A decisão do Copom desta quarta-feira (18) estava envolta em mistério: em meio à crise do coronavírus, o mercado dava como certo um novo corte da Selic, mas ainda não tinha clareza quanto à postura do Banco Central neste momento tão delicado da economia global.
E, de fato, o Copom cumpriu as expectativas, reduzindo a taxa básica de juros em 0,5 ponto, para a nova mínima histórica de 3,75% ao ano. E, para Victor Candido, economista-chefe da Journey Capital, as sinalizações emitidas pelo BC são bem-vindas no atual cenário caótico dos mercados.
Em primeiro lugar, ele destaca as condições usadas pela autoridade monetária em seus cenários: em todos, a taxa de câmbio usada é de R$ 4,75, nível muito superior ao que vinha sendo considerado nas últimas reuniões — o que indica que o próprio BC vê uma condição de maior estresse no mercado de moedas.
Tal postura, segundo Candido, tem dois desdobramentos: em primeiro lugar, o BC sinaliza que a taxa de câmbio de equilíbrio está abaixo dos níveis atuais — o dólar à vista chegou hoje a R$ 5,19. Em segundo, as simulações mostram que, mesmo com o câmbio mais elevado, ainda não há uma pressão inflacionária significativa.
Considerando o dólar constante a R$ 4,75, o BC vê a taxa de inflação ficando em 3% em 2020 e 3,6% em 2021, tanto no cenário que leva em conta as projeções do boletim Focus para a Selic quanto na hipótese de juros inalterados em 4,25% ao ano no período em questão.
"O BC botou o câmbio estressado, mas mesmo o câmbio estressado não gera inflação, as simulações não indicam problema", diz Candido — os níveis mais elevados do dólar são constantemente citados como um risco inflacionário.
Além disso, o economista-chefe da Journey destaca a escolha cautelosa das palavras por parte do BC ao comentar sobre os próximos passos. Por um lado, o Copom diz ver como adequada a manutenção da Selic em seu novo patamar; por outro, afirma que continuará fazendo uso de todo o seu arsenal para enfrentar o momento de crise.
Ou seja: Cândido acredita que o BC não quer mais cortar juros, mas, caso necessário, não descarta novas reduções no futuro — uma postura que serve para ancorar expectativas e mostra claramente a visão da autoridade monetária.
"A incerteza é muito alta, o coronavírus impacta na oferta e na demanda. Nessas condições, é difícil achar o nível de equilíbrio para juros e inflação".