O Produto Interno Bruto (PIB) registrou um tombo de 9,7% no segundo trimestre de 2020, na comparação com os três primeiros meses do ano, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (1).
O mercado financeiro previa uma queda de 9,1% da economia brasileira no período, de acordo com a mediana da pesquisa Projeções Broadcast, feita com 47 instituições. Mas o intervalo das estimativas era de 11,9% a 8,0%.
O número apresentado nesta terça é a segunda queda trimestral seguida e o menor resultado para a economia desde o início da série histórica, em 1996, segundo o Sistema de Contas Nacionais Trimestrais. Os dados refletem o impacto da pandemia da covid-19 na atividade.
O maior tombo do PIB registrado no país tinha ocorrido no quatro trimestre de 2008, com baixa de 3,9%. Em relação ao 2º trimestre de 2019, a queda foi de 11,4%, segundo o instituto - que revisou o resultado do primeiro trimestre de queda de 1,5% para recuo de 2,5%.
Com dois trimestres seguidos de queda da atividade, tecnicamente o Brasil está novamente em recessão.
Em valores correntes, o PIB, que é soma dos bens e serviços produzidos no Brasil, somou R$ 1,653 trilhão de abril a junho. No primeiro semestre do ano, a economia acumulou queda de 5,9%.
Nos últimos quatro trimestres, encolheu 2,2%, e na comparação com o segundo trimestre do ano passado, o recuo foi de 11,4%, segundo o IBGE. O PIB está no mesmo patamar do final de 2009, auge dos impactos da crise global provocada pela onda de quebras na economia americana.

Quedas históricas
A retração da economia resulta das quedas históricas de 12,3% na indústria e de 9,7% nos serviços. Somados, indústria e serviços representam 95% do PIB nacional. Já a agropecuária cresceu 0,4%, puxada, principalmente, pela produção de soja e café.
Na indústria, o recuo se deve às quedas de 17,5% nas indústrias de transformação, 5,7% na construção, 4,4% na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e 1,1% nas indústrias extrativas.
Nos serviços, a maior queda foi em outras atividades de serviços (-19,8%), que engloba serviços prestados às famílias, ainda de acordo com o instituto.
Também caíram transporte, armazenagem e correio (-19,3%) e comércio (-13,0%), que estão relacionados à indústria de transformação. Outros recuos vieram de administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (-7,6%) e informação e comunicação (-3,0%)”, acrescentou a coordenadora.
Os únicos resultados positivos foram verificados em atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,8%) e as atividades imobiliárias (0,5%).
Consumo das famílias tem queda recorde de 12,5%
Pelo lado da demanda, a maior queda foi no consumo das famílias (-12,5%), que representa 65% do PIB. “O consumo das famílias não caiu mais porque tivemos programas de apoio financeiro do governo. Isso injetou liquidez na economia”, disse Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
O consumo do governo recuou 8,8% no segundo trimestre, muito por conta das quedas em saúde e educação públicas, explica Palis.
“Na saúde, os gastos ficaram mais focados no combate à Covid-19, e as pessoas tiveram receio de buscar outros serviços, como consultas e exames, durante a pandemia. Na educação, utilizamos nas contas o percentual do Ministério da Educação de alunos que tiveram aulas ou não. Isso fez com o que o consumo do governo caísse bastante também”, detalhou a coordenadora, destacando que o resultado não tem relação com a política fiscal.
Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) também recuaram 15,4%, por conta da queda na construção e na produção interna de bens de capital. Somente importação de bens de capital cresceu no período.
A balança de bens e serviços registrou uma alta de 1,8% nas exportações, enquanto as importações recuaram 13,2%.
“Essa alta nas exportações tem muito a ver com as commodities, produtos alimentícios e petróleo. Já as importações caíram em vários setores, de veículos, toda a parte de serviço, viagens, já que tudo parou devido à pandemia”, disse a coordenadora de Contas Nacionais.
No acumulado do primeiro semestre, o PIB caiu 5,9% em relação ao mesmo período de 2019, com desempenho positivo da agropecuária (1,6%). Na indústria (-6,5%) e nos serviços (-5,9%) os resultados foram negativos.
“Essa foi a primeira taxa semestral negativa desde 2017, quando estávamos saindo da crise econômica que ocorreu, principalmente, entre 2015 e 2016. Agora, voltamos a uma nova queda no PIB”, diz Palis.
*Conteúdo em atualização.