Pedágio da venda antecipada, spread do Tesouro Direto é salgado e afeta rentabilidade
Diferença entre taxas dos títulos prefixados e atrelados à inflação no Tesouro Direto é alta quando consideramos as médias do mercado secundário, onde atuam os grandes investidores

No início de agosto, eu publiquei aqui no Seu Dinheiro uma matéria sobre o spread (diferença) entre as taxas de compra e venda dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto. Essa diferença acaba fazendo com que os preços de compra e de venda de um mesmo título num mesmo momento sejam diferentes.
O spread não é algo exclusivo do Tesouro Direto. Ele existe também no mercado secundário de títulos públicos (onde negociam os grandes investidores) e em muitos outros - você já deve ter notado as diferenças dos preços de compra e venda do dólar turismo, por exemplo, ao trocar seus reais numa casa de câmbio.
No Tesouro Direto, o spread acaba se justificando para acomodar as variações dos preços dos títulos no mercado secundário, que serve de referência para o cálculo dos preços no Tesouro Direto.
E sim, ele se faz necessário para que os investidores do Tesouro Direto não sejam capazes de especular com os títulos em operações de prazo muito curto, que gerariam prejuízo para o Tesouro Nacional. Também evita que as operações sejam interrompidas com maior frequência.
Mas, como vimos na matéria de agosto, o spread acaba comendo uma parte da rentabilidade quando o investidor vende o título antes do vencimento. E a pergunta que fica é: no caso dos títulos prefixados e indexados à inflação, esse spread não é meio alto?
Spread médio do mercado secundário é bem menor
Conforme eu expliquei na matéria anterior, o spread entre as taxas de compra e venda do Tesouro Selic (LFT), título mais conservador do Tesouro Direto, é de apenas 0,01 ponto percentual. Assim, se na compra o título paga Selic + 0,03%, por exemplo, na venda, a taxa desse mesmo título será Selic + 0,04%.
Leia Também
Mas no caso dos títulos prefixados e atrelados à inflação, como vimos, esse spread é bem maior, de 0,12 ponto percentual, para qualquer título e prazo de vencimento.
Por exemplo, na manhã do dia 3 de setembro, o Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais (NTN-B) com vencimento em maio de 2055 estava pagando 4,02% + IPCA na compra e 4,14% + IPCA na venda. Com isso, o preço de compra era R$ 4.584,61, e o de venda era R$ 4.493,95.
Porém, nos dias 2 e 3 de setembro, o spread entre as taxas médias de compra e venda deste título no mercado secundário, segundo a Anbima, foi de 0,03 ponto.
É possível consultar os preços e taxas médios, bem como as taxas mínimas e máximas, para diversos vencimentos de títulos públicos no mercado secundário nos últimos cinco dias úteis diretamente no site da Anbima.
É preciso notar que estes não são dados absolutos e oficiais, mas são utilizados como uma das referências para o Tesouro calcular os preços e taxas do Tesouro Direto.
Uma consulta desses dados nos cinco primeiros dias úteis de setembro mostra que os spreads médios de LTNs, NTN-Fs e NTN-Bs - equivalentes aos títulos Tesouro Prefixado sem e com Juros Semestrais e Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais - não chegaram nem a 0,05 ponto percentual nessas datas. Repare:

É verdade que o spread máximo - a diferença entre a maior taxa de compra e a menor taxa de venda de cada dia - acaba sendo bem maior que os 0,12 ponto percentual do Tesouro Direto. No secundário, os preços e taxas podem divergir muito num mesmo período do dia.
Mas as taxas médias costumam rondar as taxas indicativas (que tomam como referência o preço justo para para cada vencimento), e as taxas do Tesouro Direto também.
No secundário, o spread diverge conforme a liquidez do título - quanto maior a liquidez, menor tende a ser o spread. Já no Tesouro Direto, não há distinção. O spread é o mesmo para todos os títulos prefixados e atrelados à inflação.
Quanto você deixa na mesa
Mas qual é realmente o impacto de 0,1 ponto percentual entre as taxas de compra e venda no seu investimento? O que de fato aconteceria à sua rentabilidade se o spread do Tesouro Direto se aproximasse mais daquele praticado no mercado secundário.
Eu fiz uma simulação de compra e venda de um título Tesouro Prefixado 2023 (LTN) na calculadora do Tesouro Direto na situação atual e numa situação hipotética em que o spread fosse de 0,02 ponto, em vez de 0,12.
Lembre-se de que considerar o spread só faz sentido em situações em que há venda do título antes do vencimento. Quem fica com o papel até o fim do prazo recebe exatamente a rentabilidade contratada na compra, não sendo afetado pelas flutuações de preços e taxas no meio do caminho.
Estipulei que a compra teria sido feita no dia 2 de janeiro de 2020, quando a taxa de compra da manhã para esse título era de 5,75% ao ano; já a venda teria sido feita no dia 10 de setembro. Na primeira simulação, a taxa de venda foi igual à do dia 9 de setembro, 4,25%; já na segunda simulação, estipulei uma taxa de venda hipotética de 4,15%. Confira o histórico de preços e taxas do Tesouro Direto aqui.
Em ambos os casos, imaginei uma corretora que não cobrasse taxa (ou seja, só há cobrança de taxa de custódia de 0,25% ao ano) e há cobrança de imposto de renda sobre o ganho, a uma alíquota de 20%.
Na situação atual, o investidor teria obtido um ganho bruto de 10,93% ao ano, o equivalente a uma rentabilidade líquida de 8,45% ao ano. Ou seja, se tivesse investido R$ 10 mil, teria resgatado R$ 10.572,88, um retorno de 5,73% nesses cerca de nove meses.
Já na situação hipotética com spread menor, o ganho bruto teria sido de 11,29% ao ano, o equivalente a uma rentabilidade líquida de 8,74% ao ano. Ao investir R$ 10 mil, o investidor teria resgatado R$ 10.591,83, um retorno de 5,92% em cerca de nove meses.
O que diz o Tesouro
Em tempos de Selic em 2% ao ano, qualquer ponto percentual faz diferença no retorno. E se estivermos falando, por exemplo, de um investidor que está fazendo uma venda antecipada de um título apenas para trocá-lo por outro, sem deixar a plataforma do Tesouro, essas pequenas “penalidades” vão machucando a rentabilidade da sua carteira.
Lembre-se, ainda, de que os fundos de investimento atuam no secundário, onde não necessariamente precisam encarar spreads tão elevados - muito embora, é verdade, não contem com a previsibilidade e transparência de um sistema como o do Tesouro Direto.
Pessoas físicas também podem negociar pelo secundário, via mesa de operações da corretora, mas em geral é preciso fazer aportes elevados, de no mínimo R$ 50 mil, o que não é usual para quem investe em títulos públicos.
Fora que, nessas situações, o investidor fica completamente no escuro quanto a preços, taxas e spreads, dependendo unicamente das informações da corretora.
Então eu perguntei para o Tesouro Direto se não seria possível ter uma quantidade maior de atualizações de preços durante o dia a fim de reduzir o spread dos títulos prefixados e atrelados à inflação; ou, ainda, se não seria possível trabalhar com os preços do secundário em tempo real ou spreads diferentes de acordo com o prazo do título, por exemplo, já que o spread igual para todos os vencimentos costuma pesar mais nos títulos mais curtos.
Segue a resposta do Tesouro, com esclarecimentos sobre o mercado secundário:
“O mercado secundário de títulos públicos federais é predominantemente um mercado de balcão, com liquidez pulverizada entre diferentes calls de diversas corretoras que ocorrem ao longo dia. Diferentemente do mercado de renda variável, um título pode ser negociado a preços distintos em um determinado momento do dia, isto é, as taxas podem divergir entre os calls.
Como você bem salientou, hoje o Tesouro Direto possui pelo menos três precificações ao longo do dia, podendo ocorrer mais a depender das condições de mercado. Já os spreads aplicados, além de ser uma prática de mercado, visam proteger tanto os investidores quanto os contribuintes de oscilações nas taxas.
O Tesouro Nacional avalia continuamente oportunidades de melhoria no programa que atendam tantos os interesses dos investidores, quanto dos contribuintes, que são quem financia em última instância o Tesouro Nacional. Como exemplos desse processo contínuo de aperfeiçoamento, podemos citar a diminuição do spread do Tesouro Selic e as reduções nas taxas custódia.”
Pelas respostas que eu obtive do Tesouro, não está completamente descartada a possibilidade de redução desse spread dos títulos pré e IPCA, mas também não há mudanças à vista. Por ora, o Tesouro considera o spread adequado para as suas finalidades - mas que ele está um pouco salgado em relação à média do secundário está.
Renda fixa para abril chega a pagar acima de 9% + IPCA, sem IR; recomendações já incluem prefixados, de olho em juros mais comportados
O Seu Dinheiro compilou as carteiras do BB, Itaú BBA, BTG e XP, que recomendaram os melhores papéis para investir no mês
O ativo que Luis Stuhlberger gosta em meio às tensões globais e à perda de popularidade de Lula — e que está mais barato que a bolsa
Para o gestor do fundo Verde, Brasil não aguenta mais quatro anos de PT sem haver uma “argentinização”
Vale tudo na bolsa? Ibovespa chega ao último pregão de março com forte valorização no mês, mas de olho na guerra comercial de Trump
O presidente dos Estados Unidos pretende anunciar na quarta-feira a imposição do que chama de tarifas “recíprocas”
Conservador, sim; com retorno, também: como bater o CDI com uma carteira 100% conservadora, focada em LCIs, LCAs, CDBs e Tesouro Direto
A carteira conservadora tem como foco a proteção patrimonial acima de tudo, porém, com os juros altos, é possível aliar um bom retorno à estratégia. Entenda como
Bolão fatura sozinho a Mega-Sena, a resposta da XP às acusações de esquema de pirâmide e renda fixa mais rentável: as mais lidas da semana no Seu Dinheiro
Loterias da Caixa Econômica foram destaque no Seu Dinheiro, mas outros assuntos dividiram a atenção dos leitores; veja as matérias mais lidas dos últimos dias
Renda fixa mais rentável: com Selic a 14,25%, veja quanto rendem R$ 100 mil na poupança, em Tesouro Selic, CDB e LCI
Conforme já sinalizado, Copom aumentou a taxa básica em mais 1,00 ponto percentual nesta quarta (19), elevando ainda mais o retorno das aplicações pós-fixadas
Itaú BBA recomenda títulos de renda fixa de prazos mais longos para março; veja indicações com retorno de até 8,4% acima da inflação
Banco vê mercado pessimista demais com os juros, e acredita que inflação e Selic ficarão abaixo do que os investidores estão projetando, o que favorece a renda fixa de longo prazo
Mata-mata ou pontos corridos? Ibovespa busca nova alta em dia de PIB, medidas de Lula, payroll e Powell
Em meio às idas e vindas da guerra comercial de Donald Trump, PIB fechado de 2024 é o destaque entre os indicadores de hoje
Debêntures da Equatorial se destacam entre as recomendações de renda fixa para investir em março; veja a lista completa
BB e XP recomendaram ainda debêntures isentas de IR, CRAs, títulos públicos e CDBs para investir no mês
Boom das mulheres na bolsa: número de investidoras bate recorde com alta de 7% em 2024 — avanço também é expressivo no Tesouro Direto
Levantamento da B3 aponta crescimento em todas regiões do país, mas mulheres continuam a representar apenas 26,26% dos investidores
Vencimento de Tesouro Selic paga R$ 180 bilhões nesta semana; quanto rende essa bolada se for reinvestida?
Simulamos o retorno do reinvestimento em novos títulos Tesouro Selic e em outros papéis de renda fixa
Bitcoin (BTC) tem o pior desempenho de fevereiro após queda de mais de 10%; veja o ranking dos piores e melhores investimentos
Alívio nos juros levou fundos imobiliários e títulos prefixados curtos aos melhores desempenhos do mês, mas não foi suficiente para o Ibovespa sair da lanterna do ranking; entenda o que aconteceu
De onde não se espera nada: Ibovespa repercute balanços e entrevista de Haddad depois de surpresa com a Vale
Agenda vazia de indicadores obriga investidores a concentrarem foco em balanços e comentários do ministro da Fazenda
No país da renda fixa, Tesouro Direto atinge recorde de 3 milhões de investidores; ‘caixinhas’ e contas remuneradas ganham tração
Os números divulgados pela B3 mostram que o Tesouro IPCA e o Tesouro Selic concentram 75% do saldo em custódia em títulos públicos federais
IPCA+ 8% ‘dando sopa’? Estrategista de renda fixa elege 2 ativos ‘favoritos’ no Tesouro Direto e recomenda cautela para um tipo de título
Em episódio do Touros e Ursos, Odilon Costa, da SWM, fala sobre as oportunidades e os riscos dos títulos públicos negociados no cenário atual
Como não ser pego de surpresa: Ibovespa vai a reboque de mercados estrangeiros em dia de ata do Fed e balanço da Vale
Ibovespa reage a resultados trimestrais de empresas locais enquanto a temporada de balanços avança na bolsa brasileira
Tesouro Direto pagou R$ 29 bilhões em juros do Tesouro IPCA+, e mais R$ 180 bilhões do Tesouro Selic aguardam; onde reinvestir a bolada?
Tesouro IPCA+ pagou juros semestrais, e no início de março vence um Tesouro Selic; veja opções de ativos de renda fixa para reinvestir os recursos
Da ficção científica às IAs: Ibovespa busca recuperação depois de tropeçar na inflação ao consumidor norte-americano
Investidores monitoram ‘tarifas recíprocas’ de Trump, vendas no varejo brasileiro e inflação do produtor dos EUA
Tesouro Direto e títulos isentos de IR: Itaú BBA recomenda renda fixa para fevereiro, e retorno líquido chega a 8,50% a.a. + IPCA
Banco recomenda pós-fixados e indexados à inflação, mas vê oportunidade até mesmo em prefixados com prazos até três anos
Poupança vê ‘debandada’ de R$ 26,2 bilhões em janeiro, maior saque líquido em dois anos; veja o que pode ter motivado os resgates
O ano de 2024 também terminou com saques líquidos na poupança, desta vez no valor de R$ 15,467 bilhões. Alta de juros pode ser um dos fatores por trás do desempenho negativo