Felipe Miranda: O que evitar em tempos de inflação em disparada?
Se os juros vão subir, quem mais sofre são os endividados e alavancados.
“Leais são os ferimentos causados por um amigo.” Está lá na sabedoria dos Provérbios.
Como você recebe as críticas que lhe chegam? Tenho uma forma de avaliar pessoas: dê um feedback negativo — mas construtivo — para seu interlocutor. Se ele reagir de maneira defensiva, ficar bravo ou magoado, mau sinal. Já se receber de forma agradecida e como um caminho para aprimoramento, ponto.
Um homem é medido pelo tanto de verdade que pode tolerar, resume Nietzsche. E, pra mim, Nassim Taleb é bastante nietzschiano. Ele defende tanto coisas que se beneficiam da desordem e do caos em sua antifragilidade porque, em grande medida, a volatilidade é um instrumento da revelação da verdade.
Em alguma medida, esta coluna é o último capítulo de uma série de três, iniciada na segunda-feira, quando os mercados começaram a ser assombrados com mais força por temores de disparada da inflação e consequente aumento das taxas de juros de mercado.
Se ontem dediquei algumas linhas para prescrever elementos a serem perseguidos sob a ótica top-down diante de um novo paradigma, hoje falo do que necessariamente evitar.
Sonhos não envelhecem, segundo o Clube da Esquina. Mas será que a atividade onírica resiste ao índice de preços ao consumidor norte-americano subindo 4,2% em 12 meses? A expectativa de uma alta de 3,6% foi superada com alguma folga. Se pensarmos na meta informal do Fed de 2%, o indicador desperta preocupação.
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Há ponderações, claro. Poderíamos argumentar que o CPI não é a medida de inflação predileta do Fed, que prefere o PCE, ou dizer que o banco central norte-americano sinaliza a intenção de trabalhar com a média de inflações anuais, de modo que poderia esperar mais um pouco, ou ainda afirmar que a inflação atual é transitória, resultado de cadeias de suprimento globais muito desarranjadas por conta da Covid-19 e pela típica reação inicial mais rápida da demanda relativamente à oferta. Tudo é possível, mas sejamos diretos: o estímulo monetário e fiscal é o maior em décadas e, objetivamente, observamos um choque importante de commodities com boa dispersão — milho, soja, ferro, alumínio, cobre, aço… todos em níveis recordes.
Convivemos concretamente com o risco de inflação mais alta, a ponto de empurrar os bancos centrais para uma postura mais dura, ainda que não seja de seu desejo. E, se os juros vão subir, quem mais sofre são os endividados e alavancados.
Aqui falo num espectro amplo. Evite tomar empréstimos agora — aquele financiamento imobiliário atrelado à Selic pode ser uma bomba relógio. Fuja de ações cujas empresas estão muito alavancadas, porque você é acionista e só recebe seus fluxos depois do credor, ou seja, vai sobrar menos para você depois do serviço da dívida. E também passe longe de casos em que há posições alavancadas naquela respectiva ação. Enviei um recado cifrado ontem, mas poucos entenderam.
Quando as pessoas se negam a ouvir, infelizmente temos de ser mais literais e explícitos, sob o risco de sermos acusados de agressivos.
Ainda que eu goste bastante da operação de Banco Inter em si e admire profundamente a gestão do João Victor Menin, como, de fato, é verdade, tenho receio de seu valuation e do impacto que uma mudança para as techs lá fora pode causar sobre ações desse segmento aqui. Até aí, tudo dentro de certa razoabilidade circunscrita ao “reflation trade”. Porém, essa movimentação desperta reajuste de portfólios e desalavancagem pesada dos agentes. Como corolário, me preocupa fortemente a posição altamente alavancada do fundo Ponta Sul no Banco Inter.
Se a sangria continuar por mais uns dias, não seria de se espantar uma chamada de margem pelo BTG. Aí a migração setorial vira uma ogiva nuclear, reforçada pela desmontagem compulsória de posições, numa ação que, com os devidos méritos (friso isso pela competência de seu CEO), é cara sob qualquer métrica que você decidir usar.
Ogivas nucleares me levam, passiva e imageticamente, a uma metáfora talvez pertinente. Alguns fazem um paralelo atual com o New Deal de Roosevelt. Outros ligam a situação corrente à chamada era da Grande Inflação, iniciada em 1965. Tenho pensado na Guerra Fria.
Se você dispõe de armas nucleares capazes de explodir o planeta, as chances de elas serem efetivamente usadas acabam caindo, porque as consequências são muito traumáticas. Com efeito, o conceito de deterrência entrou em ação e impediu que, materialmente, EUA e URSS entrassem em conflito armado.
Atualmente, o nível de endividamento de países, assim como a alavancagem em alguns mercados em particular, é tão grande que uma subida vigorosa de taxas de juros explodiria o mundo — o Brasil, inclusive, seria um dos primeiros; se esse juro real longo persistir por muito tempo acima de 5%, a coisa explode. É como se criássemos hoje o conceito de deterrência financeira. As evidências de mais inflação já são tão grandes e concretas que o medo da subida destrutiva de juros se instala.
Se vai ser suficiente para, de fato, não explodirmos o mundo, só o tempo vai dizer. Para desafiar nosso desejo de controle típico da dita racionalidade humana, estamos condenados a conviver com o desconhecido, em mares nunca antes navegados.
Por ora, já é bom se preparar para mais inflação. Em tempos de pandemia, a Netflix está sintonizada em “Como treinar seu dragão”.
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