Escalada das commodities e crise hídrica pressionam inflação
Por oito semanas consecutivas, as expectativas do mercado financeiro para a inflação não pararam de subir, segundo o Boletim Focus do Banco Central

A crise hídrica que já provoca aumento da tarifa de energia elétrica e a escalada de preços das commodities, especialmente as metálicas, elevaram as previsões de inflação para este ano.
Consultorias projetam uma alta que beira 6% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Por oito semanas consecutivas, as expectativas do mercado financeiro para a inflação não pararam de subir, segundo o Boletim Focus do Banco Central.
Na última semana, a mediana das projeções atingiu 5,31% e furou o teto da meta para este ano, de 5,25%. A aceleração põe mais pressão sobre o BC, para que continue elevando os juros, a fim de conter a alta de preços.
"Com a inflação nesse patamar previsto de quase 6% este ano, a normalização da taxa nominal de juros precisa ser rápida", alerta o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale.
Ele acabou de revisar de 5,2% para 5,8% a previsão do IPCA para este ano. Na sua avaliação, o Banco Central provavelmente terá que elevar a Selic para 6,5% no segundo semestre, podendo ir a 7% ou mais. Hoje a taxa é de 3,5% ao ano.
O que está em jogo neste momento, segundo Vale, é a expectativa da inflação para 2022. Isso por causa de fatores adversos que elevaram a projeção do IPCA acima do inicialmente previsto para 2021, da recuperação mais acelerada da atividade e da turbulência do período pré-eleitoral, que deve ter impacto na taxa de câmbio.
Leia Também
"Subir juros é a única opção que o BC tem neste momento, já que a sua função é mirar o centro da meta de inflação (de 3,75%)", afirma a economista Maria Andréia Parente Lameiras, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
No entanto, ela pondera que a efetividade da alta dos juros para tirar o fôlego do câmbio e segurar a inflação neste momento não é total. Isso porque hoje as pressões inflacionárias se acumulam nos preços monitorados, como energia elétrica, medicamentos, planos de saúde, gasolina, por exemplo.
"Com exceção da gasolina, que tem influência direta do dólar, os juros impactam pouco a tarifa de energia que depende das chuvas. Além disso, os reajustes dos remédios e dos planos de saúde já ocorreram."
Foi exatamente o aumento nas projeções dos preços monitorados, de serviços e produtos que só podem ser alterados com aval do governo, que fez o Ipea revisar de 4,6% para 5,3% a projeção para o IPCA deste ano.
Em março, os economistas da instituição projetavam um avanço de 6,4% para os preços monitorados. Mas, após a mudança de bandeira tarifária da energia, dos reajustes de remédios, planos de saúde a da gasolina, a taxa subiu para 8,4%.
Problemaço
Fábio Romão, economista da LCA Consultores, observa que o fato de as pressões inflacionárias estarem acumuladas em alimentos e nos preços administrados é um "problemaço".
Além de esses produtos e serviços serem de difícil substituição pelos consumidores, Romão lembra que o impacto da alimentação no domicílio, que subiu 18,5% em 2020, não saiu de cena. Para 2021, o economista projeta alta de cerca 5% no preço da comida, o que não é pouco.
"Não vamos ter um aumento de preços de alimentos como houve em 2020, o que é um alívio parcial porque o nível continua alto."
Por causa da piora da crise hídrica, que pressiona o custo da energia elétrica, e os efeitos da alta da gasolina e do diesel, além da elevação dos bens industriais, Romão subiu de 5% para 5,5% a projeção de inflação para este ano.
Mas ele não descarta a possibilidade de que essa previsão seja superada, se a bandeira vermelha 2 - a mais cara - para energia elétrica se mantiver até o final do ano.
O economista considera ainda que os preços industriais no atacado, que subiram 25% em 2020, aumentem mais 25% este ano. Isso representa mais pressão de custos, que deve ser repassada para o varejo na medida em que a atividade for melhorando.
Foi exatamente a melhora da atividade, após a divulgação do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre de 1,2%, que superou as expectativas, que fez a Tendências Consultoria Integrada revisar de 4,8% para 5% a projeção de inflação para este ano.
"Não temos viés de alta para a inflação neste momento", frisa Marcio Milan, economista da consultoria. Mais otimista do que seus pares, ele explica que trabalha com a expectativa de que as chuvas se regularizem no Sudeste e no Centro-Oeste até o fim do ano e que ocorra redução da bandeira tarifária.
Milan admite que existe pressão em razão dos preços das commodities metálicas, mas observa que o cenário traçado pela consultoria é de reversão das cotações com a normalização dos estoques.
Dadas as condições atuais, ele não acredita que a inflação fure o teto da meta neste ano. No entanto, o que poderá mudar esse quadro é a aceleração da atividade e a permanência da bandeira tarifária mais elevada até dezembro.
Leia também:
Com real digital do Banco Central, bancos poderão emitir criptomoeda para evitar “corrosão” de balanços, diz Campos Neto
O presidente da CVM, João Pedro Nascimento, ainda afirmou que a comissão será rigorosa com crimes no setor: “ fraude não se regula, se pune”
O real digital vem aí: saiba quando os testes vão começar e quanto tempo vai durar
Originalmente, o laboratório do real digital estava previsto para começar no fim de março e acabar no final de julho, mas o BC decidiu suspender o cronograma devido à greve dos servidores
O ciclo de alta da Selic está perto do fim – e existe um título com o qual é difícil perder dinheiro mesmo se o juro começar a cair
Quando o juro cair, o investidor ganha porque a curva arrefeceu; se não, a inflação vai ser alta o bastante para mais do que compensar novas altas
Banco Central lança moedas em comemoração ao do bicentenário da independência; valores podem chegar a R$ 420
As moedas possuem valor de face de 2 e 5 reais, mas como são itens colecionáveis não têm equivalência com o dinheiro do dia a dia
Nubank (NUBR33) supera ‘bancões’ e tem um dos menores números de reclamações do ranking do Banco Central; C6 Bank lidera índice de queixas
O banco digital só perde para a Midway, conta digital da Riachuelo, no índice calculado pelo BC
Economia verde: União Europeia quer atingir neutralidade climática até 2050; saiba como
O BCE vai investir cerca de 30 bilhões de euros por ano; União Europeia está implementado políticas para reduzir a emissão de carbono
A escalada continua: Inflação acelera, composição da alta dos preços piora e pressiona o Banco Central a subir ainda mais os juros
O IPCA subiu 0,67% em junho na comparação com maio e 11,89% no acumulado em 12 meses, ligeiramente abaixo da mediana das projeções
Focus está de volta! Com o fim da greve dos servidores, Banco Central retoma publicações — que estavam suspensas desde abril
O Boletim Focus volta a ser publicado na próxima segunda-feira (11); as atividades do Banco Central serão retomadas a partir de amanhã
Greve do BC termina na data marcada; paralisação durou 95 dias
Os servidores do Banco Central cruzaram os braços em abril e reivindicavam reajuste salarial e reestruturação da carreira — demandas que não foram atendidas a tempo
Vai ter cartinha: Banco Central admite o óbvio e avisa que a meta de inflação para 2022 está perdida
Com uma semana de atraso, Banco Central divulgou hoje uma versão ‘enxuta’ do Relatório Trimestral da Inflação
Greve do BC já tem data pra acabar: saiba quando a segunda mais longa greve de servidores da história do Brasil chegará ao fim — e por quê
A data final da greve dos servidores do BC leva em consideração a Lei de Responsabilidade Fiscal, sem previsão de acordo para a categoria
O fim da inflação está próximo? Ainda não, mas para Campos Neto o “pior momento já passou”
O presidente do BC afirmou que a política monetária do país é capaz de frear a inflação; para ele a maior parte do processo já foi feito
O Seu Dinheiro pergunta, Roberto Campos Neto responde: Banco Central está pronto para organizar o mercado de criptomoedas no Brasil
Roberto Campos Neto também falou sobre real digital, greve dos servidores do Banco Central e, claro, política monetária
O Banco Central adverte: a escalada da taxa Selic continua; confira os recados da última ata do Copom
Selic ainda vai subir mais antes de começar a cair, mas a alta do juro pelo Banco Central está próxima do pico
A renda fixa virou ‘máquina de fazer dinheiro fácil’? Enquanto Bitcoin (BTC) sangra e bolsa apanha, descubra 12 títulos para embolsar 1% ao mês sem estresse
O cenário de juros altos aumenta a tensão nos mercados de ativos de risco, mas faz a renda fixa brilhar e trazer bons retornos ao investidor
Sem avanços e no primeiro dia de Copom, servidores do BC mantêm greve
A greve já dura 74 dias, sem previsão de volta às atividades; o presidente do BC, Roberto Campos Neto, deve comparecer à Câmara para esclarecer o impasse nas negociações com os servidores
Precisamos sobreviver a mais uma Super Quarta: entenda por que a recessão é quase uma certeza
Não espere moleza na Super Quarta pré-feriado; o mundo deve continuar a viver a tensão de uma realidade de mais inflação e juros mais altos
Greve do BC: Vai ter reunião do Copom? A resposta é sim — mesmo com as publicações atrasadas
A reunião do Copom acontece nos dias 14 e 15 de junho e os servidores apresentaram uma contraproposta de reajuste de 13,5% nos salários
Nada feito: sem proposta de reajuste em reunião com Campos Neto, servidores do BC seguem em greve
Mais uma vez, a reunião do Copom de junho se aproxima: o encontro está marcado para os dias 14 e 15 e ainda não se sabe em que grau a paralisação pode afetar a divulgação da decisão
Inflação no Brasil e nos EUA, atividade e juros na Europa; confira a agenda completa de indicadores econômicos da semana que vem
Nesta semana, o grande destaque no Brasil fica por conta do IPCA, o índice de inflação que serve de referência para a política monetária do BC