A aprovação do texto base da reforma do Imposto de Renda na madrugada de ontem (1º) pegou os investidores no contrapé. A votação na Câmara e a derrota do governo na proposta da "minirreforma trabalhista" no Senado pesaram no Ibovespa, que novamente se descolou do bom momento das bolsas no exterior.
O principal índice da B3 fechou em forte queda 2,28%, aos 116.677 pontos, em reação à medida que acaba com a isenção de imposto de renda na distribuição de dividendos pelas empresas da bolsa. O dólar à vista, que chegou a operar em queda, reduziu as perdas e encerrou o dia em leve baixa de 0,03%, cotado a R$ 5,1832.
As surpresas vindas de Brasília acontecem em um momento de grande instabilidade política. Existe uma expectativa para o que vai acontecer no feriado dia 7 de setembro, quando estão marcadas manifestações em todo o país.
Como se não bastasse, os indicadores decepcionantes da economia brasileira acabaram colocando um ponto de interrogação no processo de retomada da crise com a pandemia da covid-19.
Depois da queda de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, hoje foi dia da produção industrial decepcionar. O indicador caiu 1,3% em julho no comparativo mensal, mas a mediana das expectativas apontava para uma queda de 0,7%, de acordo com o Broadcast.
Com tantas cascas de banana no caminho, a palavra de ordem é diminuir a exposição a ativos de risco, como a bolsa.
Imposto de Renda relâmpago (e indigesto)
A aprovação-relâmpago da reforma do Imposto de Renda deu o que falar. A Câmara concluiu a votação na tarde de hoje, com o destaque que reduz a alíquota da taxação de dividendos de 20% para 15%. Mas a tributação menor não foi o suficiente para diminuir o mau humor dos investidores. Confira outros pontos da proposta:
- Corte de 7 pontos percentuais na alíquota do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ);
- Redução de 1 ponto percentual na alíquota da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), mas a queda está condicionada à revogação do PIS/PASEP e da Cofins;
- Fim dos Juros sobre Capital Próprio (JCP);
- Aumento de 4% para 5% da alíquota sobre matérias-primas como ferro, cobre, bauxita, ouro, manganês, caulim e níquel, incluindo nióbio e lítio no rol dos minérios tributáveis pela Compensação Financeira por Exploração Mineral (CFEM);
- Para Pessoa Física, a faixa de isenção sobe de R$ 1.903,98 por mês para R$ 2.500,00 por mês e ajustes nas demais faixas de renda, o que deve beneficiar 30 milhões de contribuintes.
As ações das empresas pagadoras de dividendos — como os grandes bancos e as companhias do setor elétrico — foram duramente castigadas. Mas a queda da bolsa foi generalizada hoje. Apenas três ações do Ibovespa fecharam em alta — Assaí (ASAI3), Engie (EGIE3) e PetroRio (PRIO3).
O texto da reforma do IR ainda precisa passar pelo Senado. E veio justamente do Senado a outra razão para o dia terrível no mercado de ações, com a rejeição do projeto de minirreforma trabalhista proposto pelo governo.
A proposta tinha como principal objetivo viabilizar a contratação para jovens, mas foi criticada por incluir um programa para a contratação sem direito a benefícios, como férias, 13º salário e FGTS.
Além disso, o Senado derrubou uma resolução do governo que desmontava regras que estabeleciam limites para gastos com planos de saúde em estatais federais. Na prática, a decisão pode inviabilizar a privatização dos Correios.
Para Marcel Andrade, head de renda variável da Vitreo, a derrota do governo no Senado é um sinal de alerta e mostra que a base montada é insuficiente para a aprovação de alguns temas importantes, o que coloca em dúvida o avanço de outras reformas.
Confira os principais destaques do noticiário corporativo:
- Gerdau avalia antecipar dividendos de 2021 após aprovação da reforma do IR;
- Nova carteira do Ibovespa terá seis novidades: Alpargatas, Banco Pan, Méliuz, Rede D’Or, Dexco e Petz;
- Pague Menos (PGMN3) prevê abertura de 80 unidades ainda em 2021;
- Embraer (EMBR3) fecha parceria em mobilidade aérea urbana na Austrália para “carro voador”.
Enquanto isso em Nova York...
No exterior, as bolsas encontraram mais fôlego para subir nesta quinta-feira. O S&P 500 e o Nasdaq voltaram a renovar os recordes históricos após o Departamento do Trabalho americano mostrar uma nova queda nos pedidos de auxílio-desemprego. Os investidores agora aguardam o dado mais importante da semana: o relatório de emprego do mês de agosto, o payroll.
Os números do mercado:
- Ibovespa: 116.677 pontos (-2,28%)
- Dólar comercial: R$ 5,1832 (-0,03%)
- Bitcoin: R$ 255.992 (+2,27%) às 17h15
Ibovespa - maiores altas:
CÓDIGO | Nome | Cotação (R$) | VAR |
ASAI3 | ASSAI ON NM | 17,54 | 2,99% |
EGIE3 | ENGIE BRASILON NM | 39,08 | 1,03% |
PRIO3 | PETRORIO ON NM | 18,77 | 0,75% |
SBSP3 | SABESP ON NM | 36,49 | 0,08% |
Ibovespa - maiores quedas:
CÓDIGO | Nome | Cotação (R$) | VAR |
CIEL3 | CIELO ON NM | 2,60 | -6,47% |
VIIA3 | VIA ON NM | 9,64 | -6,13% |
LAME4 | LOJAS AMERICPN N1 | 5,78 | -5,86% |
SANB11 | SANTANDER BRUNT | 39,48 | -5,23% |
ELET3 | ELETROBRAS ON N1 | 36,75 | -4,99% |