Sinais do Copom apontam para Selic a 7% no fim do ano, diz Padovani, do banco BV
Economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani destacou o tom mais ríspido do Banco Central e a indicação de que a Selic continuará em alta

O Banco Central assumiu uma postura dura, mas esperada: elevou hoje a Selic em mais 0,75 ponto, levando-a ao nível de 4,25% ao ano. É verdade que parte do mercado apostava numa alta ainda mais rápida, mas até mesmo quem pedia um salto de 1 ponto nos juros não deve ter do que reclamar.
Afinal, o Copom deu a entender que uma nova elevação de 0,75 ponto vem por aí, levando os juros ao nível de 5% na reunião de agosto. Mais que isso: retirou a menção à "normalização parcial" da política monetária — o que, na prática, indica que a trajetória ascendente dos juros deve ir além do que se previa.
Para Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, o Banco Central assumiu uma postura dura e mostrou empenho na tarefa de frear a trajetória da inflação. É claro que muitas variáveis podem mudar ao longo do caminho, mas a instituição segue comprometida com sua estratégia de enviar mensagens claras ao mercado.
Padovani, mestre em economia pela FGV e ex-assessor do Ministério da Fazenda, conversou com o Seu Dinheiro logo após a divulgação da nova taxa Selic. Veja abaixo os principais pontos da entrevista:
Seu Dinheiro: Quais sinalizações do Copom mais chamaram a sua atenção?
Roberto Padovani: Teve muita coisa importante. Vou citar três.
Leia Também
A primeira, mais simples, é o compromisso de mais uma alta de 0,75 ponto. Na prática, deram um aumento de 150 bps, mas como um movimento desses não é usual, eles dividiram. É praticamente um dado certo e seguro: a estratégia para a próxima reunião já está definida.
Em segundo lugar, eles retiraram o termo "normalização parcial". Isso sugere que, para chegar à meta de inflação de 2022, será preciso uma taxa de juros maior. A ideia de que seria possível alcançar uma inflação de 3,5% em 2022 com uma Selic de 5,5% ao ano não é mais possível, terá que subir mais.
Terceiro: eles pretendem alcançar o nível neutro de maneira mais rápida. Tiraram a normalização parcial e, agora, dizem que vão caminhar para uma normalização mais rápida — e fazem isso anunciando mais uma alta na próxima reunião, tirando a sinalização de conforto.
Acreditamos que o BC irá perseguir uma taxa de 7% ao fim desse ano.
SD: Com a alta de hoje e as indicações dadas no comunicado, o Banco Central conseguirá ancorar as expectativas do mercado?
Padovani: O Banco Central está atrasado em relação aos ativos financeiros. A expectativa é que sim, ele conseguirá ancorar. Mas, como qualquer gestão de política pública, tem um pouco de tentativa e erro nesse processo.
Há muitas variáveis que podem afetar o plano. Nesse momento, há uma indicação de política monetária mais dura, e, assim, aumentam as chances de atingir a meta em 2022.
Eu diria que o plano faz sentido. Mas é preciso ver o andamento da economia, das commodities, do câmbio e outras coisas para saber se vamos alcançar a meta em 2022.
SD: Você citou uma Selic a 7% no fim de 2021. O atual ciclo de altas nos juros para aí ou vai além desse nível no ano que vem?
Padovani: A princípio, eu acho que para [nos 7% ao fim do ano]. Os 6,5% que eram perseguidos devem ser próximos ao nível neutro, então será preciso uma taxa de juros um pouco acima para segurar a inflação. Algo a redor de 7%, acima do neutro, faz sentido.
O problema é que não sabemos exatamente qual o patamar neutro e quanto acima devemos ficar. Mas, olhando hoje para a dinâmica da economia, das commodities, do câmbio, das expectativas de inflação... Esse conjunto de informações sugere que você deve ter uma taxa acima do neutro.
SD: Os sinais dados pelo Fed hoje podem ter influenciado o tom do Copom?
Padovani: Não, por dois motivos.
Há uma questão mais teórica que é a diferença na função de reação dos bancos centrais. O objetivo do BC americano é alcançar uma média das metas de inflação, é um mandato diferente. O nosso BC olha para a inflação no fim do ano-calendário, então, o Fed teoricamente não afeta o Copom.
Em termos práticos, a estratégia dos BCs é diferente, mas o comportamento de cada um pode afetar os ativos. A decisão de hoje do Fed não causou tanto impacto, os treasuries subiram um pouco, o câmbio ficou um pouco pressionado, mas não teve mudança de cenário.
SD: O que esperar da reação dos mercados amanhã?
Padovani: O mercado já antecipava essa alta, mas teremos ajustes importantes no mercado de juros. Na parte longa podemos ver a curva cedendo um pouco, já que BCs mais duros reduzem os riscos de médio prazo.
A sinalização de 150 bps é importante para o câmbio. É possível abrirmos a sessão com um dólar em queda [por causa do diferencial de juros em relação aos EUA].
O que determina o dólar é o fluxo externo. Mas, mantido tudo constante, a indicação é de uma moeda mais valorizada em relação ao dólar.
Com real digital do Banco Central, bancos poderão emitir criptomoeda para evitar “corrosão” de balanços, diz Campos Neto
O presidente da CVM, João Pedro Nascimento, ainda afirmou que a comissão será rigorosa com crimes no setor: “ fraude não se regula, se pune”
O real digital vem aí: saiba quando os testes vão começar e quanto tempo vai durar
Originalmente, o laboratório do real digital estava previsto para começar no fim de março e acabar no final de julho, mas o BC decidiu suspender o cronograma devido à greve dos servidores
O ciclo de alta da Selic está perto do fim – e existe um título com o qual é difícil perder dinheiro mesmo se o juro começar a cair
Quando o juro cair, o investidor ganha porque a curva arrefeceu; se não, a inflação vai ser alta o bastante para mais do que compensar novas altas
Banco Central lança moedas em comemoração ao do bicentenário da independência; valores podem chegar a R$ 420
As moedas possuem valor de face de 2 e 5 reais, mas como são itens colecionáveis não têm equivalência com o dinheiro do dia a dia
Nubank (NUBR33) supera ‘bancões’ e tem um dos menores números de reclamações do ranking do Banco Central; C6 Bank lidera índice de queixas
O banco digital só perde para a Midway, conta digital da Riachuelo, no índice calculado pelo BC
Economia verde: União Europeia quer atingir neutralidade climática até 2050; saiba como
O BCE vai investir cerca de 30 bilhões de euros por ano; União Europeia está implementado políticas para reduzir a emissão de carbono
A escalada continua: Inflação acelera, composição da alta dos preços piora e pressiona o Banco Central a subir ainda mais os juros
O IPCA subiu 0,67% em junho na comparação com maio e 11,89% no acumulado em 12 meses, ligeiramente abaixo da mediana das projeções
Focus está de volta! Com o fim da greve dos servidores, Banco Central retoma publicações — que estavam suspensas desde abril
O Boletim Focus volta a ser publicado na próxima segunda-feira (11); as atividades do Banco Central serão retomadas a partir de amanhã
Greve do BC termina na data marcada; paralisação durou 95 dias
Os servidores do Banco Central cruzaram os braços em abril e reivindicavam reajuste salarial e reestruturação da carreira — demandas que não foram atendidas a tempo
Vai ter cartinha: Banco Central admite o óbvio e avisa que a meta de inflação para 2022 está perdida
Com uma semana de atraso, Banco Central divulgou hoje uma versão ‘enxuta’ do Relatório Trimestral da Inflação
Greve do BC já tem data pra acabar: saiba quando a segunda mais longa greve de servidores da história do Brasil chegará ao fim — e por quê
A data final da greve dos servidores do BC leva em consideração a Lei de Responsabilidade Fiscal, sem previsão de acordo para a categoria
O fim da inflação está próximo? Ainda não, mas para Campos Neto o “pior momento já passou”
O presidente do BC afirmou que a política monetária do país é capaz de frear a inflação; para ele a maior parte do processo já foi feito
O Seu Dinheiro pergunta, Roberto Campos Neto responde: Banco Central está pronto para organizar o mercado de criptomoedas no Brasil
Roberto Campos Neto também falou sobre real digital, greve dos servidores do Banco Central e, claro, política monetária
O Banco Central adverte: a escalada da taxa Selic continua; confira os recados da última ata do Copom
Selic ainda vai subir mais antes de começar a cair, mas a alta do juro pelo Banco Central está próxima do pico
A renda fixa virou ‘máquina de fazer dinheiro fácil’? Enquanto Bitcoin (BTC) sangra e bolsa apanha, descubra 12 títulos para embolsar 1% ao mês sem estresse
O cenário de juros altos aumenta a tensão nos mercados de ativos de risco, mas faz a renda fixa brilhar e trazer bons retornos ao investidor
Sem avanços e no primeiro dia de Copom, servidores do BC mantêm greve
A greve já dura 74 dias, sem previsão de volta às atividades; o presidente do BC, Roberto Campos Neto, deve comparecer à Câmara para esclarecer o impasse nas negociações com os servidores
Precisamos sobreviver a mais uma Super Quarta: entenda por que a recessão é quase uma certeza
Não espere moleza na Super Quarta pré-feriado; o mundo deve continuar a viver a tensão de uma realidade de mais inflação e juros mais altos
Greve do BC: Vai ter reunião do Copom? A resposta é sim — mesmo com as publicações atrasadas
A reunião do Copom acontece nos dias 14 e 15 de junho e os servidores apresentaram uma contraproposta de reajuste de 13,5% nos salários
Nada feito: sem proposta de reajuste em reunião com Campos Neto, servidores do BC seguem em greve
Mais uma vez, a reunião do Copom de junho se aproxima: o encontro está marcado para os dias 14 e 15 e ainda não se sabe em que grau a paralisação pode afetar a divulgação da decisão
Inflação no Brasil e nos EUA, atividade e juros na Europa; confira a agenda completa de indicadores econômicos da semana que vem
Nesta semana, o grande destaque no Brasil fica por conta do IPCA, o índice de inflação que serve de referência para a política monetária do BC