Vem uma nova crise financeira por aí? Entenda como o caso Evergrande repercute sobre seus investimentos
Para fazer frente aos achismos tão comuns em momentos de crise como o atual, trazemos aqui o que você precisa saber sobre a Evergrande e quais são os desdobramentos para a sua realidade
Não se fala em outra coisa no mercado que não a questão envolvendo a Evergrande, a gigante da incorporação chinesa. Na verdade, é impressionante como surgiram do dia para a noite um número impressionante de especialistas no mercado imobiliário chinês.
Todos querendo dar um pitaco e muitos querendo opinar, mas poucos com realmente algo fundamentado para agregar. As pessoas não se esforçam dessa maneira para pensar soluções ao problema do saneamento básico brasileiro, por exemplo; se o fizessem, talvez a situação já estivesse bem melhor por aqui.
Muito achismo e pouco estudo
O pessoal lê um artigo sobre a situação e começa a se considerar o maior emissor de opiniões sobre o tema que já existiu. Em um mundo informacionalmente eficiente como o que vivemos, tal contexto talvez seja inevitável, é verdade.
Ainda assim, decidi me debruçar um pouco sobre a questão, visando separar um pouco aquilo que é ruído do que de fato é sinal, de modo a endereçar a questão com a devida responsabilidade.
Já adianto que há várias incertezas e falta de acesso à informação para se conhecer a real situação na China, o que inclusive contribui para reações mais exacerbadas de curto prazo do mercado.
Análises envolvendo a China são sempre complexas. Poucas pessoas no mundo conseguem falar com profundidade sobre a China – se conseguirmos acesso a elas, porém, já temos meio caminho andado. Foi o que fiz nas últimas 24 horas, buscando conversar com quem realmente entende sobre o problema ali contido.
Leia Também
Planejamento, pé no chão e consciência de que a realidade pode ser dura são alguns dos requisitos mais importantes de quem quer ser dono da própria empresa
Rodolfo Amstalden: Será que o Fed já pode usar AI para cortar juros?
Com este pequeno disclaimer exposto, vamos ao que interessa.
O que está acontecendo?
A possibilidade de a empresa imobiliária chinesa Evergrande entrar em colapso e as preocupações gerais com a repressão das empresas endividadas da China estão afetando as ações ao redor do mundo, da Ásia, passando pela Europa e chegando às Américas, agitando os mercados dos EUA e do Brasil.
Na segunda-feira, por exemplo, o Índice Hang Seng (HSI) caiu mais de 3%, mesmo com a China e o Japão fechados para o feriado. Com isso, o índice de referência atingiu seu menor patamar em 11 meses antes. A Evergrande caiu mais de 11%, acumulando recuo de mais de 80% este ano, enquanto luta para cumprir o pagamento da dívida.
Em poucas palavras, a empresa tem mais de US$ 300 bilhões em dívidas e já vem há alguns meses alertando sobre a possibilidade de inadimplência, a qual está começando a se dar nesta semana, com o vencimento de uma dívida na segunda-feira e outra para os próximos dias.
Para quinta-feira, dia em que a China também retorna do feriado, a companhia tem um pagamento de juros da ordem de US$ 83,5 milhões para um título de março de 2022. Será hora decisiva. Até o fim do ano, teremos mais de US$ 600 milhões de dívidas a vencer, o que faz com que seja improvável para a empresa honrar seus compromissos.
O risco de contágio e o paralelo com o Lehman Brothers
Entendo, porém, que a preocupação não seja com a crise de crédito envolvendo a incorporadora chinesa Evergrande, mas, sim, com seu potencial contágio para o setor e a economia local como um todo.
Basicamente, um colapso da Evergrande teria um efeito dominó em outras incorporadoras imobiliárias da China e de Hong Kong, bem como um efeito sistêmico no resto da economia. No mercado offshore de dólares, há uma porção considerável de desenvolvedores (que) estão implícitos em grande dificuldade.
Os desenvolvedores não podem sobreviver por muito mais tempo se o canal de refinanciamento continuar a ser fechado, como tem acontecido nos últimos anos – de certo modo, o próprio governo chinês foi responsável por chegarmos até aqui, abrindo a torneira para o crescimento da Evergrande e depois a fechando gradualmente.
Assim, o que está em jogo aqui é a própria capacidade chinesa em lidar com crises desta magnitude e sua decisão de salvamento ou não de grandes empresas como essa. Sobre isso, pelas sinalizações recentes, Pequim pretende lidar com a crise a partir de regras de mercado.
Minimiza-se, com isso, a possibilidade de Evergrande ser semelhante ao colapso do Lehman Bros. em 2008, observando a fragmentação do mercado imobiliário da China (a dívida do banco americano era o dobro, mais de US$ 600 bilhões).
Adicionalmente, apesar do tamanho da Evergrande, a companhia responde por apenas 6,5% do mercado imobiliário chinês, segundo estimativas do UBS. Além disso, a dívida, especialmente a dívida onshore, está bem garantida.
Como muito bem colocou Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus, a maior casa de análise para o varejo financeiro da América Latina, em sua carta aos seus clientes na manhã de segunda-feira (20):
"Em sendo mesmo o caso, estaríamos lidando com a Evergrande como uma alusão aos grandes bancos americanos (too big to fail), numa analogia mais superficial e menos precisa, dado o caráter menos sistêmico da companhia (crises com instituições financeiras em seu epicentro são fenômenos mais complexos pela sua própria natureza), e à crise do LTCM (paralelo um pouco mais preciso), mas com maior capacidade de gerenciamento, dada a possibilidade de reação antecipada, a interpretação por parte das autoridades de que ela seria também grande demais para falir e a capacidade do governo chinês de agir sem precisar dos mecanismos clássicos de “checks and balances” de democracias mais consolidadas.
De forma mais simples, há dois grandes cenários à frente. Uma liquidação da companhia ou sua reestruturação. Há um terceiro entre ambos, que seria uma reestruturação desordenada, mas que, em termos práticos, representaria quase o mesmo de uma liquidação."
Claro, como não podia deixar de ser, há um certo nervosismo no ar. Afinal, BlackRock, UBS e HSBC estão entre os maiores detentores dos títulos da Evergrande.
Colocado de outra maneira, como um incorporador sistemicamente importante, uma falência da Evergrande causaria problemas para todo o setor imobiliário, que tem sido uma importante fonte de crescimento econômico e empregos na China – uma desaceleração na economia da China também teria implicações importantes em todo o mundo, especialmente para as commodities.
Excesso de ruídos regulatórios e o endereçamento da crise
Não é de hoje que a Ásia, em especial a China, tem servido de veículo para a tensão dos mercados. Junto com Evergrande, a pressão tem crescido no mercado chinês e no de Hong Kong, à medida que os líderes do gigante asiático procuram controlar o que chamam de comportamento monopolístico, da mesma forma que mirou no setor de tecnologia.
Parte do plano de prosperidade comum do presidente Xi Jinping para lidar com a desigualdade e conseguir entregar as metas propostas no último plano quinquenal, as ações tomadas não são claras.
Consequentemente, no enfrentamento da crise da Evergrande, os investidores estrangeiros ficaram preocupados com as questões administrativas na China não colocadas de maneira o suficientemente transparentes.
Para responder à falta de credibilidade, nos últimos dias, os principais órgãos reguladores da China estiveram reunidos com executivos de Wall Street e procuraram tranquilizar os empresários de que as regras mais rígidas não visam sufocar as companhias. Inclusive, no final de semana, o premiê da China defendeu medidas para estabilizar os preços com métodos baseados no mercado.
Ou seja, ainda que haja inadimplência por parte da companhia, o cenário mais provável hoje é de um apoio do governo chinês, de modo a sustentar o mercado, por meio do que poderá vir a ser um bailout gerenciável. O problema é caso a Evergrande seja só a ponta do iceberg de um problema muito maior e estrutural no mercado imobiliário. Foi esta chance a precificada ontem.
Neste caso, a entrega dos projetos é a questão mais importante em termos de estabilidade social e gerenciamento de uma crise imobiliária. Os compradores de imóveis e os fornecedores são os stakeholders mais relevantes. Assim, uma liquidação seria necessária. Evidentemente, isso exigiria uma ação rápida e eficiente.
Na sequência, emerge como possibilidade a segregação em companhias menores para tocar os projetos (mais de 1.300 ainda em andamento em 280 cidades, além do compromisso de entregar no futuro mais de 1,4 milhão de casas) e não gerar muito desemprego (a companhia tem mais de 200 mil funcionários e estima-se que afeta a economia diária de 3,8 milhões de pessoas), acompanhada de uma reestruturação da dívida.
Dito isso, a própria S&P Global Ratings colocou como gerenciável a situação, com pequeno nível de contágio; aqui, um default da Evergrande tenderia a causar um pouco mais do que mera volatilidade dos mercados, ao mesmo tempo em que seria improvável uma grande onda de default catalisada por esse evento.
Vale dizer que ainda não se mensura o risco de uma crise de crédito, até mesmo porque este setor na China é um pouco nebuloso — é sempre complexo mensurar as relações do shadow banking na China.
No setor financeiro, os bancos com maior exposição ao problema seriam JSB e Minsheng Bank (40% do endividamento é no mercado doméstico chinês). Contudo, parece bem pulverizada tal exposição, uma vez que o financiamento foi distribuído por mais de 128 bancos.
Com isso, ao menos até agora, o risco mais grave parece, como coloquei, gerenciável.
Desdobramentos para sua realidade
O investidor brasileiro, que foi afetado por mais esta crise na reta final de um trimestre já bastante complicado, deveria manter a calma e não se desesperar. O cenário à frente, ainda que endereçável, será desafiador, sem dúvidas, o que enseja natural volatilidade no mercado ainda nos próximos meses, enquanto entendemos por completo a atuação do governo chinês responsável pelo estresse do próprio mercado imobiliário e agora único capaz de solucionar o problema.
Com as quedas recentes, entendemos que seja salutar a manutenção de sua posição em risco, se a mesma já estiver ajustada ao seu perfil de investidor — aumentar posições em momentos como este pode ser algo bastante perigoso. Neste contexto, o caixa pode ser bem vindo.
Dessa forma, elevar a posição de caixa e em proteções, notadamente moeda forte, pode ser algo interessante. Trabalhamos ao longo de segunda-feira para elevar a posição em dólar dos nossos assinantes, os quais já estavam posicionados na moeda americana, vale dizer. Aos níveis atuais, a divisa dos EUA parece um hedge convidativo a se carregar, principalmente às vésperas de um ano eleitoral no Brasil.
Claro, não só o dólar puro, mas também uma exposição direcional a ativos em países desenvolvidos, como nos EUA, parece positiva para o investidor local. Algo de 20% a 30% de sua carteira total do investidor pode ser um percentual adequado.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
Para saber como se aprofundar em insights como este que acabei de passar, a leitura da nossa série best-seller Palavra do Estrategista pode ser interessante. Nela, nosso estrategista-chefe, Felipe Miranda, oferece suas melhores ideias para os mais variados perfis de investidores e nas horas mais distintas, na saúde e na doença. Vale conferir.
Os CDBs que pagam acima da média, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Quando o retorno é maior que a média, é hora de desconfiar dos riscos; investidores aguardam dados dos EUA para tentar entender qual será o caminho dos juros norte-americanos
Direita ou esquerda? No mundo dos negócios, escolha quem faz ‘jogo duplo’
Apostar no negócio maduro ou investir em inovação? Entenda como resolver esse dilema dos negócios
Esse número pode indicar se é hora de investir na bolsa; Log corta dividendos e o que mais afeta seu bolso hoje
Relação entre preço das ações e lucro está longe do histórico e indica que ainda há espaço para subir mais; veja o que analistas dizem sobre o momento atual da bolsa de valores brasileira
Investir com emoção pode custar caro: o que os recordes do Ibovespa ensinam
Se você quer saber se o Ibovespa tem espaço para continuar subindo mesmo perto das máximas, eu não apenas acredito nisso como entendo que podemos estar diante de uma grande janela de valorização da bolsa brasileira — mas isso não livra o investidor de armadilhas
Seca dos IPOs ainda vai continuar, fim do shutdown e o que mais movimenta a bolsa hoje
Mesmo com Regime Fácil, empresas ainda podem demorar a listar ações na bolsa e devem optar por lançar dívidas corporativas; mercado deve reagir ao fim do maior shutdown da história dos EUA, à espera da divulgação de novos dados
Rodolfo Amstalden: Podemos resumir uma vida em uma imagem?
Poucos dias atrás me deparei com um gráfico absolutamente pavoroso, e quase imediatamente meu cérebro fez a estranha conexão: “ora, mas essa imagem que você julga horripilante à primeira vista nada mais é do que a história da vida da Empiricus”
Shutdown nos EUA e bolsa brasileira estão quebrando recordes diariamente, mas só um pode estar prestes a acabar; veja o que mais mexe com o seu bolso hoje
Temporada de balanços, movimentos internacionais e eleições do ano que vem podem impulsionar ainda mais a bolsa brasileira, que está em rali histórico de valorizações; Isa Energia (ISAE4) quer melhorar eficiência antes de aumentar dividendos
Ibovespa imparável: até onde vai o rali da bolsa brasileira?
No acumulado de 2025, o índice avança quase 30% em moeda local — e cerca de 50% em dólar. Esse desempenho é sustentado por três pilares centrais
Felipe Miranda: Como era verde meu vale do silício
Na semana passada, o mitológico investidor Howard Marks escreveu um de seus icônicos memorandos com o título “Baratas na mina de carvão” — uma referência ao alerta recente de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, sobre o mercado de crédito
Banco do Brasil (BBAS3) precisará provar que superou crise do agro, mercado está otimista com fim do shutdown nos EUA no horizonte, e o que mais você precisa saber sobre a bolsa hoje
Analistas acreditam que o BB não conseguirá retomar a rentabilidade do passado, e que ROE de 20% ficou para trás; ata do Copom e dados de inflação também mexem com os mercados
Promovido, e agora? Por que ser bom no que faz não te prepara para liderar pessoas
Por que seguimos promovendo técnicos brilhantes e esperando que, por mágica, eles virem líderes preparados? Liderar é um ofício — e como todo ofício, exige aprendizado, preparo e prática
Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje
Depois de rebranding, Axia Energia anuncia R$ 4 bilhões em dividendos; veja o que mais mexe com a bolsa, que bate recorde depois de recorde
Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis
Mesmo com os gastos de rebranding, a empresa entregou bons resultados no 3T25 — e há espaço tanto para valorização das ações como para mais uma bolada em proventos até o fim do ano
FII escondido no seu dia a dia é campeão entre os mais recomendados e pode pagar dividendos; mercado também reflete decisão do Copom e aprovação da isenção de IR
BTGLG11 é campeão no ranking de fundos imobiliários mais recomendados, Copom manteve Selic em 15% ao ano, e Senado aprovou isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil
É bicampeão! FII BTLG11 volta ao topo do ranking dos fundos mais recomendados em novembro — e tem dividendos extraordinários no radar
Pelo segundo mês consecutivo, o BTLG11 garantiu a vitória ao levar quatro recomendações das dez corretoras, casas de análise e bancos consultados pelo Seu Dinheiro
Economista revela o que espera para a Selic em 2025, e ações ligadas à inteligência artificial sofrem lá fora; veja o que mais mexe com o mercado hoje
Ibovespa renovou recorde antes de decisão do Copom, que deve manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, e economista da Galapagos acredita que há espaço para cortes em dezembro; investidores acompanham ações de empresas de tecnologia e temporada de balanços
O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje
O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro
Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação
Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.
Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários
Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos