adaptar à nova natureza, o que é sempre uma questão difícil, porque as nossas almas têm seus próprios ancestrais. Mudar a si mesmo é sempre muito difícil.
2 — Caso a empresa em questão consiga se adaptar, o cliente original vai continuar fiel? Ou ele gostava mesmo das características originais, perdidas no momento em que tal natureza mudou?
Complicadores da situação
Existem complicadores. O primeiro talvez de cunho sociológico. Numa sociedade essencialmente penitente pela herança cultural católica (diferente da ética protestante em prol do trabalho e dos lucros) e muito desigual entre suas classes, o sucesso é mal visto.
É fácil gostar do pequeno, difícil valorizar o rico e poderoso.
O segundo é que, para crescer tão rápido e entrarem no gosto do investidor, muitas dessas empresas assentaram-se sobre narrativas irreais, tornando-se escravas delas mesmas.
Abraçaram o home office quando ninguém sabia ainda como isso ficaria. Quiseram montar um novo Cupertino e daí, de repente, cadê a Vila? Ora, mas não emitiram um CRI?
Com o novo patamar de escala, contratam-se novas pessoas de fora, não necessariamente alinhadas à cultura original. O banqueiro renomado pode conviver em harmonia com os jovens de outra natureza?
A rentabilização do cliente
O terceiro deriva da dificuldade de manter aquele NPS tão alto e o CAC tão baixo quando você precisa virar a chave para rentabilizar o cliente — afinal, ao menos no mundo em que eu vivo, só pode haver sustentabilidade empresarial se aquela empresa gerar caixa.
O cliente que adorava a ausência de anuidade vai continuar trazendo um coleguinha pra ser cliente quando ele analisar a fatura do cartão e o custo do seu seguro de vida?
Se há exponencialidade no boca a boca, também existem as viralizações negativas.
O Nubank e a crise de relações públicas
Há poucas semanas, o Nubank enfrentou talvez sua maior crise de relações públicas, com o caso da remuneração de seus executivos.
No final de semana, outro problema: viralização de uma sequência de tuítes sobre movimentação bancária de um cliente.
De repente, virou pop falar mal daqueles que há poucos meses foram capa de revista com o título de “revolução no capitalismo”.
O retorno dos bancões?
Enquanto isso na sala da justiça, Itaú soltou um bom resultado trimestral, com lucro líquido de R$ 7,4 bilhões, ligeiramente acima do consenso — não foi um resultado espetacular e tão superior ao esperado, mas consistente, com belo desempenho do braço de seguros.
E BTG teve seu recorde histórico de lucros e receitas, com ROE de impressionantes 21,5%, muito ajudado por resultado de tesouraria.
Ah, sim, o mercado não paga muito por sales & trading, mas lucro é lucro; não é retórica ou narrativa. Ajuda a pagar a conta do resto e a investir ou pagar dividendo.
Entre Adam Neumann e Jamie Dimon, não parece muito difícil escolher.
Rodolfo Amstalden: O elogio que nem minha mãe me fez
Em mercados descontados que ainda carregam grandes downside risks, ganha-se e perde-se muito no intraday, mas nada acontece no dia após dia
Degrau por degrau: Confira a estratégia de investimento dos grandes ganhadores de dinheiro da bolsa
Embora a ganância nos atraia para a possibilidade de ganhos rápidos e fáceis, a realidade é que quem ganha dinheiro com ações o fez degrau por degrau
Blood bath and beyond: Entenda o banho de sangue dos mercados financeiros — e as oportunidades para o Brasil
Michael Hartnett, do Bank of America Merrill Lynch, alerta para um possível otimismo exagerado e prematuro sobre o fim da subida da taxa básica de juro nos EUA; saiba mais
Você está disposto a assumir riscos para atingir seus sonhos e ter retornos acima da média?
Para Howard Marks, você não pode esperar retornos acima da média se você não fizer apostas ativas. Porém, se suas apostas ativas também estiverem erradas, seus retornos serão abaixo da média
Rodolfo Amstalden: Qual é o mundo que nos aguarda logo à frente?
O mercado inteiro fala de inflação, e com motivos; afinal, precisamos sobreviver aos problemas de curto prazo. Confira as lições e debates trazidos por John Keynes
Novas energias para seu portfólio: Conheça o setor que pode impedir a Europa de congelar — e salvar sua carteira
Para aqueles que querem apostar no segmento de energia nuclear, responsável por 10% da energia do mundo, é interessante diversificar uma pequena parcela do capital
Está na hora de você virar um investidor qualificado
No longo prazo, produtos de investimento qualificado podem ter uma rentabilidade média maior e permitem maior diversificação
É melhor investir em bolsa ou em renda fixa no atual momento dos mercados financeiros?
A resposta continuará sendo uma carteira devidamente diversificada, com proteções e sob a âncora de valuations suficientemente descontados
Rodolfo Amstalden: Foi tudo graças à peak inflation
Imagine dois financistas sentados em um bar. Um desses sujeitos é religioso, enquanto o outro é ateu. Eles discutem sobre a eventual existência de bull markets
Beta, e depois alpha: Saiba por que você precisa saber analisar a temporada de balanços antes de montar sua carteira
Depois de muito tempo de narrativas sobre juros, inflação e recessão, talvez estejamos entrando num momento em que os resultados individuais voltam a ser relevantes
Rodolfo Amstalden: Uma ideia de research jamais poderá salvar sua alma
Venho escrevendo relatórios de research há quase 15 anos, e ainda não aprendi uma lição: a de que não é possível alcançar consolo para os nossos lutos através da explicação
Más notícias virando boas notícias? Saiba como queda no PIB dos EUA pode beneficiar seus investimentos
Investidores enxergaram nesse dado ruim a possibilidade de o Fed reduzir o aperto monetário. Desde então, os índices americanos valorizaram mais de 10%. Mas será que é para ficar animado?
Felipe Miranda: Dez lições de um fracassado
Após escrever um best-seller sobre o sucesso, hoje resolvi falar sobre o fracasso. Confira uma dezena de coisas que muito possivelmente você não vai ouvir por aí
Por que uma certificação ainda vale muito para trabalhar no mercado financeiro
Longe de mim desmerecer o conhecimento empírico, mas ter um certificado que comprove a sua expertise ainda é fundamental no mundo dos investimentos
O que é preciso para alcançar os melhores resultados em investimentos
Os melhores resultados não costumam vir das nossas melhores intenções, mas das melhores leituras de cenário.
Rodolfo Amstalden: Como se não bastasse, a crise hídrica nas bolsas mundiais voltou
O Ibovespa rompeu a barreira dos 100 mil pontos 8 vezes desde junho, sem sair do lugar, e os investidores estão perdendo dinheiro com tantos pregões que não levam a lugar nenhum
Como lidar com o desconhecido? Saiba como analisar os cenários no mundo e encontrar oportunidades de investimento
Minha sugestão é a diversificação de seu portfólio de investimentos e a ampliação do seu horizonte temporal para se apropriar dos diversos prêmios de risco ao longo do tempo
Será possível retornar à era de ouro dos grandes fundos de ações?
O jogo está estruturalmente mais difícil, por conta da maior competição, das restrições impostas pelo tamanho e pela menor assimetria de informação
E o Oscar de melhor fundo no curto prazo vai para…
Nas crises, o investidor inteligente é aquele que sobrevive. Para isso, deve-se preferir a consistência de bons retornos à raridade de desempenhos excepcionais
Rodolfo Amstalden: Nasci 300 mil anos atrás, sou quase um bebê
Somos mais frágeis do que gostaríamos de admitir. Mas, se tomássemos em plena conta essa fragilidade, faltaria confiança para seguirmos adiante