‘IPOs devem ficar suspensos até cenário se normalizar’, diz gestor
Para sócio da gestora Ibiúna Investimentos, André Lion, empresas que precisarem da operação no curto prazo terão de revisar os preços
O sócio da gestora Ibiúna Investimentos, André Lion, acredita que o movimento de abertura de capital das empresas na Bolsa deve ser interrompido até que o cenário global fique mais claro. Segundo ele, o mais provável é que as empresas esperem o mercado se normalizar para fazer seus IPOs (oferta pública de ações). Mas, se precisarem da operação no curto prazo, terão de revisar os preços. Leia, a seguir, a entrevista.
A volatilidade do mercado pode atrapalhar o processo das empresas que estavam se preparando para abrir capital?
Sim, muito. Havia uma fila de empresas que estavam prontas para abrir o capital nas próximas semanas e meses. Agora, elas ficam suspensas. Na verdade, há duas alternativas: ou esperam o mercado se normalizar um pouco e tentam voltar nas condições anteriores ou vão ter de revisar o nível de preços que elas querem se vender. Elas têm um prazo na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para completar a emissão planejada. Se passar esse prazo, elas podem adiar o processo. No mês de março, se o cenário continuar desse jeito, acho pouco provável ter qualquer IPO.
O investidor estava num processo de migração da renda fixa para outros ativos. Esse movimento será interrompido?
Vamos ter um teste. O cenário de diversificação e migração da renda fixa para ativos de risco, continua válido. Não voltamos a ter taxas (de juros) de 12% ou 14% ao ano. A diferença é a composição e o mix de investimentos. A questão é entender o risco quando sobe e quando cai. Por exemplo, estamos aproveitando esse processo de incerteza para, cuidadosamente e seletivamente, aumentar ou montar posições em ativos que achamos extremamente atrativos. Lá atrás, o investidor pessoa física sempre comprava na alta e vendia na baixa. Tem de ter calma para não fazer isso novamente. Nos próximos 60 dias, talvez um pouco mais, teremos um teste para esses investidores que estavam fazendo a migração. Eles precisam ter o autoconhecimento de saber quanto, como e para que tipo de produto migrar.
Os preços estão atraentes para investir agora?
A precificação dos ativos está sendo afetada pelo prêmio de risco, que subiu demais por causa da incerteza. Na hora que conseguirmos entender melhor para que lado a crise vai e qual a intensidade, esse prêmio de risco vai reduzir. Naturalmente, vamos ter preços convergindo para os níveis corretos, sejam eles quais forem. Hoje, vemos empresas com preços que começam a ter valor relevante. Empresas domésticas, cujo impacto do câmbio e do petróleo é marginal ou nenhum, caindo 20% ou 30%. Estamos começando a ver preços de empresas que não víamos há bastante tempo.
Essa crise é pior do que se imaginava?
Não sabemos o que vai ocorrer. Essa incerteza está criando a volatilidade no mercado. A gente ainda não consegue medir e prever qual o impacto nas economias. Também acredito que é cedo falar em recessão global. O que temos certeza é que o crescimento do mundo e do Brasil vai ser prejudicado por isso.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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